sábado, janeiro 25, 2014

Emigrar e depois?



Atualmente emigrar é uma escolha que se faz, mais ou menos pressionado pela escassez de oportunidades nacionais, em busca de melhores condições de empregabilidade. Apesar de uma escolha, muitas vezes, difícil, a mão de obra que sai do país não é a mesma que saía no último grande período de emigração (nas décadas de 60 e 70, sobretudo). Hoje em dia, mais e mais pessoas emigram em busca de empregos especializados, estando cada vez mais habilitadas a expressarem-se na língua do país de acolhimento. Este fato permite uma integração e aculturação mais facilitada e harmoniosa.

No entanto, emigrar implica sempre um corte, uma mudança abrupta (na maior parte dos casos) de contexto de vivência: existe um corte relacional significativo, as referências culturais são outras, a língua muda, o estilo de vida muda... Sobretudo, os laços de amizade são aqueles que mais se lamentam pela mudança radical de poiso. Os recursos para manter uma ligação consoladora com os que ficaram e os recursos para criar e desenvolver novas relações vão ser dimensões fundamentais para uma boa adequação à mudança de país.  

Estes primeiros períodos podem ser muito custosos e a solidão, ainda que hajam novos suportes relacionais, pode irromper inconformada. Não é de desprezar esta situação muito difícil de isolamento e adaptação que pode dar origem a sintomatologia depressiva de cariz reativo. Nestas alturas, um apoio psicológico (nomeadamente online - no contexto cultural e linguístico português) pode fazer toda a diferença.

Deixo aqui um texto sobre o que pode ser a vivência penosa da solidão.


O inferno é a solidão

Era uma vez um homem que a dada altura da sua vida se descobriu sozinho. Sem compreender, sentiu-se num lugar remoto, onde não há estradas, onde ninguém mais está... nem vai chegar...

Ao início tomou esta angústia como algo passageiro que se desapareceria da mesma forma como tinha aparecido, mas, depois, sentiu que o desespero se estava a instalar de forma decidida e definitiva, que se alimentava das raízes do que nele havia de bom... e que, se nada fosse feito, em breve, nada restaria do que era.

... até que chegou a um ponto onde a cada noite se confrontava com o abandono absoluto. Deitado na cama, sentia o corpo carente de um calor qualquer... mas nada... temia e tremia... e era assim que, de espírito quase esgotado, se entregava ao sono.

Cada acordar era um despertar para o pesadelo... um nascer cru e cruel num mundo feito de brumas e cinzas... como se uma espécie de injustiça bruta o obrigasse a erguer-se para cima de uns carris que lhe predestinavam tempos, lugares e gestos... e se repetiam até à náusea. O corpo cedo nos trai. É o primeiro que cede aos ataques do inimigo.

Assim que o sol se punha e se confirmava que mais um dia havia passado sem que nenhuma esperança tivesse chegado perto... entristecia-se mais. Com cada noite chegava-lhe mais fome e mais frio...

O pior de tudo era não conseguir compreender a razão de tanto absurdo. A desproporção de tanta dor.

Chegou a pensar a própria fé como uma maldição, algo que lhe prendia o espírito a um estado de coma qualquer... e o mantinha em sofrimento. Uma esperança má que apenas serve para fazer sofrer quem nela se ilude...

Sentia-se só. Precisava de alguém... mas nunca quis ser um peso a quem lhe podia dar a mão, estragar a vida a quem podia, talvez longe dos olhares do mundo, estar também a lutar contra a angústia.

Sentia-se metade de qualquer coisa... do amor só tinha a saudade... que apenas punha a nu a tremenda carência... em que se estava a tornar... um buraco negro...
Numa noite muito fria compreendeu que, mais do que viver com os outros, o inferno é um deserto infinito onde não há nada, onde todos os medos se resumem apenas a um: ficar para sempre só.
Mas quem tem por quem chorar, vive com sentido. Apesar de todo o sofrimento.

Havia que travar uma luta pela vontade de acreditar no bem, uma guerra íntima, ali onde cada homem apenas se tem a si mesmo... é que a grandeza de cada um se pode avaliar também pela profundidade e paciência com que luta contra o mal.
As dores mais profundas resultam, não dos golpes feitos de súbito mas dos que, numa interminável persistência, se cravam de forma lenta e decidida na carne, uma tortura silenciosa, um trabalho persistente. Do mal no bem e do bem no mal...

Chamava-se João.

Quando a morte lhe chegou, apresentou-se a ela com o mesmo medo com que todas as noites enfrentou o nada... talvez com mais fome e frio que nunca...
Acordou numa manhã quente, tranquila e familiar... sorriu, mesmo sem compreender...

Nunca mais ia ficar sozinho.
(http://www.ionline.pt/iopiniao/inferno-solidao/pag/-1)


http://www.psicronos.pt/consultas/atendimento-a-distancia-onlinetelefone_7.html

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Quando o Passado Inconsciente Dita a Escolha do Parceiro


Há quem diga que no momento em que escolhemos o nosso companheiro ou a nossa companheira, já sabemos, ainda que inconscientemente, como irá ser ou como irá terminar essa relação.

De facto, a psicanálise e a experiência clínica mostram-nos como isto é particularmente verdadeiro quando existe psicopatologia das relações de objeto internalizadas. Isto é, a interiorização profunda (e não voluntária ou consciente) de relações e padrões relacionais disfuncionais ou desadaptativos com os nossos cuidadores principais durante os primeiros anos de vida. Falamos aqui da forma como sentimos que fomos cuidados (sobretudo durante um período no qual ainda não conseguíamos formar memórias, portanto não há memória senão emocional desse período) e das identificações que fizemos com esses cuidadores e com todo o ambiente envolvente.

Essa experiencia relacional precoce e os respetivos papéis e padrões relacionais interiorizados durante a infância exercem tanto mais força na escolha do companheiro e no curso das nossas relações quanto menos conscientes e elaborados todos estes conteúdos se encontrarem dentro de nós. Nestes casos, o parceiro é frequentemente escolhido de forma inconsciente, apresentando características (atitudes, comportamentos) semelhantes a uma qualquer personagem do nosso passado que nos marcou significativamente, ou então por apresentar uma história de problemas relacionais semelhantes ou muito próximos dos nossos - existe uma identificação com o outro, na medida em que nele nos vemos a nós próprios, sem que muitas vezes consigamos reconhecer esses aspetos identificados no outro enquanto aspetos nossos.

Por exemplo, uma mulher que se queixa insistentemente que os seus companheiros tendem a “transforma-la” numa mãe, apercebe-se gradualmente e durante a sua psicoterapia da sua dificuldade em entrar em contacto com as suas próprias partes carentes, feridas e vulneráveis; da sua tendência na seleção de companheiros com histórias de problemas relacionais e feridas emocionais enquanto uma “expressão” da sua necessidade de contacto (a uma distância segura) com as suas próprias partes carentes e feridas, projetando e identificando essa sua parte emocional vulnerável no outro; de uma dimensão da relação com os companheiros enquanto tentativa de auto-reparação emocional pela reencenação de algo próximo de uma relação mãe-bebé – assumindo ela o papel da mãe que gostaria de ter tido ou que ainda sente precisar; e do facto de tudo isto não só não ter qualquer efeito reparador, como causar vários outros problemas nas suas relações.

Os papéis e padrões relacionais desadaptativos internalizados são inconscientemente ativados nas relações com os nossos companheiros. Esta ativação é ao mesmo tempo acompanhada da indução mútua de papéis complementares a essas relações do passado. Como consequência pode formar-se uma conspiração inconsciente que interprende o casal, configurando uma espécie de “união na loucura” que surge tanto mais poderosa e inescapável quanto a perturbação do casal.

È frequente a experiência de um dos parceiros sentir o outro enquanto um perseguidor implacável, uma autoridade moral que sente prazer cruel em fazer com que o outro se sinta culpado e esmagado; enquanto que o segundo parceiro sente o primeiro como pouco confiável, enganador, irresponsável e traidor, tentando “safar-se com a dele”. Estes papéis são frequentemente permutáveis.

Os parceiros podem ser altamente eficazes em reforçar ou mesmo induzir aquelas mesmas características que mais temem no outro, o que tende a configurar relações sadomasoquistas persistentes. As encenações podem tornar-se altamente destrutivas, por vezes simplesmente porque elas despoletam reações circulares que engolfam a vida amorosa do casal para além das intenções do casal e da sua capacidade de conte-las.

Caso os conflitos precoces em torno da agressão tenham sido severos, surge a possibilidade de reencenar imagens de mãe-pai primitivas/precoces (imagens construídas pelo funcionamento próprio da mente de uma criança de poucos anos de idade) e combinadas em fantasia que comportam pouca semelhança às características reais dos cuidadores do passado.

Transformação e libertação do padrão de escolha inconsciente

No polo da saúde mental prevalece a interdependência livre e flexível, própria de pessoas que experienciam o outro e são experienciadas por esse outro enquanto “pessoas separadas”, ou seja, pessoas não confundidas com figuras e vivências relacionais internalizadas patológicas de um passado longínquo do parceiro.

A exploração, compreensão e dissolução gradual de identificações problemáticas com figuras do passado e de padrões relacionais desadaptativos internalizados no passado é uma das características exclusivas da psicanálise e da psicoterapia psicanalítica. A relação com o terapeuta permite e estimula a reativação de toda a problemática internalizada, agora encenada pelo paciente na relação com o psicoterapeuta. Este, por sua vez, deverá manter a sua atitude empática, serena e compreensiva, ajudando a pessoa a ir tomando consciência do que está a acontecer naquele momento na relação entre os dois, e eventuais ligações que isso possa ter com figuras e padrões relacionais do passado. A identificação das vivências internas da pessoa, lado a lado com a atitude receptiva, empática e compreensiva do psicoterapeuta, conduz à internalização gradual desta nova experiência relacional e simultaneamente à dissolução gradual das experiências relacionais patológicas.

A transferência contínua para as relações do presente dos papéis complementares e padrões relacionais patológicos internalizados do passado interfere seriamente com os objetivos da própria de conseguir uma vida amorosa ou conjugal satisfatória. O desejo inconsciente de reparar as relações patogénicas dominantes do passado e a tentação de as repetir nos termos de necessidades agressivas e vingativas não gratificadas resultam na sua reencenação contínua com o parceiro amado.

Por Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

terça-feira, janeiro 21, 2014

Psicanálise e Estimulação Bilateral

A psicanálise e a psicoterapia psicanalítica são abordagens terapêuticas e de acompanhamento psicológico que denomino de percurso.

Durante um período relativamente longo o terapeuta mantém-se lado a lado com o paciente acompanhando-o no seu percurso de vida. Para além de acompanhar, interpreta, analisa, acolhe e transforma os conteúdos que dia-a-dia, sessão após sessão emergem e dão conta da vida mental consciente e inconsciente do seu paciente.

Este percurso, naturalmente longo, quando acompanhado e intercalado com estimulação bilateral permite optimizar o crescimento mental. A estimulação bilateral parece ter efeitos semelhantes à activação e fortalecimento da função-alfa (conceito caro na psicanálise bioniana). As aquisições obtidas pelos insigths encontrados pela via da psicanálise são mais facilmente assimilados pela personalidade e a potenciação da associação livre, em plena expressão da posição PS, percorre caminhos associativos mais rápidos e profundos até se gerar um D significativo e transmutador.


domingo, janeiro 19, 2014

Disfunção Eretil



A Disfunção Eréctil é a incapacidade persistente ou recorrente do homem obter e/ou manter uma ereção suficientemente rígida para uma relação sexual satisfatória. Esta dificuldade sexual pode atingir os homens de qualquer idade, tornando-se mais frequente com o avançar da idade.

As principais causas para a Disfunção Erétil devem-se a problemas físicos, psicológicos ou mistos (com ambos).

Os principais fatores orgânicos (físicos) são:
  • Cirurgias pélvicas;
  • Lesões ao nível da espinal medula;
  • Insuficiência arterial;
  • Doenças crónicas - hipertensão; aterosclerose; diabetes; alcoolismo; tabagismo;
  • Efeitos secundários de alguma medicação (por exemplo: antidepressivos);
Os principais fatores psicológicos são:
  • Stress;
  • Depressão;
  • Baixa autoestima;
  • Sentimento de culpa;
  • Medo de falhar;
  • Conflitos na relação amorosa;
  • Cansaço;
  • Receio de provocar uma gravidez à parceira;
  • Medo de contrair uma Infeção Sexualmente Transmissível;
  • Ansiedade;
Independentemente da causa da Disfunção Erétil, ser psicológica ou física, é sempre importante que o homem, ou o casal, procure apoio psicológico, de forma a saber lidar melhor com as dificuldades e angústias que o problema poderá dar origem (por exemplo: diminuição da autoestima, dificuldades relacionais no casal).

Fernando Eduardo Mesquita
Psicólogo Clínico/Terapeuta Sexual/Terapeuta EMDR

sábado, janeiro 18, 2014

Vídeos online sobre temas de filosofia e justiça

http://youtu.be/aXr1rNTgWT4

O filósofo e professor em Harvard, Michael Sandel, há mais de trinta anos que ensina ética e justiça. Tem aulas e seminários na internet, que qualquer um pode ver (o link acima é para um programa brasileiro da Globo News).

Ele explica em linguagem clara mas sem perder profundidade e alcance as dúvidas que, acho eu, atormentam qualquer ser humano desde pequeno. O que devo ou não fazer? É certo ou errado? É justo? Como fazer? Como viver? Etc etc.

Mas vejam os vídeos porque vale realmente a pena. Sempre achei que entre a filosofia e a psicologia há uma trança que as liga. Pessoalmente, acho que a filosofia ajuda também a viver melhor - e não é isso que todos nós queremos, afinal?



 

sexta-feira, janeiro 17, 2014

Nascimento natural no meio da selva

A psicologia e a Psicanálise há muito que se interessam pelo nascimento e os efeitos psicológicos do mesmo para a mãe e para o bebé.

Otto rank, por exemplo, desenvolveu uma tese importante sobre o trauma do nascimento. Este pequeno video, não chega a 2 minutos, é muito elucidativo sobre o nascimento em meio natural no meio da selva e o quanto, a meu ver, o processo de nascimento, o parto, pode ser algo simples e talvez não tão traumático assim.


quinta-feira, janeiro 16, 2014

BULLYING: A palavra é "Prevenção", agora passemos à ação

Nos últimos dias temos recebido inúmeros contactos de jornalistas, a propósito dos trágicos acontecimentos recentes relacionados com o Bullying. 

Infelizmente, não há muito mais a dizer-se sobre o Bullying. O que falta, sim, é fazer. E fazer desde cedo. Em casa, na escola, na comunidade. Fazer e refazer. Educação para a cidadania e para os afetos. Promoção de competências sociais e emocionais. Atenção, deteção e intervenção imediatas. Ações concertadas na escola e na comunidade, com a participação da família.

Enquanto se continuar fingir que não acontece, que é uma brincadeira ou uma divergência de colegas e enquanto se continuar a remediar e a dizer às vítimas que têm de se defender, tragédias destas e outros casos menos mediáticos ou extremos, continuarão a acontecer todos os dias.


Assim, hoje não tenho muito mais a dizer. E partilho apenas esta animação, excluindo a campanha política no final. Seria bom que estes projetos saíssem do formato “animação” e passassem à ação em Portugal.


Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Diretora do Departamento da Infância


segunda-feira, janeiro 13, 2014

sábado, janeiro 11, 2014

EMDR - O Lugar Seguro




“Gostava que pensasse num lugar onde já tenha estado, ou um lugar imaginário,
que sinta como muito tranquilo ou seguro …
talvez numa praia ou sentado(a) na margem de um riacho …
 que imagem é que melhor representa este seu lugar?"

O EMDR dá-lhe a oportunidade de criar
um recurso especial!
Um lugar, na sua mente,
para onde poderá ir sempre que precisar
sentir-se calmo(a) e protegido(a).



Fernando Eduardo Mesquita
Psicólogo/Terapeuta Sexual/Terapeuta EMDR da PSICRONOS


sexta-feira, janeiro 10, 2014

"The first step to resolve a problem is to admit that we have a problem"


A frase do título, proferida por um jovem adulto invulgarmente corajoso - ver vídeo abaixo) pode corresponder a uma frase "batida" ou cliché. No entanto, como pode ser difícil fazê-lo! O que não quer dizer que não se dê conta que se sofre imenso... simplesmente nem sempre é fácil reconhecer fragilidades, limitações e a gravidade da situação. Só através deste primeiro passo é possível começar a (pensar) fazer algo, como por exemplo, pedir ajuda ou investir na sua resolução.

Este segundo passo já tem mais a ver com assumirmos, apropriarmo-nos e responsabilizarmo-nos pelo problema. Pois uma coisa é o nosso problema ser responsável pela nossa miséria; outra coisa é nós sermos responsáveis pelo que fazemos com o nosso problema. Já dizia Sartre que, mais importante do que o que fizeram connosco, é aquilo que nós fazemos com o que fizeram connosco. Se fomos mal tratados em dados momentos da nossa vida (sobretudo quando éramos mais vulneráveis e influenciáveis, ou seja, na infância) podemos ter incorporado esse modo de relação interna e prolongar atualmente essa relação maltratante connosco próprios. A relação anterior já não pode ser mudada mas o que fazemos com o que essa relação nos fez já é outra história. Longe de ser fácil, não significa de modo algum que tenha de ser uma "sina".

O jovem adulto que fala no vídeo abaixo, no contexto de um TED talk sobre a depressão, é um jovem comediante. Contudo, não nos vem falar do humor que entretém mas antes do humor depressivo. Corajosamente dá o exemplo de alguém que, contra todas as expetativas, não expõe o que os outros gostariam de ver mas o que está diante de todos mas que, muitas vezes, se evita. 


Aproveito para sensibilizar quem ainda não teve a coragem para falar, não num palco, mas simplesmente FALAR, seja em que contexto for, para a importância de o fazer. Naturalmente que não serão todas as pessoas e momentos os ideias para revelar algo íntimo ou delicado. Mas nunca o fazer pode ser altamente corrosivo! 

Hoje em dia temos o privilégio de podermos partilhar e comunicar através de todo um conjunto de meios tecnológicos que podemos e devemos aproveitar da melhor maneira. O acompanhamento online é também mais uma forma de chegar às pessoas e de as ouvir aberta e profundamente. Não somos "só" Homo Sapiens somos também um Homo Sapiens (conhecedor) mas também Comunicador, Social! 

quarta-feira, janeiro 08, 2014

APRENDER COM OS ERROS

Como escreveu a minha colega Alexandra, parece que quando sentimos que as coisas estão a começar de novo se enceta uma oportunidade de alterar/mudar, fazer diferente, riscar, arriscar, ir em diante, traçar metas e objetivos rumo a algo que já queríamos ter feito mas que as circunstância não o permitiram ou promoveram o constante protelar.

A educação das crianças não é diferente do que se faz a cada ano. Enquanto pais debatemo-nos com o que deve ser feito, com o que se faz e com o que se gostaria de fazer. Lá estamos entre o passado, o presente e o futuro. Mas para que tudo corra da melhor forma (quer para pais, quer para filhos) tem que haver equilíbrio entre estas forças e uma garantia de que nos queremos projectar no futuro e não viver com os remorços do passado.

As crianças precisam de pais resolvidos, lutadores, que erram, mas que aprendem com isso, de modelos que sejam falíveis, mas capazes de superar, pois só assim estes entenderão que errar é humano (como popularmente se diz), mas que se pode aprender com os erros.

E a oportunidade de aprender com o erro, de experimentar, de ensaiar, de ir e voltar devem ser dadas às crianças, pois será por estas vias que estarão aptos para uma vivência salutar, aprendendo assim a lidar com os seus sentimentos; Receosos, mas sem medo de arriscar, com cautela, mas sem uma dúvida paralisante, com precaução, mas capazes de ir em diante, e isto faz-se por meio da educação, da atitude parental.

Não se esqueçam que estes pequenos seres são esponjas sociais, portanto uma atitude perseverante, confiante, segura e capaz de ir em diante com aquilo a que se propõe, ou reconhecer as incapacidades e mudar de rumo, sem "chorar" o que não se fez mas que se gostaria de ter feito, proporcionará a este jovem aprendiz muita competência pessoal.


Tânia Paias
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Departamento da Infância (Faro e Portimão)
Responsável pelo Portal Bullying

terça-feira, janeiro 07, 2014

O Legado de B.F. Skinner



Para quem não conhece, B.F. Skinner é um dos pais da Psicologia Comportamental. Ele é um dos maiores contribuidores para as teorias de aprendizagem por reforço do meio.

Nesta palestra, efectuada alguns dias antes da sua morte, Skinner faz uma análise clara sobre as divisões na psicologia e de como cada uma delas contribui para a evolução da ciência.

Palestra apaixonante para quem gosta de compreender como a ciência da psicologia evoluiu até aquela data.
Actualmente as neuro ciências tem vindo a contribuir para um alargamento do conhecimento acerca dos mecanismos que dão origem ao comportamento e de como isso pode ajudar a compreender como se processa no cérebro a mudança de comportamentos, quer seja uma mudança no sentido da doença (patologia) quer seja uma mudança para a saúde (vitalidade).

Em próximas publicações irei partilhar outras palestras ou ideias acerca da modificação de comportamentos.

Espero que gostem da palestra!

segunda-feira, janeiro 06, 2014

AS RESOLUÇÕES DE ANO NOVO FUNCIONAM?


Neste início de ano, partilho esta excelente animação a propósito das resoluções de ano novo. Porque insistimos nestas resoluções? Funcionam? Porquê?

Na verdade, parece haver uma maior taxa de sucesso e durabilidade nas decisões tomadas nesta altura, em detrimento de outras fases do ano. Alguns dos fatores deste maior sucesso prendem-se com uma avaliação mais fina das capacidades e fragilidades pessoais, uma maior clareza sobre as prioridades, uma maior flexibilidade e um maior equilíbrio entre o otimismo e o realismo, que têm lugar aquando do balanço do ano. Trata-se de aprender com o passado e apontar para o futuro.

O autor aponta ainda como fatores potenciadores do sucesso das resoluções/mudanças: Traçar pequenos objetivos, em vez de grandes metas; mais facilitação do que propriamente motivação; auto-monitorização no lugar de auto-controlo.

Bom ano, boas resoluções e boas mudanças!

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

quinta-feira, janeiro 02, 2014

Dinâmicas Patológicas na Relação Amorosa: Conflito e Instabilidade


Para quem almeja uma relação amorosa profunda e duradoura, a compreensão em profundidade sobre a complexidade de si próprio(a) e do outro é vital.

Uma dificuldade, incapacidade ou resistência acentuada na compreensão em profundidade e empática de nós mesmos e dos demais significa, entre outras coisas, que existem aspetos intolerados na nossa personalidade que rejeitamos e expulsamos da nossa consciência. Estes aspetos são tendencialmente evacuados para os outros por mecanismos psicológico tanto mais ativo quanto os níveis de ansiedade de uma pessoa e/ou a sua intolerância a determinados conteúdos psíquicos, ou dificuldade de pensar sobre eles.

A psicanálise mostra-nos como podem existir em nós fortes tendências psicológicas para expulsar para os outros, induzir e consequentemente recear e/ou controlar neles, desejos, impulsos, ideias ou aspetos pessoais rejeitados em nós mesmos. Por outras palavras, algo intolerável, aversivo ou muito ansiogénico em nós próprios pode ser facilmente transformado em “É o outro (e não eu) quem é, sente, pensa ou se comporta desta ou daquela maneira.” Seguem-se respostas de medo ou indignação face a esse outro, podendo surgir mesmo o ataque a esse outro, ou tentativas de o manter debaixo de controle.

Aquando deste funcionamento psicológico (identificação projetiva) perde-se a exatidão da percepção real do outro, substituída agora por uma percepção distorcida, colorida por aquilo que é atribuído ao outro (projetado sobre este). Um companheiro ou uma companheira infiéis ou com um forte desejo ou impulso para a infidelidade podem facilmente começar a acusar o parceiro de infidelidade, procurar controla-lo e ás suas atividades, etc.. O que é procurado no fundo não é a tranquilização de que não existe traição mas a sim a legitimação da desconfiança persistente, a confirmação de que esses aspetos infiéis pertencem ao outro e não ao próprio. Lamentavelmente muitas vezes essas acusações e esse controlo acabam por levar o outro ao desgaste e a tornar-se aberto a outras relações, o que acaba por concretizar a fantasia de infidelidade.

A intolerância ao reconhecimento de aspetos mais desagradáveis ou vulneráveis da nossa psicologia pode criar problemas significativos para a estabilidade e para a maturação do casal. Esses aspetos podem ser responsáveis por problemas importantes na relação amorosa, contudo a confrontação direta pode igualmente ser de tal forma problemática e intolerável que resulta em crises de atribuição ou projeção de culpa. Por outras palavras, a situação e os papéis invertem-se subitamente e naquele momento – emerge um sentimento de se estar a ser vítima de um outro sentido agora como fundamentalmente cruel, insensível, intolerante, culpabilizante, e logo, merecedor de ser agredido.

A confrontação abrupta com partes intoleradas da personalidade tendencialmente não promove insight ou ganhos de compreensão, mas um reforço das tendências projetivas,  entre outras, que neste caso acabam por atribuir ao outro a própria parte cruel, insensível e intolerante da personalidade.

A perda da aliança na relação amorosa

Sob o efeito dos mecanismos projetivos, e consoante uma maior atividade dos mesmos e também de um maior grau de fragilidade constitucional de uma dada personalidade, perde-se momentaneamente e parcialmente o contacto com a lógica racional. Dissipa-se, em maior ou menor grau, o contacto com as partes boas do outro, com as boas recordações que guardamos sobre ele ou ela, com as boas intenções e o desejo de amor dele ou dela por nós. Tudo isto desaparece, de uma forma aparentemente mais subtil ou mais radical, mais momentânea ou mais duradoura (ou mesmo irreversível, nos casos que resultam em rotura permanente da relação). 

A perda de contacto com as partes boas do outro impossibilita formar ou manter o contacto com um sentimento de aliança com esse outro – uma aliança securizante, que procura acolher e trabalhar questões individuais e conjuntas que atormentam a relação. Ao fim ao cabo a maioria de nós consegue aliar-se ao que e a quem gosta e com quem se consegue identificar. Esta aliança é a base para a possibilidade de transformação dos conflitos do casal e do acesso a novas vivências e novos equilíbrios na relação amorosa.

As fragilidades constitucionais da personalidade podem de facto ser tais que não há tolerância ao reconhecimento de vulnerabilidades pessoais. Fica então comprometida a capacidade de responsabilização pessoal aquando dos problemas na relação de casal, bem como a capacidade de ser formada essa aliança com o outro, com as partes boas do outro – as partes generosas, pacientes, compreensivas, gratificantes, tolerantes, apoiantes.

O conflito ou a instabilidade prevalecentes conduzem à insatisfação crónica, à estagnação e ao fim da relação amorosa. Ou então a um prolongar e a um suportar masoquistas da mesma, alicerçados muitas vezes na eterna esperança de uma mudança.

A relação psicoterapêutica na psicoterapia psicanalítica estimula na pessoa as suas vivências e padrões relacionais habituais, oferecendo uma oportunidade única para que, num contexto e numa aliança seguros e securizantes, possam ser trabalhadas e resolvidas questões em torno de, por exemplo, conflitos específicos e instabilidade nas relações afetivas da vida da pessoa.

Por Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

quarta-feira, janeiro 01, 2014

A criatividade pode salvar vidas!


Criança combina com alegria. Esperança. Criatividade. Espontaneidade. Não combina com depressão…de todo. Mas a verdade é que a depressão atinge as crianças. E não é assim tão pouco frequente.

Uma criança deprimida pode não chorar e ficar prostrada como um adulto. Mas pode parar de desejar. De achar que é capaz…pode parar de crescer ou crescer rápido demais. Pode afligir-se com pequenas nadas, pode não experimentar prazer de brincar e de estar com os outros. Pode parecer “aérea” ou desinteressada…

Quando me deparo com uma criança deprimida questiono-me acerca de onde foi parar a sua criatividade. A criatividade não é apenas quando se desenha ou se pinta ou se brinca. A criatividade ajuda a adaptarmo-nos ao meio, ao outro, à mudança. Ajuda-nos a ver qualquer coisa de positivo num acontecimento menos bom.
E não é raro assistir a situações em que os pais dão o seu melhor: o melhor brinquedo, o melhor colégio, a melhor ama, a melhor roupa, o melhor tablet…e as crianças continuam insatisfeitas e desinteressadas. Porque na realidade não têm o poder da criatividade. Porque o mais fundamental não lhes é dado: espaço e tempo para criar!

Às vezes, os pais querem mantê-las pequenitas, como uma extensão de si. Para sempre dependentes. Outras vezes, querem que o crescimento se apresse, e aí não há lugar à brincadeira. Tem que se estudar, tem que ser “gente”. Em ambos os extremos, o vazio da criatividade.

Uma criança a quem lhe fazem tudo não experimenta. E se não experimenta, não vive sensorialmente e não apreende. E se não apreende, não cria. A criança que corre para ser adulta, não brinca. Não fantasia, não experimenta. Copia sem perceber. Quer ser adulto, cheio de afazeres, de responsabilidades e tecnologia. E assim, ser pequenito é “uma seca”.

Por mais difícil que seja para os pais, deve permitir-se à criança ter um espaço e um tempo que são só dela. Ter o seu “mundo” de fantasia, ter o seu quarto (onde lhe é permitido decorar da forma que prefere, desarrumar, mudar…), ter o seu dia, ter o seu momento. Tudo isto permite que a criança vá construindo a sua identidade, porque cria. Cria algo que é seu, experimenta, troca, investe e desiste, apenas porque experimenta. Ensaia soluções, conflitos, romances, profissões…ensaia desejos e zangas. É assim quando brincam, quando “fazem de conta”, quando falam com o amigo imaginário, quando escrevem no diário…

Por isso, não esqueçam que a criança para ser tem que experimentar. A criatividade pode mesmo salvar vidas. E à medida que a criança vai-se tornando jovem, ter um espaço e um tempo só seus, é de importância vital. 

Claro, é difícil o balanço. Passamos o tempo a exigir ás nossas crianças que sejam e estejam noutro tempo qualquer que não delas. Então…

…e se parássemos? E se por um momento, nós, adultos, fossemos CRIANÇAS?

EMDR e a economia!



Uma palestra sobre EMDR numa perspetiva que sublinha a forma como o investimento na saúde, nomeadamente, a saúde psicológica tantas vezes afetada por traumas de toda a ordem, anda de mãos dadas com o desenvolvimento económico tão almejado e valorizado pelas sociedades atuais. É mostrada uma perpetiva à escala mundial sobre as necessidades da humanidade a este nível, bem como, explicada a ligação entre EMDR e a prosperidade e pacificação da humanidade.