sexta-feira, junho 26, 2015

Crise Financeira e (In)Capacidade de Adaptação (III)


Sabemos que para uma criança (aquela que todos nós fomos outrora) a presença no inicio de vida de cuidadores disponíveis é fundamental. Isto, mais que disponibilidade física, significa disponibilidade emocional, significa dar a uma criança o sentimento contínuo de ser compreendida, reconhecida e apreciada positivamente, realisticamente e sempre com amor. Para além disto os cuidadores devem ser, sempre que possível, pacientes, compreensivos e apoiantes. Das dádivas mais preciosas e importantes que uma criança pode receber ao longo da sua vida é poder viver dentro de si e com os seus pais e familiares algo como: "sinto que aqueles de que tanto gosto me compreendem verdadeiramente, estão lá para mim e ajudam-me sempre que preciso. Quando me sinto angustiado(a) e confuso(a) eles conseguem tranquilizar-me e conseguem ajudar-me a sentir leveza e a ver simplicidade nas coisas que até então pareciam muito confusas e angustiantes. Sinto que eles me incentivam a ir para a frente e que me respeitam se eu não sentir que não sou capaz, me dão tempo e espaço para pensar sobre as coisas, e com isso sinto-me cada vez mais confiante nas minhas capacidades, porque sei que eles estão lá para mim e para me ajudar se eu precisar."

São também estas as bases para a autonomia, para a confiança nas nossas próprias capacidades e para a autoestima (por internalização desta boa relação e destas figuras cuidadoras disponíveis, empáticas e pacientes, que cuidam a partir de dentro para toda a vida; e pela possibilidade de procurar e recriar estas relações com outras pessoas fora do seio familiar).

Contudo, nem todas as pessoas puderam contar com estas bases no início das suas vidas, ou lhes foi possível encontrar outras relações ao longo da vida a partir das quais conseguissem reparar essas faltas precoces. Para estas pessoas os recursos internos que de outra forma lhes dariam uma boa capacidade de adaptação a circunstâncias de vida mais difíceis acabam por poder estar mais fragilizadas ou mesmo inacessíveis. Alguns recorrem-se da psicoterapia e com isso conseguem reabilitar-se através de uma relação única que se vai desenvolvendo à medida que a confiança no psicoterapeuta e na relação terapêutica vai amadurecendo.

A realidade crudelíssima no meio de tudo isto acontece quando às vulnerabilidades ou comprometimento das capacidades individuais de cada pessoa se junta uma crise (financeira), que em simultâneo retira a possibilidade de procurar ajuda profissional. A própria crise financeira ataca a possibilidade da pessoa poder suportar os custos de uma psicoterapia. Em Portugal e pela proeminente propaganda dos medicamentos, raras são também as companhias de seguros que comparticipam tratamentos de psicoterapia, o que configura então essa realidade crudelíssima em cima da hecatombe que é a crise financeira. Penso que também será fácil entender no meio de tudo isto a relativa inutilidade de medicamentos enquanto forma a ajudar alguém a lidar com uma crise desta magnitude...

Por vezes há que nos desenvencilharmos de um sentido de perseverança que implica a idealização da potência e da autosuficiência, para que possamos aceitar limites, quer externos, quer internos. Por vezes esse é o primeiro e mais importante passo para a mudança. Podemos assim começar a libertar-nos daquilo que não nos deixa seguir em frente, o que custa (e muito). Mas é também através deste movimento (de humildade, diga-se de passagem), que de alguma forma implica um certo deprimir (reconhecer a nossa impotência face à realidade e a nossa vulnerabilidade face às circunstâncias), que eventualmente podemos descansar. Também, num segundo momento, mais tarde, ficar mais recetivos a aceitar ajuda profissional ou ponderar rumos alterativos para as nossas vidas ou para os nossos projetos, ou ainda, dar tempo a que estes se construam gradualmente e vão ganhando forma primeiramente dentro de nós.

Pessoalmente acho que o termo "crise" remete precisamente para uma situação que súbita e inevitavelmente evoca a nossa capacidade de adaptação e a leva ao extremo. É uma crise porque o potencial de sofrimento, a dificuldade inerente à situação específica, o eventual risco de intransponibilidade tendem a ser máximos para aquela pessoa.

Em certos casos a melhor ajuda que um psicoterapeuta pode dar é mesmo poder ser testemunha e companhia durante o percurso atribulado e quase impossível de uma dada crise, em casos em que a única saída é mesmo trilhar esse percurso até ao fim. Por vezes a ajuda mais preciosa do psicoterapeuta é mesmo ajudar "a carregar a cruz", partilhando o peso com a outra pessoa. E isso por si só faz toda a diferença do mundo.

A crise financeira força de facto a uma necessidade de mudança de paradigmas. Ainda que apostar num emprego estável, poupanças, comprar casa, formar família não sejam necessidades genéticas, são sim expetativas culturais normativas que ao longo de muitos e muitos anos fizeram parte dos valores das nossas famílias, unidade fundamental da organização da sociedade. Foram transmitidas de pais para filhos, os quais mais recentemente vão completando mais de 20 anos de formação escolar para que no final se deparem precisamente com uma crise com um potencial de abalo dos próprios fundamentos de todo esse esforço. Por tudo isto, também se espera de um modo geral que a adaptação das pessoas a esta realidade partilhada seja lenta. Alguns de nós certamente necessitarão mais tempo e outros talvez nunca se consigam adaptar, ou fiquem eternamente à espera do retorno do país ao equilíbrio financeiro anterior.

Em suma, vivemos uma crise cujo enfase é predominantemente exterior porque existe uma enorme massa populacional com vidas adiadas e mesmo arruinadas por causa dela, que talvez somente após muito tempo se consigam restabelecer. E isto, na minha opinião marca a diferença entre a legitimidade de um discurso político que se foca na necessidade das pessoas superarem a crise por si mesmas e, por outro lado, a necessidade de responsabilização dos dirigentes do pais, enfatizando ainda a necessidade de ser repensada a forma como o sistema permite que estes dirigentes cheguem ao poder. Com tantas universidades, ideias e génios no mundo, o sistema de acesso ao poder não está claramente alicerçado nos princípios da racionalidade. Infelizmente as pessoas servem os interesses do país (das instituições), em vez de ser o país a servir os interesses das pessoas. No final, quem vai compensar todas as "vítimas da austeridade" e respetivas famílias?

Há sempre dois lados de uma crise: a realidade exterior e a forma como lidamos com ela. No caso da crise financeira a realidade exterior é claramente preponderante, quer por tudo o que até agora foi descrito como pelo facto de em cima de tudo isto, esta crise tornar muito mais difícil o acesso das pessoas em sofrimento aos serviços de saúde mental e logo, à possibilidade de serem ajudadas a superar ou a gerir esta destruturação forçada das suas vidas e dos seus projetos.

quarta-feira, junho 24, 2015

Crise Financeira e (In)Capacidade de Adaptação (II)


E volta a questão: mas até que ponto trabalhar limitações internas pode ajudar a transpor a limitação externa?

Bem, por vezes pode. Por vezes creio que não. E neste último caso creio que a solução passa por aceitar isto mesmo, ainda que num momento posterior a situação se possa alterar.

A revolução industrial foi um marco histórico que mudou completamente a qualidade de vida das pessoas à escala global. Com a industrialização e a abertura de fábricas passámos de uma sociedade agrícola para uma sociedade industrial, de produções em massa. O emprego aumentou preponderantemente e isto serviu também enquanto ganho importante para as mulheres, no sentido de se autonomizarem financeiramente num período em que tradicionalmente quem trabalhava eram os maridos. Com isto e pela primeira vez na nossa sociedade ocidental as mulheres passam a estar mais tempo longe dos filhos, logo desde uma idade muito tenra. Não descurando a importância deste movimento revolucionário e o seu significado fundamental que aqui deixo claro, é também neste período que começam por surgir em larga escala aquilo que hoje em dia é designado como perturbações da vinculação.

De um ponto de vista evolutivo assistimos aqui a uma alteração social em massa que vem quebrar com uma tradição e hábitos construídos e enraizados ao longo de milhares de anos dentro da espécie humana. Filogeneticamente percebemos facilmente o porquê da nossa espécie descender daquele bebé que mais acesso tinha à sua mãe e aos seus cuidados durante os primeiros anos de vida, o período de maior dependência ao longo de toda a vida de um ser humano. Enquanto nota paralela, somos também a espécie que apresenta a mais prolongada dependência durante os primeiros anos de vida. Podemos imaginar que o nosso "antepassado bebé" terá conseguido assegurar a sua sobrevivência em detrimento de outros bebés em condições diferentes, mais adversas. Gradualmente esta relação entre dependência na infância e cuidados maternos foi ficando gravada no nosso código genético enquanto algo fundamental e que melhor assegura a sobrevivência individual e da espécie.

Ainda que a condição de vida da população global tenha vindo a beneficiar dramaticamente com o advento da industrialização, este foi também um momento em que o ser humano, por desconhecimento da psicologia humana, introduziu uma alteração arrojada aos seus hábitos milenares, neste caso a um hábito de raiz genética. Por outras palavras, uma alteração que transcendeu a capacidade do próprio ser humano, neste caso do bebé, de a acompanhar ou de se adaptar a ela. A consequência não foi a morte e o fim da espécie humana, mas a perturbação da vinculação (ou psicopatologia, ou doença mental) e as consequências sociais que daqui advêm, não só para o sujeito mas para a sociedade no geral. As perturbações de vinculação (e outras) são por exemplo características psicológicas unificadoras  de muitos gangs criminosos.

É de facto fundamental termos em conta aquilo com que conseguimos lidar e aquilo com que não conseguimos lidar em determinado momento ou contexto das nossas vidas, sob pena de sofrermos danos profundos à nossa saúde. A nossa qualidade de vida depende disso, isto é, desde que isso seja importante para nós, já que para além de todos estarmos neste mundo para sobrevivermos, então pelo menos que o façamos com qualidade de vida. E isso é um direito que nos assiste a cada um de nós, mas é também uma escolha pessoal.

Tudo isto serve para dar ênfase a que os tempos mudam, mas está mais que provado que nós não temos uma capacidade infinita de nos adaptarmos às mudanças, ou pelo menos imediatamente. É preciso tempo, e isso pode significar seis meses ou seis milhões de anos.

Para fazer face a uma dada crise há alguns recursos internos que são fundamentais. Entre estes, dastacam-se a tolerância à frustração, a capacidade de resiliência individual e a capacidade de lidarmos com situações de forma criativa, utilizando plenamente todos os recursos à nossa disposição. Estes são também três aspetos fundamentais da "saúde mental" ou da "personalidade saudável", e é facto que em condições ideais todos nós deveríamos conseguir um bom enraizamento e maturação interna destes recursos ao longo do nosso desenvolvimento. A verdade é que em condições reais isto nem sempre acontece. Por causa disso, na crise, e na vida também, perseverar torna-se mais difícil e discursos de "ir para a frente!" têm aqui todo o potencial para alimentar a frustração e fazerem-se sentir enquanto penosos ataques à autoestima individual, ao sentimento de competência e de eficácia na vida.

segunda-feira, junho 22, 2015

Crise Financeira e (In)Capacidade de Adaptação (I)


Grande parte de nós viveu durante muito tempo, vive ainda ou de outro modo foi vítima da brutalidade imposta por um regime governamental de um país que aos seus cidadãos entregou de bandeja o casamento mórbido e devastador entre a austeridade e a recessão económica. É abundante a sistemática constatação e divulgação dos efeitos destrutivos e por vezes fatais desta crise para a vida das pessoas. São as nossas próprias vidas colocadas em espera e somos impedidos de aplicar e poder continuar a desenvolver as nossas competências profissionais tão arduamente conseguidas ao longo de tantos anos de formação académica e profissional. O nosso próprio ganha-pão, pelo qual muitas vezes tanto sacrificámos, fica inutilizável. Somos amputados dos nossos sonhos e projetos de vida, fonte fundamental da alegria de viver.

A constante divulgação das más noticias ligadas à crise e afins por parte dos órgãos de comunicação social, bem como a constituição de algumas unidades de saúde mental de apoio às "vítimas da austeridade" atestam como estamos perante uma hecatombe. É inegável que há algo de fundamentalmente errado com os alicerces da nossa sociedade, isto é, se partirmos do princípio que essa sociedade se funda na igualdade de direitos entre todos os cidadãos e de que existe um pressuposto consensual de respeito e consideração entre as pessoas, mais que não seja um "não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti".

Num mundo "psi" a ótica e contribuição que, de uma forma geral, podemos oferecer de modo a combater a imposição e os efeitos persistentes desta crise na vida de cada um de nós, é fundamentalmente através do foco sobre os recursos internos individuais que nos permitem a adaptação a essa(s) crise(s). Isto é, ajudar a gerir a crise de modo a minimizar os danos pessoais, sair delas rapidamente e conseguir criar alternativas realistas que procurem manter ou melhorar a nossa qualidade de vida. E isto consegue-se. Não só se consegue como os recursos que se ganham ao longo de uma psicoterapia mais prolongada são permanentes e em certos casos inclusive crescentes, mesmo após o fim da psicoterapia (ou psicanalise). Estes ganhos próprios das psicoterapias mais prolongadas no tempo tomam raiz na personalidade e passam a funcionar então como que ferramentas utilizáveis ao longo de toda a vida.

 Mas no meio de tudo isto há um outro cenário.

Até que ponto se consegue trabalhar e potenciar a capacidade de adaptação de forma geral e, de forma mais particular, a capacidade de adaptação de determinada personalidade?

Aqui se jogam outras questões... As questões da limitação e da aceitação desses limites.

Por vezes ouço discursos peculiares que fazem apologia à filosofia do "ir para a frente!" e do "perseverar!", numa atitude que, ainda que bem-intencionada, me parece por vezes um pouco omnipotente. Como se a "força bruta" da perseverança tudo vencesse. Basta olhar para a situação do país para termos uma ideia de como a perseverança nada pode contra a limitação persistente do obstáculo imóvel e imobilizador que lá está. Outras vezes o obstáculo é interno! E lamentavelmente outras vezes ele está em ambos os espaços, dentro e fora de nós.

Noto que cada vez que ouço este discurso progressista face a realidades que se mostram mesmo muito difíceis fico sempre à espera da resposta à pergunta fundamental:  "E porque é que é difícil perseverar?". A verdade é que não há resposta. Ao sabor do entusiasmo contagiante do momento (pelo menos será essa a intenção do interlocutor), ou até do furor maníaco, ficam muitas vezes no ar palavras bem intencionadas mas demitidas de um sentido realista de consideração e sensibilidade para com a totalidade e complexidade da experiência humana. A crise financeira é um obstáculo intransponível para muitas pessoas, mas é também um obstáculo que realça e coloca em exposição os obstáculos internos de cada um de nós, a nossa capacidade individual de dar resposta a situações mais difíceis. As duas dimensões do problema necessitam ser equacionadas em conjunto, sempre!

quarta-feira, junho 17, 2015

Como Equilibrar a sua Autoestíma ao Longo da Vida

 
Uma nova investigação demonstra que pertencer a múltiplos grupos que são importantes para nós
aumentam a nossa autoestima muito mais que o grupo de amizades pessoais. Os investigadores compararam o ser-se membro de grupos com o número de amizades pessoais, revelando que ter uma larga rede de amizades não era um aspeto preditivo de autoestima. Por outro a pertença a vários grupos relaciona-se concretamente com a autoestima.

Os autores advogam que os grupos conferem benefícios que os vínculos interpessoais não oferecem, sobretudo significado, ligação, apoio e um sentido de controlo sobre as nossas vidas. 


Acrescentaríamos a este estudo que os benefícios que o sentimento de pertença a grupos nos oferecem em termos de autoestima são complementares às relações de amizade e o que estas nos podem oferecer.

A psicologia do self é um ramo da psicanálise que se debruça sobre a área do narcisismo, onde a autoestima está implica e mais que isso o sentido subjetivo de coesão, vitalidade, força e harmonia do "Eu" da pessoa.

Enquanto adultos temos necessidade de pertença a grupos, de podermos sentir que pertencemos a um grupo de pessoas que são semelhantes a nós (que partilham dos nossos interesses). Muitas vezes nem temos consciência dessa necessidade, mas podemos observá-la nos seus primórdios quando o menino imita o pai quando este se barbeia, ou quando a menina imita avó a amassar pão na cozinha. Está lá quando regressamos de uma viagem longa e sentimos aquele conforto de regressar ao nosso pais, à nossa cultura e à proximidade com um grupo de pessoas que nos é familiar e fala a nossa língua. Enquanto adultos, a experiência de podermos pertencer a grupos diferenciados, mais ligados aos nossos interesses, aos nossos talentos e habilidades é muito importante para a nossa autoestima.

Precisamos também de relações com pessoas que sentimos que nos confirmam e aprovam, que são capazes de empatia genuína connosco e de nos fazerem sentir compreendidos. Facto é que nem todas as nossas amizades são capazes disso, mas idealmente cabe-nos a nós, e é importante, procurarmos amizades desta qualidade. As nossas ambições, criatividade e autoexpressão na vida estão muito ligadas e são alimentadas com a qualidade de relações de compreensão e aprovação que temos nas nossas vidas.

Por fim a nossa autoestima também beneficia e alimenta-se da tranquilização e auto-organização que advém da admiração de lideres, ideias e valores e diversidade cultural.

Ao longo de toda a vida é fundamental que saibamos procurar e manter estas relações na nossa vida.

segunda-feira, junho 15, 2015

Problemas físicos indicativos de depressão


Para além das perguntas habituais que o nosso médico de família nos faz no sentido do despiste da
depressão (Sente-se cansado ultimamente? Tem problemas de sono? Tem sentido pouco prazer em fazer coisas de que sempre gostou? Sente-se triste, deprimido(a) ou sem esperança?) há outros sinais que podem indicar depressão. 

Na verdade tudo pode estar bem com o sono, com o trabalho e com outros projetos paralelos, e apenas estar lá uma dolorosa dor de costas que não desaparece. 

A verdade é que esta dor pode de facto indicar uma depressão. 

Um estudo publicado na Dialogues in Clinical Neuroscience revela que 69% de pessoas que preenchiam aos critérios clínicos para a depressão procuravam um médico para dores e problemas físicos. As perturbações de humor podem de facto surgir sob a forma de enxaquecas, inchaços, dores de costas ou dores nas articulações. 

De facto estas dores e problemas não desaparecem se a depressão não for tratada. Um estudo Norueguês de 2007 descreve que os participantes com sintomas significativos de depressão apresentavam um maior risco de morte associados às causas de morte mais comuns, como ataque cardíaco, AVCs, problemas respiratórios e problemas do sistema nervoso. 

Fica uma lista dos sintomas físicos mais comummente associados à depressão. 

1. Enxaquecas 

Alguns relatos clínicos sugerem que 40% das pessoas com enxaquecas sofrem paralelamente de depressão. Um estudo de 2009 revela que 11% das pessoas com enxaquecas sofria de uma ou mais perturbações de humor, desde depressão grave a ataques de pânico. 

2. Dores nas Articulações 

As pessoas que sofrem de fibromialgia são 3.4 vezes mais propensas à depressão grave que as pessoas que não sofrem desta doença. As dores nas articulações são desagradáveis e por si só causa de algum abatimento, contudo a rigidez, a inflamação e o dano à cartilagem podem de facto ser sintomas de depressão (que causam alterações de humor ao mesmo tempo) 

3. Problemas Digestivos 

A ligação entre o nosso sistema nervoso e os nossos intestinos é complexa. Com cerca de 500 milhões de neurónios o intestino é frequentemente referido como o nosso segundo cérebro. As células nervosas do nosso intestino fabricam entre 80% a 90% da serotonina no nosso corpo. 

4. Dores no Peito 

Os pacientes com problemas cardíacos que sofrem de depressão tendem a apresentar mais sintomas cardíacos que pacientes que não sofrem de depressão. O risco de morte por problemas cardíacos é fortemente amplificado pela depressão. 

A depressão e a ansiedade afetam os ritmos cardíacos, aumentam a pressão sanguínea, aumentam a insulina e os níveis do colesterol, e aumentam os níveis das hormonas de stress. Dores no peito e um batimento cardíaco rápido podem de facto ser sintomas tanto de ansiedade como de depressão. 

5. Dores nas Costas 

Apesar da falta de dados científicos que comprove a relação entre depressão e dores nas costas, existem alguns indícios desta relação. As pessoas tendem a carregar muita tensão na coluna vertebral, no pescoço e nas costas, o que se faz sentir enquanto dores e rigidez. As massagens podem ser muito úteis nestas circunstâncias. 


quarta-feira, junho 10, 2015

Hipnose substitui anestesia nas cirurgias - Hipnocirurgia

Alguns hospitais europeus têm vindo a desenvolver ao longo ds anos uma alternativa à anestesia geral durante as cirurgias. A hipnocirurgia consiste na utilização da hipnose durante os procedimenos cirúrgicos, de forma substitutiva ou complementar à anestesia.

Ficam dois videos muito elucidativos sobre esta aplicação da hipnose em contexto de cirurgia.



segunda-feira, junho 08, 2015

Tristeza ...? Ou Depressão?


"Era muito difícil conseguir levantar-me da cama de manhã. Só queria esconder-me debaixo dos lençóis e não falar com ninguém. Não me apetecia comer nada e perdi bastante peso. Nada tinha interesse. O cansaço era sempre-presente e não conseguia dormir bem durante a noite. Mas sabia que tinha de continuar em frente porque tenho filhos e um emprego. Parecia impossível, como se nada
fosse mudar ou ficar melhor."

As pessoas com depressão não sofrem todas dos mesmos sintomas. A gravidade, frequência e duração dos sintomas dependem da pessoa e das particularidades da doença.


Os sinais e sintomas da depressão incluem:


- Sentimentos persistentes de tristeza, ansiedade ou sentimentos de vazio
- Sentimentos de desespero ou pessimismo
- Sentimentos de culpa, falta de valor próprio, ou desamparo
- Irritabilidade, inquietude
- Perda do interesse em atividades ou hobbies outrora prazerosas, incluindo o sexo
- Cansaço e diminuição da energia
- Dificuldade de concentração, de recordação de pormenores, e de tomada de decisões
- Insónia, acordar de manhã demasiado cedo, ou sono excessivo
- Ingestão excessiva de alimentos, ou perda de apetite
- Pensamentos de terminar com a vida, tentativas de suicídio
- Dores físicas, dores de cabeça, caibras, problemas digestivos que não melhoram com o tratamento.

A psicoterapia ajuda a pessoa a lidar com as emoções penosas que alimentam e mantêm a depressão. Muitas vezes é necessário todo um trabalho de fundo sobre a presença de relações perturbadas na vida da pessoa que podem estar a causar ou a agravar o quadro de depressão, sejam estas relações parte da vida presente ou da vida passada da pessoa.

Para depressões ligeiras a moderadas, a psicoterapia pode ser a melhor opção. Contudo, para depressões graves ou para algumas pessoas, o tratamento poderá envolver uma combinação de psicoterapia e medicação.

Alguns estudos demonstram, por ezemplo, como adultos que se submeteram a um tratamento combinado de medicação e psicoterapia tornavam-se menos propensos a novas quedas depressivas após um periodo de 2 anos.



Fonte: National Institute of Mental Health (EUA)

sexta-feira, junho 05, 2015

Final de semana com acompanhamento musical


Fica mais uma sugestão musical para relaxar (ou estudar) neste final de semana!

A Psicronos deseja-lhe um muito bom fim-de-semana!


quarta-feira, junho 03, 2015

14 sinais de um perfecionismo fora de controlo




 Se alguma vez chorou por conseguir um resultado abaixo de "excelente" ou terminar algo em segundo lugar, há uma grande probabilidade de ser uma pessoa perfecionista.

Enquanto cultura, temos tendência em recompensar os perfecionistas pela sua insistência em estabelecer metas altas e sua forte vontade em alcançar as mesmas. Os perfecionistas são frequentemente pessoas que alcançam muito mesmo, mas pagam um preço pelo sucesso que pode ser a infelicidade crónica e a insatisfação.

Ao tentar agarrar as estrelas no céu os perfecionistas podem acabar de mãos vazias, agarrados ao ar. São pessoas com propensão para relacionamentos perturbados e perturbações de humor.

O perfecionismo não tem necessariamente de atingir níveis de exigência enorme para que causem danos severos na vida e na saúde. Até os perfecionistas casuais (que até podem nem se considerar enquanto perfecionistas) podem sentir os efeitos secundários negativos da sua exigência pessoal pela excelência. 

Ficam aqui 14 sinais de que o perfecionismo pode estar de facto a retê-lo(a):

1. Sempre teve uma predisposição para agradar

2. Sabe que a sua vontade de perfecionismo está a predudica-lo(a), mas considera-o o preço do sucesso

3. Tende a procrastinar bastante

4. É fortemente crítico(a) dos demais

5.  Adota uma atitude de "tudo ou nada"

6.  Tem dificuldade em partilhar aspetos íntimos de si com os demais

7. As falhas e insucessos são penosamente sentidos como falhas do "Eu" e não como avaliações pontuais de contexto

8. Tende a levar tudo a peito

9. Torna-se particularmente defensivo quando criticado

10. Nunca está realmente onde acha que deveria estar

11. É-lhe penosa a ideia de receber uma avaliação de "mediocre", numa escala de "mau", "mediocre", "bom" e "excelente"

12. Tem prazer nos fracassos alheios, ainda que não tenham qualquer relação consigo

13. Sente uma nostalgia secreta pelos tempos de escola

14. Sofre frequentemente de sentidmos de culpa e/ou vergonha


Por detrás do perfecionismo pode estar a crença "eu não sou suficientemente bom", e respetivas consequências que esta crença tem para toda a dinâmica interna da autoestima. Com efeito a psicoterapia consegue trabalhar em profundidade e ao longo do tempo as questões subjacentes ao perfecionismo, promovendo atitudes e comportamentos mais adaptativos, aumentando ao mesmo tempo a satisfação para com a vida, com o trabalho e para com as relações.


Leia o artigo original aqui (versão inglesa)
Fonte:
HUFF POST: The Third Metric

segunda-feira, junho 01, 2015

Tonalidades Negras da Educação Parental


A educação de um filho é preocupação fundamental para um pai. Naturalmente ajudar uma criança a tornar-se num adulto bem-sucedido e feliz é, lato sensu, a tarefa mais importante de qualquer pai. Mas é curioso e particularmente interessante como a palavra "educar", tal como por exemplo a palavra "amor", pode de facto albergar tantos significados diferentes... 

Para alguns pais o “educar” assume uma dimensão exagerada, de tal modo que algumas vezes se sobrepõe a tudo o resto que é igualmente fundamental. A diligência em estabelecer regras, enunciar saberes e atribuir deveres pode por vezes imperar de tal modo que se converte na principal resposta ou recurso que um pai tem disponível para lidar com as várias necessidades, experiências, preocupações, angústias e confusões naturais de uma criança pequena. Uma necessidade quase vital de orgulho no saber educar e no desempenho da função parentais, a irritação frequente ou os problemas de saúde mental são por exemplo motivadores destas atitudes quando elas se mostram mais exclusivas. 

De facto a forma como alguns pais percebem e lidam com o conceito e com a realidade da educação parece ligar-se por vezes a uma necessidade/vulnerabilidade narcísica de fundo. Como se a educação se tratasse de um veículo de expressão de um imperativo para a imposição da própria vontade sobre a vontade da criança (e eventualmente sobre a vontade das outras pessoas). Como se a não obediência ou resistência da criança a essas imposições, saberes ou conselhos gerasse com demasiada frequência irritação, crítica depreciativa, rejeição ou desinteresse nos pais. 

Assim, muitas vezes a "educação" divorcia-se do desejo de estar e conviver com a criança. Do brincar com a criança, fonte da aprendizagem, que se faz logo a partir da mais tenra idade a partir do "brincar ao fazer e fazer a brincar". E de uma relação que se ergue a partir da cumplicidade e a partir da disponibilidade de um pai paciente que ajuda a criança a compreender-se a si mesma, o seu mundo e as suas relações. Só com isto se amadurece verdadeiramente e só consegue a possibilidade de se crescer com um sentido de autonomia e confiança nas próprias capacidades, bem como nas relações com os demais. 

A parentalidade é de facto algo muito diferente do que a encenação de um papel de autoridade impositora do dever e do saber, que reage com irritação, rejeição e/ou depreciação quando a sua autoridade não se faz cumprir ou o seu saber moral ou intelectual não se faz seguir. Aqui, a figura amada converte-se e mistura-se confusionalmente com a figura persecutória. 

É o objeto (figura de investimento afetivo e de relação) insecurizante, indutor e cristalizador dos sentimentos de insegurança e de pouca competência, pois não ajuda verdadeiramente no aprender e no crescer, mas pune, retirando-se enquanto objeto disponível, paciente e compreensivo, o verdadeiro objeto na relação com o qual se forja internamente o sentimento de capacidade e de competência. E quando se retira em atitude, leva com ele o nutrimento-relação vital para que a criança possa crescer e se autonomizar. 

É a psicologia da dificuldade no reconhecimento da autonomia dos demais e do desejo autónomo (separado; diferente do desejo do próprio sujeito) dos demais. A criança é a extensão que desempenha uma função, muitas vezes ligada à manutenção da autoestima dos pais ou representante de outros recursos internos que por algum motivo a estes lhes faltam ou lhes faltaram ao longo do percurso do desenvolvimento. São algumas vezes crianças (inconscientemente) colocadas a servir como que de psicoterapia para os pais, por exemplo para iludir sentimentos de vazio, atenuar angústias de separação ou servir enquanto recetáculos para as necessidades projetivas dos pais (de se livrarem de sentimentos ou outros aspetos repudiados deles mesmos, colocando-os na criança e assim conseguindo algum alivo, frequentemente à custa da saúde mental da criança). 

Uma educação que mais se assemelha a uma espécie de domesticação será marcada por exemplo pela contínua imposição, pelo obliterar do espaço para o pensamento e para a expressão, induzindo na criança algo semelhante ao que um adulto sente quando é encarcerado, vendo-se sem liberdade de escolha das suas circunstâncias. No seu extremo estas imposições podem fazer-se acompanhar de ameaças à integridade física, castigos cruéis, abandono, e mesmo de agressões físicas efetivas, o que é mais ou menos análogo ao atirar uma criança para um calabouço e trancar a porta à chave. Aqui se constituem as bases para adultos temerários, com dificuldades de autonomia e autoestima de maior ou menor grau. 

Uma das chaves para uma educação (relação) sã é a possibilidade de se poder pensar em conjunto com a criança, sempre com tolerância a não se saber como ela vai usar as novas ideias que vão surgindo, mas oferecendo a disponibilidade para ajudar a orientar no que quer que surja efetivamente. Daqui brotam adultos mais seguros e autónomos.