quinta-feira, fevereiro 13, 2014

A Loucura e o Amor




"A Loucura resolveu convidar os amigos para tomarem um café em sua casa. Após o café, a loucura propôs:

- Vamos brincar às escondidas?

- O que é isso? -  perguntou a Curiosidade.

- É uma brincadeira. Eu conto até cem enquanto vocês se escondem. Quando eu terminar, vou à vossa procura... 

Todos aceitaram, menos o Medo e a Preguiça. E a loucura começou a contar:

-1,2,3,... 

A Pressa escondeu-se primeiro, no primeiro lugar que viu.
A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore.
A Alegria correu para o meio do jardim.
A Tristeza começou a chorar, pois não encontrava um lugar apropriado para se esconder.
A Inveja acompanhou o Triunfo e  escondeu-se perto dele debaixo de uma pedra.
A Loucura continuava a contar e os seus amigos iam-se escondendo.
O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava nos noventa e nove.

- CEM!  - (Gritou a Loucura) - Vou começar a procurar...

A primeira a aparecer foi a Curiosidade, já que não aguentava mais, pois queria saber quem seria o próximo a contar.

Ao olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em qual dos lados ficar para se esconder. E assim foram aparecendo a Alegria, a Tristeza, a Timidez…

Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou:

- Onde está o Amor?

Ninguém o tinha visto.

A Loucura começou a procurá-lo. Procurou em cima da montanha, nos rios, debaixo das pedras e nada do Amor aparecer. Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou num pauzinho e começou a procurar entre os galhos, quando de repente ouviu um grito.

Era o Amor, gritava por ter furado o olho com um espinho. A Loucura não sabia o que fazer. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para sempre. O Amor aceitou as desculpas."



HOJE, O AMOR É CEGO E A LOUCURA ACOMPANHA-O SEMPRE!
A VIDA É MUITO CURTA PARA NOS ARREPENDERMOS.




O CÉREBRO DOS ADOLESCENTES

Neste TED a neurocientista Sarah-Jayne Blakemore troca o funcionamento do cérebro por miúdos e ajuda a explicar alguns comportamentos típicos da adolescência com base no desenvolvimento do cérebro.

Fala-nos da influência do córtex pré-frontal na tomada de decisões, no planeamento, na inibição dos impulsos e na consciência de si e dos outros. Aborda ainda o desenvolvimento do "cérebro social" e na forma como o contexto propicia respostas automáticas instintivas, a capacidade de ler as emoções dos outros e de avaliar o seu ponto de vista.

Por que razão os adolescentes se colocam mais em risco, porque é que têm dificuldade em colocar-se no lugar do outro (principalmente dos pais!), porque procuram a recompensa e têm dificuldade em adiá-la?

Termina com uma reflexão sobre a importãncia do conhecimento do cérebro na educação (parental e escolar) e no tratamento dos adolescentes. Lança ainda a questão: Porque não aproveitar o lado aparentemente mais negativo da adolescência para potenciar a aprendizagem e a criatividade?

Vale a pena ver:

http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/sarah_jayne_blakemore_the_mysterious_workings_of_the_adolescent_brain.html

Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta

http://www.psicronos.pt/consultas/neuropsicologia_17.html



quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Saiba Se o Seu Inconsciente Conspira Contra a Sua Vida Amorosa



A ocorrência isolada ou pontual de certos comportamentos, atitudes, necessidades emocionais ou dinâmicas relacionais nas relações amorosas, e que são habitualmente consideradas sinalizadoras de problemáticas psicológicas subjacentes, justificam-se em períodos de stress. Contudo, quando estamos perante padrões habituais de funcionamento, estamos muito provavelmente, face a fortes manifestações inconscientes. Descrevemos aqui alguns dos mais importantes padrões ou tendências manifestas por si ou pelo seu parceiro que habitualmente remetem para questões mais profundas, com possível origem num período muito precoce da vida:

I* Ao procurar descrever o seu parceiro tende a referir exclusivamente aspetos que revertem direta ou indiretamente a seu favor. Ex.: carinhoso(a); bom ouvinte; entende-me bem; empático(a); compreensivo(a); faz tudo por mim;

II* Queixa-se insistentemente da falta dos aspetos acima mencionados no seu parceiro.

III* O seu parceiro queixa-se de uma solicitação excessiva de proximidade e afeto de sua parte (deste que este não apresente perturbações concretas ao nível da capacidade de dar e receber afeto).

IV* Sente frequentemente o seu parceiro como indisponível, rejeitante ou abandónico.

V* Procura parceiros sobretudo porque a associação com eles lhe traz vantagens económicas ou outras regalias sociais, prestígio ou admiração social (de familiares, amigos, colegas, ou desconhecidos), ou outras vantagens pessoais.

VI* Tende a necessitar ser admirado pelo parte do seu parceiro.

VII* Costuma sentir vergonha em relação ao seu parceiro, às suas atitudes ou comportamentos do seu parceiro, respetiva situação social ou económica, aspeto físico, ser demasiado alto ou baixo, demasiado gordo ou magro, etc.

VIII* Sente orgulho em exibir o seu parceiro perante os outros, podendo inclusivé procurar situações favoráveis a essa exibição.

IX* No curso das suas relações amorosas, sente que determinadas situações se repetem, percebendo você comportamentos ou atitudes muito familiares nos diferentes companheiros.

X* Tende a ir permanecendo em relações amorosas insatisfatórias na esperança que a relação melhore por si mesma.

XI* Depara-se sistematicamente com uma atitude de atribuição mútua de culpas nas suas relações quando surgem problemas entre si e o seu parceiro, sem que surja habitualmente um diálogo relativamente tranquilo e um entendimento mútuo.

XII* Sente que está condenada(o) a um certo “karma” no que respeita às suas relações amorosas.

XIII* Tem a percepção de que os homens ou as mulheres são todos ou todas iguais.

XIV* As suas relações tornam-se conflituais assim que se iniciam, ou pouco tempo depois.

XV* Tende a iniciar um novo relacionamento amoroso quase ao mesmo tempo que termina um anterior.

XVI* Troca frequentemente de parceiro.

XVII* Apaixona-se frequentemente.

XVIII* Agarra-se desesperadamente a um novo parceiro, ainda que ambos se conheçam relativamente mal ou o relacionamento seja muito recente.

XIX* Os períodos da sua vida em que não tem um parceiro são vividos com angustia, ocupação do pensamento com temas de arranjar parceiro e/ou procura efetiva de um parceiro.

XX* Tem dificuldade em estar sem parceiro ou longe do seu parceiro, mas ao tempo é-lhe difícil a proximidade física e afetiva.

XXI* Sente que não precisa de um parceiro pois tudo o que necessita são os seus filhos.

XXII* Sente um temor acentuado e infundamentado de que algo em concreto possa vir acontecer numa nova relação.

Estes são alguns dos indicadores mais importantes da presença de uma força interna que dirige as nossas escolhas de parceiros amorosos, bem como o curso das nossas relações (e não só). Esta força é habitualmente inconsciente, bem para além do nosso controlo, e está em  direta oposição aos nossos objetivos deliberados e conscientes de estabelecer relações plenas e gratificantes, bem como de conseguir um estilo de vida satisfatório.

Estas problemáticas remetem muitas vezes para insuficiências vividas nas relações com as principais figuras cuidadoras durante a infância, bem como para a interiorização de padrões e dinâmicas relacionais conflituais durante esse período de vida. No entanto, alguns dos itens acima apontados são frequentes durante época da adolescência, período de exploração, auto e hetero descoberta.

A exploração do inconsciente, identificação de insuficiências e conflitos internos oriundos de um período precoce do desenvolvimento, entendimento dos estados mentais adultos à luz destas vivências e a resolução destas insuficiências e conflitos na relação psicoterapêutica são meios privilegiados através dos quais a psicoterapia psicanalítica opera.

“Se carregar consigo os tijolos das suas relações passadas, acabará por ir construindo as mesmas casas.”

Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta


segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Perseguição do governo chinês aos seguidores de Falun Gong


Ontem vi um documentário na Sic Noticias, no programa Toda a Verdade que me deixou particularmente chocada e sensibilizada. Estive o resto da tarde (ou mesmo dia) a tentar descobrir na net informações adicionais sobre a questão e a informar-me sobre a corrente filosófica/religiosa que deu origem a tamanha perseguição iniciada em 1999 e que se prolonga até à actualidade.

Segundo consegui perceber os adeptos e praticantes de uma disciplina mental que corresponde a uma filosofia de vida e à pratica de uma sequência de exercícios, do género do Tai Chi Chuan ou Chi Cung, denominada pelo seu criador Mestre Li Hongzhi de Falun Cong. Esta prática, considerada como uma prática avançada de cultivo da mente e do corpo, teve inicio em 1992 e em 1999 já tinha ganho 100 milhões de adeptos na China. Espalhou-se muito rapidamente e foi muito facilmente absorvida pela população chinesa. Segunda alguns estudiosos e divulgadores das atrocidades praticadas pelo governo chinês sobre os seus praticamente, foi esta rápida expansão que gerou no governo uma sensação de ameaça e a necessidade da sua extinção. Em 1999 por decreto a prática do Falun Cong foi considerada ilegal e os seus praticantes e adeptos perseguidos, presos e torturados. Milhares de pessoas foram presas, o governo constitui campos de prisioneiros específicos, semelhantes a campos de concentração para alojar estas pessoas, submetendo-as a torturas arrepiantes e a trabalhos forçados. Sob tortura os praticantes são (o verbo está propositadamente no presente porque é algo que continua a acontecer) obrigados (a única saída possível) a renunciarem à pratica do Falun Cong e são sujeitos a uma lavagem cerebral para se tornarem opositores do Falun Cong.

Em 1994, 5 anos antes do inicio da perseguição dos adeptos do Falun Cong (pratica inicialmente estimulada pelo próprio governo) o Mestre Li Hongzhi resolveu divulgar a pratica pelo mundo e acabou por ficar a residir nos Estados Unidos (onde vive atualmente), tendo adquirido direitos de cidadão americano. Enquanto cidadão americano ficou protegido e não foi sujeito a extradição como exigia o governo chinês. Desde o inicio da perseguição que a actividade do Mestre é muito discreta aparecendo apenas algumas comunicações deles no site americano da prática Falun Cong - http://en.minghui.org/.

Os praticantes de Falun Gong prisioneiros para além de serem sujeitos às praticas habituais de tortura - espancamento e privação de sono, são sujeitos a mutilações várias e a serem preservados como dadores de orgãos vivos. Existem relatos tenebrosos só inimagináveis em filmes de terror ou associados à segunda guerra mundial e aos nazis. Há relatos de mulheres gravidas de 8 meses obrigadas a abortar após ambos (feto e mãe) terem sido sujeitos às mais diversas torturas. Relato de uma mulher cujo o coração foi retirado do corpo sem anestesia e ainda em vida (segundo o medico testemunha morreu quando lhe cortaram a artéria ou a veia do coração, directamente no coração), relato da mulher de um medico que dizia ter retirado mais de 2 mil córneas para transplante. O comercio de transplante de órgãos vitais e não só tem subido muito rapidamente nos últimos anos graças a estes prisioneiros que são mortos nas salas de operações por remoção de todos os seus órgãos passiveis de serem vendidos e transplantados para os europeus e americanos sedentos de transplantes fáceis, rápidos e de doadores saudáveis. A pratica do Falun Cong parece deixar os seus praticantes particularmente saudáveis e que, por isso mesmo, são excelentes "dadores compelidos" de órgãos.

Isto passa-se agora! Na Actualidade!

O grupo de praticantes perseguido de forma selvagem e sujeitos a tratamentos totalmente desumanos tem como lema: Verdade, Tolerância e Benevolência.

O Mestre Li Hongzhi  já foi proposto várias vezes para prémio Nobel da Paz

domingo, fevereiro 09, 2014

O trauma, o medo e a ansiedade. Parte 1.

(Charcot a trabalhar, ilustração da época)

 

Estou a escrever uma comunicação para apresentar num congresso international e, por essa razão, tive de reler uma série de obras que dizem respeito ao trauma.

Ao fazer este trabalho de revisão e de investigação, ocorreu-me que talvez fosse útil tentar escrever um pequeno texto que, de forma simplificada mas sem deixar de ser rigorosa, pudesse informar os nossos leitores em que consiste o trauma.

A palavra caíu há muito na linguagem comum e não é raro ouvir dizer algo como "fiquei traumatizada com o que me aconteceu quando...". É um uso pouco rigoroso da palavra, porque uma das características do trauma é não nos lembrarmos dele, ou pelo menos de tudo o que aconteceu quando o trauma teve lugar.

A palavra, que vem do grego ferida, passou a significar algo que nos marcou. Existe também na linguagem médica, como por exemplo na expressão traumatismo craniano. Como já fui vítima de um, sei bem o que quer dizer, e a verdade é que não me lembro nada do que aconteceu nos momentos a seguir à ocorrência do acidente. Foi como se tudo se me tivesse apagado da memória. Mas apagou-se, realmente? É possível que, dada a violência do embate sobre o lado direito do meu corpo, com inúmeras fracturas, eu não me recorde sequer da dor? Para onde foram essas memórias, se é que existem?

Foram perguntas um pouco semelhantes a estas que Freud colocou quando começou a estudar o problema do trauma, agora já não físico mas psíquico. Freud, que esteve a estudar com Charcot (médico e o grande hipnotizador da época) em Paris entre 1875 e 1876, começou por ligar os traumas às manifestações histéricas. Observava nas pacientes histéricas sujeitas a hipnose que o trauma andava a par com o medo, medo sentido pela criança em determinadas situações de que já não se lembrava (parece que a hipnose conseguia, em certos casos, fazer reviver esse medo e ligá-lo a memórias). O medo é, como se sabe, uma das emoções mais básicas do ser humano, mas também uma das mais frequentes. O medo, em excesso, pode ser inibidor, pode mesmo impedir um desenvolvimento saudável e uma vida vivida plenamente. Este medos, escreveu Freud, poderiam durar décadas, repetir-se um determinadas circunstâncias, sem que a pessoa conseguisse estabelecer a ligação com o primeiro acontecimento.

Dado que se trata de um assunto complexo e mesmo pesado, vou ficar por aqui hoje. Quem quiser saber mais sobre trauma, é favor acompanhar o Salpicos.

Encontramos-nos na parte 2!

 

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Mais tarde ou mais cedo ...

vai encontrar ...







A capacidade de estar só








Winnicott, no artigo intitulado A capacidade de estar só (1958), demonstra a importância da criança ser capaz de estar só, mesmo na presença da mãe. Esta conceptualização paradoxal, mostra-nos o quão importante é para a criança estar consigo mesma e desenvolver as suas actividades – enquanto a mãe desempenha outras funções, não focadas na criança. Isto acontece porque ambas – criança e mãe – estão unidas por uma confiança básica recíproca.

Segundo este autor, a capacidade de estar só traduz um grau de maturidade para o qual se tende.

Porém, antes de atingir esta capacidade, dá-se o tumultuoso percurso da própria existência – uma evolução que se expressa pela angústia de estar só, pela solidão do desencanto amoroso ou pelo medo da morte.

A solidão significa a presença omnipotente e ameaçadora de um objecto interno maligno, que contamina o espaço interno do sujeito.


A capacidade de estar só permite admitir dentro de cada um, um espaço interno, no qual somos, simultaneamente, espectadores e agentes, porque conservamos um bom objecto interno – ultrapassadas que foram as angústias primordiais. 

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Descargas Emocionais em EMDR

Uma das coisas que pode correr menos bem do ponto de vista do terapeuta, quando está a trabalhar com EMDR, são as ab-reacções. Ou seja, quando a resposta emocional ou fisiológica do paciente é tão activada que a vivência de um qualquer evento traumático surge quase "aqui e agora". Por isso é fundamental que quem aplica EMDR seja terapeuta de formação. Caso contrário, existem sérios riscos de "a cura ser pior que a doença" e tornar uma dessensibilização terapêutica numa nova experiência traumática para o paciente. Conhecer métodos de contenção e intervenção na crise são imperativos quando se trabalha com uma ferramenta tão poderosa.


Quando consultar um terapeuta EMDR certifique-seque a formação base é também em psicoterapia (psicanalítica, cognitivo-comportamental, etc.) e que o terapeuta em causa é membro da Associação Portuguesa de EMDR (que valida o nível de formação). Pela sua saúde!



Carla Ricardo
Psicóloga e Psicoterapeuta
Psicronos Setúbal

terça-feira, fevereiro 04, 2014

O Homem dos ratos - Video de um caso de Freud

O Homem dos ratos é um dos casos clínicos mais famosos e interessantes de Freud.
Neste documentário, falado em brasileiro, é apresentado o caso de Ernest Lanzer num documentário realizado pela BCC e exibido na televisão a 21 de Junho de 1973. 


Direção e produção – Bruce Norman
Edição – David Elliot e Peter Goodchild
Dr. Freud – Bernard Archard
Patient/Ernest Lanzer/The Rat Man – Edward Fox
Gisela – Mary Ashton
Captain Novak – Michael Brennan
Girl with beautiful eyes – Charles Kinross
Governess – Ruth Madoc
Commentary (voice) – Richard Bebb

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Os filhos que saem aos pais...


Os filhos que saem aos pais...
A construção da identidade nas crianças
           
Não é preciso trabalhar com crianças e com pais para reflectir sobre a construção da identidade, basta lembrarmo-nos da nossa infância ou adolescência e com facilidade encontraremos expressões que, inevitavelmente, influenciaram a construção da nossa identidade.
Desde já faço a ressalva que não discutirei aqui a inegável importância da genética na construção da identidade, uma identidade biológica. Defendo, por outro lado, que restringir a identidade a este aspecto, não só conduziria a uma leitura pobre e limitada, como implicaria não reconhecer a importância fundamental das experiências emocionais vividas e da própria criatividade individual.
Para melhor compreender o processo da construção da identidade sugiro partir do modelo proposto pelo professor António Coimbra de Matos. Este modelo sustenta que a construção de identidade dá-se a três níveis de relação com o outro. O primeiro nível de identificação, imagóico-imagético, é aquele que se constrói através das atribuições da mãe/pai ou do mundo, isto é, a forma como o bebé se vê a si próprio é resultado das expectativas do outro, em particular, da mãe. O bebé assimila a imago e a imagem que a mãe atribui, sendo que imago é aquilo que é menos consciente e imagem é aquilo que é mais consciente. Este nível pode prolongar-se pela vida, existindo mesmo indivíduos cuja identidade é quase só construída através deste processo. Ora a frase que dá título a este artigo pode ser um excelente exemplo como esta assimilação acontece. Note-se que o desejo da mãe ou do pai pode ser tão categórico, ou ainda o desejo de suprimir os desejos do filho tão determinante, que o filho, tenha, ou não, determinadas aptidões ou características, está destinado ao fracasso ou à glória, resultado de ditaduras sentenciais que podem apenas corresponder ao desejo materno ou paterno. Veja-se então, um pai ao dizer repetidamente a um filho “o meu filho é igualzinho ao pai, não tem jeito nenhum para isto ou para aquilo”, mesmo que, neste filho, a falta de aptidão não fosse assim tão evidente, a partir do momento de assunção do pai há uma atribuição à criança que pode ser assimilada, impedindo-a de outras explorações e descobertas.
Outro processo de identificação, o mais comum classicamente na psicologia, será o de identificação de modelos (xenomórfica), a criança identifica-se com os modelos; com o pai; com a mãe; com a tia; com o avô, com os professores... Constrói a identidade através dessa identificação: os filhos que querem ser médicos como os pais; ou outro exemplo mais ilustrativo: as crianças que querem jogar futebol como o Cristiano Ronaldo. Quantas e quantas vezes já vimos entrevistas a crianças com estas representações presentes
Por último, o processo de identificação mais importante e consistente é a identificação ideomórfica. A criança identifica-se com o que é, com o que sente e com o que deseja ser, através dos próprios atributos morfológicos e do seu sentir. Esta última identificação acontece mais tarde nas crianças, é preciso passar pelos outros dois níveis de identificação. A criança aqui tem espaço para a criatividade, para a descoberta, para a exploração e parece ser o processo mais completo, que causa maior satisfação.
Pensar a construção de identidade ajuda os pais a facilitarem este último nível, em que a criança deseja ser diferente dos pais, a criança descobre novas respostas e retira satisfação desses encontros. Um papel importante dos pais neste processo será ajudar os filhos a desvendar os seus próprios desejos. Diria ainda, que essa também é uma função importante do psicoterapeuta.
É também importante compreender que estes processos não são estáticos e desenvolvem-se ao longo da vida, sendo por vezes uns mais relevantes do que outros em alguns momentos.

Madalena Motta Veiga 
Psicoterapeuta Psicanalítica Psicóloga Clínica no Departamento de Infância