sexta-feira, agosto 01, 2008

"Mulheres ao Espelho"


Mãe, eu quero ir-me embora – a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram –
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.


Mãe, eu quero ir-me embora – os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim – tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.


Mãe, eu quero ir-me embora – nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique –
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.


Mãe, eu vou-me embora – esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua – a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste um dia que chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.

Poema dito e escrito por Maria do Rosário Pedreira em "Mulheres ao Espelho" - Aldina Duarte (Roda-Lá Music, 2008)

quarta-feira, julho 23, 2008

As músicas de Lorenna McKennitt

Gostaria de partilhar convosco algumas dicas acerca de uma cantora que me tem inspirado ao longo destes anos. Chama-se Lorenna McKennitt e é canadiana. Tem uma voz cristalina e músicas que retratam uma mística de "tempos antigos".

Deixo-vos aqui os links de duas músicas. Para ouvir todo o ano...



http://br.youtube.com/watch?v=s1AcESk7JBA&feature=related

Passado, presente, futuro!


Há frases que marcam um dia!


Uma dessas frases foi "o seu passado influência o seu modo de pensar no presente e a maneira como se projecta no futuro"...


Interessante como numa só frase, se pode condensar todo o tempo e toda uma vida!




terça-feira, julho 22, 2008

Os pensamentos entre as palavras.


Noutro dia, alguém dizer esta expressão para caracterizar os motivos pelos quais não estava contente com a sua vida. “Eu até sei o que devo fazer, mas surgem uns pensamentos entre as palavras e depois demoro demasiado tempo porque fico inseguro.”


Achei muito interessante esta frase, descreve muito bem um dos objectivos da psicoterapia cognitiva, que é justamente trazer ao conhecimento imediato esses pensamentos de modo a poder verificar até que ponto influenciam a vida de cada um, e de seguida modifica-los para obter melhor qualidade de vida psicológica.


Já tinham pensado nos pensamentos entre as palavras?

Ordem dos Psicólogos


Data Histórica - Dia 18 de Julho de 2008
Criada a Ordem dos Psicólogos Portugueses e Aprovados os seus Estatutos pela Assembleia da República

segunda-feira, julho 21, 2008

(des)entendimento

Resposta de Fernando Pessoa a Gaspar Simões, um crítico literário que fez a sua biografia, com algumas interpretações, mais ou menos selvagens, da sua obra e vida:

" ... compreender a essencial inexplicabilidade da alma humana, cercar estes estudos e estas buscas de uma leve aura poética de desentendimento.
Tem talvez qualquer coisa de diplomático, mas até com a verdade, meu querido Gaspar Simões, há que haver diplomacia.".

Penso.

quinta-feira, julho 10, 2008

Amanhã: Conferência Aberta no Instituto de Psicanálise em Lisboa



O Instituto de Psicanálise vai abrir as suas portas para acolher a conferência do Prof. Luís Carlos Menezes. A Conferência irá decorrer às 21:30h e a entrada é livre.

Luís Carlos Menezes é Presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de S. Paulo (SBPSP), Psiquiatra, Doutorado pela Universidade de Paris XI. O objectivo desta visita é podermos beneficiar da longa e diversificada experiência formativa e clínica de Luís Carlos Menezes.

Dia 11 de Julho (sexta-feira) às 21.30h


Conferência:
Preservem as Flores Selvagens: aderência, adesão e lucidez - Variações Metapsicológicas sobre o tema do Poder.

Nesta Conferencia o autor, tendo como fio condutor o pensamento de Freud, de Hannah Arendt e de Nietzsche, reflectirá sobre a contra-corrente às imposições massificadoras e conformistas do colectivo.

Esta Conferência, aberta ao público, será comentada por Duarte Cabral de Melo (Arquitecto e Urbanista).

Morada do Instituto de Psicanálise:
Av. da República, 97 - 5º, 1050-190 Lisboa
Tel.: 217 972 108 Fax: 217 936 224
e-mail: institutopsicanalise@gmail.com

terça-feira, julho 01, 2008

Mulher morre na sala de espera de hospital americano perante indiferença de funcionários

Uma mulher norte-americana de 49 anos de idade morreu na sala de espera de um hospital psiquiátrico de Nova Iorque perante a indiferença de seis funcionários, entre os quais dois seguranças. A ajuda chegou 45 minutos depois, mas já era tarde de mais.

A notícia e o video em: http://www.publico.clix.pt/videos/?v=20080701121222&z=1


No vídeo referem que após a divulgação das imagens foram despedidos 6 técnicos, incluindo 2 seguranças.
A meu ver, a punição para a negligencia nestes casos é obviamente necessária mas a questão não se resolve senão com formação.

É nossa obrigação formar os técnicos e profissionais que trabalham na saúde, mas é também obrigação dos técnicos e profissionais procurar formação e informação. Sobretudo na área da saúde mental, onde é tão frequente que aconteçam estas e tantas outras situações horríveis, desumanas e totalmente inadmicíveis.

segunda-feira, junho 16, 2008

Melancolias



As melancolias (vulgarmente chamadas de depressões) são, na sua grande maioria, acima de tudo, lutos mal resolvidos.

Lutos mal resolvidos” significa que num passado mais ou menos recente existiram situações e/ou acontecimentos sentidos como dolorosos que não puderam ser ultrapassados (i.e, elaborados) adequadamente. É como uma ferida que foi aberta (no passado) e que, não podendo cicatrizar, continua (no presente) a provocar muito sofrimento e a absorver muita energia.

A pessoa que sofre do abatimento e profunda tristeza provocada pela "depressão", foi carregando o sofrimento dentro de si durante muito tempo até que ele acabou por dominá-la completamente, tornando o dia e a noite num “vale de lágrimas” sem sentido e em que as outras pessoas à volta parecem não entender e aceitar o que se passa.

Frequentemente, como a dor e a angústia são tão grandes, recorre-se à medicação e esta pode facilmente começar a ser tomada sem qualquer controlo. A medicação pode ser muito útil mas deverá ser utilizada com muito cuidado e responsabilidade, sempre com aconselhamento e acompanhamento médico, sobretudo de um psiquiatra competente.

Na minha experiência como psicólogo clínico com casos desta natureza, tenho comprovado que uma correcta medicação pode ser uma ajuda importante para que os pacientes se sintam menos angustiados para que depois, num segundo tempo, através de um acompanhamento psicológico regular, seja possível começar a analisar os verdadeiros motivos que os fazem sentir infelizes, desesperados e sobretudo incompreendidos.

Muitas vezes quem sofre de "depressão" não consegue saber exactamente o que provoca o mal-estar e é tarefa do psicólogo identificar a origem da(s) “ferida(s)” para que, ao longo das consultas, se possa iniciar o processo de “cicatrização”.

Não é possível voltar atrás para alterar o passado mas podem ser criadas as condições terapêuticas necessárias para que o presente deixe de ser visto como tão negro e sem saída e a pessoa possa recomeçar a ter esperança e entusiasmo face ao Futuro. Não é voltar atrás à infância mas acertar contas com o passado…
* Este texto foi originalmente publicado no jornal regional Gazeta do Interior.

(quadro: "The Way Home" de Tandi Venter)

sexta-feira, junho 13, 2008

Presumir


Presumimos que sabemos e presumimos que os outros sabem.

Partimos do princípio - para nossa tranquilidade mental - que sabemos bastante mais do que aquilo que verdadeiramente sabemos ou poderíamos saber e de igual forma presumimos, muitas vezes, que os outros sabem muito mais sobre nós, a nossa realidade pessoal, profissional, ideias, pensamentos, emoções, etc., do que verdadeiramente sabem ou poderiam saber. Presumir impede o acesso à realidade e dificulta a todos os níveis a comunicação produtiva e geradora de intimidade e crescimento.

terça-feira, junho 10, 2008

Análise Desenvolvimentista do Processo Terapêutico (ADPT)

28 de Junho – Sala D. João, Hotel Mundial
Sábado das 10h às 13h e das 14.30h às 17.30h
Seminarista: Michael Basseches, Ph. D.
Acerca do autor: Investigação, publicações e ensino relativos ao desenvolvimento cognitivo, social e do ego do adolescente e do adulto, particularmente nos contextos de ensino superior, psicoterapia e supervisão. Este trabalho tem-se traduzido em várias comunicações, conferências e seminários a nível nacional e internacional, bem como em várias publicações.
Programa do Seminário.
I. Introdução: asserções integrativas básicas, contexto desenvolvimentista e a estrutura conceptual da ADPT. Dois aspectos da integração em psicoterapia.
A. Comunalidades entre terapias relativas a recursos que facilitam o desenvolvimento.
B. Comunalidades entre casos bem-sucedidos relativos a movimentos dialécticos identificáveis dentro do movimento desenvolvimentista.
C. Exemplos potenciais de integração terapêutica (i.e. factores comuns ás diversas orientações.
D. Discusão.
II. Motivações para o desenvolvimento da ADPT
A. Desenvolver uma linguagem e estrutura comuns para promover comunicação entre as diferentes orientações.
B. Como a alternativa à investigação tradicional, no sentido da demonstração da eficácia da terapia a nível de “caso único”.
C. Como ferramenta de reflexão pessoal ou de supervisão relativa a casos individuais ou como ferramenta de treino.
III. Ilustração prática do uso de ADPT, demonstrando e descrevendo o modo como a terapia promove o desenvolvimento do paciente.
IV. Demonstração e pratica de competências para utilizar a ADPT na identificação de movimentos dialécticos no contexto da prática terapêutica (apresentação, discussão, exercícios):
A. Identificar recursos e mudanças terapêuticas.
i. Apoio atencional.
ii. Interpretação.
iii. “Enactment”.
B. Identificar movimentos desenvolvimentistas na terapia.
i. Conflitos.
ii. Síntese.
V. Utilizar movimentos desenvolvimentistas específicos para demonstrar e praticar a análise de casos usando o método ADPT (demonstração e exercício)
VI. Quando a terapia se encontra bloqueada, utilizando a ADPT na identificação de problemas centrais na aliança terapêutica (demonstração, discussão)
VII. Discussão da ADPT e da Complementaridade Paradigmática.

Inscrições até 20 de Junho.
As inscrições podem ser efectuadas no secretariado da APTCC (tel. 213210100) e-mail: aptcc@cognitivas.org

Preço:
Sócios ou formandos da APTCC 80 euros
Não sócios 100 euros

segunda-feira, junho 09, 2008

MÚSICA

Estive no sábado no Teatro Maria Matos a ouvir a música e os poemas de Sharyar Mazgani. Em Portugal desde criança, tem 33 anos e é filho de pais iranianos que abandonaram o país quando ele era miúdo e vieram para Portugal. Por quê, é uma boa pergunta, mas só temos a agradecer à sorte que nos bafejou!
Ouçam o Mazgani no Youtube. Fabuloso!
http://www.youtube.com/watch?v=ItXPgiWzcZQ&NR=1

Associação Oficinas sem Mestre - Workshop "Animanias" em Aveiro



A Associação Oficinas Sem Mestre é um grupo de trabalho formado por psicólogos, professores, técnicos de serviço social, uma jurista e um jornalista, criado com o intuito de organizar espaços para pensar, trocar experiências, aprender a trabalhar com novos instrumentos e metodologias pedagógicas e terapêuticas e intervir nas áreas da saúde mental e da educação (criando, sempre que possível, parcerias com áreas afins).

No âmbito deste projecto, terá lugar, no dia 14 de Junho (sábado) o Workshop "Animanias", dinamizado por Rui Coimbra (psicólogo clínico) que nos sensibilizará para a utilização da animação cinematográfica como instrumento terapêutico e pedagógico. O workshop decorrerá no Museu da Cidade, em Aveiro, das 9h30 às 12h30 e das 14h às 17h. A participação no mesmo custará 30 euros (25 euros para sócios).

No mesmo dia, teremos uma tertúlia de reflexão multidisciplinar aberta a todos os interessados. O psicólogo Rui Coimbra e a psicóloga e artista plástica Joana Patrício partilharão connosco a sua relação com a animação, quer enquanto instrumento de intervenção terapêutica quer como possibilidade de projecção pessoal, criação de narrativas íntimas e, como tal, consolidação da identidade


14 de Junho - Sábado - Museu da Cidade, Aveiro

workshop "ANIMANIAS" (9h30 - 12h30 / 14h-17h)
dinamizado por Rui Coimbra
(psicólogo clínico que utiliza a animação cinematográfica como instrumento terapêutico e pedagógico).


INSCRIÇÕES ATÉ DIA 13 DE JUNHO ATRAVÉS DO EMAIL: oficinasemestre@gmail.com
preço sócio: 25€ / preço para não sócios: 30€


TERTÚLIA (17h30 - entrada livre)
dinamizado por Rui Coimbra e Joana Patrício (psicóloga e artista plástica)

quarta-feira, junho 04, 2008

e eu que há tanto tempo só olho a eternidade


CRÓNICA
Ser Pai(s) hoje


Hoje em dia os pais questionam-se constantemente sobre seus papéis. Os livros e guias de pais crescem de forma abrupta e, paralelamente, as dúvidas do que é ser um bom educador também se tornam cada vez mais evidentes.
Os pais mais velhos/avós apresentam por vezes um discurso saudosista, dizendo que no tempo deles “é que era. Agora, esta juventude…”, “têm tudo facilitado”, “Eu eduquei-os … sozinha…”, etc. Nem todos, claro! Mas de forma generalizada, na rua, nos transportes, nas escolas, infantários, cabeleireiros e afins, vão-se ouvindo muitos comentários destes. Os pais, por outro lado, vão eles próprios absorvendo tais ditos e indubitavelmente reagem. Uns não aceitam, e podem reagir de forma a ir contra tais comentários e distanciando-se dos próprios pais “mais sabidos”. Outros, mais aflitos, culpabilizam-se e tentam tudo para serem igualmente tão bem capazes como foram os seus e “colam-se” às mezinhas educadoras. Outros ainda, vão sendo pais à sua maneira e seguindo seu “instinto”, aproveitando alguns dos ditos e dicas ancestrais e inovando com as suas próprias experiências, vivendo no seu tempo presente agora a sua parentalidade singular.
É verdade que nos tempos modernos, nesta tal “aldeia global”, tecnocrata e competitiva, os pais não possuem tarefa fácil. Afinal, têm de ser óptimos pais, óptimos profissionais, óptimos maridos e mulheres, óptimos filhos, óptimos, óptimos, óptimos… Outra questão que se poderia colocar, mas neste contexto só iria dispersar, seria qual o valor que a falha ocupa nas nossas cabeças, corações, vida… mas continuando em torno dos “super pais”, não devemos esquecer o valor real dos filhos, pois eles também terão o direito de igual estatuto de super, eles são afinal os super filhos dos super pais!
Talvez correndo o risco de se ser abusivo, estes super filhos são uns coitados! Coitados por caírem na teia dos super. É que até os super heróis ganharam um carácter tão omnipotente que é deveras difícil alcançá-los em valentia. Estes super filhos acabam por sofrer por ter também de ser super bem comportados, super bons desportistas, super giros, super bons alunos, super bons seres sociais, etc e tal.
No meio de tantos super tudo, onde vamos parar?!...

terça-feira, junho 03, 2008

Storytelling

Contar histórias às crianças.

7 de Junho, Sábado das 9.30h às 12.30h e das 14.00h às 16.00h
Na sala 3 da APTCC
(Rua da Misericórdia, 76 Lisboa)

Professora: Marianne Decroes
O seminário decorrerá em Inglês

O seminário centra-se no “storytelling com objectivos pedagógicos, utilizando histórias para ajudar as crianças em situações específicas e para desenvolver a sua imaginação, apresentando diversas experiencias concretas.
Adicionalmente, as histórias estimulam o desenvolvimento de sentimentos saudáveis e ajudam as crianças e adolescentes a ultrapassar a ansiedade. As crianças e jovens criam um contexto para as suas experiencias do dia-a-dia, desenvolvem uma compreensão das situações sociais e imaginam-se a si próprias como indivíduos que conseguem ultrapassar as suas dificuldades e ganhar auto-confiança para lidar com uma diversidade de situações sociais. O seminário procura demonstrar como se podem utilizar histórias tradicionais para atingir estes objectivos, bem como criar histórias para necessidades específicas.

Preço:
Sócios ou formandos da APTCC 50 euros
Não sócios 69 euros
As inscrições podem ser efectuadas no secretariado da APTCC (tel. 213210100) e-mail: aptcc@cognitivas.org

domingo, junho 01, 2008

A alegria e a dor!

"A alegria ou euforia é o encontro festivo com o outro. É o prazer da inundação do ser no abraço libidinal.
E assim, definimos o investimento do objecto como um movimento da líbido para o outro, que, no seu percurso, investe o próprio.
O prazer vem portanto da actividade de estar com... Nasce do exercício da relação libidinal.
Por outras palavras: o investimento objectal acompanha-se de um investimento narcísico. É o estado amoroso.

A dor, a tristeza, é o deserto relacional. A ausência do outro para investir; o que reflexamente desinveste o próprio.
É a hemorragia da líbido através da ruptura da relação. Rompido o sistema relacional Self-objecto, o indivíduo sangra e sofre.
Perdido o objecto, não há apelo ao movimento libidinal. É então a queda da líbido, que, para não se esgotar na sangria da tristeza, abandona o Self e se refugia no Id (como a seiva das árvores, durante o Inverno: reflui para as raízes).
Para não cair na apatia, na impotência e no desespero, pela certeza da irreversibilidade da perda e a possibilidade da construção imaginária de um novo alvo. E, deste modo, sair do investimento nostálgico do objecto perdido.

A elaboração da perda faz-se, assim, pela mentalização do desprazer.
Fazer algo da dor: criar, pela invenção do imaginário, no espaço dolente da falta.
Sonhar... enquanto não se pode realizar.
Jamais desistir. Porque a "morte", essa, é "vazia; nem dor nem alegria".
Viver, apesar de... apesar da perda, apesar de tudo."


Parte de um texto de António Coimbra de Matos in "A Depressão"