segunda-feira, maio 04, 2015

||Perturbações de Personalidade|| - Personalidade Masoquista (Auto-Derrotista)


As pessoas que sofrem de uma perturbação masoquista de personalidade vivem o sofrimento de forma repetitiva nas suas vidas e nas suas relações. Para quem está de fora elas aparentam sujeitar-se sistematicamente a perigos e a maus tratos.

Clinicamente o masoquismo significa que para determinada pessoa certas experiências fundamentais, como a autoestima e a proximidade relacional, tornaram-se intrinsecamente associadas com um sofrimento necessário. Alguns autores e técnicos de saúde mental preferem o termo "auto-derrotismo", que retira a conotação sexual do termo (nem todas as pessoas com personalidade masoquista adotam uma sexualidade masoquista) e associa-se menos com a "culpabilização" das vítimas de abuso pelos seus maus tratos.

Uma das características comuns dos pacientes auto-derrotistas é o facto de que, ainda que o quadro clínico seja indicador de depressão, as intervenções psicológicas e farmacológicas que tipicamente aliviam a depressão tendem a ser ineficazes. Muitos pacientes auto-derrotistas queixam-se repetidamente junto dos profissionais de saúde, algumas vezes com um sorriso subtil, de que as suas mais recentes tentativas de ajuda fracassaram. As psicologias masoquistas e as psicologias depressivas partilham ainda algumas dinâmicas centrais, como a sensibilidade à rejeição e à perda, sentimentos de inferioridade, culpa inconsciente e inibição da zanga consciente contra os demais. Muitas vezes ambos os problemas coexistem numa mesma personalidade.

As personalidades masoquistas tendem a causar um impacto nos outros enquanto pessoas atormentadas, ao passo que as personalidades depressivas impactam mais pela tristeza intensa que carregam e pela autocrítica. Quando iniciam uma psicoterapia as pessoas auto-derrotistas procuram uma resposta de pena ou um sentido de compaixão por parte do terapeuta e podem parecer mais investidas em demonstrar a magnitude do que os aflige do que em resolver os seus problemas. É uma atitude outrora designada por "masoquismo moral", que remete para a culpa inconsciente e para um transparecer subtil de um sentido de superioridade moral através da dor ou pela aparente submissão altruísta a outros. Enquadram-se neste grupo algumas pessoas que agem de forma autodestrutiva após cada vitória ou sucesso.

Há uma outra versão da estrutura de personalidade auto-derrotista, que se situa num nível de organização de personalidade mais grave e trata de um masoquismo mais relacional. O comportamento sugere a presença de uma crença inconsciente de que a vinculação requer sofrimento, ou seja, que nas relações a outra parte apenas está verdadeiramente presente e disponível quando o próprio está em sofrimento. São exemplos deste funcionamento, por exemplo, alguns pacientes que se auto-mutilam, abusam de substâncias ou se envolvem sexualmente com estranhos quando o terapeuta está de férias, uma forma de vingança (não necessariamente consciente) do terapeuta ausente.

Uma tarefa das tarefas da psicoterapia com pacientes caracterologicamente masoquistas é ajudar, ou mesmo eventualmente ir confrontando (com tato e sensibilidade) a própria pessoa com as suas contribuições para os problemas que surgem na sua vida, e, ao mesmo tempo, conter a ansiedade e a zanga daí decorrentes.

Preocupação/tensão central: Sofrimento/perder uma relação ou a autoestima
Afetos centrais: Tristeza, zanga, culpa
Crença patogénica característica sobre si próprio(a): Manifestando sofrimento eu posso demonstrar a minha superioridade moral e/ou manter os meus vínculos
Crença patogénica sobre os outros: As pessoas apenas prestam atenção quando alguém está com problemas
Subtipos:

Masoquista Moral
A autoestima depende do sofrimento; a culpa inconsciente impede experiências de satisfação e sucesso.

Masoquista Relacional
Há uma crença inconsciente de que os relacionamentos estão dependentes do sofrimento ou da vitimização pessoais. A vida fora da relação atual, por mais abusiva que seja, pode parecer inimaginável
 Fonte: PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual 


sexta-feira, maio 01, 2015

Disfunção eretil e estilo de vida

Disfunção erétil pode ser tratada com algumas mudanças no estilo de vida

A disfunção erétil é a incapacidade de obter e manter uma ereção firme o suficiente para realizar uma relação sexual. A excitação sexual masculina que provoca a ereção é um processo complexo que envolve cérebro, nervos, vasos sanguíneos, músculos, hormonas e emoções. A disfunção erétil pode ser o resultado de um problema com qualquer um destes fatores ou uma combinação deles. De modo que o stress, preocupações e saúde mental podem causar ou agravar a disfunção erétil.

Portanto, a disfunção erétil é uma importante causa de diminuição da qualidade de vida dos homens. Hábitos saudáveis como evitar o tabagismo, o etilismo (consumo de bebidas alcoólicas), o consumo de drogas, somado a prática regular de atividade física melhoram o desempenho e a capacidade aeróbica. Como a ereção é em parte decorrente de uma boa circulação vascular ao nível do pénis, o estilo de vida tem impacto direto na qualidade da ereção. Também é notória a redução do estresse causado pela atividade física.

Uma variedade de causas pode contribuir para a disfunção erétil, mas é amplamente reconhecido que a doença cardiovascular tem um papel importante. Ela tanto pode ser a causa quanto o resultado. Dessa forma, homens com disfunção erétil devem ser avaliados quanto ao risco de problemas cardiovasculares, e todas as alterações identificadas devem ser tratadas adequadamente.

Um estudo publicado no The Journal of Sexual Medicine revelou que hábitos pouco saudáveis, como problemas com peso, inatividade física, alto consumo de álcool, tabagismo e uso de drogas, aumentam as chances de disfunções sexuais nos homens. Ao mesmo tempo, os pesquisadores liderados por um estudioso do Statens Serum Institut, na Dinamarca, perceberam que tal estilo de vida é mais comum em pessoas sexualmente inativas.

A análise contou com informações médicas de 5.552 homens e mulheres entre 16 e 97 anos. A partir dos dados, foi possível quantificar a percentagem de indivíduos com riscos de saúde e disfunção ou inatividade sexual.

Os resultados apontaram que 78% dos homens e 91% das mulheres com hábitos de vida não saudáveis mantinham tal estilo por não terem um parceiro sexual. Já entre aqueles que tinham parceiros, os riscos de apresentar disfunções sexuais foi representativo apenas no caso dos homens, com probabilidade de 71%.

De acordo com os cientistas, há muitas razões para a disfunção sexual, incluindo algumas sobre as quais a pessoa não tem controle, como após tratamentos de cancro. Entretanto, os hábitos analisados na pesquisa faziam parte de escolhas individuais e, portanto, cabe a esses mesmos indivíduos decidir melhorar a sua vida sexual.

Peso e vida sexual

E manter o peso saudável também é importante para a saúde sexual do homem. Estudos sugerem alterações da função endotelial em homens obesos com disfunção erétil. A obesidade é um estado de stress oxidativo crónico e inflamatório. Homens com um índice de massa corporal (IMC, calculado com o peso em quilos dividido pelo quadrado da altura em metros) maior que 28,7 têm um risco 30% maior em apresentar disfunção erétil do que aqueles com um IMC normal (igual ou menor a 25). A prevalência de excesso de peso ou obesidade em homens com disfunção erétil é de aproximadamente 80%.
O aumento do estresse oxidativo associado à obesidade pode aumentar a formação de radicais livres, o que poderia desativar o óxido nítrico, reduzindo a sua disponibilidade para as células-alvo. Homens obesos que participaram de programas de perda de peso com modificações dietéticas e aumento da atividade física tiveram uma redução do estresse oxidativo, associado a uma melhora do óxido nítrico. Como a atividade de óxido nítrico prejudicada parece desempenhar um papel importante na patogênese da disfunção erétil, a maior disponibilidade de óxido nítrico associada com a perda de peso pode estar relacionada com a melhoria da função erétil em homens obesos.

Trabalhando a musculatura

No controle da disfunção erétil, os exercícios de Kegel podem colaborar. Eles consistem na contração e relaxamento dos músculos do assoalho pélvico. O objetivo é restaurar o tônus e força muscular de modo a prevenir ou reduzir problemas do pavimento pélvico. Alguns estudos sugerem que os exercícios de Kegel podem beneficiar alguns homens que têm disfunção erétil. No entanto, são necessárias mais pesquisas de cunho científico.
Além disso, os exercícios de Kegel podem ser também benéficos no tratamento da incontinência urinária, tanto em homens como em mulheres. Para homens podem fortalecer os músculos do assoalho pélvico, que suportam a bexiga e o intestino e consequentemente afetam a função sexual.

Fonte: Minha Vida
Dr. Fernando Mesquita
Psicólogo Clínico
Terapeuta Sexual 

quarta-feira, abril 29, 2015

O que é a Psicoterapia (I) - O Papel de um Psicoterapeuta


O papel de um psicoterapeuta em psicoterapia psicanalítica é ajudar quem o procura a lidar com as suas emoções mais difíceis e a organizar o pensamento. É uma ajuda e um trabalho contínuo que, no contexto de um encontro específico entre duas pessoas, resultam no germinar de formas mais adaptativas de lidar com as dificuldades pessoais, na redução de angústias e insatisfações instaladas nas diferentes áreas da vida, e na promoção contínua da autonomia individual. 


O psicoterapeuta respeita e promove a autonomia e a identidade individuais e procura ajudar a própria pessoa a encontrar dentro de si as respostas que procura para os problemas que a afligem, que comprometem as suas relações e os seus objetivos de vida. O psicoterapeuta é alguém que, ao longo de uma psicoterapia, procura lançar luz sobre aquilo que a própria pessoa até então não pôde ou não conseguiu ver dentro de si, mantendo sempre essa luz acesa, mesmo quando por algum motivo ela parece voltar a apagar-se.


À medida que o "falar" se desenrola em sessão o psicoterapeuta constrói e aplica intervenções que procuram conter a ansiedade e transforma-la em coisas positivas; pôr a pessoa a pensar; oferecer novos pontos de vista; identificar padrões de funcionamento por detrás de dificuldades pessoais e relacionais; construir uma "aliança terapêutica"; ajudar na regulação das emoções e da  autoestima; trabalhar resistências internas, etc..


Durante cada sessão muito se passa dentro do psicoterapeuta. Por isso é tão importante e exigente a formação pós-graduada do terapeuta psicanalítico, que envolve um longo processo pessoal de psicanálise (ou psicoterapia psicanalítica) e supervisão contínua durante muitos anos. Ao longo de cada sessão estas são algumas das “tarefas internas” que acontecem no psicoterapeuta:


»Mantém a sua atenção naquilo que lhe é transmitido verbalmente, mas também naquilo que lhe é transmitido não-verbalmente (maior parte do nosso discurso acontece de facto não-verbalmente); 
»Procura colocar-se no lugar da pessoa que está à sua frente e tenta perceber como é experiência daquela pessoa a partir de dentro, como sente e pensa; 
»Procura perceber como é que aquela outra pessoa o faz sentir e que papeis lhe vão sendo atribuidos (inconscientemente) a cada momento da psicoterapia;
»Procura perceber como se sente aquela outra pessoa face à presença, posição e  função do psicoterapeuta, bem como face às suas tentativas de ajudar a fazer sentido daquilo que lhe é transmitido; 
»Procura, através da narrativa da pessoa (e não só), perceber quais as suas angústias fundamentais e as defesas psíquicas centrais (modos tendenciais de fazer face a essas mesmas angústias, bem como à ansiedade de uma forma geral); procura também aferir a flexibilidade ou exclusividade no uso dessas defesas (o que se relaciona com o entendimento da organização e estrutura de personalidade de determinada pessoa);
»Procura outras expressões do mundo inconsciente;
»Procura cruzar tudo o que lhe é dito em sessão, e aquilo de que se apercebe a cada momento da sessão, com a sua experiência clínica, formação e conhecimentos;
»Procura gerir momentos de incerteza, de desconhecimento ou de dispersão, esperando pacientemente pelos momentos em que sentidos até então ocultos ou fugazes parecem emergir, criando oportunidades e potenciando transformações;
»Procura sistematicamente sintetizar tudo isto para que, mediante a sua sensibilidade, consiga construir e articular as suas intervenções ao longo das consultas e entre as mesmas, de modo a que estas possam ser úteis e oferecer um efeito transformativo (psicoterapêutico, integrativo ou maturativo) para a pessoa.


Para além da queixa/pedido trazido à consulta, um terapeuta psicanalítico irá sempre avaliar o que pode e o que não pode ser mudado, o desenvolvimento psicológico (como determinada pessoa foi ou não cumprindo todas as etapas esperadas do desenvolvimento psicológico, e conseguindo ou não os ganhos maturacionais próprios de cada etapa), a organização defensiva, o mundo afetivo, as identificações, o mundo interno das relações interpessoais, a forma de gerir a autoestima e o sistema de crenças adaptativas/desadaptativas. Estas são informações que o psicoterapeuta guarda para si mesmo, pelo menos num primeiro momento, servindo enquanto alicerces fundamentais para o diagnóstico clínico e para a orientação do trabalho clínico a cada etapa da psicoterapia. A mudança em psicoterapia e as novas situações e emoções que elas trazem e/ou revelam vão alterando o diagnóstico, o que por sua vez também condiciona mudanças no curso trabalho clínico e abre portas a novas fases do percurso psicoterapêutico.


O terapeuta psicanalítico ao procurar ajudar quem o procura a conseguir maior qualidade de vida, torna-se num cuidador que zela pelos interesses mais elevados dos seus clientes. O psicoterapeuta é também alguém com vastos conhecimentos, experiência pessoal e experiência clínica na área do desenvolvimento psicológico e da personalidade, normal e patológico, e das funções e princípios mentais universais (por exemplo, o facto da mente não ter capacidade para se curar sozinha dos efeitos de situações traumáticas ou particularmente adversas, sobretudo quando acontecem durante a infância, o que tende a resultar na formação de sintomas e psicopatologia ao longo da vida). Ele é ainda especialista no entendimento de como o ser humano muda e em que circunstâncias.


É com estas ferramentas que o psicoterapeuta trabalha ao nível da reabilitação e/ou construção de recursos internos que permitem romper amarras e quebrar circunstâncias internas e de vida aprisionantes que impedem e privam a pessoa da oportunidade de uma vida plena.