quinta-feira, julho 13, 2006

Dano psíquico - o caso do Bullying

No passado mês escrevi, em colaboração, um leve artigo sobre o Bullying para a revista Psicologia actual ressaltando alguns aspectos de detecção do fenómeno. Nalgumas conversas que fui mantendo percebi que a maioria dos indivíduos desconhece o significado deste conceito e suas consequências, pelo que, decidi focar alguns aspectos a ter em conta em relação a este fenómeno e suas implicações.

Bullying é um termo criado por Dan Olweus para designar todo o tipo de mal-estar psíquico que o aluno é alvo durante o seu percurso escolar, estando sujeito a uma forte pressão social. Esta pressão é exercida por alguns alunos, em alunos mais vulneráveis, provocando dor e sofrimento psíquico, estando o agredido, subordinado a exigências e mal tratos psíquicos continuados e repetidos, e ao mesmo tempo, subjugado a um silêncio na tentativa de evitar novas retaliações. Esta forma de violência psíquica perpetua-se através de insultos, piadas, gozações, apelidos cruéis e ridicularizações.

A criação deste termo está associada a uma pesquisa que o autor (Dan Olweus) fazia sobre tendências suicidas nos adolescentes, tendo constatado que a maioria dos jovens que cometiam estes actos tinham sofrido algum tipo de ameaça desta índole.

Vejamos então a pressão que é exercida nestes alunos e as consequências nefastas para o psiquismo. Estejamos atentos ao aparecimento das fobias escolares, à diminuição do rendimento escolar, às depressões e à sintomatologia psicossomática, perturbações associadas a este fenómeno.

Prestemos atenção quer ao abusado, quer ao perpetrador do abuso, porque ambos são vulneráveis do ponto de vista emocional, seja pela susceptibilidade ao abuso, seja pela necessidade de abusar, mas cada uma das situações manifesta perturbações emocionais.

5 comentários:

Ana Almeida disse...

Olá, Tânia. Bem-vinda ao grupo com este seu primeiro post. Que seja o primeiro de muitos. Também considero muito preocupante o aumento assustador do fenómeno de bullying. Ao reflectir sobre este assunto tenho me questionado se não poderá haver uma relação entre a necessidade de infligir este tipo de mau trato (insultos, piadas, gozações, apelidos cruéis e ridicularizações) e algum tipo de perturbação do narcisismo. Será que as crianças que são agressoras neste tipo de violência “sofrem” de uma perturbação narcisista da personalidade? Gostava de ler a sua opinião sobre isto.

Tania Paias disse...

Olá Ana, também espero que este seja o 1º de muitos. Quanto à questão que me colocou, penso que, de facto, este tipo de comportamentos manifestam uma perturbação narcisista da personalidade, evidenciada por mecanismos utilizados neste tipo de organizações. Estão patentes falhas estruturais que distorcem e desvalorizam os objectos externos. Como nos diz Lacan, o narcisismo constrói-se na relação especular, e a sua dúvida, o seu questionamento, produz uma tensão agressiva.
Denota-se aqui, a fragilidade do ego e a grande quantidade de agressividade que este contém, manifestada numa aptidão para a acção, acção essa, que é levada a cabo por estas crianças sob a forma de maus tratos psíquicos.

siga bandido disse...

Olá. Encontrei este Blog "por mero acaso" enquanto "queimava pestanas" em frente ao PC, na ânsia de ver as horas passarem... Sou estudante de Psic. na Univ. do Minho e não fiquei indiferente ao artigo publicado na Pisc. actual (ao qual se referem aqui mesmo) sobre bullying. Só este ano, agora que entrei para Psic. e que frequentei acções de formação promovidas pela ANEIS sobre “relações entre pares”, compreendi que durante, sensivelmente, 5 anos (percurso correspondente ao ciclo preparatório) fui vitima diária (e não estou a exacerbar nenhuma realidade) de agressões verbais e, pontualmente, de agressões físicas. Penso que o artigo reflecte claramente os resultados acantonados a tais práticas de abuso. O isolamento "anormal" por longos períodos de tempo, um silêncio ameaçador, uma rede social mais centrada nos adultos (porque só estes "não nos gozam")... Tudo isto surte claras implicações no relacionamento social a posteriori (ora um distanciamento em relações próximas, sustentado por um medo de desilusão; ora uma entrega quase total e irracional de confiança pelo outro que nos ouve uma vez que seja)... Acredito que, e falando da realidade que conheço, em Portugal os indivíduos vitimas de abuso (bullying) excede os que constam de dados estatísticos na literatura... O terror de dar a "parte fraca" é mais forte do que se possa pensar...

Tania Paias disse...

olá Rui. Muito obrigado pelo seu testemunho. De facto, esta é uma realidade pouco conhecida, e o público em geral desconhece os malefícios deste fenómeno e as formas de detecção, pelo que, este artigo pretendeu focar alguns desses aspectos e actuar mais na prevenção, para que não aconteçam situações como a sua, que tão bem ilustra este fenómeno. Esta é uma situação que corre a par com a violência escolar, mas como tem a particularidade de operar de forma mais dissimulada, não acarretando mostras evidentes de mal-tratos físicos, acaba por não implicar uma mobilização das entidades escolares ou familiares,na procura de soluções, como acontece no caso da violência escolar. Aqui, a situação assume contornos penosos e na maior parte dos casos, inflinge sérias dificuldades nas estruturas de personalidade destes jovens, sendo aqui, quase no extremo da situação, que a família a escola, as pessoas mais próximas se dão conta do sucedido.
Talvez, se houver uma maior sensibilização para esta problemática, os 5 anos que pautaram a sua vida, e a de tantos outros jovens, provavelmente, com contornos penosos e repercussões sociais grandes, possam ser diminuidos e atempadamente contidos.

A disse...

Obrigada pela vossa contribuição para compreenção deste tema. Interesa-me perceber os contornos de "Violencia Psiquica" e pesquisei no google, tendo optado por abrir este blog. Lamento a sua descontinuidade, mas aguardo por redireccionamento ou novas contribuições.Gostaria de saber de estratégias adoptadas para a criança que necessita de usar de violencia e da que a sofre. Parece-me , contudo, inevitável a adequação ou adaptação da vitima a estes novos contextos, de forma positiva acima de tudo.