terça-feira, maio 22, 2012

A IMPORTÂNCIA DO "NÃO"


Dizer “Não” aos filhos é uma das dificuldades mais frequentes que os pais apresentam nos dias de hoje. Curiosamente é uma das primeiras palavras, se não mesmo a primeira, que as crianças aprendem. Não é por acaso que por volta dos 15 meses, a criança diz “Não” enquanto explora e olha para os pais pelo canto do olho, antecipando o que vai ouvir. Também não é por acaso que ergue o dedo indicador e refila em resposta à repreensão dos pais. Desde cedo, a criança procura autonomizar-se, recorrendo a um certo negativismo que serve o seu desejo de independência, mas também a procura de proteção.

Quando testa os limites, a criança está a pedir ajuda para aprender o que pode ou não fazer. Como refere o pediatra americano Brazelton, “a disciplina é um projeto de ensino a longo prazo”. O mais importante para a criança é o amor e a aprovação dos pais, pelo que tentará sempre responder e corresponder às suas expetativas. Expetativas consistentes, razoáveis e previsíveis ajudam a criança a ganhar controlo sobre o seu comportamento.

Apesar do aumento significativo do diagnóstico de hiperatividade e da tentativa de o tornar mais rigoroso, muitas destas crianças são, na verdade, “hiper-mal-educadas”. O que não significa que não sejam crianças em sofrimento. Crianças omnipotentes, que querem (ou precisam) controlar tudo e todos, mas que procuram que alguém as controle, ou seja, que as contenha.

Com o ritmo acelerado que a maior parte das famílias vivencia atualmente, a exaustão é inimiga da tolerância. A criança passa todo o dia ansiosa por voltar a ver os seus pais e quando isso acontece, tende a extravasar as emoções. Os pais estão cansados, as crianças estão cansadas, o que por vezes dificulta a gestão do comportamento e das emoções. Por outro lado, os pais sentem-se culpabilizados pela sua ausência, não querendo estragar o pouco tempo que têm com negociações ou repreensões. Talvez em relação com as suas próprias vivências, alguns pais acham que se contrariarem a criança esta vai gostar menos deles, até porque muitas vezes lhes diz “és mau/má, não gosto de ti”. E é nesta altura que os pais devem dizer “mas eu gosto muito de ti, mesmo quando me zango contigo ou tu ficas zangado/a comigo”.

Quando a criança não ouve um “não”, isso vai gratificá-la em algumas situações, mas principalmente vai deixá-la num grande estado de insegurança. Digo muitas vezes aos pais que é como se a criança sentisse que se quiser atirar-se da janela, os pais vão deixar porque, afinal, nunca lhe dizem que não. E esta falta de limites, de contenção, de proteção, deixa a criança com um tremendo sentimento de desamparo. Daí a sua necessidade de controlar o meio, com birras, passagens ao ato, etc. A criança procura ser travada. Para a pedopsiquiatra e psicanalista Maria José Gonçalves, a satisfação imediata, seja em que área da vida da criança for, dificulta-lhes o lidar com a realidade e com os seus constrangimentos". Por este motivo é tão importante a consistência das regras; se se cede uma vez, a criança vai aprender que se insistir muito, vai conseguir o que quer. E este comportamento vai estender-se à relação com os professores e com os amigos, de quem vai sentir rejeição e incompreensão, por se ver confrontada com a frustração a que não está habituada, o que pode alimentar os comportamentos de oposição e até de agressividade. É, por isso, essencial perceber que a realidade tem limites, que existe o certo e o errado, e também desta forma a criança aprenderá a fazer escolhas e a dizer “não” ao que lhe pode fazer mal.

A maior parte das crianças não precisa de muitas regras, nem que estas sejam muito rígidas. Precisam sim de regras consistentes, razoáveis e previsíveis. Aliás, para o psicanalista António Coimbra de Matos, mais do que disciplina, “as crianças precisam de ter um ambiente disciplinado e organizado”.

segunda-feira, maio 21, 2012

PARABÉNS

Pois é, mais um aninho passou e o nosso blog já fez 6 anos.
Estamos todos de parabéns, colaboradores e leitores!

Um dia feliz!

domingo, maio 20, 2012

BURACOS NEGROS

Esta fotografia da NASA mostra estrelas a serem "sugadas" por um buraco negro.
Tudo isto se passa muito longe, num universo indiferente às nossas dores e ansiedades.
Entretanto, na outra ponta do mediterrâneo, joga-se o futuro do sonho europeu. Os bancos rebentam, as pessoas sofrem, as potências realinham-se. A velha história da humanidade, num cenário que já viu mutas convulsões. Há buracos negros perto de nós.

http://www.nasa.gov/mission_pages/chandra/news/H-12-144.html

sábado, maio 19, 2012

Distinguished Psychoanalytic Educator Award 2012

António Coimbra de Matos foi galardoado com o prémio - Distinguished Psychoanalytic Educator Award 2012 - prémio com que o IFPE -  The International Forum for Psychoanalytic Education, distingue anualmente uma "Personalidade de Mérito" associada à excelência do ensino da Psicanálise.

sexta-feira, maio 18, 2012

DSM-V: CONTROVÉRSIAS


Dois terços dos peritos que trabalham para a revisão do manual de referência americano de diagnósticos psiquiátricos, o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), referem ligações financeiras com a indústria farmacêutica, segundo um estudo publicado na revista Public Library of Science, representando a mesma proporção da revisão precedente.

A publicação da próxima edição, o DSM-5, pela American Psychiatirc Association, está prevista para Maio de 2013. Para além dos conflitos de interesse com a indústria farmacêutica, o DSM é objeto de  inúmeras críticas, nomeadamente, da parte de algumas secções da American Psychological Association e da British Psychological Society, protestando contra a expansão desmedida de diagnósticos psiquiátricos, bem como, contra a tendência para reduzir os critérios para o diagnóstico de variadas perturbações. O risco associa-se à estigmatização e medicação facilitadas, resultando em limitações sociais (ligadas à estigmatização) e compromissos ao nível de saúde decorrentes dos efeitos secundários dos medicamentos abusivamente prescritos.

quinta-feira, maio 17, 2012

Is there such a thing as gender leadership?" 24 Maio às 18h30

Clara Pracana "Is there such a thing as gender leadership?"
Invitation to Chair’s Ladies Event, 24th May, 18:30h, Católica Lisbon

Worldwide the proportion of women in top management posts is only 15%. What explains these results obtained by women in top posts, including in politics? Is there a kind of "female" leadership?
Several studies suggest that women get better results in several items of leadership. The stereotype of women leaders is confirmed: they are attentive, good listeners, have the capacity to communicate and inspire, facilitate the participation, know how to motivate, have the capacity to work and resilience.
They classify higher than men in all dimensions, except one: the "envisioning" (ability of vision combined with strategy). Why is it so?
Another question: why is it that so few girls want to study engineering or mathematics? Are these two issues connected? How can we encourage more women into The Lisbon MBA?
To register click here

EMOCIONALMENTE MUDOS, ou o mundo da alexitimia




"I mean, being a robot's great, but we don't have emotions, and sometimes that makes me very sad." 


Bender, Futurama

O homem de lata do "Feiticeiro de OZ"
Etimologicamente alexitimia quer dizer : sem palavras para as emoções (do grego : a, ausência, lexis, palavra e timia, emoção ).  

As pessoas que têm uma especial dificuldade em identificar e descrever estados emocionais à medida que estes acontecem, e em distinguir os sentimentos das sensações físicas que os acompanham, são apelidadas clinicamente de alexitímicas. 
Na verdade, o conceito de alextimia, foi inicialmente proposto por Sifneos (1972) que trabalhava com doentes psicossomáticos, sofreu revisões posteriores, e define-se actualmente através das seguintes dimensões:
>dificuldade a identificar sentimentos e em distinguir entre sentimentos e sensações físicas de estimulação emocional,
>dificuldade em descrever sentimentos aos outros,
>imaginação diminuída, e
>estilo de pensamento ligado ao mundo exterior.
(Taylor, Bagby e Parker, 1997)
Mr Spock, personagem do "Star Treck"
Os “alexitímicos podem ter, com posterior reflexão, uma sensação vaga de que estavam sob o domínio de uma forte emoção” (por ex.,  uma tristeza chorosa, ou uma ira raivosa) “mas ficam, em geral,  perdidos quando tentam perceber o que levou essas emoções a manifestarem-se”. Por outras palavras, “não conseguem imaginar o que estimulou o seu  humor, a sua disposição. Quando muito podem ter uma sensação desconfortável de algo que mudou no seu corpo” (por ex., o aumento da frequência cardíaca, o corar ou a sensação de borboletas no estômago), e quando pressionados a descrever os seus sentimentos, “os alexitímicos não têm palavras para oferecer, e podem atrapalhar-se, avançar com um resposta forjada ou simplesmente mudar de assunto.”
É frequente o indivíduo “interpretar erradamente a expressão física da emoção como uma expressão física de doença, por exemplo, as lágrimas no rosto tornam-se, não tristeza, mas um defeito no canal lacrimal; o coração acelerado de paixão, uma válvula defeituosa; ou um aperto de ansiedade no estômago, uma apendicite.”
Para estas pessoas  os “estados emocionais podem ser atribuídos a influências adversas de ambiente, como uma mudança no barómetro, tóxicos no ar, ou um colchão desconfortável. É como se houvesse um elo perdido que permitiria que à imaginação formar uma imagem da situação emocional para a mente trabalhar”. 
Stoic Woobie
É importante uma mais clara compreensão desta perturbação, até porque suscita um déficit  comunicacional, de percepção de si e dos outros, com tremendo impacto em toda a esfera relacional (parentalidade, relações conjugais, relações profissionais, etc), e entender que nestas pessoas  as manifestações emocionais surgem muitas vezes travestidas de uma forma somática, e as emoções são geralmente” indiferenciadas, vagas e inespecíficas”.  Não deve ser confundida com outras perturbações ( por ex., com a psicopatia/socopatia, a perturbação de personalidade esquizóide, o estoicismo, e repressão das emoções, a alexitimia masculina normativa, a vergonha e a apatia da fobia social), o que nem sempre é fácil. Também é aconselhável algum cuidado de diagnóstico diferencial, na medida em que subsistem conceitos próximos que se sobrepõem parcialmente a este e co-morbilidades a ter em conta (autismo e síndrome de Asperger, compulsividade obsessiva, perturbações alimentares, perturbações de stress pós traumático, perturbações de personalidade, perturbações depressivas e de ansiedade, perturbações psicossomáticas e abuso de substâncias, doenças e lesões físicas)
Entender as causas (biogénicas ou psicogénicas) desta perturbação tão investigada e tantas vezes associada às perturbações psicossomáticas e doenças físicas em geral, é importante para escolher  a psicoterapia mais adaptada a estas pessoas devendo em geral ser orientada para a melhoria do seu bem estar social e psicológico.
Referência:
Thompson, J. (2009). Emotionally Dumb. An overview of Alexthimia. Australia: Soul Books (eBook). 

segunda-feira, maio 14, 2012

1ª JORNADAS DE PRIMAVERA - ISPA

Têm estado a decorrer as 1ª JORNADAS DE PRIMAVERA no ISPA, sob a coordenação do Prof. Emílio Salgueiro. O programa segue abaixo e parece bem interessante.

19/5- Psicanálise, drama e tragédia - Sófocles, o Rei Édipo e Freud - Nuno Torres

26/5 - Paixão e nostalgia; angústia, medo e terror; curiosidade, triunfo e reparação - Eduardo Sá

2/6 - Afinal, para a psicanálise quem somos nós? E os outros? - Maria José Vidigal

9/6 - Cérebro e mente: mas o que têm as neurociências a ver com a psicanálise? - Emílio Salgueiro

16/6 - Psicanálise e psicoterapias: afinal o que é quês as distingue? Afinal o que é que ‘tratam’? - Nuno Torres





domingo, maio 13, 2012

BONECO DOS MEUS SONHOS (OU PESADELOS)

Uma empresa norte-americana dedica-se a produzir bonecos que correspondam o mais fielmente possível ao desenho da criança.
É uma ideia um pouco perturbante - poderão ler mais aqui.

http://www.childsown.com/

Entre a fantasia e o concreto é suposto existir um território indefinível - o da brincadeira.
E agora?

sábado, maio 12, 2012

Efeito Dessensibilização

No outro dia a almoçar com um colega e amigo falávamos daquilo a que circunstancialmente denominados como o efeito de dessensibilização. O efeito dessensibilização é amoral e manifesta-se sobre coisas boas e menos boas. Quando se manifesta sobre coisas más, desagradáveis é ótimo :-). É uma espécie de efeito inverso ao efeito do trauma que hipersensibiliza. Quando se manifesta sobre coisas boas é uma carga de trabalhos. É o efeito de dessensibilização que faz, entre outras coisas, com que os ricos não consigam ser felizes por serem ricos, habituam-se à riqueza, aos luxos e a tudo aquilo que a disponibilidade financeira ilimitada permite e deixam de ser capazes de a gozar porque dessensibilizaram.

No outro dia, bem antes do referido almoço, ao ver o filme Larry Crowne pensei: porque raio um homem que tem em casa uma mulher linda de morrer como a Julia Roberts, fica em casa a ver pornografia obsessivamente à procura de sites de mulheres com seios grandes?! E hoje, a minha resposta é: efeito de dessensibilização. Podemos até ter por parceira uma mulher linda de morrer como a Charlize Teron (a rapariga da foto) e ao fim de algum tempo o efeito de dessensibilização faz-se sentir e ela deixa de causar o impacto da realização de um sonho.

Claro que o efeito de dessensibilização demora mais a fazer-se sentir numa mulher ou homem lindo de morrer do que na mulher ou homem de beleza comum, mas não é isso que interessa, aquilo que interessa é o efeito de dessensibilização e a forma como ele acaba por burilar e suavizar a vivência emocional banalizando-a, neutralizando-a.

Na minha opinião o efeito de dessensibilização é evitado quando estimulado o efeito de refinamento (ou apuramento) - mais um nome inventado por mim -, este efeito corresponde ao aprimoramento da capacidade de tornar cada vez mais fina a sensibilidade a um determinado assunto, produto, etc. É o efeito gerado pelo melómano, o enólogo (profissional da degustação). A atenção concentrada e a procura do novo e do diferente no igual ou semelhante estimula a acutilância dos sentidos e desenvolve a capacidade de usufruto. Com o efeito de refinamento a mulher e o homem comum descobrem a possibilidade do gozo intensificado que o melómano encontra na escuta de uma obra prima musical ouvida centenas ou milhares de vezes. A intemporalidade de algumas peças musicais está no refinamento da capacidade de escuta a par da inesgotabilidade de uma peça que se cria e enriquece a cada audição.

A voz de Freud com 81 anos.

A voz de Freud com 81 anos.
Uma gravação realizada pela BBC em 1938.

Todos aqueles que estão intimamente ligados à Psicanálise desde há longos anos (e mesmo aqueles que são recém chegados) nutrimos um interesse particular e quase mítico por Freud, esse grande homem da cultura que concebeu e desenvolveu um sistema complexo que permite a compreensão e a modificação do psiquismo: A PSICANÁLISE.

Freud nasceu a 6 de Maio e este post é também uma homenagem ao seu nascimento e à sua memoria.

Ouçam a voz de Freud com 81 anos e compreendam o sofrimento de um tumor que o massacrava para além do insuportável.


Proliferação do mercado de novas drogas


O Observatório Europeu de Drogas e Toxicomanias fez saber que, em 2011, se descobriram 49 drogas novas. Representam o dobro dos anos anteriores acrescentando que o fenómeno está ligado ao crime organizado e cresce “a um ritmo sem precedentes” - é descoberta uma por semana.


Dá que pensar... e inquieta. O “artificial” está cada vez mais a atropelar o “natural”. Novos tempos, novos paradigmas, novas e rápidas mudanças a todos os níveis que exigem adaptação por parte de todos mas também reflexão, monitorização e adaptação (influência) no meio por parte de cada um de nós...

(A notícia pode ser lida na totalidade em http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=54021&op=all)

sexta-feira, maio 11, 2012

REDES SOCIAIS - parte II




 O MUNDO da BLOGOSFERA



Este imenso mundo, que todos nós gostamos de percorrer, fonte de sabedoria, conhecimento e transmissão, pode, por vezes tornar-se numa poderosa ferramenta de destruição, maldizer e difamação. Num estudo levado a cabo nos Estados Unidos acerca do tipo de utilizadores das redes sociais, verificou-se que a faixa dos 30 aos 40 era a mais"consumista", seguida da adolescência.

Alertada para o conteúdo de certo tipo de plataformas mais para adolescentes (por uma mãe), pude constatar que era um mundo de maldizer, difamação, puro "corte e costura" sem qualquer teor construtivo ou amigável. Orkut e Springform (especialmente esta última, na altura em que acedi) mais pareciam frentes de combate não poupando no arsenal defensivo e destrutivo, arrasando tudo por onde passavam...

Há relativamente pouco tempo, em conversa com um familiar (grande adepto da blogosfera),  fui novamente alertada para o teor de alguns blogs, comentários, neste caso! De uma maldicência, de uma frieza de conteúdos, de um jargão corrosivo, sem qualquer teor educativo, ou crítica construtiva...

E levou-me a pensar..., onde já vi isto? estarão os adultos a replicar os comportamentos dos adolescentes, ou estarão os adolescentes a replicar os comportamentos dos adultos??

O Bebé Silencioso


O Hospital Estefânia abriu consultas do bebé silencioso. "Há bebés calmos demais, e que quase não dão trabalho. Mas estes comportamentos podem esconder problemas graves como o autismo..." 

A entrevista ao responsável pela unidade da primeira infância em  http://www.paisefilhos.pt/index.php/actualidade/noticias/3613-bebes-calmos-demais-podem-ter-problemas

quinta-feira, maio 10, 2012

OS JOVENS E OS PAIS DOS JOVENS

O jornal Publico traz hoje uma entrevista com o prof. e investigador do ICS José Machado Pais sobre a sexualidade entre os jovens.
Interessante a referencia à falta de limites e de orientação que muitos jovens sentem.

http://jornal.publico.pt/noticia/10-05-2012/os-jovens-sofrem-uma-nova-censura-que-os-empurra-para-o-sexo-24515496.htm

Foto Miguel Madeira, Publico

ELES LÁ SABEM PROQUÊ

Jovens empreendedores, de varias nacionalidades, explicam por que escolheram Lisboa para viver e trabalhar.

http://www.youtube.com/watch?v=8NkJ9QrO2xo&feature=youtube_gdata_player

PROJECÇÕES E INTROJECÇÕES


“SHAME” : o novo filme do artista britânico Steve McQueen / Adição sexual e muito mais



"Shame" é um filme avassalador. Avassalador tanto estética, como narrativamente. 
E na nossa condição de voyeurs somos mais voyeurs, tão próximos que ficamos da personagem principal do Brandon, magnificamente interpretada pelo actor Michael Fassbender.  Sentimo-nos colados à sua pele, e ao mesmo tempo vemos dele o que os que com ele convivem não vêem totalmente, sem, contudo, o viver por dentro, sem identificação projectiva. 

A técnica de filmagem recorre ao close-up, a planos muito belos, próximos e precisos que nos aproximam forçadamente dos personagens, com uma crueza que capta o vazio e a nudez, e simultaneamente nos fazem ver e sentir... mais ou menos desconfortavelmente a vida sem passado, nem futuro de Brandon. Inóspita porque sem espaço para albergar afecto.

A história centra-se sobre o tema da adição sexual e do consumo de pornografia que tapa o vazio da existência do executivo nova-iorquino. Apesar da brutal proximidade, e da crueza doméstica do corpo, da quase ausência de história,  não nos escapamos da trama tecida de conflitos internos e relacionais, de desespero, de drama do vazio, e da incapacidade de intimidade. Este último aspecto fica bem claro num encontro com uma colega de trabalho, em que esta procura estabelecer um contacto mais humano e emocional, resultando num encontro sexual defraudado. O sexo já não pode acontecer ali contaminado que está pela aproximação e contacto.

Mas o epicentro da perturbação, uma tensão incestuosa indizível e omnipresente que atravessa o filme, acontece com a chegada da irmã Sissy ( belissimamente interpretada por Carey Mulligan)  e na intensidade da cena em que esta canta uma melancólica e perdida (como ela) versão do “New York, New York”.

O tema da incapacidade para estabelecer relações íntimas e verdadeiros laços afectivos, recorrente nos nossos dias, encontra eco nos nossos consultórios. Uma espécie de dor sem narrativa, nem conteúdo que se encontra enraizada no mais longínquo da história e experiências pessoais de cada um.  Sissy explode, e Brandon implode, como duas facetas desfeitas da mesma coisa.

Um filme que nos faz pensar, e que nos faz sentir, interpelando-nos como se espera de uma experiência estética, sem que a indiferença ocupe o lugar do espectador. Vício e abismo. Auto-destruição e vergonha. Sem redenção. A ver.

terça-feira, maio 08, 2012

JEAN LAPLANCHE 21/06/1924- 06/05/2012

Morreu Jean Laplanche, distinto e influente psicanalista francês, que dedicou várias décadas à revisão e ao (re)pensamento da teoria freudiana, bem como à defesa de uma maior cientificidade da Psicanálise.

Fica uma entrevista de 2007, com algumas das suas ideias.

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372007000100002&lng=pt&nrm=is

REDES SOCIAIS - parte I


Vieram para ficar e possuem um impacto fenomenal no nosso quotidiano. A título de exemplo deixo-vos um vídeo postado no youtube, com um cover de uma música muito badalada nas rádios mais comerciais, e da qual gosto particularmente. Este vídeo permitiu aos seus criadores o reconhecimento e ascensão no seu trabalho.

Foi visto: 103,342,859 vezes
Possui: likes, 9,556 dislikes 


Reparem no sentido de grupo, de partilha do espaço e noção de oportunidade (sabendo esperar o seu tempo para intervir)!

segunda-feira, maio 07, 2012

PARA NOS ENTENDERMOS UM POUCO MELHOR

Aqui está um video que explica de forma incrivelmente simples e didáctica o papel do id, ego e super-ego no nosso funcionamento mental.

Muito útil para quem se quer entender um pouco melhor, mesmo que não saiba nada de psicanálise.

http://youtu.be/O78LXXGQFvE

domingo, maio 06, 2012

SER MÃE

Num dia dedicado a todas as mães vale pensar o quer é ser mãe!
Será que existe uma única definição de mãe, um conceito restrito e partilhado por todos?
Muitas vezes, na clínica, deparo-me com a culpabilidade de mães que sentem que não são suficientemente boas (já Eduardo Sá escreveu acerca das mães suficientemente boas), que sentem que o que fazem é sempre pouco, que possuem sentimentos contraditórios, que apesar de gostarem dos filhos, por vezes sentem que se não os tivessem tido estavam melhor, e, claro está, este pensamento gera culpabilidade....
Enfim... uma teia onde constantemente ficam presas...
Muitas vezes esquecem que ser mãe é uma relação bidimensional; só somos mães se tivermos filhos e que é no seio desta relação que a cumplicidade se vai estabelecendo e nos vamos aperfeiçoando ao papel e ao filho. Que é através deste que também aprendemos muita coisa, e que ser mãe também é errar, falhar, frustar, esgotar, desesperar...
É necessário que cada uma de nós saiba dosear esta paleta de sentimentos e não deixe que a culpabilidade entre e ameace o bem-estar, pois deprimidos vemos tudo mais difícil e complexo (vide post da Clara) e a espiral do desespero cresce e lá estamos nós de volta à culpabilidade.
Ser mãe é errar, mas também o é reconhecer que errar faz parte do papel, é frustar pois nem sempre as coisas correm como previsto, ou o cansaço faz-nos ter menos disponibilidade, mas também o é desejar, aprender, ensinar e amar. É esgotar porque as horas de sono roubadas começam a fazer-se sentir, a desregulação hormonal faz-nos sucumbir num turbilhão de emoções e a dificuldade na gestão do tempo exige-nos mais do que podemos dar, mas também o é brilhar quando finalmente conseguimos perceber que, por entre muito desespero, podemos fazer asneiras, ter dias em que nos sentimos mais próximos ou mais distantes dos nossos filhos, alturas em que achamos que não estamos preparadas para lidar com tamanha responsabilidade, altura em que queremos nada fazer para além de uma boa conversa ou leitura, longe dos ruídos infantis, que temos necessidade de deixar os nossos rebentos com familiares e amigos para também nos divertirmos sem eles, e que isto não faz de nós piores mães, pelo contrário, faz-nos sentir realizadas, animadas e para além de mães, mulheres felizes!

A NOSSA OUTRA METADE

Li um artigo muito interessante sobre as melhores circunstancias para que ocorra a criatividade e o insight. Parece que se confirma que as associações mais improváveis e mais criativas têm origem no nosso hemisfério direito - a nossa outra metade.
Podem lê-lo aqui - e vale a pena:

http://bigthink.com/humanizing-technology/undisciplined-the-creative-insight-of-the-outsider?utm_source=Big+Think+Weekly+Newsletter+Subscribers&utm_campaign=695f3944b5-The_Creative_Insight_of_the_Outsider5_4_2012&utm_medium=email

A VIDA E A COR

E finalmente a primavera!
Sol (ainda intermitente), flores, abelhas...
A vida parece mais colorida, mais saborosa. É tudo uma questão de percepção (Vd. TED Talk do Rory Sutherland que a Ana Almeida postou)

(foto minha)

O PODER AO DOENTE

Este estudo divulgado pela psychomedia online

http://www.psychomedia.qc.ca/sante/2011-04-12/choix-de-traitements-recommandations-des-medecins

mostra que uma grande percentagem de médicos aconselham diferentes soluções quando estão a tratar alguém ou quando são eles próprios os doentes.
Alarmante, sem dúvida, mas nada que surpreenda. Contra isto só há uma solução: temos de tomar conta da nossa saúde (ou da falta dela), ouvir varias opiniões, informarmo-nos muito bem, decidirmos após madura reflexão.
No fim de contas, trata-se daquilo a que se chama o "empowerment". Nisto como noutras coisas, temos de saber tratar da nossa vida e da nossa morte.
Médicos, advogados, políticos, psicólogos, economistas, irão sempre dizer que eles é que sabem. Sim, sim...

sábado, maio 05, 2012

A importância da perspectiva

Numa apresentação do TED Talks, Rory Sutherland explica de uma forma brilhante a importância da perspetiva sobre a realidade. Raramente é a realidade que importa. Aquilo que importa é a perspetiva que temos dela.

Vale a pena ver e ouvir!

sexta-feira, maio 04, 2012

"Comédias e Dramas no Casamento"

Deixo-vos um exemplo retirado do livro de Guglielmo Gulotta, com este titulo, que "se destina a quem é casado, a quem queira casar-se, a quem não tenha vontade de o fazer e a quem está, ainda, na dúvida. Cada um encontrará os argumentos úteis para melhorar a sua vida conjugal, para compreender que isso é impossível, para a programar com racionalidade, para superar as suas dúvidas e, também, para justificar a própria decisão de se manter afastado de tanta complicação".
 O autor refere-se ao "turbilhão conjugal" com humor através da sua pratica clínica no acompanhamento a casais. Exemplo de um diálogo entre dois conjuges e o seu terapeuta (Laing, R,Nodi, Torino, 1974), e bastante frequente em terapia de casal:

Mulher: Repare, o que me faz ficar zangada é o fato de o meu marido estar sempre zangado.
Marido: Mas como pode ser isso se eu não me zango nunca...
Mulher: Está a ouvi-lo, doutor? O que me enraivece é que ele não fique zangado quando eu lhe digo que estou zangada porque ele está zangado...
Marido: Não é verdade, doutor, o fato é que sou eu que fico zangado por causa de ela estar assim tão furiosa por eu não estar zangado de fato...
Terapeuta (interrompendo): Bom, bom, de acordo, mas...
Mulher: Ele está sempre pronto a ofender-me.
Marido: Veja, eu é que acho ofensivo pensar que a minha mulher possa acreditar que eu a ofendo sempre, isso faz-me medo...
Mulher: Mas não deves ter medo, tens sempre medo de qualquer coisa...
Marido: Evidentemente, tenho medo de ter medo simplesmente porque tu me dizes que não devo ter medo.
Mulher: A verdade, doutor, é que o meu marido se diverte a fazer-me sentir estúpida.
Marido: Mas não és estúpida, sabes isso perfeitamente.
Mulher: Cá está, doutor, ele faz-me sentir estúpida pelo simples fato de o ter dito: assim, sou uma estúpida, quer por ter razão, quer por ter errado. Sou tão infeliz, doutor, por ele nunca estar contente!
Marido: Bom, eu não sou assim tão infeliz!
Mulher: É essa a minha infelicidade, ele não é infeliz mesmo sabendo que eu sou infeliz.
Marido: Se compreendi bem, eu deveria forçar-me a ser sempre feliz, para que ela esteja feliz por me ver contente; és uma grande egoísta!
Mulher: Eu, egoísta? Mas eu só penso em ti, dei-te sempre tudo!... etc, etc

IMPULSIVIDADE E CAPACIDADE DE ADIAR A GRATIFICAÇÃO

Na continuação dos posts sobre a impulsividade, é interessante descrever melhor a experiência citada abaixo (no post "ainda sobre a impulsividade"), realizada nos anos 60 sobre o auto-controlo e a "força de vontade" que envolvia o chamado "teste da guloseima" (marshmallow's test). O teste consistia em dar a possibilidade a uma criança de 4 anos de comer uma guloseima (disposta à sua frente num prato) ou esperar que o adulto, condutor da experiência (que entretanto se ausentava deixando a criança sozinha), retornasse à sala, passados 15 minutos, deixando-a comer, não uma, mas 2 guloseimas. Uma amostra, muito divertida do que se passou na experiência pode ser vista no vídeo (já postado anteriormente sobre o mesmo assunto):


Esta simples experiência parece estar relacionada com a capacidade de adiar a gratificação, algo que pôde ser confirmado mesmo muitos anos mais tarde: na faculdade verificou-se que os estudantes que tinham participado na experiência e resistido os 15 minutos para receber a segunda guloseima, tinham menos problemas de comportamento, de adições, de obesidade e, mais tarde, eram mais bem sucedidos nas suas vidas academico-profissionais!


quinta-feira, maio 03, 2012

A importância do Amor


O amor é um factor essencial na construção do sentimento de valorização de si mesmo, enquanto percepção da auto-imagem e auto-estima.

A maior reserva amorosa forma-se na infância, pelo amor que os pais dedicam aos filhos. Se esta reserva não for constituída ou se for insuficiente, o indivíduo com necessidade de ser amado e deprime face à mais leve perda de amor ou à sua curta ausência.

Inicialmente somos apenas matéria, para que possamos ser mais do que um simples corpo, necessitamos de quem nos pense, compreenda e satisfaça as necessidades básicas. O que exige uma preexistência de um ninho mental confortável, construído através do investimento no outro. Este interesse genuíno pelo outro, este amor é a semente da vida, que transforma o corpo em pessoa. A privação de condições adequadas tem como causa principal a deficiência ou falência do envolvimento do sujeito com o objecto.

O conhecimento afectivo de sentir-se existente perante o outro (no coração e na memória) e existir aí com permanência, garante a permanência e a constância do amor. Esta solidificação permitirá ao sujeito lidar com a introdução da frustração sem que esta adquira um carácter traumático.

Ainda sobre a impulsividade

Já faz algum tempo que não contribuo para o blog, e hoje tinha pensado partilhar algo diferente, mas não pude deixar de me sentir "influenciada" pelo post da Alexandra e mostrar um vídeo que ilustra na perfeição alguns pontos sabiamente tecidos pela minha querida colega.

Como poderão constatar cada um destes miúdos utiliza estratégias de evitamento, contenção distintas, sendo que alguns nem se esforçam!!

terça-feira, maio 01, 2012

CONTROLAR A IMPULSIVIDADE


São cada vez mais frequentes as preocupações relativamente à impulsividade e aos problemas de comportamento na infância. Este é um tema muito abrangente e muito mais haverá a explorar, mas pareceu-me interessante partilhar esta publicação.


As crianças passam ao ato de várias formas, desde as birras até à agressão, sendo estas explosões frequentemente encaradas como algo inevitável na infância. Porém, de acordo com os neurocientistas Sandra Aamodt and Sam Wang, co-autores de Welcome To Your Child’s Brain, o auto-controlo na infância é tão importante para a aprendizagem como a inteligência. Como ajudar então a criança a gerir a impulsividade? Existem três fatores que desempenham um papel fundamental na impulsividade: temperamento, funções executivas e desenvolvimento.

Temperamento: certas características, como o nível de atividade, a capacidade de adaptação, a intensidade do humor e os períodos de atenção são próprias da criança e não apenas o resultado das práticas parentais. É importante observar o temperamento da criança e identificar as suas reações a situações ou estímulos, bem como refletir sobre a forma como o temperamento dos pais se assemelha ou não ao da criança, e reconhecer os sentimentos de ambos como independentes. Esta reflexão pode influenciar a resposta do adulto à impulsividade da criança. A hesitação de uma criança inibida pode ser mais frustrante para uns pais extrovertidos, do que seria para uns pais mais introvertidos. Pais com uma personalidade mais controlada podem interpretar a impulsividade da criança como atitudes desafiantes, sem que o sejam.

Funções Executivas: alguns processos do funcionamento executivo, incluindo a capacidade de planear, resolver problemas e executar tarefas são até certo ponto inatas. Por exemplo, algumas crianças debatem-se com a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), enquanto outras sofrem de “hiposensibilidade”. Uma das formas de se ajudar a criança a desenvolver o controlo dos impulsos, e assim libertar energia mental para a aprendizagem, é promover um pensamento baseado no planeamento (porque é que vou fazer isto, como vou fazer, para quê), em oposição à ação-reação.

Desenvolvimento: assim que nasce, a criança manifesta estratégias de auto-regulação para se defender sobre-estimulação (ex.: vira-se quando há muita luz, leva a mão à boca para se tentar consolar). É importante observar estas capacidades e fortalecê-las, ajudando-a construir o momento entre o impulso e a ação. Crianças pequenas debatem-se com a intensa motivação para a independência perante o reconhecimento da sua (ainda) incompetência. Quando a criança bate ou morde, será importante parar o comportamento com ordens simples e firmes: “Não se bate, bater magoa”, e validar a sua frustração ou zanga, modelando formas apropriadas de as expressar, e promovendo assim o reconhecimento dos limites. A partir dos 3 anos, descobre o poder da linguagem na afirmação dos seus desejos e das suas necessidades, apesar das suas emoções por vezes explosivas. Adiar a gratificação (resistir à tentação) ajuda a criança a aprender a experimentar emoções, e não a ser conduzida pelas mesmas. Até aos 5/ 6 anos o auto-controlo pode ser promovido através de jogos/atividades físicas, e não pela expetativa de que a criança fique sentada e atenta por grandes períodos. A partir dos 7 anos, a criança possui uma grande capacidade de imaginação, que é aliada da construção da concentração e da auto-regulação. Quando a criança ultrapassa os limites, é importante ajudá-la a aprender formas de se acalmar a si própria.

Estratégias para encorajar o auto-controlo:

1.Ensine a criança a falar consigo própria. O discurso interno desempenha um papel fundamental no controlo do comportamento impulsivo. As crianças com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção parecem adquirir esta capacidade mais tarde do que a maior parte das crianças, o que contribui para uma menor capacidade de controlo dos impulsos.
  
2. Jogos de Memória. Muitos estudos apontam para a ligação entre a memória a curto-prazo e o controlo dos impulsos. Desenvolvendo a suas capacidades mnésicas, a criança compreende, interioriza e antecipa melhor as consequências dos seus atos.

3. Seja um modelo. Quando algo não corre bem, verbalize o que está a sentir e o que precisa de fazer para se acalmar.

4. Seja positivo: o criticismo e os julgamentos aumentam as reações emocionais (de sobrevivência) da criança. É importante recompensar o que merece ser recompensado, e guiar e apoiar o que não corre bem.

5. Mexam-se! O exercício e o movimento influenciam o foco e a atenção, melhoram a concentração e a motivação e tendem a diminuir a agitação e a impulsividade.




VIDA E MORTE

Poética animação. Palavras de Edgar Alan Poe.


http://vimeo.coRm/40291524

segunda-feira, abril 30, 2012

OS ATAQUES DE PÂNICO

Os ataques de pânico caracterizam-se por um medo muito intenso. Os pensamentos mais comuns durante o ataque são perda de controlo físico e/ou emocional, medo de desmaiar, enlouquecer e mesmo de ter um ataque cardiaco ou morrer. Estes surgem habitualmente acompanhados de sensações físicas, tais como batimento cardiaco acelarado, tonturas, falta de ar, dores no peito, dormência/formigueiro, transpiração, agitação e náuseas.


Na maioria dos casos o ataque de pânico atinge um pico dentro de poucos minutos, diminuindo depois gradualmente. Porém, pode levar algum tempo até voltar ao estado emocional normal. A primeira coisa a fazer é despistar causas com origem na saúde fisica, pelo sim pelo não. Se o resultado for que está tudo bem com a sua saúde, a razão é mesmo emocional e é isso que deve começar a tratar, procurando ajuda por parte de um psicólogo. Uma das abordagens com bons resultados em poucas sessões é o EMDR, abordagem sobre a qual pode ler mais na página da PSICRONOS.

Enquanto não obtém ajuda especializada pode tentar tranquilizar-se um pouco com a ideia de que a ansiedade que sente é desproporcional face ao perigo existente. Um ataque de pânico não pode causar insuficiência cardíaca ou um ataque cardíaco, não pode fazer você parar de respirar, desmaiar ou “enlouquecer”. O que não deve fazer é tentar distrair-se ou fingir que não está a sentir ansiedade porque muitas vezes é esse facto que aumenta a ansiedade, nem passar a evitar as suas atividades habituais pois isso vai fazer com que se tornem num problema ainda maior a longo prazo. Evite também auto-medicar-se, alguns medicamentos para a ansiedade podem criar dependência. Não receie procurar ajuda, ter um ataque de pânico não significa que seja fraco ou que tenha falhado, é apenas um sintoma que algo dentro de si não está bem e está a pedir-lhe ajuda.

domingo, abril 29, 2012

A NEBULA TARÂNTULA

Imagem, colorida, da nebula Tarântula, assim chamada por causa daquilo que parecem ser umas pernas de aranha.
Tanto mundo para além do nosso. E identificamos noutras formas as que nos são familiares e fazem parte do nosso mundo. Melanie Klein dizia que o bébé começa a ter uma ideia da geografia do seu mundo através do corpo da mãe.

(photo:NASA)

SOBRE O CASAMENTO

Um pequeno, interessante e provocante artigo sobre as origens do casamento. A autora é professora de sociologia.

http://bigthink.com/ideas/the-origin-of-marriage-and-the-evolution-of-divorce?utm_source=Big+Think+Weekly+Newsletter+Subscribers&utm_campaign=cd0bfeda32-You_Are_Not_Your_Brain4_27_2012&utm_medium=email

POR QUE PERDEMOS A CRIATIVIDADE?

Picasso dizia que toda a criança é um artista. Este artigo da BigThink explora a questão da perda da criatividade à medida que crescemos: perdemos a capacidade de brincar e de sonhar acordados.


http://bigthink.com/ideas/killing-creativity-why-kids-draw-pictures-of-monsters-and-adults-dont?page=2

sexta-feira, abril 27, 2012

Homofobia ou auto-fobia? - A importância do Inconsciente


Porque é que podemos ser mais intolerantes face a determinadas ideias ou pessoas?
De onde vem o potencial extremista que existe em cada um de nós?

O especialista Richard Ryan explica como a noção de inconsciente e consciente pode ajudar a compreender certas tendências e atitudes mais "viscerais" e radicais em relação aos outros, mais especificamente, em relação a sentimentos homofóbicos. A noção do "outro" dentro do "eu" ilustra a noção de inconsciente e permite compreender melhor as razões que levam as pessoas a se melindrarem e importarem tanto com comportamentos alheios.

terça-feira, abril 24, 2012

"AH, MAS É MUITO SIMPLES... É SÓ TER TINTA E FAZER FESTINHAS NO PAPEL COM O PINCEL!"


Fico apreensiva sempre que uma criança me diz que não sabe o que fazer com um pincel e uma caixa de aguarelas. É suposto as crianças terem uma capacidade quase inata para experimentar, fantasiar, brincar. Quando não o fazem, ecoa o ruído de um vazio interior, de uma prisão afetiva.

“Ah, mas é muito simples. Olha, tu arranjas um pincel, e depois é só ter tinta e fazer festinhas no papel com o pincel”

Estas são palavras de um menino que tentava ensinar a mãe a pintar, depois desta lhe dizer que não sabia pintar tão bem como ele. João dos Santos via nesta descrição espontânea, o reflexo do afeto, das festinhas que esta criança recebera em bebé. Afinal, fazer festinhas implica a consciência de um corpo, de onde começa e acaba o eu e o outro, que se adquire no contacto com os outros e com o próprio, ou seja, na relação. Através da sua espontaneidade, “tudo o que aparece é sensibilidade, é sentimento, é tudo o que há de menos intelectual e de mais expressivo, de mais sentimental”, defendia este psicanalista de referência em Portugal. Preocupa-me, portanto, que mesmo antes de iniciar o percurso escolar a criança já tenha perdido, ou nem chegado a desenvolver, esta espontaneidade.

As primeiras crianças que me disseram que não sabiam o que fazer com as tintas eram de famílias muito pobres e muito disfuncionais, que pouco mais sabiam fazer para além de destruir. Os seus olhos brilhavam quando juntos descobríamos o que podíamos afinal construir e unir. Seria o não saber brincar a consequência das carências económicas? Não. Há crianças não tão pobres que igualmente paralisam perante uma caixa de brinquedos ou uns frascos de tinta. A pobreza do brincar será, afinal, afetiva. Mas também aqui se vê a transformação quando repito as palavras daquele menino. “Vês? É só fazermos festinhas com o pincel”. E quando a criança se espanta com a gota de tinta que lhe cai na mão, “não faz mal, limpamos e fazemos festinhas nas nossas mãos e agora deixamos os pincéis e fazemos festas no papel com as mãos!”. E a inibição e o medo parecem dar lugar a um sorriso que espelha a esperança do afeto, das festinhas no coração.

É através da fantasia e da espontaneidade que a criança melhor se expressa, daí a importância do brincar e das expressões em psicoterapia infantil. Poder pintar o céu de verde e fazer de um livro um castelo, sonhar, imaginar, sentir… sem medo de estar certo ou errado.

A ausência da expressão na criança (brincar, pintar, saltar, rir, chorar) não constitui “apenas” uma problemática infantil.  Pergunto-me que adulto virá a ser esta criança que não sabe fazer o que de mais natural e genuíno existe? Afinal, como aprender a dar e a receber festinhas quando se tem uma infância tão vazia?

Felizmente, algumas destas crianças chegam-nos pela mão de pais preocupados com sinais que os filhos vão dando de uma ou outra forma. Pais e mães muitas vezes também vazios de afetos e que precisam de ajuda na reconstrução de uma relação saudável, na leitura e tradução das mensagens da criança, na construção de uma pele forte, mas permeável ao afeto.

segunda-feira, abril 23, 2012

Saúde, vida mental e psicoterapia


De acordo com  o U.S. Substance Abuse and Mental Health Services Administration  os adultos que tiveram algum tipo de doença mental no ano anterior tiveram maior probabilidade de ter hipertensão, asma, diabetes, doença cardíaca e AVC. 

Com a mente doente e incapaz de pensar o corpo assume o comando, dando voz a esse mal estar mas ficando assim exposto a um infindável numero de doenças.

Cuidar da nossa mente é pois essencial para ter uma vida saudável a todos os níveis. Fazer psicoterapia pode ser a solução, na medida em que permite ultrapassar situações traumáticas, perdas dolorosas, conflitos que bloqueiam a capacidade de ser. 



sábado, abril 21, 2012

sexta-feira, abril 20, 2012

A actual educação estraga as crianças - Eduardo Sá



Foi assim que iniciou a sua palestra no Colégio de Nossa Senhora do Alto, em Faro, uma iniciativa promovida em colaboração por aquela instituição e pelo Centro de Formação Ria Formosa sobre o "Envolvimento Parental na Escola". 

Perante um auditório com cerca de 280 pessoas, o conferencista afirmou que "a estrutura tecnocrática, em que se transformou a educação, faz mal" e criticou o "furor da formação técnica e científica" que levou ao esquecimento de que "o melhor do mundo não é a escola mas as pessoas e, em particular, as relações familiares". "Estamos a criar uma mole de licenciados e de mestres aos 23 anos que esperamos que sejam ídolos antes dos 30 e o fundamental não é isso", lastimou, lembrando que "estamos a exigir aos nossos filhos que sejam iguais a nós: que ponham o trabalho à frente de tudo o resto", esquecendo-nos de brincar com eles. 

O conferencista considerou que "criámos uma ideia absurda de desenvolvimento" e lembrou que "a vida não acaba aos 17 anos com a entrada no ensino superior". "Só os alunos que tiveram pelo menos uma negativa no seu percurso educativo é que deviam entrar no ensino superior porque estamos a criar uma geração de pessoas imunodeprimidas", defendeu, sustentando que "errar é aprender". 

Eduardo Sá defendeu que as "educações tecnológicas" possam dar lugar à "educação para o amor" como "a questão mais importante das nossas vidas". "Acho fundamental que tenhamos a coragem, a ousadia e a verticalidade de dizer que a maior parte das pessoas se sente mal-amada e acho fundamental explicar aos nossos filhos que é mentira que acertemos no amor à primeira e que é notável aquilo que se passa dentro do nosso coração", afirmou. 

Neste sentido afirmou que "devia ser proibido dizermos aos nossos filhos que se deve casar para sempre". "Sempre que namoramos mais um bocadinho, casamo-nos mais um pouco e sempre que deixamos de namorar, divorciamo-nos em suaves prestações", concretizou a provocação, considerando o casamento tão sagrado como frágil. "É uma experiência sagrada porque duas pessoas que decidem comungar-se é uma experiência tão preciosa que é sagrada, mas é frágil porque, às vezes, os pais estão tão preocupados com a educação dos filhos que se esquecem de namorar todos os dias", lamentou, lembrando que "pais mal-amados tornam-se piores pais". "É fundamental que a relação amorosa dos pais esteja em primeiro lugar, antes da relação dos pais com as crianças", sustentou. 

Eduardo Sá defendeu que "as crianças devem sair o mais tarde possível de casa" e jardins de infância "tendencialmente gratuitos para todos". 

Eduardo Sá disse ainda não achar que "mais escola seja melhor escola", criticando os blocos de aulas de 90 minutos porque aulas expositivas daquela duração são "amigas dos défices de atenção". "Acho um escândalo que as crianças comecem a trabalhar às 8h, terminem às 20h e que tenham, entre blocos de 90 minutos, 10 minutos de intervalo. Quanto mais as crianças puderem brincar, mais sucesso escolar têm", defendeu, acrescentando que "os pais estão autorizados a ser vaidosos com os filhos mas proibidos de querer a criar jovens tecnocratas de fraldas". "Devia ser proibido que as crianças saíssem do jardim de infância a saber ler e escrever", advertiu. 

A terminar, defendeu ser possível "ter sucesso escolar" e "gostar da escola". "Tenho esperança que um dia as crianças queiram fugir para a escola", concluiu.

COACHING E PSICOTERAPIA

O coaching e as psicoterapias de varias tendências têm em comum a característica de se enquadrarem na relação de ajuda.
No entanto, existem diferenças, maiores ou menores conforme o tipo de coaching e o modelo psicoterapêutico.
O objectivo do coaching é também o desenvolvimento pessoal do cliente, mas com um foco num objectivo determinado. O coaching centra-se nas soluções e nos resultados (observáveis), as psicoterapias mais na problemática do paciente e na mudança interna.
O coach faz essencialmente perguntas com vista a aumentar a consciência (awareness) do cliente.
Embora também exista o life coaching, e e o objectivo dependa do cliente, o coaching é muito orientado para a actividade profissional, designadamente o trabalho de equipa. Por essa razão, é recomendável que o coach tenha experiência empresarial. As organizações, como os grupos, têm dinâmicas especificas que exigem uma rápida apreensão por parte do coach.
O processo de coaching é rápido e dirigido ao futuro, muitas vezes de curto prazo. Assenta numa técnica de perguntas e em processos de feedback bem definidos.
Correndo o risco de ser redutora, diria que o coaching é mais rápido e incisivo, mas vai menos fundo em termos do mecanismo psíquico.