terça-feira, julho 31, 2007

Férias à vista - Leituras retomadas

Hoje é o culminar de um mês de trabalho e o início das tão anunciadas férias para a maior parte da população portuguesa, e muito em especial para a população psi.


Em tempo de férias, de relaxe, de dias quentes e longos, de crianças descontraídas e ávidas por ocupar os seus tempos com actividades prazerosas...

muitos pais interrogam-se de que forma poderão ocupar o tempo dos seus filhos, uma vez que facilmente se aborrecem


Para muitos a época de férias é ocupada com viagens, quer cá dentro, como lá fora, outros aproveitam para se dedicar a outro tipo de actividades que normalmente, e com o frenesin diário, vão ficando para trás, relegadas para segundo plano. Entre muitas das actividades que aqui se poderiam delinear, vou apenas dedicar-me à tão afamada leitura.


Mas será que tem tanta fama para os mais pequenos? Muito se tem falado sobre os hábitos de leitura em todas as faixas etárias, mas os olhares voltam-se sempre para os mais novos, pois o seu percurso escolar vai "depender da quantidade de livros que possam ler"!

Mas ao iniciar-mo-nos nas leituras apenas na altura da entrada para o ensino obrigatório é bom? Será que incita em nós o desejo de ler, de fantasiar, de imaginar o rosto das personagens que estão a ser descritas páginas adentro? Será que nos faz vasculhar prateleiras de bibliotecas, ou de livrarias, a descobrir um título sugestivo, uma história desconcertante?


Muito dificilmente, pois não foram incitados à leitura de forma espontânea, porque provavelmente aquele acto foi algo mecânico, um meio que produziu um fim...


A leitura tem que ser algo prazeroso e enquanto experiência pessoal é algo muito importante


Se essa leitura for iniciada muito precocemente produz uma motivação e um diálogo muito grande, e é a porta de entrada para uma aprendizagem saudável, gratificante.


Todos nós temos um ponto de partida emocional para tudo, as emocões primárias estão na base de todos os sistemas de comunicação. Quando as crianças se iniciam na leitura ainda antes da escolaridade estão largamente em vantagem em relação às crianças que se iniciam na leitura apenas na escola, onde aprendem a descodificar, a identificar palavras, ao passo que as primeiras maravilham-se com o enrendo, com as imagens, com as palavras, com os livros que elas próprias escolheram.


Como as emoções primárias estão na base de todos os sistemas de comunicação, aprendemos a falar porque alguém nos fala, decerto aprenderemos a ler porque o nosso pai ou a nossa mãe nos leu, por isso leiam com os vossos filhos pequenos, facilitem-lhes livros alegres, apelativos e que lhes façam encontrar saídas para as suas coisas


Sugiro-vos aqui um livro de que gosto particularmente e que permite que as crianças percebam que todos nós temos coisas boas e más, raiva, alegria, medo, tristeza...




O Livro de que vos falo chama-se O Pássaro da Alma

e começa assim:


No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.


Ainda não houve quem a visse,


Mas todos sabem que ela existe.


E não só sabem que existe,


Como também sabem o que lá tem dentro...


....


BOAS LEITURAS

sábado, julho 28, 2007

A casa!





Recentemente alguém me disse “a casa não é um local para relaxar!”. Ora esta caricata frase pós-me a pensar nas funções que atribuímos a uma casa e que necessidades ela serve.
Em termos básicos uma casa serve para nos abrigar do mau tempo, para dormir, para fazer algumas refeições. Mas será que é apenas isso?
Não!

Para muitas pessoas a casa serve como refúgio da agitação, um espaço de paz onde se pode simplesmente estar, só ou acompanhado.
Por isso dizemos que nos sentimos em casa noutros sítios, porque são locais que satisfazem a necessidade de pertença, de companhia, de acolhimento e onde sentimos que temos um “espaço nosso”.
Alguns de nós têm o privilégio de sentir o local de trabalho como uma segunda casa. Um local de paz onde a nossa presença é valorizada e onde as relações humanas são isso mesmo… humanas!

Mas este ideal de casa raramente é trazido pelos clientes, que muitas vezes trazem uma representação de um campo de batalha das suas casas e apenas querem de lá sair!
Apenas espero que os que passam pelas minhas casas se sintam acolhidos, valorizados e respeitados como se estivessem na sua casa ideal.

Muito se pode escrever sobre a casa, das suas representações, do seu imaginário, e da sua simbologia… mas isso ficará para depois das férias!

sexta-feira, julho 27, 2007

PUXAR O LUSTRO AO EGO PORTUGUÊS...

Época de férias... muitos estrangeiros... muito passeio pelo estrangeiro... e a típica frase que surge: "... lá fora é que é bom!!". E nunca se sabe bem, ao certo, o que é que é afinal isto do: "... lá fora é que é bom!!". Em boa verdade, Portugal não é um país de viajantes, poucos são os que se confrontam com outras realidades e que podem arranjar termos comparativos que permitam dizer onde é ou não melhor ou o que é ou não melhor... falta conhecimento de causa, em especial, auto-conhecimento de causa!
Deixo aqui um texto bastante curioso e de fácil leitura sobre o que por cá se faz/ fez! (podem até levar para ler nas férias). Não se deixem intimidar pelo tamanho!
BOND BRANDS by Carlos Coelho (www.ivity-corp.com)
Na segunda guerra mundial Portugal era um país mítico. Estava em paz, era barato e cercado pelo Atlântico. Constituía a ponte ideal para o novo mundo.
Fausto Figueiredo tinha criado, em 1953, a Riviera portuguesa e tinha conseguido espalhar esse charme por toda a Europa. Pelo que, para além da neutralidade, da paz, da segurança e da tranquilidade, o Estoril tinha as praias, os hóteis de luxo e o casino.
Para fugir à guerra, entre 1939 e 1946, passaram pela costa do Estoril mais de 20.000 estrangeiros.
Refúgio de reis, príncipes, escritores, realizadores de cinema e anónimos à procura de um local de passagem seguro para recomeçar a sua vida em terra prometida.
A acompanhar este êxodo, a habitual escola de jornalistas, espiões, diplomatas e polícias em busca de notícias e informações.
A Linha tornou-se num local cosmopolita, longe da guerra e um berço de famílias reais: o rei Humberto de Itália, os condes de Barcelos e o seu filho Juan Carlos, Carlota do Luxemburgo, Eduardo de Windsor e Wallis Simpson, mulher por quem Eduardo abdicou do trono.
O Casino, a discoteca Palm Beach (que abriu nos anos 40), o restaurante Muxaxo, o pé Leve e a Choupana constituíam então locais de referência.
Jean Renoir, Antoine de Saint-Exupery (autor do "Principezinho"), entre muitos outros nomes famosos, aproveitaram o único porto livre e neutral da Europa, contribuindo para que Portugal fosse, nessa altura, um paraíso de glamour no meio da guerra. Foi nesta atmosfera que Ian Fleming - também de passagem para os E.U.A. na companhia do director da inteligência naval inglesa, o Almirante Godfrey - conheceu o casino do Estoril, tendo aqui nascido o seu famoso personagem James Bond, bem como, a sua primeira peça "O CASINO ROYALE".
James Bond surge, então, de um vasto conjunto de influências: da atmosfera vivida no Hotel Palácio, da companhia de Dusko Popov (agente retirado do KGB), mas também, de um conjunto de características do próprio autor que, segundo consta, era muito mulherengo.
Do CASINO ROYALE - casino do Estoril - fica o seu fascínio e a sua experiência pessoal, onde se conta que o próprio tentou levar um alemão à banca rota (no Bacarat), desafio que o fez perder até a camisa, acabando o Almirante Godfrey por ter de pagar as suas dívidas.
BOND NASCEU EM PORTUGAL, SENDO ESTE UM DOS SEUS SEGREDOS MAIS BEM GUARDADOS. Foi ainda neste "Aqui" que Bond se casou no filme "On her majesty secret service" - o único filme de George Lazenby e onde, curiosamente, contracenou com oito Bond Girls tendo, na mesma noite, dormido com sete, acabando por se casar com a oitava que, tragicamente, morreu virgem nos seus braços.
James Bond é, hoje mais famoso que o Tintin, mais sexy que Matahari, mais poderoso que Batman e o Super-homem juntos. mais do que um filme, é uma poderosíssima marca que, em termos económicos, foi capaz de gerar 3,3 biliões de USD em 20 filmes, tendo já sido visto por cerca de metade da população do planeta.
(...)
Esta Bond brand é, por isso, uma marca colectiva capaz de vender-se a si própria, mas que existe, essencialmente, para vender outras marcas, que se organizam em seu redor por layers de proximidade (...).
O seu código mágico de sucesso vive da trilogia champanhe, relógio e carro, mas a organização da oferta na gestão global da marca leva ao endereçamento de quase todos os públicos.
(...)
There's no business like Bond business.
Se James Bond "nasceu" em Portugal e constitui, hoje, uma das marcas colectivas mais bem sucedidas e rentáveis do mundo, será que 007 significa o código do sucesso que Portugal precisa para acreditar em si próprio?
Este precioso segredo que Ian Fleming nos deixou, reeditado no final de 2006, bem pode lembrar-nos a Riviera de outros tempos e, quem sabe, ajudar a projectar Portugal para o mundo das marcas, sem quaisquer preconceitos de ser um país pequeno porque, afinal, consegui ser o berço de uma marca tão grande.

quinta-feira, julho 26, 2007

Revista Portuguesa de Psicanálise


Já está à venda o último numero da Revista Portuguesa de Psicanálise.
Para os interessados aqui fica o índice:

Editorial - Freud e a Psicanálise
António Coimbra de Matos

Violência e medo
António Coimbra de Matos
Narcisse e OEdipe: place du mythe dans la théorie psychanalytique
Jean Bégoin
Abordagem neuropsicanalítica da psicoterapia dinâmica
Filipe Aranches-Gonçalves e Rui Coelho

Tempo e sentido de identidade - Como ligar descontinuidades?
Fátima Sequeira
Identidade e história de vida. Rupturas identitárias
Eduardo Sá
Alice no País das Maravilhas - a fuga da ameaça da ruptura identitária
Eduarda Carvalho
Da "cura" terapêutica à função analisante no processo de construção da identidade analítica
Ana Marques Lito

L'inconscient non-refoulé dans le processus analytique
Mauro Mancia
Identidade ou identidades? O problema da identidade psicanalítica
Rui Aragão Oliveira
Problems of transference and interpretation in borderline states
Anna Potamianou
Personalidades borderline - algumas considerações
João Balrôa

"Talk to Her" - the "Tlking Cure" from Freud to Almódovar
Andrea Sabbadini
Lá fora ("Out There")
Andrea Sabbadini
É na sombra que matamos quem amamos
Ana Viana (Comentário da Redação - António Coimbra de Matos)
Fernando Pessoa: personalidade múltipla como afirmação do não ser
Celeste Malpique
Figuras de identidade pessoal
José Manuel Heleno
Linguagem e diálogo
Joaquim cerqueira Gonçalves


A revista pode também ser adquirida através do site da Climepsi em www.climepsi.pt

domingo, julho 22, 2007

Hipnoterapia


Este fim-de-semana entretive-me a ler “Hypnotherapy for Dummies”. A hipnoterapia tem sofrido uma enorme evolução nos últimos anos e está a constituir-se como uma alternativa razoável para a resolução de algumas dificuldades relativamente focalizadas e principalmente é utilizada com sucesso como técnica psicoterapêutica complementar às técnicas expressivas.

Nas perturbações de ansiedade generalizadas e nas fobias simples parece ter um efeito verdadeiramente interessante. Enquanto técnica não visa a modificação da personalidade em profundidade (objectivo, por exemplo, da psicanálise e das psicoterapias psicodinâmicas), mas à modificação do sintoma ou mesmo ao seu desaparecimento.

A hipnose começa a ser estuda com um verdadeiro olhar científico e por isso mesmo começa a ganhar credibilidade e respeito da comunidade científica.

terça-feira, julho 17, 2007

Formação e Rompimento dos Laços Afectivos


Apesar de ser um trabalho relativamente recente (1979) é já um clássico esta obra de John Bowlby. Vale sempre a pena lê-la ou relê-la.

Bolwlby trabalha fundamentalmente no cruzamento entre o biológico e o psicológico, profundamente influenciado pela etologia, estudou o comportamento das crianças na formação dos laços afectivos com as suas mães e as consequências do rompimento inesperado desses laços. Os conhecimentos adquiridos através destes estudos foram depois generalizados para a formação e o rompimento dos laços afectivos em qualquer idade.

Deixo-vos dois pequenos excertos para estimular o retorno a este trabalho:

“(...) um bebé de quinze a trinta meses que venha tendo uma relação bastante segura com sua mãe e nunca se tenha separado dela antes, mostrará, via da regra, uma sequência previsível de comportamento. Essa sequência pode ser decomposta em três fases, de acordo com a atitude dominante da mãe. Descrevemo-las como as fases de protesto, desespero e desligamento. Primeiro com lágrimas e raiva, o bebé exige que a sua mãe regresse e parece ter esperanças de conseguir reavê-la. Esta é a fase de protesto, e pode durar vários dias. Depois torna-se mais calmo mas, para um observador perspicaz, é evidente que o bebé continua tão preocupado quanto estava antes com a ausência da mãe e ainda anseia pelo seu regresso; mas as suas esperanças dissiparam-se e ele entra na fase do desespero. Estas duas fases alternam-se frequentemente: a esperança converte-se em desespero e o desespero em renovada esperança. Finalmente, porém, ocorre uma mudança maior. O bebe parece esquecer a sua mãe, de modo que, quando ela regressa, permanece curiosamente desinteressado e, inclusive, pode parecer que não a reconhece. Esta é a terceira fase – a do desligamento. Em cada uma destas fases a criança é propensa a birras e episódios de comportamentos destrutivos, muitas vezes de um tipo inquietantemente violento.” pp.72/73

“(...) Muitas das emoções mais intensas surgem durante a formação, manutenção, rompimento e renovação das relações de ligação. A formação de um vínculo é descrita como “apaixonar-se ”, a manutenção de um vínculo como “amar alguém” e perda de um parceiro como “sofrer por alguém”. Do mesmo modo, a ameaça de perda gera ansiedade e a perda real produz tristeza; enquanto que cada uma dessas situações é passível de suscitar raiva. A manutenção inalterada de um vinculo afectivo é sentida como uma fonte se segurança, e a renovação de um vinculo, como uma fonte de júbilo. Como tais emoções são habitualmente um reflexo do estado dos vínculos afectivos de uma pessoa, conclui-se que a psicologia e a psicopatologia das emoções é, em grande parte, a psicologia e a psicopatologia dos vínculos afectivos”. Pp.172

terça-feira, julho 10, 2007




O Caminho!


Uma das coisas que mais me intriga no ser humano é a sua vontade de caminhar até um determinado destino como promessa ou desafio pessoal.
Actualmente, os caminhos de Santiago de Compostela, e os Caminhos de Fátima têm cada vez mais adeptos. Creio que o fenómeno não se deva ao aumento de praticantes católicos, mas sim à satisfação de várias necessidades que o conforto da vida actual não preenche.
A necessidade de liberdade, espaço de reflexão, convívio, crescimento pessoal e actividade física é satisfeita num só acto! O caminhar!
As horas que se passam a caminhar com uma mochila ás costas, transformam as bolhas nos pés, as dores nos ombros e as queimaduras solares numa descoberta de coisas simples e belas que o mundo tem. Levado ao limite, o simples facto de conseguir andar é motivo de uma enorme alegria!
Mas será que não deveria ser sempre assim?... enquanto podemos caminhar!

segunda-feira, julho 09, 2007


No próximo dia 15 de Julho, domingo, será inaugurada, no Auditório da Faculdade de Medicina Dentária, uma exposição de Pintura promovida pela MAPA, com obras de Emília Gomes da Costa e Tiago Serpa. A inauguração terá lugar às 16h30 e decorrerá até às 22h, ao som da guitarra clássica de João Paulo Oliveira.
A MAPA é uma associação sem fins lucrativos que foi criada em Janeiro de 2006 por um grupo de amigos empenhados em quebrar os circuitos culturais institucionalizados e estabelecer uma ponte entre expressões e públicos. http://www.mapacultural.com/

Assim, para além do voto para quem for de voto e da praia para quem for de praia, propõem-se uma saltada à Cidade Universitária para ver a exposição.

sexta-feira, julho 06, 2007

“Darkness Visible”, a memoir of madness



No verão de 1985 William Styron foi tomado por uma persistente insónia e uma perturbante sensação de doença – os primeiros sinais duma profunda depressão que engoliria a sua vida e deixá-lo-ia à beira do suicídio.
O livro “Darkness Visible”, editado pela Picador em 1991, descreve a devastadora queda na depressão, levando-nos através duma viagem sem precedentes até à esfera da loucura.
Trata-se dum retrato íntimo da agonia do ordálio de Styron, como também um testemunho duma doença que afecta milhões de indivíduos e que ainda é largamente incompreendida. Através da sua notável franqueza e poder de descrição chega-nos uma verdadeira compreensão da angústia duma mente desesperada à beira da morte.
Escrito com a prosa clara e envolvente de Styron, “Darkness Visible” é uma corajosa e edificante exploração da realidade negra da depressão.

“For the thing
I greatly feared is come upon me,
And that which I was afraid of
Is come unto me.
I was not in safety, neither was I quiet;
Yet trouble came.

Job
in "Darkness Visible", William Styron
Leitura recomendada!

domingo, julho 01, 2007

Autor obrigatório


Foi lançado no passado dia 26 de Junho o livro de João dos Santos intitulado "Ensinaram-me a ler o mundo á minha volta" com o qual se inicia a publicação das suas obras pela editora Assírio e Alvim. Será uma colecção com 7 títulos contendo textos inéditos recolhidos pela sua filha. Autor e Pensador sobejamente conhecido e reconhecido por todos os que se interessam pelas temáticas da psicologia, da educação e da psicanálise, habituou-nos à reflexão através da sua visão psicanalítica do mundo e da vida. Temos pois agora à disposição mais uma colectânea de textos que considero de leitura obrigatória.