quinta-feira, novembro 30, 2006

Commitee on Woman and Psychoanalysis


Entre os dias 26 e 28 de Janeiro de 2007 vai realizar-se em Lisboa o “3rd Cowap European Conference on Incest and Paedophilia”. Os interessados poderão obter mais informações em www.ipa.org.uk

quarta-feira, novembro 29, 2006

Os Signos e os Símbolos

O pensamento simbólico é a marca distintiva mais específica da condição humana e resulta de uma transformação que se insere no processo de hominização. Aristóteles já afirmava que não se pensa sem imagens… Zusman (2005) refere que a transformação do signo em símbolo é parte essencial do processo de pensar. Segundo o autor o conceito de rêverie de Bion exemplifica um dos aspectos da transformação do signo em símbolo pois só quando a criança introjecta a capacidade de rêverie da mãe é que adquire capacidade de produção simbólica. Ora a capacidade de transformar o pensamento sígnico em pensamento simbólico depende da conjuntura dos processos conflituais da personalidade e da intensidade emocional das vivências.

Também Bruner (1990) pretende mostrar que para além dos recursos físicos e psíquicos, a condição humana é reflexo da cultura e da história, e só tem sentido se for interpretada à luz do mundo simbólico que constitui a cultura humana. Segundo o autor, a construção do eu é o resultado de um núcleo de consciência cujo significado se encontra “interpessoalmente distribuído” e que se encontra enraizado em circunstâncias históricas e culturais, fazendo da psicologia cultural uma psicologia interpretativa.

Jung (1989) refere que os símbolos são fruto do inconsciente e aponta para a estreita relação dos símbolos mitológicos com os símbolos dos sonhos assinalando a forte probabilidade de grande parte dos símbolos históricos provir directamente dos sonhos ou por eles ter sido estimulada. Já Freud (1901; 1916) refere que o simbolismo dos sonhos não pertence propriamente ao sonho, mas às representações inconscientes do povo, surgindo numa forma mais perfeita nos mitos, lendas e ditos espirituosos.

Larsen (1991) parece concordar com Freud ao afirmar que a mitologia cultural se fragmentou quando a ciência e tecnologia ofereceram formas confiáveis de compreender e controlar a natureza, tendo perdurado a profunda necessidade humana pelos símbolos. A este respeito o autor faz referência à mitologia pessoal uma vez que defende que a experiência humana sem o mito é insatisfatória e ignorante e que parte desses mitos pessoais vêm à tona nos sonhos, devaneios, sensações corporais, jogos, paixões, lapsos verbais, rituais, música, dança, escrita, desenho e pintura espontânea.

O pensamento de Larsen (1991) evoca uma espécie de perpetuação do simbolismo dos contos infantis ao defender o conceito das personagens interiores (“um teatro mágico que está sempre em funcionamento dentro de nós e que é ao mesmo tempo humano e divino p. 201). Figuras significativas como os guardiães, o senhor do abismo, heróis, vilões, velhos sábios, palhaços ou bruxas representam um sector de actividade criativa exemplificativo das características de personalidade que influenciam a consciência e têm tanto de colectivo como de individual.

Desde o dia 24 de Novembro que está patente no edifício-sede da Fundação Calouste Gulbenkian, mais uma edição da Festa dos Livros. Vale a pena passar por lá para encontrar a preços muito (mesmo muito!) acessíveis, um conjunto de livros com a chancela da Gulbenkian. Clássicos da Filosofia, Psicologia, Dissertações de Mestrado e Doutoramento... há de tudo!

Não há é desculpas para quem se queixa da falta de tempo porque o horário de funcionamento é lato o suficiente para ir ao encontro de todas as agendas (Domingo a quinta-feira: 12.00h às 22.00h; Sexta-feira/sábado e feriados: 12.00h às 24.00h).

Um conselho adicional: segundo pude apurar no domingo passado, os livros que estão à venda vão mudando de semana para semana, pelo que vale a pena fazer mais que uma visita!

terça-feira, novembro 28, 2006

BION diz que...

Um psicanalista em pleno exercício das suas funções deverá ser:

  1. Um cientista em busca da verdade
  2. Um místico em permanente estado de fusão com a verdade incognoscível
  3. Um artista para captar o sentido estético das comunicações, sabendo-as comunicar eficazmente

Acho simplesmente genial a forma poética, estética e autêntica como Bion nos fala do que é para ele ser psicanalista....

O amor à verdade que Bion nos fala ao longo da sua obra, é um instrumento terapêutico muito importante, ; verdade essa que pode ser transmitida através das interpretações que o psicanalista faz, no entanto ele diz-nos Amor sem verdade não é mais do que uma paixão; e verdade sem amor não passa de uma crueldade.

cit. in Zimerman, 2001. Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise

segunda-feira, novembro 27, 2006

Recapitulando o I Forum de Educação para a Saúde Escolar e Comunitária

A propósito do último post que coloquei, em que dei a conhecer o I Forum de Educação para a Saúde Escolar e Comunitária, venho agora fazer a síntese desses três dias, onde contámos com a participação de vários conferencistas de renome: Daniel Sampaio para o tema da sexualidade, João Goulão para a área da toxicodependência, entre outros, e umas dezenas de comunicações, entre a quais a minha.
Todas as comunicações incidiram sobre os pontos chave da prevenção e promoção de estilos de vida saudáveis nas áreas da alimentação saudável, da sexualidade responsável, do consumo de substâncias, da prática desportiva assim como na formação e boas práticas em promoção de estilos de vida saudáveis.
Ao longo destes 3 dias ficámos a conhecer projectos locais de intervenção nas diversas áreas, assim como o modus operandi de alguns.
Estes pressupostos são assumidos pelo Programa Nacional de Saúde Escolar, sendo uma das metas chave, devendo as escolas adoptar metodologias activas na prevenção e promoção, chegando desta forma, ao conceito de escolas promotoras da saúde.
É ainda de realçar que a saúde mental é uma das metas importantíssimas traçadas por este programa.
A prevenção é uma das apostas fortes da saúde, quer física, quer mental e é preciso que todos unam esforços para conseguir transformar os problemas em projecto e assim criar boas práticas em educação para a saúde.
Este forum promete voltar daqui a 2 anos.

Angustia e Ansiedade. Qual é qual em termos de diagnóstico?



Com alguma frequência somos confrontados com a utilização de termos e conceitos por parte da população que confundem e baralham as nossas avaliações.

Como exemplo disto, temos os termos e conceitos de angústia e ansiedade. Não vamos pensar, que apenas os nossos clientes se confundem e têm dúvidas acerca da sua definição. Os gregos chamavam-lhe agkô ou angchö que significa apertar ou estrangular e que em latim produziu dois verbos ango, apertar fisicamente (aperto \ opressão) ou angustia (originou também angor e angina) e anxio ou anxius, que significa atormentar (tormento \ inquietação) ou ansiedade.

Claro que o paragrafo acima, ilumina um pouco a discussão mas não fecha o assunto de modo a não causar dúvidas. Para isso vários psicólogos deram a sua contribuição para esclarecer esta questão.

Em 1844 Kierkegaard com a noção “angustia perante o nada” e mais tarde Jaspers (1913) “o medo é dirigido para algo e a angustia não tem objecto” colocaram o enquadramento de classificação psicopatológica que se tem mantido até hoje.

Podemos portanto utilizar o termo ansiedade num sentido “racional”, prospectivo, cinético e conotada com uma inquietação esperançosa, enquanto que a angustia é mais corporalizada, retrospectiva e inibitória.

Claro está que esta discussão está longe de estar acabada com várias ”achegas” de investigadores actuais a completarem da melhor maneira a separação entre os dois termos.

Agora o que importa é saber quais os conceitos e definições do nosso interlocutor para que possamos ajustar a nossa linguagem à dele.
Por falar nisso, o que é para si angustia e ansiedade?

sábado, novembro 18, 2006

Relatórios de observação/avaliação Psicológica

Na quinta-feira passada estive a apresentar uma comunicação nas I Jornadas Ibéricas da Doença de Alzheimer que decorreu em Almeirim organizada pela APFADA. No intervalo em conversa com um colega abordamos a questão complexa dos Relatórios de observação psicológica. O colega é da opinião que devemos reduzir ao mínimo a elaboração de relatórios escritos e privilegiar a transmissão da nossa opinião técnica em entrevista. E quando somos “forçados” a elaborar um relatório, ele deve ser o mais vago possível. Esta posição é fundamentada no risco de os nossos relatórios serem muitas vezes utilizados contra o paciente, principalmente, quando se trata de crianças. O relatório fica anexado ao processo da criança e ela passa a “carregar” aquele peso e poderá ser penalizada ou alvo de marginalização pela exposição desnecessária da sua vida privada e das suas dificuldades pessoais.

Compreendo os argumentos do colega e concordo que, infelizmente, os relatórios de observação/avaliação psicológica são muitas vezes utilizados de forma “perversa”; contudo parece-me que a resolução do problema não pode passar pela escusa do psicólogo a desempenhar uma função para a qual deverá estar devidamente habilitado. A produção de relatórios com informação vaga e ambigua, na minha opinião, não resolve o problema e favorece a opinião publica de que os psicólogos são técnicos demasiado subjectivos e que os seus relatórios “não acrescentam nada”.

Acho que devemos trabalhar no sentido de alertar os nossos pacientes/clientes para o facto de um relatório psicológico ser um documento confidencial e que apenas deverá ser permitida a leitura do mesmo por técnicos da área da saúde mental ou por outros profissionais obrigados ao sigilo. Acho que devemos chamar a atenção para os pais de que é da responsabilidade deles preservarem aquela informação como confidencial e não permitirem a sua anexação aos processos dos alunos.

Parece-me que também é fundamental divulgarmos a ideia de que uma observação psicológica tem uma validade limitada à data em que foi realizado o exame. A utilização de testes e instrumentos de avaliação aumenta a fiabilidade e o rigor da observação e análise, mas é preciso ter presente que toda a observação é condicionada e por isso apenas descreve as características de uma determinada pessoa num momento preciso da sua vida. A personalidade, as competências cognitivas, os traços psicopatológicos, os sintomas e os conflitos são mutáveis e transformam-se com o amadurecimento e a experiência de vida.

Doença de Alzheimer




Veja os 10 sinais de alerta para a doença de Alzheimer

domingo, novembro 12, 2006

Psicoterapia Existencial

A psicoterapia existencial não se baseia numa teoria do aparelho psíquico ou da personalidade. Fundamenta-se na filosofia da existência e tem como método de investigação a fenomenologia. Tem como objectivo a análise da existência e o seu objecto de estudo é o ser-no-mundo.

Não há uma única e unificada perspectiva da psicoterapia existencial. Tal como não há um entendimento uno da psicanálise, como diria o Prof. António Coimbra de Matos, existem sim, um conjunto de investigações psicanalíticas. O mesmo acontece com a psicoterapia existencial. As contribuições da fenomenologia de Edmund Husserl e da filosofia da existência, onde se incluem autores como, Sören Kierkegaard, Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty, influenciaram decisivamente a cultura contemporânea, as ciências sociais e humanas, em particular, a psicologia e a psicoterapia. Nesta última, deram origem as diferentes sensibilidades terapêuticas, inicialmente desenvolvidas por Ludwing Binswanger e Medard Boss, posteriormente diversificadas em diferentes escolas terapêuticas, de que são exemplo a Daseinsanálise, a Escola Humanista-Existencial Norte-Americana, a Psicoterapia Existencial desenvolvida por Ronald Laing e, mais recentemente, a Escola Britânica de Análise Existencial.

Importa sublinhar igualmente, todo um corpo teórico e de investigação que tem vindo a ser desenvolvido a nível internacional, desde o início do século XX, pela psicologia fenomenológica, criando assim um espaço epistemológico fundamental entre filosofia, psicologia e psicoterapia.

Propomo-nos apresentar, muito sucintamente, aqueles que nos parecem ser os princípios unificadores da psicoterapia existencial, se quisermos, pressupostos epistemológicos que terão, naturalmente, implicações na intervenção terapêutica.

Espaço Inter-relacional

As relações que a pessoa estabelece reflectem e expressam a forma única e particular que cada um de nós tem de ex-sistir no mundo. Só é possível fazer sentido da vivência humana no e pelo seu contexto relacional. Esta perspectiva coloca ênfase numa visão inter-psíquica do homem em contraponto a um olhar intra-psíquico.

Intencionalidade

O que define um acto de consciência? A fenomenologia salienta o carácter intencional da consciência. Toda a consciência é consciência de algo. A intencionalidade salienta que os actos de consciência não existem por si mesmos, estão sempre direccionados a algo. A consciência não actua fechada sobre si mesma. A plasticidade do sentido é igualmente realçada. Sujeito e objecto, são co-constituídos, interdependentes um do outro, influenciando-se mútua e permanentemente. A interrogação da intencionalidade é sobre o sentido. Somos seres em permanente criação de sentido.

Visão do Mundo (World View)

O self é pois construído relacionalmente. A existência permanece aberta, em constante flutuação. Passamos pelas etapas de crescimento que a psicologia do desenvolvimento salienta. No entanto, vamos criando e sedimentando uma visão do mundo. Formamos significados sobre a nossa forma de estar, de como nos posicionamos em relação aos outros, como nos colocamos no espaço social. A visão do mundo – o world view é a construção psicológica incarnada que temos de nós próprios. Os nossos pressupostos têm origem na necessidade que temos de dar sentido à nossa vivência. O sentido da existência é formado pela consciência intencional, criando a nosso world view.

Angústia Existencial

A visão do mundo coabita em paradoxo. A sua plasticidade possibilita transformações. Por outro lado, constitui-se como edifício sedimentado, que permite orientar-nos e se torna, por vezes, inquestionável. São regras adquiridas. Formam a nossa identidade, os nossos limites e horizontes de acção. Se todo o sentido da nossa vivência é construído no espaço inter-relacional, então, este não depende apenas de mim, precisamente, é sempre co-constituído com um Outro. Experiencia-se, neste sentido, o abismo de uma incerteza que nos envolve. A noção de conflito é importante nesta perspectiva, conflito provocado pela própria responsabilidade da liberdade que nos assiste, ao ter de escolher a nossa existência, sempre em contexto de uma facticidade própria e singular.

Psicoterapia Existencial

O psicoterapeuta existencial irá procurar mapear a tensões existenciais que as pessoas vivem. Os dados da existência, i.e., as noções de angústia, sentido ou falta de significado, responsabilidade e liberdade de escolha, do limite temporal da nossa existência, da autenticidade ou inautenticidade perante si e os outros, a solidão que pode ser experienciada ainda que vivenciada num mundo relacional, a consciência de temporalidade, de espacialidade e corporalidade, bem como forma como vivemos o sonho, o devaneio, são aspectos cruciais para se promover uma análise do pro-jecto existencial.

O objectivo do psicoterapeuta é estabelecer uma relação de confiança, promovendo um espaço seguro e adequado para se realizar uma investigação, uma exploração da maneira como a pessoa está no mundo. Clarificar e descrever, em primeiro lugar, o modo como a pessoa é em e na relação. A preocupação central, deste modo, não é o alívio do sintoma, alterar esquemas cognitivos ou provocar a mudança. Estes poderão ocorrer, provavelmente a próprias pessoas que procuram uma psicoterapia assim o desejem, no entanto, a ênfase teórico-prática desta abordagem não passa inicialmente por uma perspectiva de cura. Como se investiga o ser-no-mundo?

Serão necessários seguir alguns princípios. São princípios orientadores não deverão ser entendido como esquemas estanques ou rígidos.

O primeiro movimento do terapeuta existencial, passa por um despojamento do seu saber, acção que assenta na redução fenomenológica. Colocar, por momentos, entre parêntesis os conhecimentos teóricos, evitando a pressa de aplicar grelhas explicativas à existência singular que se apresenta perante nós. Num primeiro momento descreve-se, não se interpreta.

Paralelamente, o terapeuta tem uma postura de not-knowing, (noção inicialmente introduzida por Karl Jaspers), i.e, partirmos do princípio que não conhecemos verdadeiramente a experiência do outro e, que os nossos quadros teóricos não têm necessariamente uma explicação válida, para os fenómenos que nos surgem, tal como surgem.

Significa assim haver uma aceitação do outro tal como ele é. Manter e ficar com a experiência do outro tal como ela se nos apresenta. Parecendo um ideia óbvia, diríamos que, mais frequentemente do que por vezes nos apercebemos, o terapeuta afasta-se desse outro que o procura, refugiando-se nos seu saber teórico, espaço de aparente segurança.

Com o desenvolvimento do processo terapêutico, estabelecida uma boa aliança, o terapeuta existencial, poderá então utilizar a principal ferramenta de investigação: a relação que estabeleceu com a pessoa que o procurou. A relação terapêutica, sem caminhos previamente estabelecidos, constitui-se assim como espaço de construção entre sujeitos que se colocam numa posição propícia para perspectivar o horizonte de possibilidades do ser-aí se interpretar. Um interpretar que é feito a partir de uma co-narrativa, com uma dinâmica interna e que se projecta nesse espaço intersubjectivo relacional, como mundo outro. Um outro de si-mesmo.

O espaço terapêutico existencial, lugar de encontro entre alteridades, tem como objectivo promover o confronto com as possibilidades e as limitações de transformação pessoal e de responsabilização pela construção da existência singular de cada um de nós.

Daniel Sousa
Sociedade Portuguesa Psicoterapia Existencial
Psicoterapeuta Existencial (Society For Existential Analysis, London e UKCP - United Kingdom Council for Psychotherapy, London)

Auto-conhecimento e saber viver

1 - Faça pausas de dez minutos a cada duas horas de trabalho, no máximo. Repita essas pausas na vida diária e pense em si, analisando as suas atitudes.
2 - Aprenda a dizer não sem se sentir culpado ou achar que magoou. Querer agradar a todos é um desgaste enorme.
3 - Planeie o seu dia, sim, mas deixe sempre um bom espaço para o improviso, consciente de que nem tudo depende de si.
4 - Concentre-se numa coisa de cada vez. Por mais ágeis que sejam os seus processos mentais, poderá cansar-se excessivamente.
5 - Esqueça, de uma vez por todas, que é imprescindível. No trabalho, em casa, no grupo habitual. Por mais que isso lhe desagrade, tudo anda sem si, a não ser, você mesmo...
6 - Abra mão de ser o responsável pelo prazer de todos. Não é você a fonte dos desejos, o eterno mestre de cerimónias...
7 - Peça ajuda sempre que necessário, tendo o bom senso de pedir às pessoas certas.
8 - Diferencie problemas reais de problemas imaginários e elimine os imaginários, porque são pura perda de tempo e ocupam um espaço mental precioso para coisas mais importantes.
9 - Tente descobrir o prazer de factos quotidianos como dormir, comer e tomar banho, sem também achar que é o máximo a se conseguir na vida.
10 - Evite envolver-se na ansiedade e tensão alheias enquanto ansiedade e tensão. Espere um pouco e depois retome o diálogo, a acção.
11 - Família não é a sua pessoa. Está junto a si, compõe o seu mundo, mas não é a sua própria identidade.
12 - Entenda que princípios e convicções fechadas podem ser um grande peso.
13 - É preciso ter sempre alguém em que se possa confiar e falar abertamente ao menos num raio de cem quilómetros. Não adianta estar mais longe.
14 - Saiba a hora certa de sair de cena, de retirar-se do palco, de deixar a roda. Nunca perca o sentido da importância subtil de uma saída discreta.
15 - Não queira saber se falaram mal de si e nem se atormente com esse lixo mental; escute os que falaram bem, com reserva analítica, sem qualquer convencimento.
16 - Competir no lazer, no trabalho, na vida a dois, é óptimo... para quem quer ficar esgotado e perder o melhor.
17 - A rigidez é boa na pedra não no homem. A ele cabe firmeza, o que é muito diferente.
18 - Uma hora de intenso prazer substitui com folga 3 horas de sono perdido. O prazer recompõe mais que o sono. Logo, não perca uma oportunidade de divertir-se.
19 - Não abandone as suas três grandes e inabaláveis amigas: a intuição, a inocência e a fé.
20 - Entenda de uma vez por todas, definitiva e conclusivamente: Você é o que fizer.

Conselhos dados por Guerdjef e publicados pelo Instituto Francês de Ansiedade e Stress. A tradução é brasileira pelo que nem sempre faz uso de um português correcto.
Genericamente estes conselhos são bastante interessantes, mas elencar em 20 itens, os princípios orientadores de auto-conhecimento e saber viver é sempre, na minha opinião, uma falácia.
Auto-conhecimento e saber viver são descobertas pessoais que implicam percorrer um caminho individual e não a adesão a princípios pré-estabelecidos.

sexta-feira, novembro 10, 2006

O Mestre e o escorpião

“Um Mestre Oriental viu um escorpião que se estava afogando, decidiu tirá-lo da água mas quando o fez, o escorpião picou-o.

Como reacção à dor, o Mestre soltou-o e o animal caiu à água e de novo estava a afogar-se.
O Mestre tentou tirá-lo outra vez, e novamente o escorpião picou-o.
Alguém que tinha observado tudo, aproximou-se do Mestre e disse:

- Perdão, você é teimoso? Não entende que de cada vez que tentar tirá-lo da água ele o picará??!
O Mestre respondeu:
- A natureza do escorpião é picar e isso não muda a minha natureza, que é ajudar.

Então, com a ajuda de um ramo, o Mestre retirou o escorpião da água e salvou-lhe a vida.
Não mudes a tua natureza se alguém te magoar. Apenas toma precauções.”


Na prática terapêutica muitas vezes somos confrontados com pessoas que não conseguem mudar a sua “natureza”, cabe-nos ser criativos como o mestre e encontrar meios de contornar os “ataques” dos clientes dando-lhes significado e valor existencial.
Ou seja, mostrar ao escorpião que a sua defesa está a impedi-lo de ser ajudado. Mas primeiro, o escorpião tem que confiar em quem o quer ajudar. Nós, por outro lado, não podemos mudar a natureza de ajudar!

Ficamos a pensar… como e porquê este sujeito aprendeu este modo de relacionamento?

sexta-feira, novembro 03, 2006

Notícias mais a Sul

Nos dias 16, 17 e 18 de Novembro realizar-se-á, em Faro, no Grande Auditório do Campus de Gambelas da Universidade do Algarve, o I Fórum do Algarve de Educação para a Saúde Escolar e Comunitária.

sites associados:
www.apf.pt ; www.arsalgarve.min-saude.pt ; www.drealg.min-edu.pt

segunda-feira, outubro 30, 2006

Medição nas Passerelles - discriminação ou um bem comum?

A propósito do post do Pedro, e motivada por um amigo que me deu a conhecer a situação e me incitou a escrever sobre a polémica que se gerou à volta da Pasarela Cibele, um evento de moda que decorre em Madrid, aqui fica este post. Este evento tem edição bianual e na edição de Setembro deste ano novas regras eclodiram; a necessidade de medição do IMC - índice de massa corporal, como forma de selecção. Quem não obteve um IMC de 18 foi rejeitada. Esta medida foi aplaudida por muitos - mais a classe médica, e criticada por muitos outros. Logo outros países quiseram seguir os espanhóis, e em Londres, chegou uma carta aberta dos médicos reinvidicando a implementação das mesmas medidas.
Também os especialistas portugueses aplaudiram a medida pensando ser esta uma ajuda às jovens que sofrem de disturbios alimentares.

E porque se implementou esta medida, e porquê o IMC 18? Quais as motivações?

Em primeiro lugar porque na Europa o IMC considerado normal situa-se entre os 20 e os 23. A partir de 25 é excesso de peso, mais de 30 é obesidade. Abaixo dos 16 revela algum risco de vida. Desta forma, percebe-se o porquê dos 18.

O porquê desta medida e quais as motivações, parece-me que se prende com o facto do aumento das perturbações alimentares nas adolescentes, e pela sua dificuldade em "identificar as armadilhas do consumo" como nos diz o Pedro. Em Portugal estima-se que uma em cada 250 raparigas entre os 10 e os 17 anos sejam vítimas dos ideais de beleza e pretendam adquirir um "corpo naturalmente esbelto como o de uma gazela" - Cathy Gould, Elite.

Os traços de personalidade dos adolescentes contribuem para o despoletar da doença, assim como a diminuição da ingestão de alimento, que leva ao aumento da hormona Cortisol que, por sua vez conduz ao aumento do stress e da depressão. Depressão essa que está sempre associada, umas vezes mais mascarada, outras vezes mais à superfície. Nesta doença existe um forte desfasamento entre o desenvolvimento intelectual e emocional, com investimento muito grande a nível intelectual.

Estas jovens mantêm grandes fantasias à volta do corpo e da comida, numa forte clivagem com a realidade, utilizando a negação como o mecanismo de defesa primordial.
Para elas a única coisa que faz sentido na vida é controlar a fome, ocupando desta forma, a vida psíquica com comida e valores calóricos.

Há uma relação patológica com o corpo, um processo psicológico muito complexo que se reflecte na imagem, uma vida afectiva extremamente pobre, fazendo com que apenas se sintam fortes ao negarem a comida, aliás a única coisa que controlam.

Este tipo de perturbação segue um padrão normal, mas a patologia associada é variada, enquadrando-se sempre com a história pessoal. Por isso é que se requer sempre uma intervenção muitidisciplinar, pois não interessa apenas controlar o peso e readquirir um IMC normal, mas igualmente um acompanhamento psicológico prolongado, como forma de diminuir o sofrimento destas adolescentes e permitir que não hajam recaídas, quando já estão em recuperação e com um peso normal.

Mas nesta fase existe novamente um controlo apertado do IMC, isto porque o desenvolvimento da doença pode levar a que uma anoréctica se transforme em bulímica e em casos extremos em obesa. Não será este o antagonismo da doença, os limites a que somos alvo, as imposições a que estamos sujeitos?
Não terão sido estas as motivações para a implementação de uma medida restritiva e discriminatória nas passerelles espanholas, ou por outro lado uma medida inteligente aludindo ao facto de que comportamento gera comportamento, e mais uma vez referindo o post do Pedro, uma mudança de comportamento...

domingo, outubro 29, 2006

Intervenções Psicoterapêuticas

No dia 4 de Novembro vai realizar-se no ISPA o 2º Encontro do departamento de formação permanente e este ano o tema é:

Intervenções Psicoterapêuticas – Que desafios para a formação?


Infelizmente não poderei estar presente porque irei estar a dar aulas em Coimbra. Aconselho, contudo, todos os colegas recém-licenciados (e não só) a estarem presentes. O programa permite a visão “panorâmica” de uma série de tipos de psicoterapia e os interessados poderão tentar perceber com qual (ou quais) se identificam mais.

Programa:

  • Psicoterapia Emocional/Bonding
  • Psicoterapia Existencial
  • Psicoterapias Breves
  • Psicoterapia Gestalt
  • Psicoterapia Psicanalítica
  • Terapias Comportamental e Cognitiva
  • Psicoterapias Construtivas
  • Arte-Terapia
  • Musicoterapia
  • Terapia Familiar
  • Psicodrama

Para obter mais informações consulte o site do ISPA ou utilize o email dfp@ispa.pt

Aguarelas - Babysitting e Eventos


Uma colega e amiga abriu um serviço de babysitting de qualidade superior. Fica aqui a referência do Blog para quem precisar.

www.aguarelas-babysitting-eventos.blogspot.com/

sexta-feira, outubro 27, 2006

Obesidade e Mudança Comportamental

Numa época em que se verifica uma transformação dos paradigmas da doença. A obesidade está a tornar-se na “mãe” de todas as outras.
Esta “mãe” gera mal-estar físico e psicológico. As questões ligadas ao mal-estar físico não me dizem respeito directamente. Uma vez que me cabe a mim diagnosticar ou tratar um diabético que obteve esta doença através de uma dieta desequilibrada e consequente excesso de peso.
No entanto, todo este quadro de nutrição desequilibrada e excesso de peso é gerado por comportamentos do sujeito.
Aqui entramos nas questões ligadas à psicologia. Por vezes os casos de obesidade mórbida escondem outras patologias a nível psicológico e estas têm que ser diagnosticadas e tratadas paralelamente com a dieta prescrita pelo Nutricionista. Afinal cada alimento que colocamos na boca é uma escolha, mas será que as pessoas que estão em dietas de redução de peso sabem porque escolheram ficar doentes?
Cabe ao psicólogo ajudar o cliente a descobrir os porquês de tais comportamentos lesivos para a sua saúde. Mas cabe também ao psicólogo ajudar o cliente a encontrar estratégias eficazes de modificar comportamentos de risco. Ou seja, identificar as armadilhas do consumo, os padrões de comportamento alimentar e implementar hábitos de exercício físico regulares.

Em resumo, e em tom de brincadeira. Quando nos entra um sujeito com problemas de peso no consultório, não podemos pensar em comer… temos que pensar como este cliente vai passar o seu tempo enquanto não come!!!

terça-feira, outubro 24, 2006

O amplo feminino II

No artigo “Sobre como é que as mulheres ficaram em silêncio”, Maria Emília Marques questiona-se partindo de dois pressupostos, um primeiro, explicitado no excerto do post deste blog, “O amplo feminino”, directamente ligado às várias visões e discursos históricos, sociais e culturais lançados sobre a natureza da mulher.

“… uns afirmam uma natureza leviana e instável, mesmo violenta, que contém em si o germe e a essência da desordem e da discórdia, que exigiria a sua inscrição numa lei-ordem que teria de lhe ser imposta de fora; outros proclamam uma natureza sagrada, fértil e fertilizante, mas a precisar de ser conduzida e dominada por ser perigosa; outros, referem a natureza já dominada, masoquista e submissa; por fim, outros inquietam-se porque teria uma natureza enigmática.”

Ainda dentro desde pressuposto, a autora frisa o inevitável lugar que o feminino sempre ocupou, lugar de um questionar constante e fundamental, embora surja, neste tipo de discursos, ora silenciado, ora subjugado.

Depois, o silenciar o feminino ressurge numa forma inquietante, o silenciado é algo que está sempre prestes a emergir. O masculino, aquele que ordenaria e subjugaria o feminino, impondo-lhe várias leis e reivindicando e conquistando os seus produtos, remeteu-o para o duplo lugar da exclusão e do indizível, enquanto, por outro lado, ele permanece no lugar do imanente e do inacessível.”

Um segundo pressuposto seria o da leitura do próprio psiquismo no seio da compreensão psicanalítica. Este pressuposto remete a leitura do feminino para uma questão mais ampla, em que, e mediante a apreensão que a autora tem do humano e de acordo com o seu exercer clínico, feminino e masculino habitariam cada um de nós à luz das identificações, no seio das relações e da intersubjectividade. Desta forma, feminino e masculino separar-se-iam da condição da mulher e da sua correlação à condição do homem. De uma forma directa e concisa, feminino não será mulher e masculino não será homem. Esta leitura requererá uma maior e mais profunda captação de significações, não se prende com uma mera diferença de sexos.

A diferença de sexos tem sido sempre alvo de caracterização, de classificação, mesmo de hierarquização. (…) De facto, o dizer sobre um sexo está sempre na relação com o outro sexo. Falar de um sexo impõe sempre colocá-lo perante o outro sexo. Há uma inevitável e incontornável reciprocidade entre os sexos. Só que temos de saber o que nesta reciprocidade sabemos sobre o específico de cada um dos sexos, ou se só sabemos da relação de um a outro.”

Para não prolongar mais este post, termino deixando a questão em aberto… para um amplo feminino III.

Será necessário poder afirmar-se uma especificidade para além desta reciprocidade, na busca de uma identidade.”

domingo, outubro 22, 2006

Palavras...


Ao pensar nas palavras para a composição do presente post, dou por mim a reflectir no valor e lugar que ocupam as palavras. As palavras que pensamos, ecoamos, dizemos, ... O valor das palavras no contexto da relação terapêutica. Já Freud, no seu artigo intitulado " A Questão da Análise Leiga" punha na voz da pessoa imparcial, inspirado em Hamlet, "Nada mais do que isto? Palavras, palavras, palavras, ...", sublinhando que as palavras são um instrumento poderoso na nossa prática clínica.
Mas, se as palavras assumem a sua qualidade na cosntrução literária, por exemplo, é no seu pronunciar, pela voz humana, que ganham seu mais íntrinseco significado. É quando ganham corpo no sentir de quem as profere que também em nós impelem seu valor semântico (?!), nem sempre correspondente ao significado real de quem as enuncia mas interiorizadas pelo sentido singular de quem as ouve..
Pensando mais uma vez no que se tece no espaço e tempo de uma relação terapêutica, as palavras por si só não revelam seu total valor mas o significado emocional que contêem, e o pensar sobre esse mesmo siginicado, num lugar onde reina a intersubjectividade é que elas talvez possam revelar mais de si. Pensar com alguém, na presença então de um outro que co-pensa. O poder das palavras eventualmente assume-se no aqui e agora, onde passado, presente e futuro (con)fundem-se. O acto de pensar as palavras no enlace relacional, numa Outra relação, numa nova relação, como diria Coimbra de Matos, ou como diria Widlocher, o co-pensamento que permite a prática associativa no contexto da relação terapêutico, embebe as palavras do que em si sustentam de mais profundo dos seres que as evocam e entoam...
Enfim, palavras soltas...

sábado, outubro 21, 2006

Filosofia Clínica

Na revista Sábado desta semana vem uma entrevista com o filosofo Lou Marinoff. Este filósofo é considerado o pai do aconselhamento filosófico ou filosofia clínica e autor "Mais Platão, Menos Prozac!".

Encontrei também num quiosque de revistas à venda o primeiro número de uma nova revista de Filosofia (brasileira) que também dá um enorme destaque à Filosofia Clínica. Parece ser uma modalidade de ajuda psíquica que começa a ter alguma aceitação e que na minha opinião poderá estimular algumas reflexões.

A Psicologia e a Filosofia são parentes próximos. A Filosofia é a mãe de todas as ciências, mas nos últimos anos tem vindo a perder, infelizmente, a sua condição de disciplina base na constituição da educação. A psicologia e a grande maioria das psicoterapias são “filhas” da filosofia, no entanto devemos questionar-nos sobre qual poderá ser o efeito de colocar filósofos a fazer o trabalho de psicoterapeutas. Ao ler os artigos que anteriormente referi fiquei “espantada” com a proximidade à psicoterapia existencial, de apoio e também, de forma mais superficial, à psicoterapia psicanalítica.

Poderá o aconselhamento filosófico ser suficiente para resolver os problemas psíquicos? Enquanto psicoterapeuta com mais de uma década de prática clínica, parece-me difícil que o aconselhamento filosófico seja capaz de ajudar pessoas com níveis de angústia muito elevados, mas acho genericamente a ideia interessante. Parece-me que é necessário que as pessoas se interessem mais por reflectir e pensar sobre si próprias e sobre a vida que têm. Se entendi bem, os recursos técnicos da filosófica clínica passam principalmente pelo aconselhamento da leitura de obras filosóficas e posterior analise das mesmas em conjunto com o cliente e a articulação dessas filosofias com a vida pessoal e concreta da pessoa que se sente angustiada. Esta abordagem técnica parece-me ter à partida uma limitação porque a maioria das pessoas não é capaz (leia-se não tem interesse suficiente, ou nalguns casos, a capacidade de abstracção suficientemente desenvolvida) de ler um romance, sendo pois improvável que o façam com uma obra filosófica.

No artigo da revista Filosofia a prática da filosofia clínica aproxima-se bastante do trabalho realizado em psicoterapia psicanalítica influenciado pelo pensamento de Wilfred Bion, mas num nível que me parece ainda bastante superficial e banhado por um optimismo ingénuo. Estará, contudo, a filosofia a fazer uma aproximação à psicologia/psicanalise?

Algumas ideias da Filosofia Clínica:

“As pessoas devem deixar as muletas e arranjar recursos interiores para enfrentar os problemas”;

“Considerando a Filosofia como uma atitude de construção de conceitos a partir de um problema de uma realidade singular, a Filosofia Clínica coloca-se como uma terapêutica centrada na pessoa e no respeito à sua singularidade, dispondo-se a pensar sobre o problema apresentado pela pessoa, a partir do plano da realidade singular dessa mesma pessoa”;

“O filósofo assume a função de cuidador, investido do conhecimento produzido em toda a história da filosofia”.

“Quando um partilhante procura um filosofo clínico, em geral o faz porque algo o incomoda. Em conversa inicial, filosofo clínico e partilhante estabelecem o primeiro momento da cínica: a intersecção, a qualidade da relação entre ambos. Após a conversa, o partilhante preenche uma ficha clínica com dados pessoais, termo de esclarecimento e consentimento para o trabalho clínico. Partindo do principio que nos construímos a partir da história de nossas vivencias, o próximo passo consiste em colher o histórico de vida do partilhante, contado por ele mesmo, cronologicamente e em detalhes. Esse histórico servirá de fonte para a obtenção de dados sobre os três eixos fundamentais: Exames categoriais, Estrutura do pensamento e Submodos.

Enquanto o partilhante conta a sua história, o filósofo clínico limita-se a interferências mínimas, apenas para permitir a intersecção, pedindo continuidade, levando a pessoa a retomar o curso da sua história em caso de este se perder.
O filósofo clínico entende que o partilhante poderá, inicialmente, omitir dados, distorcê-los, mentir, inventar, entre outras coisas. Ainda assim, os dados distorcidos o são a partir de referenciais do partilhante. Sua Estrutura de pensamento desvenda-se ainda que o histórico contenha distorções.

No procedimento seguinte, Divisão, a história do partilhante é recontada, agora com delimitação de períodos, para que sejam feitas correcções e aquisição de mais dados, pois ao contar a história, o partilhante poderá optar por uma linha de raciocínio, contando, por exemplo a sua história familiar, escolar, de trabalho, ou afectiva, deixando de lado muitos outros elementos vividos. O procedimento divisório é repetido inúmeras vezes até que não surjam dados novos.

Terminada a divisão é o momento dos Enraizamentos. Trata-se de um processo epistemológico para pesquisar o conteúdo de termos e estabelecer relações e testar hipóteses clínicas”.
In Filosofia, (1) Ano I, 2006, Ediora Escala. pp. 70-81

Penso que a filosofia clínica é uma corrente com potencial, se bem que ainda esteja numa fase bastante inicial. Será algo a acompanhar com interesse.

terça-feira, outubro 17, 2006

O amplo feminino...

“…enquanto mulher interrogo-me e procuro argumentos para a desqualificação e o silenciamento que marcam algumas visões e discursos sobre o género feminino, visões e discursos segundo os quais algo na mulher seria/ teria uma segunda natureza, natureza essa que teria de ser domada ou dominada, o que também significa silenciada e excluída.”

Maria Emília Marques, "Sobre como é que as mulheres ficaram em silêncio",
Revista Portuguesa de Psicanálise, nº 23, 55-74