quinta-feira, dezembro 19, 2013

EMDR em Grávidas parte II


A gravidez é um período privilegiado de desenvolvimento psicológico, de integração maturativa. Contudo nem todas as mulheres vivem ou sentem as suas gravidezes (sobretudo a primeira) como tal.

Os desafios psicológicos, ou etapas maturativas da gravidez compreendem a estruturação de uma identidade materna e formação de um vínculo pré-natal com o feto. Quando o trabalho psicológico da gravidez permite uma boa adaptação a estas tarefas, a gravidez é habitualmente sentida enquanto uma vivência verdadeiramente maturativa. Por sua vez, estes ganhos de maturação estão relacionados com uma relação mãe-bebé relativamente tranquila e saudável no pós-parto.



Como preditor, digamos, da possibilidade maturativa que a etapa da gravidez pode ter para uma mulher, podemos considerar o grau particular de integração de personalidade dessa mulher – por exemplo, a capacidade de uma mulher se referir a experiências de infância com os principais cuidadores de uma forma organizada e livre de contradição, conjuntamente com a capacidade de nomear livremente um espectro multidimensional de pensamentos e emoções sobre essas relações. Por outras palavras, até que ponto uma mulher se encontra resolvida, estável e satisfeita consigo mesma enquanto indivíduo, com os seus relacionamentos, com o seu passado (nomeadamente a sua infância) – conseguindo uma compreensão ampla, estável e precisa das individualidades e dos motivos das atitudes e decisões daqueles que foram os seus cuidadores durante a infância – e funciona de acordo com uma moralidade madura e consistente.

As terapias focadas e de curta duração podem aproveitar esta etapa evolutiva na vida de uma mulher e resolver questões emergentes. Com a aplicação da terapia EMDR estes bons resultados podem surgir rapidamente, uma vez que determinadas sensações e vivências psicológicas desconfortáveis podem ser trabalhadas no sentido de serem dessensibilizadas e reprocessadas \ elaboradas de maneira a não conduzirem a, por exemplo, pensamentos persistentes de dúvida que possam aumentar a ansiedade para níveis que coloquem em causa o estabelecimento do vínculo mãe \ bebé.

No outro pólo, uma vivência subjectiva habitual de ansiedade, confusão e conflito em relação a si mesma e ás suas relações irá tendencialmente ofuscar a vivência da gravidez enquanto fase de desenvolvimento e interditar a possibilidade de maturação psicológica.

O próprio ciclo menstrual indicia este grau de integração da personalidade, ou de preparação psicológica para a gravidez (possibilidade de vivenciar a gravidez enquanto fase maturativa e possibilidade efectiva de maturação). Tal deve-se á presença da progesterona durante este período, bem como durante a gravidez e lactação. Psicofisiologicamente a progesterona está associada a uma reemergência consciente de temáticas e problemáticas psicológicas relacionadas com o passado de uma mulher, nomeadamente o passado referente aos primeiros 2 ou 3 anos de vida - são reactivados traços mnésicos profundamente interiorizados durante este período da infância, no qual se desenvolvem os comportamentos maternos “protótipos” de cuidar e dar afecto ao bebé mediante identificação (introjetiva) com a própria mãe. Este passado não só tende a ser inconsciente como também é não verbal, anterior à aquisição da linguagem e da memória, mas não anterior à “memória emocional” (apenas podemos lembrá-lo emocionalmente).

O processamento destas memórias emocionais pré-verbais de forma a que contribuam para o crescimento pessoal da mulher no período de gravidez pode ser facilitado pelas terapias que privilegiam ou integram métodos, princípios ou abordagens que focam estas vivências pré-verbais, e também vivências emocionais traumáticas, muitas vezes de difícil acesso, difíceis de colocar em palavras e mesmo de trabalhar a um nível puramente verbal.

Como é reconhecido actualmente, a terapia EMDR obtém bons resultados nas perturbações de stress pós- traumático e mais recentemente estudos validam a eficácia nas perturbações de ansiedade em geral, em especial no Transtorno Obsessivo Compulsivo que até agora era patologia de progressão lenta e incerta com outras formas de terapia.

Podemos dizer em suma, que a gravidez é uma altura fértil para mudanças terapêuticas e criar novas bases para que as próximas gerações nasçam emocionalmente saudáveis.


Existem ainda alguns outros aspectos interessantes e importantes sobre gravidez, maturação, potencialidade psicoterapêutica durante este período e psicopatologia (incluindo psicopatologia da relação mãe-bebé no pós parto), mas que para já deixaremos para uma próxima oportunidade.

Escrito por:
Diogo Gonçalves, Psicólogo Clínico na Psicronos.
Pedro Santos, Psicólogo Clínico e Terapeuta EMDR na Psicronos

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Um re-post sobre meditação

A meditação é uma prática cada vez mais usada nos países ocidentais. Há muito que deixou de ser uma coisa para esotéricos ou excêntricos para entrar na vida do dia-a-dia das pessoas normais, que têm horários sobrecarregados e vidas difíceis. Existem inúmeros estudos médicos em que estão demonstrados os benefícios da meditação tanto a nível mental como físico.

Encontrei este post num blog de uma jovem que não conheço pessoalmente, mas que me chamou a atenção por estar bem feito e me parecer fazer muito sentido. Por essa razão, partilho com os leitores do Salpicos as ideias da autora sobre como começar a prática da meditação.

http://busywomanstripycat.blogspot.pt/2013/02/como-comecar-meditar.html

 

Os vampiros à nossa volta

Não apareçam só no Walking Dead, não. Leiam mais este post de Seth Godin

http://sethgodin.typepad.com/seths_blog/2013/12/the-care-and-feeding-and-shunning-of-vampires.html

 

Você tem o Gene da Traição?


A infidelidade está a tornar-se cada vez mais comum e não pense que só eles são peritos na arte de dar “facadinhas na relação”. Quanto mais parecido o perfil genético da mulher e do homem, mais aborrecido é o sexo e maior é a probabilidade de viverem um affair?

Quase toda a gente já passou por uma situação de infidelidade, no namoro ou no casamento, e mesmo que não tenha sido a protagonista da história que terminou mal, sabe, com certeza, de alguma amiga (ou amigo) que tenha um caso para contar.

A ciência garante que é uma tendência biológica, mas será que pode ser contrariada? Uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado de Nova Iorque mostrou que uma em cada quatro pessoas tem o gene DRD4, com um papel crucial no comportamento sexual humano.

Quem possui o “gene da traição”, como passou a ser denominado, apresenta uma maior facilidade para trair. Se já sentiu necessidade de seduzir alguém ou de trair o seu parceiro, isso pode estar relacionado com os genes.

Quando na mulher existe uma overdose de estradiol no sangue, a probabilidade de ter um affair é maior. Porém, para o psicólogo e sexólogo clínico Fernando Eduardo Mesquita, “a existência de um possível gene não implica, obrigatoriamente, que quem o tem seja um traidor nato. Não podemos esquecer que existem outras condicionantes para além dos fatores biológicos. Falamos, por exemplo, de fatores educacionais e socioculturais, a existência, ou não, de facilitadores da traição, e, como é óbvio, da própria relação amorosa vivenciada”, esclarece.

No caso do sexo masculino existem estudos que indicam que tem uma propensão fisiológica para ser infiel. Investigadores suecos descobriram que quanto menor o número de vasopressina que um homem tem no cérebro, mais propenso é a procurar outras mulheres.

Para além disso, se recebeu uma alta dose de testosterona quando ainda estava no útero da mãe, tem mais predisposição para ser infiel. De referir, ainda, que o homem vive muito da atração visual... Se ele pensar em fazer sexo com uma outra mulher, os seus níveis de excitação sobem ao auge.

Maneiras diferentes de sofrer

A insatisfação, quer sexual, quer com o relacionamento, pode levar um dos parceiros a procurar uma segunda pessoa. Pesquisas mostram que a infidelidade é mais comum entre casais que não moraram juntos antes de se casarem. Na realidade, a coabitação dos parceiros funciona como um teste na relação. As novas tecnologias também abriram portas para o aumento das traições.

Existem diversos sites que promovem encontros e podem representar uma escapadela para a vida rotineira que vive com o parceiro, sem que ninguém dê por nada. Para o sexólogo, “sem dúvida que a Internet é um meio facilitador para trair. Nestas situações, a traição pode começar com algo mais emocional, pois existe uma partilha de desejos íntimos e da vida privada. Pode, ou não, existir uma passagem a um ato mais físico. Para muitas mulheres, a traição emocional por parte do parceiro é vivida de forma mais penosa do que uma traição de cariz físico. Para os homens, normalmente, é o oposto, ou seja, sofrem mais quando a sua parceira o traiu fisicamente”.

Conselhos para seguir a dois

Se ainda acredita no amor e na monogamia e não pretende cair em tentação, siga os conselhos de Fernando Mesquita:

● Admirem a pessoa que está ao vosso lado. Pensem nos aspectos de personalidade de que mais gostam no parceiro. A maioria das pessoas não arriscaria, por uma aventura sexual, a perder alguém que admira;
● Comuniquem. Para o sexólogo, “a falta de comunicação é apresentada como a causa número um das traições. A existência de um afastamento progressivo (trabalho ou filhos), conflitos mal resolvidos e a monotonia são outros fatores”;
● Falem abertamente sobre o que consideram ser infidelidade emocional e/ou física;
● Troquem ideias sobre o vosso dia-a-dia, os vossos desejos e frustrações, mais do que com outra pessoa;
● Compreendam que não é por se sentirem atraídos por outras pessoas que a vossa relação não tem futuro;
● Com o passar dos anos, as relações tendem a ser cada vez menos emocionantes, mas mais amorosas.


terça-feira, dezembro 17, 2013

ENVELHECIMENTO E DEMÊNCIA

Esta semana saio do formato habitual da Infância e partilho alguns dados e reflexões desenvolvidos num trabalho que realizei há tempos, no âmbito da minha formação em Neuropsicologia: "«Este país não é para velhos»- Reflexão sobre os cuidados de saúde prestados aos idosos. Propostas para um envelhecimento saudável".

Segundo um estudo do Instituto Nacional de Estatística, em Portugal a proporção de pessoas com 65 ou mais anos duplicou entre 1960 e 2005, passando de 8 para 17% do total da população, prevendo-se que volte a duplicar e a atingir os 32% em 2050, numa tendência contrária à dos nascimentos e da população jovem. O estudo indica ainda que daqui a 40 anos o Índice de Envelhecimento ascenderá a 243 idosos por cada 100 jovens.

Os progressos conseguidos pelo desenvolvimento, em geral, e pelas ciências da saúde, em particular, contribuíram significativamente para o aumento da esperança média de vida. Este aspeto e as mudanças culturais, económicas, sociais e profissionais associadas ao casamento e à constituição de família têm contribuído para o envelhecimento da população. Este aumento da longevidade causa um grande impacto na saúde pública, obrigando a uma reflexão sobre os cuidados prestados aos idosos. O envelhecimento saudável, autónomo e independente, pelo maior tempo possível, será um desafio individual e coletivo, com grande responsabilidade social.

A realidade mostra-nos que, apesar dos enormes progressos da medicina, os últimos anos de vida são acompanhados pelo aumento de situações de doença e incapacidade, frequentemente suscetíveis de prevenção.

No processo de envelhecimento existe uma lentificação da condução nervosa, sendo a perda de memória um dos aspetos mais consistentemente associados ao envelhecimento normal. É uma das principais queixas nos idosos e pode afetar seriamente a qualidade de vida. Contudo, sendo uma perda “normal” do envelhecimento, este tipo de queixas é muitas vezes desvalorizado pelos profissionais de saúde. Havendo alguma alteração cognitiva, deve o profissional de saúde ter a sensibilidade de suspeitar de um quadro demencial, mesmo em fase inicial, para que se possa proceder a condutas mais adequadas, ao nível da avaliação e da intervenção, no sentido de preservar a capacidade funcional e a autonomia por mais tempo.

A prevalência da demência aumenta de 1% aos 65 anos para 30% aos 85. A prevalência de acidente vascular cerebral aumenta de 3% para 30%, respetivamente, sendo uma importante causa de morte e de séria deficiência na União Europeia.

Quanto mais o médico se antecipar à demência maior será a oportunidade de melhorar consideravelmente a vida do paciente e das pessoas que o cuidam. Considerar as perdas cognitivas e de autonomia como algo normal e expectável do envelhecimento, acarreta custos significativos para o indivíduo, para a família e para a sociedade.

A depressão do idoso é também uma condição a ter em conta. A perceção da perda de funcionalidade, a morte do cônjuge ou de outras pessoas próximas, o sentimento de proximidade da própria morte, a solidão, o sentimento de incompreensão por parte dos outros ou de desadequação ao meio, são aspetos que comportam uma grande carga emocional que podem conduzir a quadros depressivos que reduzem a autonomia. Estes quadros, por vezes, assumem características semelhantes às da demência, podendo levar a diagnósticos errados e intervenções médicas desadequadas.

A neuropsicologia desempenhará um papel crucial nos cuidados primários do envelhecimento, tanto ao nível do envelhecimento normal, como do patológico. A reabilitação cognitiva é uma abordagem que ajuda as pessoas com limitações cognitivas a trabalharem conjuntamente com os profissionais de saúde na identificação dos objetivos mais relevantes e na planificação das estratégias para os atingir. As investigações indicam que os participantes que iniciaram o treino mais cedo manifestaram benefícios mais consistentes e mais duradouros do que o grupo que usufruiu do programa de reabilitação mais tarde, ou seja, numa fase mais avançada das alterações cognitivas.

Alguns estudos permitiram constatar que pessoas que participam em atividades de lazer cognitivamente estimulantes (leitura, jogos de tabuleiro, tocar instrumentos) têm um menor risco de desenvolver demência. Deste modo, abordagens baseadas na cognição poderão prevenir ou atrasar a progressão do processo demencial.

O envelhecimento é uma questão de saúde pública, tendo os programas de reabilitação de pessoas idosas uma forte componente psicossocial.O reconhecimento precoce das alterações na funcionalidade do idoso poderá evitar ou retardar a sua dependência de familiares, a institucionalização em lares, ou a necessidade de acompanhantes permanentes.

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Pós-Graduada em Neuropsicologia

Saiba mais sobre a Consulta de Neuropsicologia AQUI


segunda-feira, dezembro 16, 2013

Novo membro titular do ramo de Psicanáliseda da AP: Prof.ª Dr.ª Clara Pracana


É com enorme orgulho que a Psicronos dá a conhecer aos leitores do Salpicos que a Prof.ª Dr.ª Clara Pracana é, a partir de hoje, membro titular do ramo de psicanálise da Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica.
Muitos parabéns, Clara!

sábado, dezembro 14, 2013

EMDR com crianças - "caixa de ferramentas"

EMDR é uma poderosa ferramento no acesso ao trauma e não só, as investigações dizem-nos que,  no domínio infantil, pode ser utilizado para trabalhar questões de ansiedade, dificuldade na gestão do impulso, hiperatividade, etc... Para além de aceder ao trauma, permite-nos igualmente trabalhar as dificuldades do dia-a-dia, os eventos recentes e é isto que mais se trabalha com as crianças.
Na intervenção terapêutica com o adulto trabalhamos num setting mais rígido. No EMDR com crianças devemos possuir grande flexibilidade, pois aqui o que pretendemos é que exista um processo de desenvolvimento, tal como a fase em que a criança está, pelo que devemos ser criativos e capazes de utilizar todos os canais sensoriais da criança.
Temos que criar uma "caixa de ferramentas" e essa caixa deve conter as mais variadas formas de acesso ao imaginário, como cartoons, histórias, fábulas, contos de fadas, mímica entre outras. Por vezes as crianças utilizam as suas capacidades cognitivas como defesa e nós temos que ser capazes de introduzir as mais variadas formas de intervenção, evitando assim, que esta esconda o que está a sentir.
Devemos aumentar as suas capacidades regulatórias e de relação com os outros, mas especialmente consigo mesma.



sexta-feira, dezembro 13, 2013

Psicoterapia Psicanalítica: A cura na relação, pela relação


“O que é uma relação psicoterapêutica?”, “Como saberei se a tenho ou já a tive na minha vida?”, “Porque preciso dela?”. São estas as questões que organizam a nossa presente comunicação.

Relações há muitas. Relações mais íntimas ou mais superficiais, mais gratificantes ou mais frustrantes, mais sanígenas ou mais patogénicas, mais livres ou mais inescapáveis.

Aquela que verdadeiramente nos interessa aqui é a relação sanígena, que alberga em si verdadeiro potencial psicoterapêutico. É a relação com capacidade reparadora, desbloqueadora e promotora do desenvolvimento (inter-)pessoal e da criatividade. Relação   suficientemente boa, vivida plena e atempadamente para alguns, mas não para outros. Para alguns a realidade é a de falha desta relação, a de uma relação desajustada, insuficientemente vivida e precocemente perdida. Ou mesmo, o desconhecimento total desta relação.

Muitos de nós enquanto adolescentes e adultos continuamos (consciente ou inconscientemente) em busca desta relação, de forma mais intermitente ou mais incessante, na fantasia e na prática, de forma mais concreta ou mais abstrata. É frequente confundi-la, mistura-la com, ou procura-la em, outros tipos de relações,  as quais com alguma frequência se transformam sistematicamente em relações insatisfatórias, conflituais e inscritas num ciclo repetitivo de más relações que mais parecem ilustrar a crueldade do destino ou o tormento de um mau karma.

Compreensão e apoio emocional. Estes são dois dos mais vitais “nutrientes emocionais” que enquanto seres humanos procuramos nas nossas relações – dado que em certos casos psicopatológicos tanto a procura daquilo que o outro nos pode dar como a vivencia da dependência na relação com o outro são aspetos fortemente repudiados, de tal forma aterradores que fortíssimas resistências psicológicas (presentes por vezes durante toda uma vida) se colocam ao mero reconhecimento desta necessidade de depender do outro, de se poder ser e desejar ser cuidado.

A compreensão e apoio emocional, inscritos numa relação de verdadeira receptividade, envolvimento e preocupação empática, isenta de critica ou juízos de valor – que pouco ou nada contribuem para o desenvolvimento da personalidade – permite a experiência profundamente sanígena de nos sentirmos compreendidos no nosso sofrimento e em todos os subsequentes desenvolvimentos. Por sua vez, a experiência da compreensão em profundidade da nossa complexidade e contradição moral, comportamental e emocional permite-nos o acesso à serenidade e à maturidade psicológica, bem como à capacidade de compreensão em profundidade do outro, e logo, à capacidade de estabelecermos relações mais profundas, genuínas e plenas.

Em condições ótimas a relação aqui descrita é apanágio das interações entre uma criança e os seus cuidadores principais durante a infância. Ela ajuda a organizar toda a experiência emocional do bebé e da criança, o que irá mais tarde influenciar a atitude do adolescente ou do adulto para consigo mesmo, para com o mundo e para com as relações, bem como o seu comportamento e a sua capacidade de pensar.

O apoio nesta organização emocional é bastante importante aquando das etapas maturativas da infância e dos conflitos emocionais que lhes subjazem. Consoante a maior ou menor elaboração destes problemas maturacionais em cada um de nós enquanto adultos, o significado inconsciente das ansiedades e dos problemas emocionais que nos afligem varia bastante de pessoa para pessoa, o que significa que a experiência desses stressores é diferente de pessoa para pessoa.

É também por este motivo que muitas vezes o conselho de um amigo ou amiga, ou mesmo de um cônjuge, não surtem esse efeito psicoterapêutico pois frequentemente, ainda que bem intencionados, esses conselhos não estão verdadeiramente dirigidos nem consideram a forma peculiar da outra pessoa sentir e organizar a sua experiência emocional. Ainda que os nossos amigos sejam sagrados, por vezes é preciso ir e procurar mais além.

É ao fim ao cabo esta a relação e a transformação oferecida pela psicoterapia psicanalítica. Mais que a cura pela palavra, a psicoterapia psicanalítica é também a cura pela relação.

Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

quinta-feira, dezembro 12, 2013

O efeito de desinibição (III) - Atendimento Online



Uma das variáveis predisponentes ao já falado efeito de desinibição aquando do acompanhamento psicológico à distância, é a variável do contexto físico.

Numa consulta convencional clássica, o cliente desloca-se do seu lar, da sua zona de conforto (onde se sente "à vontade"), para o consultório do clínico. Implica um caminho, uma distância, não só física, mas também entre um domínio considerado familiar, conhecido, para um domínio desconhecido e não familiar. Basicamente, o cliente não está em casa!

No atendimento à distância, o cliente tem a possibilidade de ser atendido a partir do seu lar. Ou seja, do lugar onde sente mais à vontade e confortável. Funciona quase como uma consulta ao domicílio uma vez que, em vez de ser o cliente a deslocar-se ao consultório, é o clínico que "entra" no espaço privado do cliente, por exemplo, quando faz com ele uma consulta em video-conferência.

Este fato contextual do setting psicoterapeutico, tem tendência para atenuar a assimetria de papeis entre o clínico e o cliente. Este último pode ser levado a sentir um maior controlo, sentindo-se mais seguro e mais "dono da situação". Como temos visto nos posts anteriores sobre o efeito de desinibição, este fenómeno contextual do espaço físico tende a influenciar o sentido de espaço psicológico pessoal, levando a que possa ser mais fácil e confortável partilhar aspetos íntimos da vida emocional do cliente.

quarta-feira, dezembro 11, 2013

A esperança e o desenvolvimento psicológico dos nossos filhos



A child’s vision transforms a series of obstacles into limitless opportunities for fun
Lopez, Rose, Robinson, Marques, & Pais-Ribeiro, 2009

Há muitos, muitos anos que a esperança está na sabedoria do povo, como nos confirma o provérbio “a esperança é a última a morrer”.
Muito recentemente a psicologia também a adoptou.
Nesta nova perspectiva podemos entendê-la como pensamento centrado nos objectivos.
Se a esperança tem sido de um modo geral relacionada com um desenvolvimento humano positivo tem sido também relacionada com o ajustamento na infância.   
Podemos entender facilmente este efeito protector se pensarmos que a esperança influencia o desenvolvimento de comportamentos e atitudes positivos que influenciam a forma como a criança lida e responde às situações.
Felizmente, a literatura deixa-nos esperança… é que a esperança pode ser conquistada e desenvolvida, nomeadamente, quando somos expostos a acontecimentos difíceis (Barros, 2003).
Mas como desenvolver esperança nas nossas crianças? Aqui ficam algumas dicas:
1. Ajude o seu filho a definir objectivos internos claros e específicos;
2. Apoie-o na definição de pequenos passos que o ajudem à concretização destes objectivos;
3. Não se esqueça que os adultos devem e podem servir de modelos para que a criança desenvolva um discurso interno que mantenha a iniciativa mesmo na presença de obstáculos ou insucessos.

Se ajudar o seu filho a desenvolver este pensamento vai ajudá-lo a ter um sentimento de controlo e de responsabilização pela sua vida, tão importante para a sua felicidade!

Por Mélanie Dinis, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta na Psicronos
Departamento da Infância- Delegação de Leiria
21 314 53 09 | 91 831 02 08
geral@psicronos.pt

segunda-feira, dezembro 09, 2013

O que te faz sentir VULNERÁVEL?



A vulnerabilidade é o que nos faz sentir em perigo. Psicologicamente, é o que nos faz temer essencialmente não ser aceites ou mesmo rejeitados.

Sentimento de vulnerabilidade a mais pode levar alguém que precisa de ajuda a nem sequer conseguir pedi-la pela exposição que esse passo exige. Uma ajuda mediada por um atendimento à distância como telefone, Skype ou chat pode ser uma boa solução nestes casos.

Sentimento de vulnerabilidade a menos pode levar alguém que também precisa dessa ajuda a procurar essa ajuda mas a poder estar tão ou mais distante dessa mesma ajuda do que alguém que nem sequer consegue procurar ajuda por se sentir demasiado vulnerável! Na verdade o sentimento de vulnerabilidade "a menos" a que fazemos menção é fruto de um sentimento subjetivo que resulta precisamente de um movimento defensivo compensatório relativamente a sentimentos profundos, intensos e não tolerados (conscientemente) de grande vulnerabilidade.

Gerir esta vulnerabilidade aprendendo a tolerá-la é o caminho para a conexão com os outros, connosco mesmos e com a vida! (ver vídeo)

domingo, dezembro 08, 2013

A espiral da ansiedade


Ansioso, stressado, são designações para um estado mental em que se tem a noção de que se está a perder o controle das coisas e de nós próprios. É sobretudo nessa dificuldade em controlarmos a nossa vida que reside, a meu ver, a origem da maior parte dos estados ansiosos. 
Por outro lado, há certamente pessoas com mais tendência para a ansiedade, algo que faz parte do seu funcionamento mental desde o início, mas que também se adquire ou agrava em criança, em contacto próximo com adultos ansiosos. 

(Do The New Yorker)


É difícil lidar com essa ansiedade difusa, flutuante, que é mais um modo de funcionar do que um estado pontual. Faz parte de nós desde sempre, como muitas vezes me dizem os meus pacientes. O problema maior é que essa ansiedade cria frequentemente frustração e raiva na pessoa, que não sabe como lidar com ela e a sente como uma fraqueza e uma vulnerabilidade, quase como uma doença. Culpabilizam-se por serem assim, por não saberem lidar com isso, por sentirem que isso as prejudica, tanto mais, dizem, que é quando estão mais stressados que fazem mais asneiras e as coisas correm pior.
É nesta espiral ansiedade-frustação-raiva-culpa que reside a gravidade da questão. A ansiedade está muitas vezes ligada a estados depressivos, por via da culpa e da auto-recriminação. 
Mas que fazer, então? 

Não é fácil. É importante tentar que as pessoas se apercebam da existência desta espiral, o que é um processo que leva algum tempo. O mecanismo mental é já antigo, mesmo em jovens, e só o começarem a aperceber-se dele já é motivo para mais ansiedade a auto-recriminação. É por isso que é preciso actuar tanto na base como no topo da espiral. Na base, para compreensão do mecanismo. No topo, para contenção. Os ansiosos costumam ser pessoas perfeccionistas e muito sensíveis a críticas. Pouco a pouco, vão percebendo que a sua auto-exigência e constante auto-crítica (o que em psicanálise se designa por Super-Eu) são desproporcionadas e só pioram o fenómeno. 
Há que quebrar a espiral, processo que só o próprio pode fazer, mas em que a psicoterapia ajuda, e muito.

Tenho estado a falar mais da ansiedade generalizada. Mas os ataques de pânico, motivo que tantas vezes leva à procura de ajuda, não são mais que a cereja no topo da espiral, mas uma cereja muito assustadora. No ataque de pânico a pessoa sente-se fisicamente mal e chega a ter a sensação de que vai morrer. Esta ansiedade "cristalizada" na cereja assusta, mas tem a vantagem de fazer reconhecer à pessoa que algo está mal no seu funcionamento psíquico e a procurar ajuda. É já um passo.

Clara Pracana
Psicanalista

Esquizofrenia e depressão

http://www.youtube.com/watch?v=FU4aQ51lIXA&sns=em

sábado, dezembro 07, 2013

EMDR na recuperação, EMDR NA PREVENÇÃO

Face aos acontecimentos deste fim -de- semana, no Pinhal Novo (23/11/2013), uma questão antiga voltou a tomar algum espaço do meu pensamento. 

Já se tem em consideração que as vítimas e respetivas famílias tenham apoio psicológico (quando existe) face a alguns incidentes…no entanto, até que ponto os intervenientes nessas situações também têm? Por exemplo a polícia, a GNR, os bombeiros, as equipas do INEM, médicos e enfermeiros que se deslocam para locais de catástrofe…?

Chegar a um local e deparar-se com os mais vários tipos de cenário de horror, pode, mesmo para os mais treinados e experientes, provocar danos psíquicos. E é importante estar se consciente dessa possibilidade de forma a agir atempadamente.

O processo de EMDR constitui uma ferramenta muito eficaz no tratamento de Pós Stress Traumático, ou seja, quando já está instalado um quadro patológico bem definido. No entanto, sabe-se que até um período de 3 meses após o acontecimento, as memórias ainda não se “fixaram” na rede neuronal. Logo, esta terapia pode ser ainda mais eficaz se o trabalho for feito nesse período, podendo prevenir uma sedimentação em quadro patológico.

Para que tal aconteça é necessário estar se atento à evolução da situação. Existem várias formas de reagir ao choque, e muitas vezes uma espécie de “congelamento” afetivo (quando parece que a pessoa não reage) pode mascarar um possível quadro reativo posterior.

Lembrei-me do caso deste fim-de-semana porque dei por mim a imaginar que impacto que pode ter num militar da GNR, deparar-se com um colega abatido e numa situação onde os níveis de stress são elevados. A reação a este cenário pode ser diversa, dependendo de cada indivíduo e do respetivo contexto …

Acima de tudo, pretendo alertar a todos os que de algum modo são vítimas ou testemunhas de um incidente de qualquer natureza, que provoque reações fisiológicas ou emocionais intensas tais como rever mentalmente a situação inúmeras vezes, estar em sobressalto perante situações que façam lembrar o acontecimento (direta ou indiretamente), crises de ansiedade súbitas (tipo ataque pânico), congelamento afetivo e sensação de se estar distante da cena, sensação de irrealidade, entre outros sintomas, que podem estar a organizar uma reação traumática. Nestes casos se se procurar apoio rapidamente, pode não se chegar a desenvolver um quadro patológico. E nesse sentido, o EMDR surge como tratamento de excelência, na recuperação mas também na prevenção. Basta estar-se atento e não ter receio daquilo que se está a experienciar, seja mais ou menos “normal”.

E se as corporações, pelas mais diversas razões, não têm a possibilidade de disponibilizar aos seus funcionários o apoio devido, é importante pelo menos que os mesmos saibam que esse apoio está disponível e deve ser acionado sempre que , no mínimo,  se tenha dúvidas sobre o que se está a experienciar.

Carla Ricardo
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta
Psicronos Setúbal

sexta-feira, dezembro 06, 2013

ACREDITAR NO PAI NATAL: SIM OU NÃO?

O Pai Natal é provavelmente a personagem culturalmente mais difundida, sendo difícil contrariar a crença espontânea da criança nesta figura.

É frequente os pais questionarem-se sobre se devem ou não promover esta crença e até quando. É igualmente habitual a discussão sobre o certo ou errado de mentir à criança.

Alguns especialistas referem que promover esta crença é uma mentira que pode pôr em causa a confiança da criança nos pais e que, por outro lado, abre precedentes uma vez que os pais são o modelo e, se os pais mentem, a criança também pode mentir. Por outro lado, é referida a possibilidade de vivências traumáticas face à desilusão da descoberta da verdade.

Entre os 3 e os 7 anos, as crianças utilizam o pensamento mágico, sobretudo quando as suas expetativas são comprometidas. Há quem defenda que o Pai Natal não faz parte do imaginário espontâneo da criança, uma vez que é imposto pela cultura e pelos adultos, pelo que a “mentira” seria indesculpável. Deste modo seria mais aceitável “brincar ao Pai Natal” em vez de acreditar no Pai Natal.

Como em quase tudo na infância, penso que o importante é seguir a criança. As crianças criam as suas próprias fantasias independentemente das criações do adulto e até aos 7 anos será difícil desviá-la da atração simbólica do velhote de barbas brancas. Da mesma forma que depois desta idade será difícil distraí-la das inconsistências que vai detetando à medida que o seu raciocínio lógico se instala. Para além do questionamento individual que vai fazendo, vai também sempre existir uma criança cuja fantasia natalícia foi contrariada e que fará a revelação: “o Pai Natal não existe”.

Eu defendo que as crianças devem acreditar no Pai Natal (e na Fada dos Dentes!) e que devem descobrir a realidade por si próprias. Há formas de conduzir esta fantasia, sem uma mentira explícita, respondendo às questões da criança com outra questão “O que é que tu pensas sobre o Pai Natal?”, mais do que com explicações complexas e elaboradas sobre a sua existência ou não.

É verdade que as crianças podem ficar verdadeiramente desiludidas quando descobrem a realidade, mas também é verdade que a verdade, os valores, a confiança, a segurança são transmitidos e solidificados ao longo de 365 dias por ano. E se estas bases forem sólidas, não será uma fantasia que dura no máximo um mês que vai pôr em causa a integridade emocional da criança.

É claro que há alguns fatores a ter em conta. A ideia de que alguém pode entrar em casa pela chaminé pode ser assustadora, pelo que é importante assegurar que tal só acontece com a autorização dos pais e que mais ninguém, em mais nenhum dia, pode lá entrar.

Parece-me que mais aterradora é a tentativa muitas vezes forçada de obter uma fotografia com a criança sentada ao colo do Pai Natal. Uma coisa é aquela figura simpática dos livros e dos filmes, outra coisa é a confrontação com um “gigante” de barbas. Se a criança revela sinais de desconforto, força-la a este encontro é que pode ser traumático. A propósito deste aspeto, quando vejo crianças aterrorizadas ao colo do Pai Natal, penso muitas vezes numa possível resposta a uma ameaça habitual que os pais fazem: “se te portas mal, vem aí o homem do saco (ou o velho)”.


Parece-me que as práticas diárias terão muito mais influência na forma como a criança lida com esta fantasia e com a descoberta da realidade, do que propriamente a construção da fantasia em si.

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica/Psicoterapeuta
Diretora do Departamento de Infância

quinta-feira, dezembro 05, 2013

Estilo Sexual e Saúde Psicológica


Quem aprecia sexo "não convencional" é mais saudável?


Segundo um estudo publicado no Journal of Sexual Medicine, os entusiastas do BDSM são psicologicamente mais saudáveis e extrovertidos comparando com os que preferem uma vida sexual mais convencional.


Um estudo elaborado pelo Dr. Andreas Wismeijer, psicólogo da Universidade de Tilburg, revela que aqueles que gostam dos estalos dos chicotes e do tilintar das correntes sobre a pele são mais saudáveis psicologicamente do que quem aprecia uma vida sexual mais convencional.

Os entusiastas do BDSM - acrónimo para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo - tiveram melhores resultados em vários testes de personalidade e psicológicos em comparação com aqueles que não possuem fetiches sexuais. Os que apreciam este tipo de prática sexual revelaram ser menos neuróticos, assim como mais extrovertidos e abertos a novas experiências.

Os inquiridos responderam às questões através duma plataforma online sem saberem que este era o principal tema, visto que é considerado como "comportamento desviante" por muitas pessoas.

O motivo porque os adeptos das práticas fetichistas obtiveram melhores resultados pode prender-se com o facto de serem mais conscientes e comunicativos sobre os seus desejos sexuais. Outra razão seria terem de realizar um difícil trabalho psicológico para aceitar e conviver com as suas necessidades sexuais, que se afastam do que é considerado socialmente aceitável.

Fonte: Revista "Activa", Sara Viegas, 2013



terça-feira, dezembro 03, 2013

Perguntas Hilariantes e Ridículas - Será???


Recentemente instaurou-se uma polémica sobre um grupo privado que existe no facebook denominado mães. Apenas vou aqui comentar o que foi tornado público, pois não quero de todo inviabilizar a privacidade e regras do grupo.

Há umas poucas semanas atrás, num artigo da revista Sábado, num espaço dedicado à blogosfera, veio uma crónica com o título, as perguntas mais hilariantes e ridículas  e referia-se a este grupo do facebook chamado mães que reune à volta de 7500 membros. Eram colocados alguns exemplos de perguntas e uma das que foi tornada pública remetia para uma dúvida que uma mãe colocou e esta remetia para o facto de deixar ou não o filho com a avó (neste caso a sogra) e se tal não poderia causar algumas dificuldades/alterações no relacionamento da mãe com o bebé.

O que aqui quero aprofundar é a dimensão psicológica que existe em cada uma destas dúvidas, nos anseios que são partilhados e nas questões mais simples que possam ser interpretadas como ridículas a "frio".

Este grupo funciona como um grupo de entre-ajuda, como existem para muitas outras situações que não só a maternidade, e aposta na compreensão das outras mães e nas suas experiências. Trabalho com crianças, adolescentes e seus pais há 10 anos e uma das frases que regularmente ouço, é a pergunta se tenho filhos. Ora, esta pergunta encenta em si esta necessidade de compreensão, de sentir que também já se passou ou está a passar pela mesma fase.

Sim, agora posso dizer que sou mãe, e sim, as coisas mudam de perspectiva, mas enquanto profissional desempenhamos um papel e enquanto pais outro. Agora, de um ponto de vista psicológico serão estas perguntas tão hilariantes e ridículas? O que trará por detrás? Será que as inseguranças não são válidas?

A maternidade é algo maravilhoso, mas um caminho complexo e por vezes sinuoso. Se umas vezes nos mostra como somos capazes e seguras, por outra revela-nos inúmeras fragilidades e inseguranças. As questões hormonais, as experiências prévias, a privação do sono, a agitação diária, as rotinas impostas, as ditaduras sofridas (quando os filhos são bebés, eles é que determinam os horários, e o que podemos ou não fazer) não se farão sentir de alguma maneira? Não existem dias em que parece que tudo é tão difícil? Mas outros em que é tudo tão maravilhoso?

É assim mesmo, como alguém uma vez referiu, uma montanha russa, mas no final de contas o equilíbrio é a chave para o sucesso.

Relativamente à questão das mães, pais, sogras e avós, na realidade os pequeninos necessitam de muito amor e carinho e quem melhor que estas pessoas para lhes fornecer o que mais precisam... Mas será assim tão hilariante este comentário? Não quer dizer que a sogra, por sinal a avó da criança, seja má pessoa, e vá desencaminhar o neto e não seja suficientemente boa para cuidar do filho e desempenhar muito bem o seu papel sem colocar a criança contra a mãe, mas o que, quanto a mim, está aqui patente, é a proteção que uma mãe dá ao filho, o tipo de educação que quer desempenhar, o não conseguir controlar o que se passa, a maior ou menor proximidade com a sogra, o receio de sentir que aquilo que diz não é ouvido e a dúvida se será respeitada no tipo de decisões que quer para a educação do filho.

Ora estas questões são válidas e pertinentes, e na realidade acontece em todas as famílias, quer sejam elas próximas ou distantes, pequenas ou grandes. Falamos aqui de sentimentos, emoções, qualidade das interações e à-vontade. A questão mais difícil e complexa nas relações é o diálogo, e leia-se diálogo aquele discurso que é capaz de chegar a todos, sem enviesamentos e projeções.

E isto acontece com as sogras, com os maridos, com os filhos, enfim, esta é uma realidade que pode estar presente em todas as dinâmicas...

Uma criança não nasce só, com ela nascem outros papéis a desempenhar na família e consequentemente um grau de complexidade maior nas relações.

Tânia Paias
Psicóloga
Delegação Faro/Portimão
Diretora PortalBullying

domingo, dezembro 01, 2013

Deprimir ou não deprimir


A depressão é, com boas razões, algo que muita gente teme. Embora existam vários tipos de depressão, a sintomatologia caracteriza-se, em geral, por uma apatia, uma desmotivação, um ver "tudo negro", às vezes uma vontade de chorar por tudo e por nada, um querer enfiar-se na cama e não sair de lá. Em suma, uma falta de vontade de viver. Se acompanhada de ansiedade, o que é frequente, o quadro torna-se ainda mais angustiante.
Nalgumas pessoas, sucede a períodos de grande entusiasmo ou mesmo euforia. Noutras, instala-se silenciosamente, como um ladrão que não só nos vem roubar a alegria de viver, mas vem também instalar-se dentro da nossa casa mental, sabe-se lá por quanto tempo.
A sensação de estar a cair em depressão pode ser tão assustadora que algumas pessoas desenvolvem um medo da depressão, que depois se transforma num medo do medo, e num medo do medo do medo...
Antigamente, dizia-se que eram as pessoas fracas que caíam em depressão, o que era um disparate e uma ignorância. Churchill, por exemplo, que não consta que fosse uma personalidade fraca, era dado a grandes depressões, a que chamava o "black dog". Sabe-se hoje que também há fenómenos a nível da química cerebral que contribuem para as crises depressivas, que há factores genéticos, que há depressões típicas de alguns períodos da vida (ex: a menopausa), que há até depressões ligadas à falta de sol.
Perante circunstâncias semelhantes, algumas pessoas deprimem mais do que outras e outras nem chegam mesmo a deprimir. Para além do facto de às vezes ser mesmo necessário deprimir para se poder elaborar um desgosto, uma perda, ou outro tipo de dor mental (pense-se num processo normal de luto), julgo que poderá ajudar um pouco, sobretudo ao medo da depressão, pensarmos nela como uma espécie de onda do mar, daquelas que nós obrigam a mergulhar para não sermos enrolados. O que é preferível, várias ondas mais pequenas e todas seguidas ou uma onda muito grande, perante a qual temos de ir bem ao fundo?
É uma questão de preferência pessoal. Eu, pessoalmente, prefiro várias ondas seguidas mas de menor porte, mas nem todos somos iguais. O que me parece inegável, é que é preciso saber nadar - porque não basta boiar (era bom, era!).
Nadar, como? Bem, neste caso, é preciso ter alguma prática de mergulho, boa capacidade torácica, saber descer ao fundo e tocar na areia, aguentar, bater com os pés e nadar para a superfície. Aí, sim, poderemos boiar para descansar. Mas enquanto estamos lá em baixo, há que saber sobreviver. Não dizem que, como mamíferos, descendemos dum peixe que se teria tornado anfíbio? Pois aí está, temos de ser anfíbios.
Mas então há sortudos que nunca deprimiram? Pois há - embora também haja quem esteja deprimido sem saber e apresente sintomas enganadores. Mas aos sortudos que nunca deprimiram, parabéns! Que se conservem assim durante muito tempo. E que vão aprendendo a nadar, porque nunca se sabe...


Colóquio: NASCER AGORA. QUE FUTURO?

No centenário de JOÃO DOS SANTOS
a AP realiza o colóquio NASCER AGORA. QUE FUTURO?


O futuro não se prevê, não pertence aos deuses, construimo-lo em conjunto.
Nascer agora interpela-nos sobre o amor pelas crianças e sobre a retoma do desenvolvimento suspenso!

NESTE TEMPO de perda, do medo e do impasse, qual o pensamento/acção, qual a experiência relacional, capazes de rasgar um horizonte com sentido?

O FUTURO é a tarefa para realizarmos agora "navegando com o mapa que fazemos!

Este ENCONTRO promovido pela AP é um Fórum de debate cientifico e cultural, aberto ao questionamento e ao mundo.

AGORA que a população continua a multiplicar-se e que também aumenta a exploração excessiva dos recursos da natureza, nós vivemos a exacerbação da competitividade nas relações ("ganho o que tu perdes", em "clima de guerra de preços e de mercados") para o lucro desregrado da pequena minoria capitalista financeira.

AGORA tomamos consciência que nos movemos numa brecha em que, para permanecermos humanos, nos são requeridas transformações pessoais e sociais.  

O FUTURO que está no centro deste nosso presente é o cuidado que temos uns pelos outros e pelo mundo, numa perspectiva que já não é a "dum futuro melhor", mas o de uma existência digna para os presentes e a de um futuro para os vindouros.

Agora o FUTURO é a sociedade não explorada, centrada na cultura e no lazer, redistribuidora das relações pela cooperação ("podemos lucrar os dois se formos criativos"), pela horizontalidade ("aprendemos todos uns com os outros"), pelo reconhecimento das minorias e dos mais frágeis ("todos iguais e todos diferentes").

Debateremos as questões da natalidade ("crescimento zero"), do desenvolvimento dos bebés e das crianças como criadores, dos processos que na relação psicoterapêutica, seja ela a psicanálise, favorecem pisar o novo chão ("relação complementar insaturada").

A AP afirma-se para ajudar a construir o humano na psico-diversidade.



 Para mais informações e inscrições vá ao site da AP - http://apppp.pt/congress.html