terça-feira, abril 10, 2012

A ARTE DE SONHAR


"Um corpo que não sonha é como uma casa desabitada- a ruína é o seu destino."

"Nascemos de um sonho, vivemos no sonho, morremos quando o sonho acaba. E a cura analítica não é mais que a abertura do sonho; acaba quando o paciente sabe sonhar."

António Coimbra de Matos - Mais Amor Menos Doença (Climepsi)

sábado, abril 07, 2012

ARTE e PSICANÁLISE

Teatro: “Fingido e Verdadeiro, ou o Martírio de S. Gens”

Puro prazer. De representar, de assistir, de sentir e de pensar.

Teatro dentro do teatro, dentro do teatro.


Falo da peça que a Cornucópia (Teatro do Bairro Alto), pelas mãos de Luís Miguel Cintra e de um coeso grupo de actores, estreou na passada quinta-feira, dia 29 de Março e que estará em cena até 29 de Abril. Recomendável ver.



É uma festa, simultaneamente rigorosa e descontraída, moderna e clássica, que nos brinda com uma homenagem ao teatro.

Mas é também um texto cheio de camadas. Que parte de uma fragmentação do texto ‘Lo Fingido Verdadero', de Lope de Vega (1562-1635), reconvertido em “ Fingido e Verdadeiro, ou o Martírio de S. Gens”, depois de cruzado com outras fontes: ‘Flos Sanctorum' (texto anónimo português do século XVI) e ‘História Imperial e Cesárea' (de Pedro Mexia), e de entremeado com citações de Santo Agostinho, Tertuliano, Louis Jouvet e Jean Genet.

O resultado é um exercício preciso e condensado de criação e criatividade, concebido criticamente a partir de textos clássicos, e com sabedoria encenados (Luís Miguel Cintra) e cenografados (Cristina Reis). A acção central situa-se no século III, no tempo do Imperador de Roma Diocleciano, e Gens, actor e encenador, ao representar um cristão, transforma-se num (converte-se) e vem a ser condenado à morte. Parece que Lope de Vega terá escrito “ Lo Fingido Verdadero com a ideia de que fingir e fazer verdade são duas coisas diferentes, e que naquele dia quando o São Gens estava a representar, estava a fingir, e de repente aquilo que ele fingia tornou-se verdadeiro” diz-nos Luís Miguel Cintra.


Fingir tão completamente é procurar em si aquilo -- que, na memória de pensamentos, sensações e emoções-- está em sintonia com, ou se aproxima mais do que está a ser fingido ou representado. Quem escreve, ou encena, ou representa, acaba por falar de si.


A colagem, ou a intersecção de textos e de épocas, não faz perder a unidade do conjunto, ou a qualidade do impacto. Os vários bastidores, atravessados por comentários e cenas, acabam por ser fundidos numa linha narrativa consistente É uma coisa única, e como experiência única se constitui.

Como um ensaio a que assistimos, de um ou de vários espectáculos, a peça em 3 actos vai cerzindo as várias épocas, e faz-nos pensar nas ligações entre o poder e a arte teatral, a política e o investimento na actividade cultural, a verdade e o engano, a realidade e a ficção, o trabalho do actor, aquilo que o actor transporta do seu papel para si mesmo, e vice-versa, a verdade e a mentira.


E, fazendo a ponte, o tema da verdade e da mentira, da falsidade e do engano, é um tema bem caro à psicanálise, ao par terapeuta-paciente, e àquele ambiente onde a relação terapêutica se estabelece. Onde a busca da verdade é, em si, um processo terapêutico, como dizia Melanie Klein.

Mas a verdade e as verdades do sujeito (paciente), comunicadas através de palavras, silêncios e do seu corpo, que aparecem nem sempre muito claras ou coerentes, a pouco e pouco vão-se desenrolando, e vão-se distinguindo o verdadeiro do falso ou do fingido, na trama que acontece no palco da vida mental.

Freud dizia que “a relação entre analista e paciente se baseia no amor à verdade – isto é, no reconhecimento da realidade – e isso exclui qualquer tipo de impostura ou engano.” Para ele, as falsificações mentirosas integravam a operação de repressão, e “a repetição da mentira a tornaria uma verdade.” Por outras palavras, as mentiras, incluindo as mentiras sociais de conveniência (desculpas dissimuladas, omissão, exagero, deturpação...), apegam-se e são muitas vezes incorporadas por quem as cria, levando o seu criador a acreditar com convicção na sua versão da verdade, ou na sua ficção.


Por outro lado, as falsificações, auto-enganadoras e espécie de mitos pessoais, desenvolvem-se desde a infância como escapada às emoções difíceis, intoleráveis, penosas, no plano do inconsciente, afectando a função de pensar do sujeito, e são distintas do conceito de mentira onde impera uma deliberação consciente ou pré-consciente. Bíon, considerava também a busca da verdade como essencial ao crescimento mental, processo que exigia o estabelecimento de confrontos e de interrelações entre factos passados e presentes, entre realidade e fantasia, entre verdades e mentiras, e entre aquilo que o sujeito faz, diz e aquilo que, efectivamente, ele é.


A questão da verdade é assim um aspecto nuclear na psicanálise e na psicoterapia psicanalítica, onde a dança entre a coerência e a incoerência é facilitada pelo terapeuta e nos “tornamos verdadeiros na procura da verdade”, como dizia Freud . A busca da verdade (não moralística) vai alimentar a possibilidade de novas descobertas e a comunicação, gerando criatividade, fortalecendo a identidade e favorendo o alargamento do universo mental.

Sabendo como os actores tão bem o sabem, que a distinção entre a verdade e a mentira, ou o fingido, não é um processo claro ou fácil, mas uma caminhada paciente e criativa em prol da descoberta de si e do sentido da vida.


Isabel Botelho


terça-feira, abril 03, 2012

Antecipar a entrada na escola?


Nesta altura do ano são frequentes os pedidos de avaliação para a antecipação de entrada no 1º ano. Esta é uma situação bastante delicada que requer uma apreciação aprofundada do funcionamento da criança. Para iniciar a escolaridade, não basta que a criança seja inteligente. Muitos pais preocupam-se com uma entrada “tardia” na escola, com receio que tal represente um atraso na aprendizagem e no futuro dos filhos. Na verdade, o que é muitas vezes difícil de explicar é que as crianças adquirem os principais requisitos à aprendizagem na brincadeira e que uma entrada precoce na escola pode pôr em causa todo o percurso académico de uma criança que teria competências para ser bem sucedida.

Muitas destas crianças que avaliamos têm, de facto, adequados recursos cognitivos e algumas até já lêem e escrevem algumas palavras. Mas serão estes aspetos suficientes para um bom desempenho escolar?

Também na maioria dos casos, observamos crianças que apresentam uma grande discrepância entre o potencial intelectual e a o funcionamento emocional, e é aqui que reside o principal risco de uma entrada antecipada na escola.

Alguns estudos reportam o elevado número de diagnósticos de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção em crianças mais novas, que são tratadas e medicadas como tal, quando na verdade a agitação e a desatenção que revelam não são mais do que sinais de imaturidade.

http://edition.cnn.com/2012/03/05/health/adhd-diagnosis-youngest-kids/index.html?eref=mrss_igoogle_cnn

Na verdade, podemos refletir também sobre o termo “imaturidade”. Será a criança imatura ou estará simplesmente a agir de acordo com o esperado para a sua idade? Estes sinais de imaturidade, não serão mais do que a incapacidade para sossegar o corpo e a mente numa altura em que deviam estar a explorar mais livremente o meio. Serão o sinal de uma indisponibilidade para a aprendizagem académica que requer períodos longos de concentração e quietude.

Às vezes os pais dizem “Se ele tivesse nascido 10 dias antes, era tudo mais fácil”. Eu respondo-lhes “Sorte a dele!”. Não significa que todas as crianças que entram mais cedo na escola têm insucesso, mas implicará um esforço intelectual e emocional muito maior.

Muitas destas crianças não têm ainda um “equipamento” emocional para lidar com a frustração e com o insucesso, o que pode levar a problemas de auto-estima e ao desinvestimento da escolaridade e, consequentemente, a dificuldades escolares que se acentuam e prolongam.

Para uma aprendizagem bem sucedida, a criança precisa de adequados recursos intelectuais e de um bom ajustamento emocional, de forma a sentir-se motivado para o sucesso e conseguir ultrapassar a frustração do insucesso. Quando nos referimos aqui ao conceito de motivação, incluímos o reconhecimento dos objetivos da aprendizagem. O que é que eu ganho em estar aqui sentado, a prestar atenção e a trabalhar? Até aproximadamente aos 7 anos, a criança aprende com o único objetivo de imitar o adulto, e só depois dessa altura reconhece o que passa a ser capaz de fazer com aquilo que aprende. É esta a idade ótima para a aprendizagem.

domingo, abril 01, 2012

O INCONSCIENTE ASSINALADO

Novas imagens cerebrais confirmam o conceito de inconsciente de Freud. É uma área em constante evolução, talvez aquela onde se registarão as maiores descobertas do século XXI.

http://bigthink.com/think-tank/the-importance-of-magical-thinking

CAMAS, QUARTOS E SONHOS

É um bocadinho voyeurista, mas quem não se interroga sobre a vida íntima dos escritores de que gosta? Os seus quartos de dormir parecem fornecer pistas para aqueles mundos interiores. Na fotografia vê-se o quarto de Emily Dickinson, uma das minhas poetisas favoritas. No link estão mais catorze quartos, incluindo o de Ernest Hemingway, surpreendentemente formal. E faz falta o quartinho espartano de Fernando Pessoa, que pode ser visto na Rua Coelho da Rocha, em Campo de Ourique.

http://www.apartmenttherapy.com/literary-style-15-writers-bedrooms-168023

domingo, março 25, 2012

AS ESTRELAS E NÓS

Este aglomerado de estrelas está na nossa galáxia, a 25000 anos-luz da Terra.
Dizem que a maior parte do universo é feita de matéria negra. Assim sendo, as estrelas e com elas a luz são uma pequena parte. Que interessa, é delas que se fazem os sonhos...

(foto:NASA
http://www.nasa.gov/multimedia/imagegallery/image_feature_2204.html)

A ARTE DO EFÉMERO

Inscriçōes na areia entre-marés de Andreas Amador, um arista que vive em San Francisco :

http://www.andresamadorarts.com/

sexta-feira, março 23, 2012

Reduzir custos na saúde:as intervenções psicológicas

Em entrevista ao semanário “Vida Económica”, o Bastonário da Ordem dos Psicólogos deixou claro que existe uma cobertura insuficiente de psicólogos na Saúde e “um certo desconhecimento” dos seus benefícios. 



O depoimento breve e conciso do Bastonário pode ser lido no seguinte link: 

https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/imprensa/opp_09_03_2012_intervena_aao_psicolaogica_pode_reduzir_custos_no_setor_da_saaode_vida_econaomica.pdf

domingo, março 18, 2012

SONHAR ACORDADO E CRIATIVIDADE

Tal como o jogo é importante no desenvolvimento da criança (sendo simultaneamente uma ferramenta psicoterapêutica), também a capacidade de sonhar é importante na saúde mental do adulto. Sonhar acordado. Fantasiar. Jogar (play) entre o real e a fantasia - é esse o terreno da criatividade.

sábado, março 17, 2012

O JOGO E A CRIATIVIDADE

Melanie Klein ensinou-nos o papel fundamental do jogo no desenvolvimento psíquico da criança. O jogo (e a sua interpretação) eram também para ela a base do trabalho terapêutico.
A deliciosa animação que se segue, e em que podemos participar, é incrivelmente lúdica e divertida. Experimentem!

http://www.drawastickman.com/episode1

quinta-feira, março 15, 2012

LIDAR COM A AGRESSIVIDADE

Lidar com a agressividade é das coisas mais complicadas que existe. Às vezes é tão dificil que vamos engolindo os conflitos até explodirmos desproporcionadamente, como no tetemunho que esta jovem nova-iorquina nos dá a ler.
De facto, é difícil sabermos quando devemos reagir zangando-nos, ou fingir que não é nada connosco. Neste caso, aconteceu algo provável nas grandes cidades: duas pessoas com pressa chocam, empurram-se. Chegam a bater-se. Ela diz, e bem, que tomou como um ataque pessoal algo que não era realmente pessoal. Quantas vezes não engolimos algo que é mesmo pessoal e acabamos por descarregar a raiva sobre estranhos, no transito ou numa rua apinhada?
A agrevissidade é uma coisa que faz parte de todos nós e sem ela naturalmente não sobreviveríamos. Saber dirigi-la é que é mais difícil.


http://www.thefrisky.com/2012-03-12/girl-talk-im-going-back-to-therapy-to-deal-with-my-anger/?TrackID=ENC

quarta-feira, março 14, 2012

Sobre a Adolescência


A adolescência uma etapa organizadora da personalidade, onde se instauram novas modalidades relacionais e novos equilíbrios.

É uma fase de transição na qual ocorrem transformações de carácter físico e psíquicas, as quais obrigam à integração das mudanças internas e externas nas expectativas do indivíduo;
- no corpo com o inicio do desenvolvimento pubertário;
- na vida social, nas relações com a família, com os professores, com os
colegas, com os amigos e com o sexo oposto;
- no pensamento, na medida em que surge a capacidade de raciocinar
formalmente;
- no modo em que o individuo se ver a si próprio, que se irá traduzir na
construção da identidade.

É um período de turbulência e vulnerabilidade. Nesta fase enfatiza-se a importância do corte das ligações infantis aos pais, para que seja possível o estabelecimento de relações fora da órbita familiar. Assim, a rebelião e o não conformismo facilitam o processo de separação com os pais.

Os limites de idade que definem este período não são rígidos e varia consoante as épocas históricas, as sociedades ou culturas e os indivíduos. O seu inicio embora variável, é assinalado pelo inicio da puberdade e termina com a autonomização em relação às figuras parentais e o início de uma relação amorosa.

sábado, março 10, 2012

BOLA DE PAPEL OU METEORO?

Curioso como uma bola de papel pode ter um aspecto ameaçador.
Fotografias de Thomas Brown da série "Meteoros".

http://trendland.net/thomas-browns-meteors-series/?utm_source=Trendland+List&utm_campaign=0cf8b2985a-RSS_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email

SER INTROVERTIDO NUM MUNDO DE EXTROVERTIDOS

Mais uma excelente Ted Talk, desta vez de Susan Cain.
Ela fala sobre como é dificil ser introvertido numa cultura que premeia os mais comunicativos e extrovertidos. Refere também como a criatividade exige um grau significativo de introversão.
Não tem legendas mas vale a pena ouvir.

http://www.ted.com/talks/susan_cain_the_power_of_introverts.html

sexta-feira, março 09, 2012

EMDR em evidência e a evidência em EMDR


O conceituado jornal "The New York Times" dedicou uma secção do seu site à importância e eficácia do EMDR com base em toda a investigação de 25 anos que tem sido realizada em todo o mundo. Nesta notícia (em Inglês) é a própria fundadora da abordagem psicoterapeutica a esclarecer todas as dúvidas dos seus interlocutores, na maioria, psicoterapeutas de outras abordagens. Muito interessante:

http://consults.blogs.nytimes.com/2012/03/02/the-evidence-on-e-m-d-r/ 

quarta-feira, março 07, 2012

O EMDR Mudou a Minha Vida


Costumamos dizer que “era bom que houvesse um mecanismo que arrumasse certas coisas na nossa cabeça”, como se faz no computador ao arrumar pastas, organizar documentos ou mesmo ao desfragmentar o disco. Hoje, posso afirmar que isso é possível.

Não foi fácil aceitar ir ao psicólogo, pois desde criança que me foi incutido que “os psicólogos são para os malucos!”…Pois então, que eu seja maluco e vamos lá tratar disso!

Ao princípio nem sabia dizer o nome da técnica e tudo me parecia estranho, algo tirado de um filme. Com o tempo fui aprendendo muito sobre mim, constatando que a técnica tinha de facto resultados e a minha vida foi melhorando progressiva e rapidamente.

Em todo o processo comecei por ter consciência dos meus medos mais profundos, das coisas que me faziam parar no tempo e não me deixavam alcançar os meus objectivos e ser feliz. Aprendi que os meus medos, angústias, dores de estômago, enjoos, descontrolo total do sistema urinário, distúrbios alimentares, ansiedade, nervosismo, agressividade, etc, era tudo fruto do estado emocional em que me encontrava e não de algo físico como até então tinha comprovado por exames médicos.

Os meus problemas sempre se relacionaram com:

· Não conseguir visualizar o meu futuro;

· Não conseguir confrontar de forma assertiva as coisas menos boas da minha vida, reagindo de forma agressiva e violenta ou mesmo fugindo das situações (frustração);

· Não conseguir concentrar-me para atingir os meus objectivos (curso superior);

· Ser independente da minha família (algo que ainda é uma “pedra no sapato”).

Aprendi que todos os meus problemas tinham origem no passado e na relação que tinha até então construído com os meus pais e família. Aprendi o que são manipuladores e como esses manipuladores tinham boicotado toda a minha vida, sendo vítima de manipulação desde criança até aos dias de hoje. Agora, vejo com mais clareza tudo isto e consigo identificar as manobras de manipulação das quais ainda sou vítima.

O EMDR ajudou-me no sentido em que pude “arrumar as ideias” e não me deixar influenciar por esses estímulos negativos, que me causavam mal-estar, angústias e todos os sintomas que mencionei anteriormente. Mas, o mais impressionante foi a velocidade de resolução das situações que me causavam mal-estar, pois em cada sessão sentia verdadeiramente que ficavam resolvidas, ou seja, o processamento que fazíamos era muito eficaz de semana para semana. “Cada tiro, cada melro”, como se diz popularmente. Cada sessão que acabava era “um peso que me tiravam dos ombros”, peso esse que só voltaria por outra situação que não aquela que tínhamos processado.

Todo o processo até agora, sessão a sessão, tem sido muito enriquecedor pois consigo ver claramente os resultados dia-a-dia. Óbvio que agora tenho de pegar nas ferramentas que adquiri e aplica-las em todos os dias da minha vida, o que honestamente não é tarefa fácil, mas, hoje, sinto-me optimista e capaz de lutar por aquilo que acredito e que me faz feliz.

Actualmente, posso dizer que me encontrei, que sei o quero e que consigo visualizar-me num futuro próximo. Por outro lado, tento relativizar as coisas e viver cada dia de cada vez, com a esperança que melhores tempos virão e que em grande medida tudo depende de nós e da nossa atitude perante a vida.

B.D.

28 Fevereiro de 2012

segunda-feira, março 05, 2012

Como lidar com a solidão


A solidão, definida enquanto falta de ligação e  apoio social,  está frequentemente associada a sentimentos de isolamento, inutilidade e tristeza. A investigação sugere mesmo que a solidão está ligada a alterações do funcionamento cardiovascular, endócrino e imunológico, constituindo um factor de risco para tensão arterial alta, diminuição das capacidades cognitivas, dificuldades de sono e progressão de algumas demências. Como combate-la então ?

Apesar de existirem vários recursos possíveis e que passam por exemplo por ter um animal de estimação, por prestar ajuda voluntária aos outros, pelo envolvimento em actividades que cultivem a espiritualidade, entre outros, a forma mais duradoura e eficaz está relacionada coma alteração da perspectiva negativa que as pessoas têm sobre si próprias e sobre os outros. Ao mudar a sua interpretação sobre a realidade, os seus sentimentos mudam, assim como os seus comportamentos. Contudo, por ser transformativa e não apenas um recurso, esta solução pode não ser alcançada pelo próprio sem ajuda, exigindo frequentemente  que a pessoa em sofrimento se encha de coragem e se atreva a sair da sua solidão, partilhando-a com alguém, neste caso um profissional qualificado, que através da relação psicoterapêutica, lhe poderá mostrar que o copo, afinal, pode estar meio cheio... 

domingo, março 04, 2012

SATURNO VISTO NO SEC. XXI

Saturno, visto pela sonda Cassini ( à direita, uma das suas luas, Titã).

(foto NASA)

SATURNO VISTO POR GOYA

Saturno, o deus das colheitas e da agricultura. Devorava os próprios filhos, com medo que lhe roubassem o lugar.
Aqui, representado por Goya.

TRABALHO E SAÚDE

O jornal O Publico de hoje traz uma interessante reportagem/entrevista com Michel Marmot, catedrático de Saúde Pública em Londres. Segundo ele, a esperança de vida varia enormemente mesmo dentro da mesma cidade, conforme as condiçoes sociais e a profissão. Estudos vieram desmentir a ideia feita de que funções com maior responabilidade trazem consigo maior stress e mais problemas de saúde. Pelo contrário, é nas profissões em que o trabalho é mais repetitivo, o grau de autonomia e o controlo menores, que a saúde é pior e a mortalidade mais alta, com a consequente diminuição de esperança de vida.
Estas conclusões vêm perfeitamente ao encontro daquilo que é o resultado da minha prática clínica e de aconselhamento: não é trabalhar muito que é o problema. O importante é o interesse (investinento emocional e intelectual) que se põe no trabalho, o grau de autonomia que se tem e a possibilidade de controlo sobre o próprio trabalho.
Que bom seria se trabalhadores e gestores (que também são trabalhadores) percebessem isto! E actuassem em conformidade: uns investindo mais no trabalho e conquistando mais autonomia e responsabilidade, outros delegando mais e criando mais motivação.