segunda-feira, dezembro 09, 2013

O que te faz sentir VULNERÁVEL?



A vulnerabilidade é o que nos faz sentir em perigo. Psicologicamente, é o que nos faz temer essencialmente não ser aceites ou mesmo rejeitados.

Sentimento de vulnerabilidade a mais pode levar alguém que precisa de ajuda a nem sequer conseguir pedi-la pela exposição que esse passo exige. Uma ajuda mediada por um atendimento à distância como telefone, Skype ou chat pode ser uma boa solução nestes casos.

Sentimento de vulnerabilidade a menos pode levar alguém que também precisa dessa ajuda a procurar essa ajuda mas a poder estar tão ou mais distante dessa mesma ajuda do que alguém que nem sequer consegue procurar ajuda por se sentir demasiado vulnerável! Na verdade o sentimento de vulnerabilidade "a menos" a que fazemos menção é fruto de um sentimento subjetivo que resulta precisamente de um movimento defensivo compensatório relativamente a sentimentos profundos, intensos e não tolerados (conscientemente) de grande vulnerabilidade.

Gerir esta vulnerabilidade aprendendo a tolerá-la é o caminho para a conexão com os outros, connosco mesmos e com a vida! (ver vídeo)

domingo, dezembro 08, 2013

A espiral da ansiedade


Ansioso, stressado, são designações para um estado mental em que se tem a noção de que se está a perder o controle das coisas e de nós próprios. É sobretudo nessa dificuldade em controlarmos a nossa vida que reside, a meu ver, a origem da maior parte dos estados ansiosos. 
Por outro lado, há certamente pessoas com mais tendência para a ansiedade, algo que faz parte do seu funcionamento mental desde o início, mas que também se adquire ou agrava em criança, em contacto próximo com adultos ansiosos. 

(Do The New Yorker)


É difícil lidar com essa ansiedade difusa, flutuante, que é mais um modo de funcionar do que um estado pontual. Faz parte de nós desde sempre, como muitas vezes me dizem os meus pacientes. O problema maior é que essa ansiedade cria frequentemente frustração e raiva na pessoa, que não sabe como lidar com ela e a sente como uma fraqueza e uma vulnerabilidade, quase como uma doença. Culpabilizam-se por serem assim, por não saberem lidar com isso, por sentirem que isso as prejudica, tanto mais, dizem, que é quando estão mais stressados que fazem mais asneiras e as coisas correm pior.
É nesta espiral ansiedade-frustação-raiva-culpa que reside a gravidade da questão. A ansiedade está muitas vezes ligada a estados depressivos, por via da culpa e da auto-recriminação. 
Mas que fazer, então? 

Não é fácil. É importante tentar que as pessoas se apercebam da existência desta espiral, o que é um processo que leva algum tempo. O mecanismo mental é já antigo, mesmo em jovens, e só o começarem a aperceber-se dele já é motivo para mais ansiedade a auto-recriminação. É por isso que é preciso actuar tanto na base como no topo da espiral. Na base, para compreensão do mecanismo. No topo, para contenção. Os ansiosos costumam ser pessoas perfeccionistas e muito sensíveis a críticas. Pouco a pouco, vão percebendo que a sua auto-exigência e constante auto-crítica (o que em psicanálise se designa por Super-Eu) são desproporcionadas e só pioram o fenómeno. 
Há que quebrar a espiral, processo que só o próprio pode fazer, mas em que a psicoterapia ajuda, e muito.

Tenho estado a falar mais da ansiedade generalizada. Mas os ataques de pânico, motivo que tantas vezes leva à procura de ajuda, não são mais que a cereja no topo da espiral, mas uma cereja muito assustadora. No ataque de pânico a pessoa sente-se fisicamente mal e chega a ter a sensação de que vai morrer. Esta ansiedade "cristalizada" na cereja assusta, mas tem a vantagem de fazer reconhecer à pessoa que algo está mal no seu funcionamento psíquico e a procurar ajuda. É já um passo.

Clara Pracana
Psicanalista

Esquizofrenia e depressão

http://www.youtube.com/watch?v=FU4aQ51lIXA&sns=em

sábado, dezembro 07, 2013

EMDR na recuperação, EMDR NA PREVENÇÃO

Face aos acontecimentos deste fim -de- semana, no Pinhal Novo (23/11/2013), uma questão antiga voltou a tomar algum espaço do meu pensamento. 

Já se tem em consideração que as vítimas e respetivas famílias tenham apoio psicológico (quando existe) face a alguns incidentes…no entanto, até que ponto os intervenientes nessas situações também têm? Por exemplo a polícia, a GNR, os bombeiros, as equipas do INEM, médicos e enfermeiros que se deslocam para locais de catástrofe…?

Chegar a um local e deparar-se com os mais vários tipos de cenário de horror, pode, mesmo para os mais treinados e experientes, provocar danos psíquicos. E é importante estar se consciente dessa possibilidade de forma a agir atempadamente.

O processo de EMDR constitui uma ferramenta muito eficaz no tratamento de Pós Stress Traumático, ou seja, quando já está instalado um quadro patológico bem definido. No entanto, sabe-se que até um período de 3 meses após o acontecimento, as memórias ainda não se “fixaram” na rede neuronal. Logo, esta terapia pode ser ainda mais eficaz se o trabalho for feito nesse período, podendo prevenir uma sedimentação em quadro patológico.

Para que tal aconteça é necessário estar se atento à evolução da situação. Existem várias formas de reagir ao choque, e muitas vezes uma espécie de “congelamento” afetivo (quando parece que a pessoa não reage) pode mascarar um possível quadro reativo posterior.

Lembrei-me do caso deste fim-de-semana porque dei por mim a imaginar que impacto que pode ter num militar da GNR, deparar-se com um colega abatido e numa situação onde os níveis de stress são elevados. A reação a este cenário pode ser diversa, dependendo de cada indivíduo e do respetivo contexto …

Acima de tudo, pretendo alertar a todos os que de algum modo são vítimas ou testemunhas de um incidente de qualquer natureza, que provoque reações fisiológicas ou emocionais intensas tais como rever mentalmente a situação inúmeras vezes, estar em sobressalto perante situações que façam lembrar o acontecimento (direta ou indiretamente), crises de ansiedade súbitas (tipo ataque pânico), congelamento afetivo e sensação de se estar distante da cena, sensação de irrealidade, entre outros sintomas, que podem estar a organizar uma reação traumática. Nestes casos se se procurar apoio rapidamente, pode não se chegar a desenvolver um quadro patológico. E nesse sentido, o EMDR surge como tratamento de excelência, na recuperação mas também na prevenção. Basta estar-se atento e não ter receio daquilo que se está a experienciar, seja mais ou menos “normal”.

E se as corporações, pelas mais diversas razões, não têm a possibilidade de disponibilizar aos seus funcionários o apoio devido, é importante pelo menos que os mesmos saibam que esse apoio está disponível e deve ser acionado sempre que , no mínimo,  se tenha dúvidas sobre o que se está a experienciar.

Carla Ricardo
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta
Psicronos Setúbal

sexta-feira, dezembro 06, 2013

ACREDITAR NO PAI NATAL: SIM OU NÃO?

O Pai Natal é provavelmente a personagem culturalmente mais difundida, sendo difícil contrariar a crença espontânea da criança nesta figura.

É frequente os pais questionarem-se sobre se devem ou não promover esta crença e até quando. É igualmente habitual a discussão sobre o certo ou errado de mentir à criança.

Alguns especialistas referem que promover esta crença é uma mentira que pode pôr em causa a confiança da criança nos pais e que, por outro lado, abre precedentes uma vez que os pais são o modelo e, se os pais mentem, a criança também pode mentir. Por outro lado, é referida a possibilidade de vivências traumáticas face à desilusão da descoberta da verdade.

Entre os 3 e os 7 anos, as crianças utilizam o pensamento mágico, sobretudo quando as suas expetativas são comprometidas. Há quem defenda que o Pai Natal não faz parte do imaginário espontâneo da criança, uma vez que é imposto pela cultura e pelos adultos, pelo que a “mentira” seria indesculpável. Deste modo seria mais aceitável “brincar ao Pai Natal” em vez de acreditar no Pai Natal.

Como em quase tudo na infância, penso que o importante é seguir a criança. As crianças criam as suas próprias fantasias independentemente das criações do adulto e até aos 7 anos será difícil desviá-la da atração simbólica do velhote de barbas brancas. Da mesma forma que depois desta idade será difícil distraí-la das inconsistências que vai detetando à medida que o seu raciocínio lógico se instala. Para além do questionamento individual que vai fazendo, vai também sempre existir uma criança cuja fantasia natalícia foi contrariada e que fará a revelação: “o Pai Natal não existe”.

Eu defendo que as crianças devem acreditar no Pai Natal (e na Fada dos Dentes!) e que devem descobrir a realidade por si próprias. Há formas de conduzir esta fantasia, sem uma mentira explícita, respondendo às questões da criança com outra questão “O que é que tu pensas sobre o Pai Natal?”, mais do que com explicações complexas e elaboradas sobre a sua existência ou não.

É verdade que as crianças podem ficar verdadeiramente desiludidas quando descobrem a realidade, mas também é verdade que a verdade, os valores, a confiança, a segurança são transmitidos e solidificados ao longo de 365 dias por ano. E se estas bases forem sólidas, não será uma fantasia que dura no máximo um mês que vai pôr em causa a integridade emocional da criança.

É claro que há alguns fatores a ter em conta. A ideia de que alguém pode entrar em casa pela chaminé pode ser assustadora, pelo que é importante assegurar que tal só acontece com a autorização dos pais e que mais ninguém, em mais nenhum dia, pode lá entrar.

Parece-me que mais aterradora é a tentativa muitas vezes forçada de obter uma fotografia com a criança sentada ao colo do Pai Natal. Uma coisa é aquela figura simpática dos livros e dos filmes, outra coisa é a confrontação com um “gigante” de barbas. Se a criança revela sinais de desconforto, força-la a este encontro é que pode ser traumático. A propósito deste aspeto, quando vejo crianças aterrorizadas ao colo do Pai Natal, penso muitas vezes numa possível resposta a uma ameaça habitual que os pais fazem: “se te portas mal, vem aí o homem do saco (ou o velho)”.


Parece-me que as práticas diárias terão muito mais influência na forma como a criança lida com esta fantasia e com a descoberta da realidade, do que propriamente a construção da fantasia em si.

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica/Psicoterapeuta
Diretora do Departamento de Infância

quinta-feira, dezembro 05, 2013

Estilo Sexual e Saúde Psicológica


Quem aprecia sexo "não convencional" é mais saudável?


Segundo um estudo publicado no Journal of Sexual Medicine, os entusiastas do BDSM são psicologicamente mais saudáveis e extrovertidos comparando com os que preferem uma vida sexual mais convencional.


Um estudo elaborado pelo Dr. Andreas Wismeijer, psicólogo da Universidade de Tilburg, revela que aqueles que gostam dos estalos dos chicotes e do tilintar das correntes sobre a pele são mais saudáveis psicologicamente do que quem aprecia uma vida sexual mais convencional.

Os entusiastas do BDSM - acrónimo para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo - tiveram melhores resultados em vários testes de personalidade e psicológicos em comparação com aqueles que não possuem fetiches sexuais. Os que apreciam este tipo de prática sexual revelaram ser menos neuróticos, assim como mais extrovertidos e abertos a novas experiências.

Os inquiridos responderam às questões através duma plataforma online sem saberem que este era o principal tema, visto que é considerado como "comportamento desviante" por muitas pessoas.

O motivo porque os adeptos das práticas fetichistas obtiveram melhores resultados pode prender-se com o facto de serem mais conscientes e comunicativos sobre os seus desejos sexuais. Outra razão seria terem de realizar um difícil trabalho psicológico para aceitar e conviver com as suas necessidades sexuais, que se afastam do que é considerado socialmente aceitável.

Fonte: Revista "Activa", Sara Viegas, 2013



terça-feira, dezembro 03, 2013

Perguntas Hilariantes e Ridículas - Será???


Recentemente instaurou-se uma polémica sobre um grupo privado que existe no facebook denominado mães. Apenas vou aqui comentar o que foi tornado público, pois não quero de todo inviabilizar a privacidade e regras do grupo.

Há umas poucas semanas atrás, num artigo da revista Sábado, num espaço dedicado à blogosfera, veio uma crónica com o título, as perguntas mais hilariantes e ridículas  e referia-se a este grupo do facebook chamado mães que reune à volta de 7500 membros. Eram colocados alguns exemplos de perguntas e uma das que foi tornada pública remetia para uma dúvida que uma mãe colocou e esta remetia para o facto de deixar ou não o filho com a avó (neste caso a sogra) e se tal não poderia causar algumas dificuldades/alterações no relacionamento da mãe com o bebé.

O que aqui quero aprofundar é a dimensão psicológica que existe em cada uma destas dúvidas, nos anseios que são partilhados e nas questões mais simples que possam ser interpretadas como ridículas a "frio".

Este grupo funciona como um grupo de entre-ajuda, como existem para muitas outras situações que não só a maternidade, e aposta na compreensão das outras mães e nas suas experiências. Trabalho com crianças, adolescentes e seus pais há 10 anos e uma das frases que regularmente ouço, é a pergunta se tenho filhos. Ora, esta pergunta encenta em si esta necessidade de compreensão, de sentir que também já se passou ou está a passar pela mesma fase.

Sim, agora posso dizer que sou mãe, e sim, as coisas mudam de perspectiva, mas enquanto profissional desempenhamos um papel e enquanto pais outro. Agora, de um ponto de vista psicológico serão estas perguntas tão hilariantes e ridículas? O que trará por detrás? Será que as inseguranças não são válidas?

A maternidade é algo maravilhoso, mas um caminho complexo e por vezes sinuoso. Se umas vezes nos mostra como somos capazes e seguras, por outra revela-nos inúmeras fragilidades e inseguranças. As questões hormonais, as experiências prévias, a privação do sono, a agitação diária, as rotinas impostas, as ditaduras sofridas (quando os filhos são bebés, eles é que determinam os horários, e o que podemos ou não fazer) não se farão sentir de alguma maneira? Não existem dias em que parece que tudo é tão difícil? Mas outros em que é tudo tão maravilhoso?

É assim mesmo, como alguém uma vez referiu, uma montanha russa, mas no final de contas o equilíbrio é a chave para o sucesso.

Relativamente à questão das mães, pais, sogras e avós, na realidade os pequeninos necessitam de muito amor e carinho e quem melhor que estas pessoas para lhes fornecer o que mais precisam... Mas será assim tão hilariante este comentário? Não quer dizer que a sogra, por sinal a avó da criança, seja má pessoa, e vá desencaminhar o neto e não seja suficientemente boa para cuidar do filho e desempenhar muito bem o seu papel sem colocar a criança contra a mãe, mas o que, quanto a mim, está aqui patente, é a proteção que uma mãe dá ao filho, o tipo de educação que quer desempenhar, o não conseguir controlar o que se passa, a maior ou menor proximidade com a sogra, o receio de sentir que aquilo que diz não é ouvido e a dúvida se será respeitada no tipo de decisões que quer para a educação do filho.

Ora estas questões são válidas e pertinentes, e na realidade acontece em todas as famílias, quer sejam elas próximas ou distantes, pequenas ou grandes. Falamos aqui de sentimentos, emoções, qualidade das interações e à-vontade. A questão mais difícil e complexa nas relações é o diálogo, e leia-se diálogo aquele discurso que é capaz de chegar a todos, sem enviesamentos e projeções.

E isto acontece com as sogras, com os maridos, com os filhos, enfim, esta é uma realidade que pode estar presente em todas as dinâmicas...

Uma criança não nasce só, com ela nascem outros papéis a desempenhar na família e consequentemente um grau de complexidade maior nas relações.

Tânia Paias
Psicóloga
Delegação Faro/Portimão
Diretora PortalBullying

domingo, dezembro 01, 2013

Deprimir ou não deprimir


A depressão é, com boas razões, algo que muita gente teme. Embora existam vários tipos de depressão, a sintomatologia caracteriza-se, em geral, por uma apatia, uma desmotivação, um ver "tudo negro", às vezes uma vontade de chorar por tudo e por nada, um querer enfiar-se na cama e não sair de lá. Em suma, uma falta de vontade de viver. Se acompanhada de ansiedade, o que é frequente, o quadro torna-se ainda mais angustiante.
Nalgumas pessoas, sucede a períodos de grande entusiasmo ou mesmo euforia. Noutras, instala-se silenciosamente, como um ladrão que não só nos vem roubar a alegria de viver, mas vem também instalar-se dentro da nossa casa mental, sabe-se lá por quanto tempo.
A sensação de estar a cair em depressão pode ser tão assustadora que algumas pessoas desenvolvem um medo da depressão, que depois se transforma num medo do medo, e num medo do medo do medo...
Antigamente, dizia-se que eram as pessoas fracas que caíam em depressão, o que era um disparate e uma ignorância. Churchill, por exemplo, que não consta que fosse uma personalidade fraca, era dado a grandes depressões, a que chamava o "black dog". Sabe-se hoje que também há fenómenos a nível da química cerebral que contribuem para as crises depressivas, que há factores genéticos, que há depressões típicas de alguns períodos da vida (ex: a menopausa), que há até depressões ligadas à falta de sol.
Perante circunstâncias semelhantes, algumas pessoas deprimem mais do que outras e outras nem chegam mesmo a deprimir. Para além do facto de às vezes ser mesmo necessário deprimir para se poder elaborar um desgosto, uma perda, ou outro tipo de dor mental (pense-se num processo normal de luto), julgo que poderá ajudar um pouco, sobretudo ao medo da depressão, pensarmos nela como uma espécie de onda do mar, daquelas que nós obrigam a mergulhar para não sermos enrolados. O que é preferível, várias ondas mais pequenas e todas seguidas ou uma onda muito grande, perante a qual temos de ir bem ao fundo?
É uma questão de preferência pessoal. Eu, pessoalmente, prefiro várias ondas seguidas mas de menor porte, mas nem todos somos iguais. O que me parece inegável, é que é preciso saber nadar - porque não basta boiar (era bom, era!).
Nadar, como? Bem, neste caso, é preciso ter alguma prática de mergulho, boa capacidade torácica, saber descer ao fundo e tocar na areia, aguentar, bater com os pés e nadar para a superfície. Aí, sim, poderemos boiar para descansar. Mas enquanto estamos lá em baixo, há que saber sobreviver. Não dizem que, como mamíferos, descendemos dum peixe que se teria tornado anfíbio? Pois aí está, temos de ser anfíbios.
Mas então há sortudos que nunca deprimiram? Pois há - embora também haja quem esteja deprimido sem saber e apresente sintomas enganadores. Mas aos sortudos que nunca deprimiram, parabéns! Que se conservem assim durante muito tempo. E que vão aprendendo a nadar, porque nunca se sabe...


Colóquio: NASCER AGORA. QUE FUTURO?

No centenário de JOÃO DOS SANTOS
a AP realiza o colóquio NASCER AGORA. QUE FUTURO?


O futuro não se prevê, não pertence aos deuses, construimo-lo em conjunto.
Nascer agora interpela-nos sobre o amor pelas crianças e sobre a retoma do desenvolvimento suspenso!

NESTE TEMPO de perda, do medo e do impasse, qual o pensamento/acção, qual a experiência relacional, capazes de rasgar um horizonte com sentido?

O FUTURO é a tarefa para realizarmos agora "navegando com o mapa que fazemos!

Este ENCONTRO promovido pela AP é um Fórum de debate cientifico e cultural, aberto ao questionamento e ao mundo.

AGORA que a população continua a multiplicar-se e que também aumenta a exploração excessiva dos recursos da natureza, nós vivemos a exacerbação da competitividade nas relações ("ganho o que tu perdes", em "clima de guerra de preços e de mercados") para o lucro desregrado da pequena minoria capitalista financeira.

AGORA tomamos consciência que nos movemos numa brecha em que, para permanecermos humanos, nos são requeridas transformações pessoais e sociais.  

O FUTURO que está no centro deste nosso presente é o cuidado que temos uns pelos outros e pelo mundo, numa perspectiva que já não é a "dum futuro melhor", mas o de uma existência digna para os presentes e a de um futuro para os vindouros.

Agora o FUTURO é a sociedade não explorada, centrada na cultura e no lazer, redistribuidora das relações pela cooperação ("podemos lucrar os dois se formos criativos"), pela horizontalidade ("aprendemos todos uns com os outros"), pelo reconhecimento das minorias e dos mais frágeis ("todos iguais e todos diferentes").

Debateremos as questões da natalidade ("crescimento zero"), do desenvolvimento dos bebés e das crianças como criadores, dos processos que na relação psicoterapêutica, seja ela a psicanálise, favorecem pisar o novo chão ("relação complementar insaturada").

A AP afirma-se para ajudar a construir o humano na psico-diversidade.



 Para mais informações e inscrições vá ao site da AP - http://apppp.pt/congress.html

sábado, novembro 30, 2013

Ice Man

Sugestão de Leitura





Este livro biográfico relata a história de um homem com uma personalidade estranha e peculiar, típica dos psicopatas.

Richard Kuklinsky vivia no dilema entre ser um bom chefe de família e um assassino profissional. O seu negócio era o negócio dos homicídios. No submundo do crime, era considerado uma superestrela dos homicídios. Porém, era escrupulosamente cuidadoso em ocultar da sua família – da mulher, Barbara e dos três filhos, o que fazia.

Richard foi o assassino mais contratado pela Máfia, o que prova a sua mestria em matar sem deixar rasto.  

Este livro é resultante de mais de 240 horas de entrevistas feitas a Richard Kuklinsky na Prisão Estatal de Trenton, quando se encontrava no corredor da morte, acusado de ter morto mais de 200 pessoas.

Elsa Madeira
Psicoterapeuta Psicanalítica na Psicronos 

sexta-feira, novembro 29, 2013

A cigarra e a formiga: Procrastinação e EMDR




Na moral principal desta estória conhecida de todos nós sobressai o valor do trabalho e do não adiar das prioridades (do trabalho) e a recompensa que daí resulta. A cigarra é moralmente linchada por dar prioridade ao prazer e ocupar o seu tempo com os seus prazeres, e deixar para segundo plano o trabalho, que pretensamente não dá prazer. 
A estória traça uma divisão entre trabalho - mais ou menos mecanicista, diria, e sobretudo que não oferece prazer, embora não saibamos até que ponto a formiga goza com esta sua atividade, ou se só acasala com a dispensa cheia - e prazer - que parece, na fábula em questão, equivaler a uma atividade venal que não dá trabalho, nem será suficientemente digna para ser ela própria uma ocupação de direito próprio, que permita a realização da cigarra e que possa ser útil a outros e à sociedade. A cigarra que descurou a dispensa, é humilhada e vira, diria, “sem abrigo” com a barriga vazia - embora se assim fosse já teria a espécie sido extinta e nós viveríamos ameaçados pela crescente super-espécie das formigas. Ainda bem que há outras espécies, outros naipes e tonalidades de cinzento, porque afinal de contas todos temos um pouco de cigarra e de formiga. Uns de nós (pre)ocupam-se mais com o passado, e outros (mais formigas) com o futuro, enquanto uns outros (neste aspeto mais cigarras) vivem sobretudo o presente. Mas, honra lhe seja feita, o Esopo, a quem a fábula é atribuída, foi um pertinente observador  da natureza e criador desta espécie de ‘arquétipo’.



Mas afinal de que vos quero falar é de procrastinação - tal como a cigarra procrastina a sua tarefa de recolha e armazenagem do comida para o inverno, para andar durante o verão toda airosa e contente a cantarolar. E tal como a procrastinação, ainda uma situação problemática muito descurada e incompreendida, a cigarra tem má fama.

Comecei a interessar-me particularmente por esta questão há duas décadas quando comecei a perceber que este ‘comportamento’ é um dos principais obstáculos à gestão do tempo, à organização, e logo,  à eficácia pessoal.  Primeiro, comecei a ter sobre esta situação, por assim dizer, um olhar comportamental ou cognitivo-comportamental, em que a procrastinação é só a procrastinação, ou seja o adiar sucessivo, ou sistemático, de uma ou mais tarefas no tempo. Vi que muitas pessoas têm este comportamento e de como ele é prejudicial para a realização dos seus objetivos. Observei que muitas pessoas sofrem com o comportamento de adiar fazer coisas que contribuem para atingir os seus objetivos  manifestos, realizando outras que as boicotam - apesar de poderem oferecer recompensas de curto prazo-, caindo tantas vezes numa espiral de maior e maior frustração e perda de auto-estima. Nessa altura estava mais focada em transmitir informação e partilhar soluções para lidar com este problema, sobretudo à superfície, mas mesmo assim com eficácia. 
Ao longo do tempo, fui reparando nas muitas facetas da procrastinação e de como ela é uma ( comportamento de adiar coisas mais ou menos importantes ou essenciais) e outras coisas (presentes mais ou menos inconscientemente na nossa mente e agindo sobre o nosso comportamento tornando-o paradoxal, falhante, ou pura e simplesmente, idiota), Vi muitos estudantes, de variados graus de ensino, sofrerem desta maleita, muitos profissionais, muitos artistas e criativos temerem o boicote dos seus ambiciosos empreendimentos e o medo de congelarem antes da meta alcançada. Daí, o debater-me com esta ‘questão’ e tentar entendê-la melhor, e aprofundá-la, para melhor poder apoiar quem dela padece.

Em que consiste e porque acontece?
A procrastinação pode ser encarada como uma defesa psicológica comum para evitar lidar com algumas tarefas, pessoas ou situações. De resto, procrastinar (do lat. procrastinare) é o drama do adiar sistemático, que uma maioria das pessoas já experimentou num momento ou noutro. 
Numa maioria dos casos, não chega a ser um problema aflitivo, sobretudo quando não se trata de tarefas essenciais à vida e ao trabalho, como é o caso de finalmente arrumar os livros por ordem alfabética na biblioteca ou de pôr ordem no roupeiro. Ou a de entregar a declaração das finanças fora do prazo, sujeitando-se à multa. Ou a de, esporadicamente, fazer uma pausa para descansar um bocado, ”esquecendo-se” de retomar a tarefa, ou de ser auto-indulgente: “Vou só ver este filme ou esta série antes de começar a estudar”, ou “em vez de estar aqui a consumir-me sem conseguir ser produtivo, afinal poderia ir ter com os meus amigos àquela festa”,  ou “estou cheia de fome, e se fizesse aqueles biscoitos tão bons para me animar?”.
Quando o problema é agudo e se centra sobre tarefas cruciais, a situação atinge uma intensidade que a pessoa não só sofre e se atormenta, como é penalizada pela sua incapacidade de fazer e avançar. Quando se torna crónico, mais uma vez sobre afazeres essenciais ou muito importantes, ruma para a paralisia e um elevado grau de disfuncionalidade. O auto-engano e o ataque a si-próprio(a) instalam-se ‘de armas e bagagens’, e a mudança não é fácil.

A procrastinação relaciona-se com a nossa tendência de evitamento do desagradável e do penoso para privilegiar o agradável e o distrativo, com a fuga ao pensamento e à ação focadas naquilo que importa, e a atração por aquilo que importa menos, e nos anestesia daquilo que deveríamos estar a fazer. De certo modo entendo a procrastinação como uma resistência à tirania do super-ego, e uma fuga para o id, para usar uma terminologia psicanalítica, num movimento que fomenta a sabotagem do eu, o ataque sádico à idealização, e que acarreta componentes masoquistas. A pessoa, sem se dar quase conta, conta demais com a sua capacidade no futuro de lidar com aquilo que não está a fazer agora e que deixa acumular, sobrestimando os seus poderes. E a questão é se não o conseguimos fazer agora, como é que o vamos fazer no futuro?

Seja por querermos evitar a frustração e obter uma gratificação imediata , seja por temermos ou ter até pavor de alguma coisa, seja por não haver consequências negativas de imediato ou por sobre-avaliarmos, e até desejarmos pôr à prova a tal nossa capacidade de lidar com a situação (e a sua majoração/o seu acumulado) no futuro, o movimento escolhido é o desvio ou a fuga para ‘outra coisa’, gerando a situação de procrastinação. E a procrastinação pode ser um evitamento concreto de alguma coisa, ou antes  um sinal de problemas de maior complexidade como depressão e ansiedade.

Quais as respostas para a ultrapassar?
Quando a problemática e a sua intensidade são ligeiras, há soluções relativamente simples de implementar pela pessoa, com ou sem ajuda de um profissional (um psicólogo ou um coach, por exemplo).
Quando o grau de sofrimento e as perdas são assinaláveis é importante a pessoa compreender a sua necessidade de uma ajuda profissional, clínica ou psicoterapêutica.
Experimente perguntar-se, ou imaginar, como será a sua vida daqui a 5 ou 10, 20 anos caso continue a procrastinar, ou antes se conseguir deixar de o fazer. E decida.

Que abordagens terapêuticas ao problema?
Tal como há diversos caminhos para chegar a Roma, também existem variadas abordagens psicoterapêuticas que nos podem levar a bom porto, compreendidas que sejam as razões desse problema e bem ajustadas as respostas terapêuticas escolhidas à anamnese e ao diagnóstico inicial. 
Tanto uma abordagem cognitiva, mais circunscrita e focada nas soluções, ou uma abordagem dinâmica ou psicanalítica, com um enfoque sobretudo na compreensão mais aprofundada do problema, as dinâmicas da personalidade e na mudança desta, poderão produzir bons resultados. Tal como,  a hipnose clínica e o EMDR (Eye Movement Dessensibilization Reprocessing, também conhecida por estimulação bi-lateral), de que falarei de seguida.

O EMDR e a procrastinação
O EMDR é uma abordagem terapêutica que assenta na estimulação bilateral, informada pela investigação de como é que o cérebro processa a informação e gera consciência, e num processo de oito fases.  Esta abordagem de caráter integrativo articula elementos “tanto das teorias psicológicas (ex: afeto, vinculação, comportamental, processamento de bio-informação, cognitiva,sistémica familiar, humanística, psicodinâmica e somática) e das psicoterapias (ex: baseadas no corpo, cognitivo-comportamental, interpessoal, centrada na personalidade e psicodinâmica) num conjunto estandartizado de procedimentos e protocolos clínicos” (Luber, M. , 2009).
Existe um protocolo específico para a procrastinação, e o seu uso com pacientes que procuram especificamente lidar com esta situação e ultrapassar os impasses e bloqueios gerados por este comportamento, tem mostrado resultados muitos positivos e animadores, que favorecem a adaptação da pessoa aos seus objetivos e atividades, e a concentração naquilo que é importante para ela, com atenuação clara dos níveis de perturbação e de ansiedade gerados anteriormente pela vivência do problema. Sendo uma abordagem de curta-média duração é particularmente indicada para pessoas que queiram tratar especificamente desta problemática e de retomar o controlo das sua vida e dos prazos.


Voltando ao Esopo e a esta sua fábula se calhar a cigarra e a formiga precisavam de ir as duas fazer uma terapia de 'casal', escutar-se, compreender-se e aprender uma com a outra.
Enfim, nem só cigarra, nem só formiga, vale a pena sentir que somos capazes de nos sentirmos bem com a vida que levamos, com as opções que tomamos, de nos aceitarmos e de conseguirmos avançar com os recursos de que dispomos, com liberdade e sem excessiva autocrítica, para onde desejamos.
Permitindo-nos, preferencialmente com alguma harmonia, conciliar objetivos, socialização, afetos, interesses e prazeres pessoais.

Isabel Botelho

Psicóloga, Executive Coach
Psicoterapeuta Psicanalítica e EMDR
PSICRONOS

Falhas na intervenção terapêutica dos adolescentes agressores

Este estudo aponta para uma elevada incidência de psicopatologia nos adolescentes agressores.

Não são apenas as vítimas que necessitam de ajuda, os agressores também até porque o comportamento desviante, delinquente e/ou criminoso é muitas vezes o resultado de um forte sofrimento emocional.

Falha a intervenção terapêutica, mas na minha opininião falha sobretudo a prevenção, que sairia muito mais barata ao Estado, para além de evitar danos físicos, morais e psicológicos e todo o sofrimento das vítimas e dos agressores.

AQUI fica a notícia

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Diretora do Departamento da Infância

http://www.psicronos.pt/consultas/psicologia-e-psicoterapia-infantil_5.html

quinta-feira, novembro 28, 2013

O "efeito de desinibição" - Atendimento Online (II)


Na semana passada caracterizámos brevemente o efeito de desinibição no mundo virtual da internet e meios de comunicação à distância. Neste semana o objetivo é percebermos melhor as razões deste fenómeno.

Como a imagem sugere, um dos fatores que potencia o efeito de desinibição é a perceção de (falta ou pouca) exposição que a pessoa tem. As redes sociais, chats ou comentários a blogs ou notícias são alguns exemplos mais comuns em que o participante tem um controlo elevado da forma como se expõe e do que expõe de si: pode mostrar uma foto de identificação (com toda a criatividade que a escolha do tipo de foto envolve), pode mostrar o seu nome real ou imaginário, pode querer comunicar por voz e/ou vídeo, pode revelar fatos íntimos ou comunicar o menos possível, pode investir, representando, uma persona (uma parte de si ou alguém externo), pode entrar e sair em apenas um click.

Ou seja, fatores que permitem um controlo sobre a invisibilidade e anonimato tendem a facilitar uma maior sensação de segurança e controlo da relação. O efeito de desinibição surge assim em complementaridade com a possibilidade de controlar e compensar sentimentos de vulnerabilidade decorrentes de uma maior exposição.  Pode por isso facilitar, por exemplo, expressões livres de agressividade por não haver, muitas vezes, uma identificação associada, passível de ser responsabilizada. 

Este efeito pode também ser aproveitado em terapia online em pessoas que tenham uma fobia social intensa. Nestes casos, o fato de ser visto e o grande medo de poder ser criticado ou rejeitado, leva a que estas pessoas (com uma história de relações pouco apoiantes) se sintam mais seguras em começar uma relação terapeutica através de um mediador comunicacional que lhes permita dosear a exposição. Poderá começar por mail ou chat, evoluir para o telefone, podendo continuar com a video-conferência e, se houver possibilidade e fizer sentido, desembocar numa relação psicoterapêutica in vivo.


terça-feira, novembro 26, 2013

Os Portugueses, o Sexo e o Desporto


"OS PORTUGUESES, O SEXO E O DESPORTO"


A prática de desporto em geral, e das corridas em particular, tem tirado cada vez mais preguiçosos do sedentarismo. Não falta informação disponível sobre os benefícios que o exercício físico regular traz para a saúde, porém, parece haver um certo constrangimento em falar sobre os benefícios para a vida sexual.

Embora pouco divulgados, são variadíssimos os estudos que comprovam as vantagens da prática de desporto na prevenção de dificuldades sexuais. Dos resultados verifica-se que nos homens melhora o desempenho sexual e nas mulheres ajuda o fluxo sanguíneo no clítoris, promovendo a sua capacidade de excitação.

Vejamos o exemplo da Disfunção Eréctil que pode ter causa psicológica e/ou orgânica. Em termos psicológicos é indiscutível que uma pessoa que se sinta bem consigo própria, e com o seu corpo, tem a sua auto-estima e disponibilidade sexual muito menos afectada que o oposto. Quanto à parte fisiológica, a causa mais comum é o mau funcionamento vascular, por exemplo devido a doença coronária. A prática de desporto activa o fluxo de sangue, nos vasos sanguíneos, e induz a produção de hormonas como a beta-endorfina e a dopamina, responsáveis pela sensação de bem-estar e relaxamento. A corrida ajuda ainda na prevenção de doenças como a diabetes e a hipertensão arterial, que, normalmente, apresentam um quadro deficitário em óxido nítrico, neurotransmissor que induz o relaxamento da musculatura lisa dos corpos cavernosos no pénis responsáveis pela produção da ereção.

Se vivemos numa época em que temos, cada vez mais, portugueses a participar em diversas “maratonas”, imaginem qual seria a adesão se esta informação fosse mais divulgada!




segunda-feira, novembro 25, 2013

Da Psicologia Convencional á Psicologia Integrativa: Os desafios da inovação.

"A Psicologia e as intervenções psicológicas representam um pilar importante no tratamento do sofrimento humano. Ao longo dos anos, muitos foram os modelos de intervenção desenvolvidos. Com a globalização e os novos conhecimentos científicos do séc. XXI nas áreas das neuro-ciências, da medicina e da antropologia, surgiram novas modalidades que têm estado, lentamente, a revolucionar a Psicologia.

Com a realização deste Seminário, o Núcleo de Psicologia da Associação Oncológica Do Algarve pretende, assim, dar a conhecer algumas destas perspectivas e abordagens terapêuticas, que se constituem como complementares aos modelos clássicos da Psicologia.

Pretende-se, assim, criar um espaço de partilha e debate construtivo sobre os desafios e oportunidades que a integração de novas modalidades terapêuticas pode trazer a psicólogos e utentes".

PÚBLICO ALVO: psicólogos, estudantes, público em geral

INSCRIÇÃO: 5€ que revertem integralmente para a Associação Oncológica do Algarve. Inscrição prévia através de dba.dc@cm-faro.pt

LOCAL: Biblioteca Municipal de Faro António Ramos Rosa


A página de internet do seminário é https://www.facebook.com/events/682858541734115/# 


Apostar na esperanca: Jose Pio de Abreu at TEDxCoimbra


Um pensador português que vale a pena seguir.

sexta-feira, novembro 22, 2013

EMDR NA INFÂNCIA: VOLTAR A PÔR AS COISAS NO LUGAR

«A Dessensibilização e o Reprocessamento pelo Movimento Ocular é um método psicoterapêutico eficaz na resolução de dificuldades emocionais causadas por experiências perturbadoras, difíceis ou assustadoras. Quando as crianças estão traumatizadas, têm experiências perturbadoras ou fracassos repetidos perdem o sentimento de controlo sobre as suas vidas. Tal pode resultar em sintomas de ansiedade, depressão, irritabilidade, raiva, culpa e/ou problemas comportamentais. Sabemos que eventos como acidentes, abusos, violência, morte e desastres naturais são traumáticos, mas nem sempre reconhecemos de que forma afetam a vida quotidiana das crianças. Mesmo os eventos perturbadores mais comuns como o divórcio, os problemas na escola, as dificuldades com os pares, os insucessos, e os problemas familiares podem afetar profundamente o sentimento de segurança, a auto-estima e o desenvolvimento da criança.

Por vezes, quando acontece uma experiência perturbadora, assustadora ou dolorosa, a memória fica “bloqueada” ou “congelada” na mente e no corpo. A experiência pode voltar de modo angustiante e intrusivo. A criança pode reagir através do evitamento de tudo o que esteja associado à experiência perturbadora. Por exemplo, quando uma criança experimenta um grave acidente de bicicleta, pode haver pesadelos repetidos, medo de tentar novas coisas e evitamento de tudo que estiver relacionado com bicicletas.

A maioria dos especialistas acredita que a melhor forma de desbloquear e libertar-se dos sintomas é através da exposição à experiência traumática. Isto significa enfrentar as memórias ou os eventos problemáticos até deixarem de ser perturbadores.

O EMDR utiliza uma estimulação dual (bilateral) da atenção, que significa o varrimento alternado esquerda-direita, que pode ser pelo movimento dos olhos, sons ou música em cada ouvido, ou estimulação táctil, como batidas leves alternadas nas mãos. Têm sido desenvolvidas alternativas criativas para as crianças, que incorporam a estimulação dual da atenção através de fantoches, histórias, dança, arte, e até natação.
O EMDR ajuda a resolver os pensamentos e sentimentos problemáticos associados às memórias, de modo a que as crianças possam voltar às tarefas normais do desenvolvimento e aos níveis anteriores de funcionamento. Para além disso, o EMDR ajuda a fortalecer os sentimentos de confiança, calma e mestria.

Como é uma sessão de EMDR?

O EMDR é parte de uma abordagem terapêutica integrada, sendo frequentemente usada em conjunto com outras práticas como a ludoterapia, a terapia pela palavra, a terapia comportamental e a terapia familiar. O EMDR será explicado e usado com o consentimento da família e da criança.

Uma sessão típica de tratamento EMDR começa de uma forma positiva, levando a criança a usar a sua imaginação para fortalecer o seu sentimento de confiança e bem-estar. Por exemplo, pode pedir-se à criança que imagine um lugar seguro ou protegido, onde se sente relaxada, ou que se lembre de uma situação em que se sentiu forte e confiante. Estas imagens, os pensamentos e os sentimentos positivos são depois combinados com movimentos oculares ou outras formas de estimulação dual (bilateral) da atenção. Estas experiências iniciais com o EMDR oferecem à criança o aumento de sentimentos positivos e ajudam-na a saber o que esperar.

Em seguida, pede-se à criança que aborde uma memória perturbadora ou um evento relacionado com o problema apresentado. A estimulação dual da atenção é novamente usada enquanto a criança se foca na experiência perturbadora. Quando uma memória perturbadora é “dessensibilizada”, a criança consegue enfrentar eventos do passado sem se sentir perturbada, assustada ou evitante. “Reprocessamento” significa apenas que uma nova compreensão, outras sensações e novos sentimentos podem ser associados aos anteriores pensamentos, sentimentos e imagens perturbadores. As memórias problemáticas podem ser mais confortavelmente evocadas como “simplesmente algo que aconteceu”, e as crianças mais facilmente acreditam que “Acabou”, “Agora estou seguro”, “Fiz o melhor que pude, não é culpa minha”, “Tenho outras opções agora”.

O EMDR pode ajudar o meu filho?

O EMDR pode ser usado tanto com crianças pequenas, como mais velhas, e adolescentes. Estudos de caso indicam que o EMDR tem sido usado com sucesso em crianças pré-verbais, bem como com adolescentes que não querem falar sobre os assuntos perturbadores. Como em qualquer outra intervenção, quanto mais nova ou quanto mais evitante for a criança, maior o desafio na procura de formas de a envolver e de focar a sua atenção no problema. É benéfico que os pais e os profissionais expliquem que o EMDR é uma forma de ultrapassar os pensamentos, sentimentos e comportamentos inquietantes. O EMDR tem sido usado para ajudar crianças a lidar com eventos traumáticos, depressão, ansiedade, fobias e outros problemas comportamentais.

O processo EMDR é diferente com cada criança, porque a cura é guiada a partir de dentro. Algumas crianças descrevem que o EMDR é relaxante e têm uma resposta positiva imediata. Outras crianças podem sentir-se cansadas no final da sessão, e os benefícios serem observados nos dias que se seguem. Uma menina de 10 anos esteve engessada durante um ano e estava preocupada com lesões, doenças e morte devido a um acidente traumático. Depois do EMDR começou a chorar lágrimas de alegria e disse “Estou tão feliz, acabou mesmo e eu sou forte”. Um rapaz de 5 anos com problemas de comportamento, cujo terapeuta trabalhava com outras técnicas, e experimentou EMDR disse “Porque é que não fizeste isto comigo antes?”. Outro rapaz de 8 anos que mantinha pesadelos disse “Eles simplesmente saltaram da minha cabeça, os monstros desapareceram”. Outras crianças dizem muito pouco, mas o seu comportamento muda e os pais dizem “As coisas estão a voltar ao lugar”.»

Esta publicação é uma tradução parcial e informal da brochura informativa da autoria da EMDR International Association (EMDR &Children- Guide for Parents, Professionals, and Others Who Care About Children)

Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta (Delegação de Lisboa)
Diretora do Departamento de Infância
alexandra.barros@psicronos.pt 

A Psicronos tem psicoterapeutas formados em EMDR na Infância (Delegaçoes de Lisboa e Faro/Portimão)

quinta-feira, novembro 21, 2013

Diz-me se és amada(o) dir-te-ei como te sentes O suporte social e o ajustamento psicológico.

Diz-me se és amada(o) dir-te-ei como te sentes
O suporte social e o ajustamento psicológico
E assim, no teu olhar admirado
Vi-me vir a existir.
        Arno Gruen, 1995


O suporte social que sentimos depende da disponibilidade de pessoas em quem podemos confiar, que mostram que se preocupam connosco, que nos valorizam e que gostam de nós. São as pessoas que nos fazem sentir que somos amados, estimados e que temos valor. Mas não basta que essas pessoas existam, para o que o suporte social “funcione” é preciso que o reconheçamos enquanto tal e que nos sintamos satisfeitos com o apoio que nos prestam.
Esta pode ser uma questão particularmente importante: será que olhamos com atenção para o que os outros nos oferecem? Mais importante é questionarmo-nos sobre isto sabendo nós que quando estamos mais tristes ou frágeis e necessitados desse apoio podemos olhar através de lentes que distorcem a realidade e que nos dizem o que não precisamos de ouvir dentro de nós nesse momento: que não nos dão valor ou que não somos suficientemente importantes.  
 Os estudos dizem-nos que quando percebemos ou acreditamos que temos este suporte, a possibilidade de nos tornarmos resilientes, de nos adaptarmos em situações difíceis e/ou sentirmo-nos mais satisfeitos é maior.
Cabe-nos a nós reavaliar o nosso olhar do que temos e de quem temos.  



Por Mélanie Dinis, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta na Psicronos
Contacte o Departamento de Terapia Cognitiva: (Delegação de Leiria)
21 314 53 09 | 91 831 02 08geral@psicronos.pt 

quarta-feira, novembro 20, 2013

O "efeito de desinibição" - Atendimento Online (I)


O mundo do cyber-espaço é uma espécie de "novo mundo".
Atualmente praticamente tudo pode ser encontrado e cada vez mais coisas podem ser feitas neste outro mundo (ex., jogar, conviver, comercializar, conhecer, viajar...).

É um mundo onde o "navegador" e o meio navegado se encontram de uma forma peculiar, meio "real", meio "virtual". As pessoas tendem muitas vezes a dizer ou fazer coisas que não fariam se estivem "cá fora" no "mundo real", e não apenas "isoladas" face a um computador. É chamado o "efeito de desinibição". As pessoas tendem mais facilmente a expressarem os seus sentimentos, auto-revelarem-se, contarem segredos, desejos ou admitirem medos. Também podem dar mais facilmente livre curso à exploração de fantasias e desejos mais íntimos e/ou crus.

Suler (2004) distingue, pois, dois tipos de efeitos de desinibição:

- O "efeito de desinibição benigno"
   O que muitas vezes surge e é aproveitado no contexto de um acompanhamento psicológico online    
   (telefone, chat, mail, Skype...) em que as pessoas se sentem mais livres e espontâneas para dizer o que  
   sentem e pensam. Também podem tender a expressar atos de generosidade e de partilha íntima que não
   teriam noutro contexto de maior exposição.

- O "efeito de desinibição tóxico"
   Este efeito refere-se a uma desinibição menos benigna por ser, ou descontrolada ou clivada da
   personalidade de uma maneira disruptiva. Exemplos são catarses puras em que as pessoas podem dar
   livre curso à sua agressividade e ofender e desrespeitar o outros de várias maneiras. Outro exemplo muito
   comum é a descarga clivada de desejos e fantasias com a ajuda da vasta indústria pornográfica da
   internet. Muitas vezes estas experiências tornam-se apenas descargas brutas de energia e gratificação
   imediatas com efeitos negativos (sentimentos de vazio, falta de sentido, solidão...) para quem se deixa
   enredar por estas experiências.

O efeito de desinibição é, deste modo, um efeito de dois gumes. Para além de que a potenciação do efeito no atendimento psicológico à distância, por exemplo, depender de pessoa para pessoa e de situação para situação. De fato, poderá ser desinibidor, para uma dada pessoa, em certas circunstâncias enquanto noutras ser precisamente o oposto (mais inibitório, para essa mesma pessoa). Como dito, este efeito também varia de pessoa: nem toda a gente encara uma relação terapêutica mediada por um canal comunicacional tecnológico como desinibidor. Há pessoas cuja distância física evoca uma sensação de formalidade, falta de contato e de proximidade emocional. Para estas o atendimento à distância será sobretudo uma forma alternativa ao atendimento convencional quando este não é conveniente.


terça-feira, novembro 19, 2013

Slow Parenting


No trabalho com crianças e adolescentes surgem, com alguma frequência, problemas relacionados com a ansiedade despertada pela necessidade de perfeição; o “filho perfeito” produto da projecção dos desejos e angústias do adulto; perfeito na escola, nas actividades, nas relações, etc. Estas ocorrências parecem cada vez mais agravadas pela aceleração continua do ritmo de vida, quer do adulto quer, consequentemente, da criança. Com muita regularidade as crianças apresentam-me (queixando-se da falta de tempo para brincar) horários semanais das actividades escolares e extra-escolares, com dias a iniciar às 8 horas e a terminar às 21 horas, com actividades obrigatórias ao sábado e com tempo livre apenas ao domingo que é, como me dizem algumas crianças e pais, obviamente para estudar. Note-se que nas treze horas diárias de actividades escolares e extra-escolares, muitas vezes, os intervalos são para refeições e para deslocações.
Precisamente com a finalidade de alterar hábitos e sensibilizar os adultos para as consequências e para as necessidades das crianças têm surgido movimentos e programas de desaceleração, num estilo bem americano: o “slow parenting”. Muitos dos preceitos destes movimentos apoiam-se num conhecimento há muito sustentado pela psicologia.
É essencial para o desenvolvimento da criança o espaço para o jogo, para brincar, para o ócio, para o silêncio, para a frustração. O jogo ou a brincadeira são assim mediadores de desejo, não apenas para a criança mas também para o adulto (o jogo no adulto assume diferentes formatos, por exemplo, a politica), e como expressão de desejo traz consigo satisfação. A brincadeira está, na criança, relacionada com a inteligência de si mesmo, do mundo que a rodeia e dos outros, ou seja, é através do brincar que a função simbólica desperta, atribui-se sentido às diferentes expressões emocionais e ganha-se experiências de domínio e frustração. A necessidade que a criança tem de brincar ou de jogar parece ser, para os pais, mais fácil compreender do que a importância de momentos de prazer na experiência mais passiva da criança, a angústia que os pais têm do dolce far-niente. Frequentemente oiço pais a censurarem o tempo de desocupação dos filhos, desejam que os filhos não percam tempo e não estejam “prostrados no sofá ou á frente da televisão sem fazer nada”.
No livro “As etapas decisivas da infância” Françoise Dolto alerta-nos para a importância de muitos destes momentos, para a autora alguns adultos parecem temer o que pensam ser o vazio mental do filho, talvez porque, nos seus próprios momentos de ociosidade não encontrem bem-estar. É importante no desenvolvimento que exista espaço para o prazer de ouvir, de olhar, de sentir, de observar, prazeres inteligentes e por vezes meditativos que estimulam a criança para o conhecimento dela e do que a rodeia.
Hoje, o excesso de actividades das crianças associado à falta de períodos de ócio são muitas vezes responsáveis pela ansiedade, pela frustração e pelo entediamento que algumas das crianças sentem.
Se tiverem interesse em conhecer mais sobre o movimento americano slow parenting deixo aqui alguns links.

Madalena Motta Veiga
Psicoterapeuta da Psicronos em Cascais e Lisboa

segunda-feira, novembro 18, 2013

Agressividade normal e patológica

Fui recentemente chamada a falar sobre agressividade numa escola, e de uma forma geral, quando falamos sobre agressividade, é bom termos como ponto de partida que a agressividade existe em todos os seres humanos, é natural e necessária.

Na adolescência a agressividade está muito presente no comportamento e por isso, quando falamos para pais e professores, importa ajudá-los a compreender a agressividade mas também a diferenciar a agressividade saudável da agressividade patológica.

Para pensarmos em agressividade saudável podemos pensar por exemplo na agressividade que está presente numa equipa desportiva. É a agressividade que nos mobiliza para a ação, que está relacionada com a nossa capacidade de nos defendermos, de lutarmos pelos nossos objetivos, de tolerarmos a rivalidade e competitividade. É então possível pensarmos que a agressividade pode estar ao serviço da cooperação, da proteção, da união grupal, etc.

A agressividade pode estar ao serviço de objetivos grupais, interpessoais, mas também é saudável quando contribui para a construção da identidade e diferenciação.
É assim importante a capacidade para criarmos mudanças, ruturas, separações; para afirmarmos a nossa diferença, os nossos limites e as nossas escolhas. Está presente na nossa capacidade de reivindicar, de lutar pelos nossos direitos, pelo nosso bem-estar.

Mas então quando é que falamos de raiva, ódio, sadismo, ciúme, inveja?

Quando falamos destas emoções, estamos também a falar de emoções naturais e existentes em todos os seres humanos. E podem também ser saudáveis, quando estão ao serviço da sobrevivência, da regulação interna e da regulação das relações.
As crianças e os jovens precisam de saber que estas emoções são saudáveis, e que podem ser sentidas e expressas– como o amor, a alegria ou a tristeza – de forma socialmente apropriada. Mesmo a agressividade mais destrutiva deve poder ser sentida, e até certo ponto expressa - não necessariamente agida. 

O que diferencia então a agressividade saudável da agressividade patológica?


A agressividade patológica é destrutiva para o próprio, para o outro e para a relação e é aquela que não contribui para a evolução nem contempla possibilidade de reparação.

A agressividade mais patológica é normalmente caracterizada por uma intensidade desmedida e desajustada à circunstância. A repetição de comportamentos agressivos e a indiferenciação do alvo são também sinais de alerta. Outro aspeto importante é a ausência de culpabilidade e falta de empatia que podem refletir uma frieza relacional. 
A culpabilidade tem um papel fundamental na elaboração da agressividade. A culpabilidade, normalmente associada à empatia e reforçada pelos aspetos morais e sociais exerce um travão nos impulsos mais destrutivos.

Identificar estes aspetos deve essencialmente contribuir para que pais e professores compreendam que a agressividade mais patológica é sempre sinal de sofrimento e este não deve ser negligenciado.

É óbvio que os pais e os professores têm sempre um papel que visa corrigir comportamentos, assim que são fundamentais na necessidade de mostrar os limites morais, sociais e relacionais. Mas não podemos nunca esquecer que um jovem agressivo não precisa só de limites e normalmente não beneficia nada com simples censura ao seu comportamento - precisa de alguém que o ajude a compreender e entrar em contacto com o seu sofrimento e a encontrar mais conforto na sua relação consigo mesmo e com os outros.

Eliana Vilaça
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta