São vários os aspectos que podem perturbar o
sono das crianças. Em determinadas situações podem contribuir negativamente
para o desenvolvimento da criança e afetar certas atividades como, por exemplo,
a escola nas suas várias dimensões. Normalmente não são graves e passam com a
idade, no entanto dar-lhes a atenção adequada pode ajudar a criança a
ultrapassar estas fases com mais facilidade.
Insónias
Uma insónia caracteriza-se essencialmente
pela falta de sono ou pela dificuldade prolongada em adormecer. Geralmente
estão associadas a momentos críticos do desenvolvimento ou a uma mudança brusca
na vida da criança com, por exemplo, uma mudança de escola, de quarto,
separação entre os pais, morte de um amigo ou familiar, doenças, nascimento de
um irmão, entre outras.
Agitação
Noturna
A
agitação nocturna caracteriza-se por uma perturbação rítmica do sono em que a
criança pode bater com a cabeça, virar a cabeça de um lado para o outro
continuamente, simular convulsões, gemer, grunhir, rosnar e/ou dar gritos. Na
maioria dos casos é uma situação normal.
Terrores
Noturnos
Os terrores
nocturnos não devem ser confundidos com pesadelos. A idade em que normalmente
ocorrem os primeiros é mais precoce. No terror nocturno, a criança grita -
muitas vezes um autêntico grito de terror - e apresenta grande agitação
corporal. Este é um fenómeno que se instala normalmente na segunda metade da
noite e que transporta a criança para um estágio em que nem está acordada nem está
a dormir. Desta forma, não lhe é permitido fazer a distinção entre sonho e
realidade, pelo que não está apta a dar pela presença dos pais podendo até, na
influência deste estado, lutar para os afastar.
Os
episódios de terror noturno podem despertar um enorme sentimento de desespero e
de impotência nos pais, uma vez que tentar acalmar a criança não resulta podendo
até, no caso de forçar o acordar, que a criança confunda os pais com as
sensações que está a ter e isso aumentar ainda mais a confusão. O melhor será contar uma história em tom de voz
calmo, repondo a criança numa posição confortável na cama para que volte a
dormir tranquilamente.
Pesadelos
Os
sonhos ocorrem várias vezes em fases de sono REM (“Rapid Eye Movement”), normalmente
4 a 5 vezes por noite e dependem da criança, da idade e dos acontecimentos do
dia-a-dia. Os pesadelos caracterizam-se como sendo um sonho desagradável. Não
se sabe o que os provoca, mas sabe-se que determinados incómodos físicos ou
acontecimentos os podem desencadear, tais como dormir numa cama pequena, dormir
sobre um braço ou uma perna que estão a ser magoados, ter a bexiga cheia, ter
frio, mudança de escola, nascimento de um irmão, morte de um familiar, mudança
de quarto, assistir a um filme de terror ou ouvir uma história em que existam
vilões, animais ferozes ou ocorrências negativas, entre outros. Os pesadelos
começam geralmente por volta dos 3 anos, uma vez que é nessa idade que a
fantasia começa a povoar o mundo das crianças. Os pesadelos são acontecimentos
normais, excepto se se acentuarem e se tornarem rotina.
Em
caso de pesadelos, a criança pode mesmo acordar e muitas vezes até se consegue
lembrar do sonho. É importante a presença dos pais para testemunhar que «tudo
não passou de um pesadelo». E isso tem que ser dito mas, sobretudo, mostrado
afectivamente com abraços e colinho. Só assim, através do mimo, a criança consegue
libertar-se do medo. A voz tranquila da mãe ou do pai ajudam muito, mas para
isso não podem estar a pensar em si, na noite interrompida, no trabalho do dia seguinte
ou que já não vão dormir essa noite. Às vezes é preciso fazer uma vistoria ao
quarto, para ajudar a entender que não está nenhum monstro escondido. Finalmente,
dizer taxativamente: «tiveste um sonho mau, mas foi só um sonho» e pegar em
algo que a criança diga, servindo-se também do objecto transicional
(fralda/boneco preferido, etc.) ou de uma história que possa repor a calma e a
confiança de que tudo vai ficar bem.
A
análise do sonho poderá ficar para o dia seguinte num ambiente de brincadeira. Convém
perceber – quando os pesadelos se repetem ou quando são sempre sobre o mesmo
tema – se há algum factor na vida da criança que lhe possa estar a provocar
stresse. Se não ocorrerem melhoras, será bom falar com alguém especializado,
pois em algumas situações são um sinal de que algo não está bem com a criança.
Sonambulismo
Define-se
sonambulismo como o «semi-acordar e andar». Quando se está a dormir o corpo
fica relativamente imóvel. No entanto, no caso do sonambulismo, os mecanismos
de paralisação do sono não actuam de forma eficaz e a criança deambula pela
casa, com uma relativa percepção do espaço. Para reduzir o risco de acidente, é
bom ter uma luz de presença nos corredores. Se a criança dorme em beliche
deverá fazê-lo sempre na cama de baixo. Proteger
escadas e fechar as portas exteriores (ou da casa de banho e da cozinha) à
chave é fundamental. Quando dá conta que o seu filho anda pela casa,
reencaminhe-o suavemente para a cama, orientando o percurso, sem falar ou
dizendo um mínimo de palavras com voz suave e carinhosa.
O sonambulismo pode corresponder a fases de
transição de ritmo de sono e a sonhos e normalmente acontece cerca de duas
horas após o deitar, embora varie de criança para criança. O sonambulismo tende
a passar com a idade.
Bruxismo
O
bruxismo é o nome médico do vulgar ranger dos dentes durante o sono. Pode
resultar de um controlo ainda imperfeito dos movimentos maxilares, do
desalinhamento dentário normal da idade, de parasitas intestinais, entre outros.
Tirando as excepções mais graves em que um dentista deve ser consultado, o
bruxismo tende a desaparecer, embora se possa prolongar até à adolescência. Os
pais podem ajudar, sobretudo quando há stresse envolvido, mantendo-se calmos e
fazendo da hora do adormecer um momento tranquilo.
Algumas Sugestões Para Ajudar a Criança
a
1.
Abraçar e confortar a criança, falando tranquilamente.
2.
Ouvir os seus receios com atenção e respeitá-los (pode inclusive explicar-lhe
que quando era criança também lhe aconteceu o mesmo);
3.
Fazer com que a criança entenda que você está ali e que não permitirá que algo
aconteça;
4.
Aceitar as sugestões da criança ou indicar-lhe soluções (pegar numa vassoura e
varrer os medos, deixar um peluche num lugar especial que a irá proteger,
espalhar uns pós mágicos, abrir os armários e espreitar debaixo da cama para
ver que não existe nada de mal, etc.)
5.
Oferecer à criança um objecto de conforto, como por exemplo o seu peluche
preferido ou deixar uma luz de presença acesa;
6.
Durante o dia, sempre que for possível, abordar o assunto de forma natural e
tentar não super-proteger exageradamente.
7. Decorar
o quarto da criança de forma harmoniosa e de tornar agradável o momento de
dormir, colocando uma música calma, uma luz serena, contar ou assistir a uma
história (caso a mesma tenha acontecimentos ou personagens negativa explicar
que no final o "bem" acabará por vencer ou, nos casos mais graves,
alterar a história), etc. Acima de tudo, tranquilize-se e transmita calma ao
seu filhote.
Se
os sintomas persistirem procure a ajuda de um Psicólogo ou de um
Pedopsiquiatra. O profissional ajudá-lo-á a compreender o que se passa com o
seu filho e juntos poderão resolver o problema.
António Neves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta
Departamento da Infância (Delegação da Maia)
http://www.psicronos.pt/consultas/psicologia-e-psicoterapia-infantil_5.html