sábado, agosto 31, 2013

O SPRAY NASAL DO AMOR




Uma investigação recente - Junho de 2013 ("Stress-induced negative mood moderates the relation between oxytocin administration and trust: Evidence for the tend-and-befriend response to stress?"- testou a influência do uso de um spray nasal contendo uma hormona humana, a oxitocina, nos sentimentos relacionais-afiliativos.

A oxitocina, também chamada "hormona do amor" (assim como a prolactina, a sua concentração aumenta 40% depois do orgasmo), desempenha um papel fundamental em processos anatomofisiológicos como o parto e o aleitamento de um bebé, mas também em processos psicológicos envolvidos na vinculação e cuidados maternos. 


Desde a última década que tem sido investigada de forma mais intensiva, nomeadamente, manipulando-se a sua administração através de um spray nasal. Estudos usando a administração nasal de oxitocina mostraram, por exemplo, que esta aumenta o reconhecimento de expressões faciais de emoções, aumenta a confiança nos congéneres, pode ter uma função ansiolítica e aumenta a preocupação empática pelos outros.

No sentido de aprofundar e confirmar o efeito relacional-afiliativo desta hormona, este estudo recente publicado na revista "Psychoneuroendocrinology", avaliou o efeito da oxitocina na auto-confiança de sujeitos após terem sido expostos a uma situação de rejeição social. Os resultados mostraram que os sujeitos com níveis elevados de humor negativo após rejeição social foram os que mais beneficiaram de um aumento significativo da auto-confiança, quando comparados com o grupo controlo (administrados com um spray placebo). 

A conclusão do estudo foi a de que a oxitocina pode promover a aquisição de suporte social em situações de stress social, através do aumento da auto-confiança.

Outros estudos efetuados com o uso desta hormona, por exemplo, em populações com patologias psiquiátricas (depressão, ansiedade, pertubação pós-stress traumático, autismo, etc.) mostram resultados ténues na comparticipação desta substância na cura destas problemáticas. Parece haver apenas um efeito de atenuação dos sintomas, ainda assim, de forma pouco sistemática. Outras variáveis como experiências infantis negativas ou vinculações inseguras, mas também variáveis de personalidade e contexto, têm um papel importante na moderação do efeito da administração desta hormona. 

Algum destaque para o que se verificou serem melhorias significativamente positivas para indivíduos diagnosticados com perturbações do espetro do autismo, no que respeita às suas capacidades socio-comunicativas, aquando do uso (conjugado) da oxitocina.

Em suma, as investigações que têm sido feitas sugerem que a oxitocina não é uma droga panaceia que promove relações, comportamentos e sentimentos positivos, independentemente do contexto, personalidade e da história pessoal. A "hormona do amor" pode ter algum efeito ansiolítico e pode facilitar a criação e manutenção das relações, mas fatores como a história pessoal podem mitigar estes efeitos potencialmente benéficos.


Para informações detalhadas consultar artigos:



domingo, agosto 18, 2013

Somos humanos, logo criamos

As pinturas pré-históricas são fascinantes. A de cima é de uma cave no Chad e esta outra de uma gruta em Altamira (Espanha).

O que terá levado os homens do paleolítico, certamente preocupados 24h em 24h com a sobrevivência, a "perder" horas e horas a pintar as paredes e os tectos das grutas? Preocupações religiosas, efeito de drogas alucinogénicas? (ler o livro "Cave Paintings and the Human Spirit: The Origin of Creativity and Belief" de David Whitley).

E quem pintava? Homens? Mulheres também? Crianças? Quem fazia aquelas maravihosas tintas? A produção no paleolítico é tão intensa que duvido que a pintura estivesse apenas restringida a uma espécie de pessoas (sacerdotes). Gosto de pensar que todos podiam pintar, como outros faziam estatuetas ou escultura.

E pintariam porquê? Eu acho que por duas razões: porque somos humanos e porque é terapêutico. Ou seja, a arte faz parte do nosso pacote mental. Infelizmente, muitos esquecem-se disso e pensam que é coisa de crinças ou de artistas. Artistas somos todos nós, somos todos criativos.

Só que por vezes não sabemos. Os deprimidos, sobretudo, têm aquela tendência para nem sequer tentar. Dão desculpas absurdas, como: "disseram-me em pequeno que não tinha jeito". Eu podia dizer aqui que a culpa foi de um ou outro professor, que também foi (aconteceu comigo). Mas a culpa também é nossa, que abdicamos deste nosso mais elementar direito como seres humanos, que até os homens das cavernas usavam: o da expressão. O de criar.

Hoje há tantas formas artísticas. Pintar, modelar, desenhar, esculpir, fotografar, filmar, escrever, compor, dançar, cantar, recitar, fazer artesanato, tricot, bordar, teatro, cinema...

As novas tecnologias ajudam muito. Como já ajudaram no tempo das cavernas.

E depois, é extremamente terapêutico. Faz bem à mente e ao corpo. Tem um efeito anti-depressivo, facilita a comunicação, defende-nos do isolamento, torna-nos mais humanos. Aposto que era, também por isso, que o homem das cavernas pintava furiosamente.

Se têm dúvidas, leiam os conselhos de Marta Beck, que tem ido ao show da Oprah e que é facil de encontrar na net.

Não abdiquem de serem humanos. Era o que alguns gostariam, mas não podemos deixar. Somos humanos, logo criamos.

 

 

segunda-feira, agosto 12, 2013

Não basta saber, é preciso saber comunicar

Este pequeno video do Dr. Dan Seigel sugere a utilização da mão para representar o cérebro e a forma como podemos regredir ao tal cérebro do lagarto, o sistema límbico (ver meu post sobre as tribos). Genial do ponto de vista comunicacional!

http://www.youtube.com/watch?v=DD-lfP1FBFk

 

sexta-feira, agosto 09, 2013

"Não tens razões para estar triste!"






"O coração tem razões que a própria razão desconhece" (Pascal)...! Mas que pode conhecer se houver um trabalho mais profundo de auto-conhecimento (e, já agora, do conhecimento das relações), diria o psicólogo.

Esta frase "não tens razão para estar triste" é muitas vezes expressa, de diferentes maneiras e em diferentes contextos; tem um cariz culpabilizante e muitas vezes não ajuda a pessoa alvo desta mensagem/acusação. 

Desde já, encerra uma contradição em si mesma: como pode algo existir sem causas prévias que lhe deram origem? Neste caso, se existe tristeza a questão não é saber se existem razões ou não para a sua existência, mas quais são, de onde vêm.

Claro que a intenção de quem formula esta frase é frequentemente boa e pretende estimular a pessoa entristecida a olhar para os aspetos positivos da sua vida por forma a arrebitar. Às vezes funciona. A questão está na "taxa de esforço", diretamente proporcional à dificuldade emocional, que a pessoa tem de gerir para melhorar. Em situações mais ligeiras e em que existem bons recursos para lidar e ultrapassar problemas, incentivos deste tipo até podem ajudar. Ou seja, um empurrãozinho é útil quando a outra pessoa está quase, quase lá! Quando está desequilibrada um empurrãozinho só vai desestabilizar ainda mais...  

Nestes casos, será então importante enfrentar os sentimentos penosos e tentar perceber o seu aparecimento e proveniência. Em processos psicoterapeuticos assiste-se, não raras vezes, a casos onde é precisamente quando tudo está bem (no exterior) que tudo fica mal (no interior). Numa situação de transbordo emocional que pode durar anos e anos nos piores casos, é como se a pessoa tivesse suspendido a respiração, limitando-se a sobreviver no modo "piloto automático". 

Mais tarde, alcançada a segurança de uma situação onde aparentemente tudo está bem, pode a pessoa voltar a "respirar". Nestes casos, o voltar a respirar significa um abaixamento das defesas psicológicas que permite que memórias problemáticas do passado emerjam reclamando uma "digestão emocional" que até então não fora possível.

O homem tribal em nós

Nos velhos tempos, quando vivíamos em cavernas e nos encostávamos uns aos outros à procura de calor, atentos ao menor ruído que indicasse a presença de um predador, a sobrevivência dependia de quão rapidamente os indivíduos passavam ao modo de "ataque ou fuga".

Aquilo a que hoje chamamos stress era um mecanismo precioso. O sangue afluía aos músculos permitindo a corrida, a respiração acelerava permitindo uma maior oxigenação, a força nos braços e as pernas aumentava. Imagino que ninguém se queixasse de stress - era essencial à vida.

Nesse tempo, o funcionamento tribal era também essencial, assim como o princípio "ou nós ou eles". As tribos guerreavam-se, roubavam as fémeas, os inimigos chegavam a ser devorados.

Quando terá começado a cooperação entre grupos distintos? Sabemos que os chimpazés cooperam em determinadas circunstâncias. É possível que tivéssemos percebido muito cedo as vantagens da cooperação. Mas às vezes o primitivo vem ao de cima e parece que nos esquecemos. Vezes demais.

O esquema "se não pertences à minha tribo és meu inimigo" é pouco propício ao raciocínio, ao pensamento, ao trabalho inteligente. Limita-nos e arrasta-nos séculos para trás. Alguém quer parecer um neardantal ou mesmo um homo habilis?