quinta-feira, abril 03, 2008

O que é a Reacção Terapêutica Negativa (RTN) e quais são as suas possíveis causas?

David Zimerman (psicanalista) esclarece que a expressão é originalmente de Freud (1923) e segundo este há pessoas que tem um comportamento peculiar no decurso do tratamento psicanalítico. Quando o analista/psicoterapeuta lhes dá esperanças e se mostra satisfeito com a evolução do tratamento psicanalítico, estas mostram-se descontentes e pioram acentuadamente. Observa-se, com efeito, que estas pessoas reagem em sentido inverso aos progressos da cura. É a chamada RTN. Para estes pacientes há indubitavelmente algo que se opõe à cura, a qual é considerada por estes um perigo, pois neles predomina a necessidade de estarem doentes, e não a vontade de se curarem. Em relação às possíveis causas por detrás da RTN podem-se apontar as seguintes: 1. Uma espécie de “masoquismo moral” (termo de Freud) que decorre de sentimentos de culpa com uma necessidade subjacente de punição. 2. Uma maneira de evitar imergir mais profundamente em sentimentos depressivos. 3. Uma forma de inveja em relação ao analista/psicoterapeuta que foi capaz de ajuda-los. 4. A presença duma certa "organização patológica” dentro do ego do paciente que o proíbe de fazer mudanças, sob a ameaça e a acusação de que ele está a desrespeitar/violar os valores da sua família primitiva e abandonando assim, com ingratidão, determinados papeis que lhe foram designados, aos quais era suposto ele manter uma eterna fidelidade e gratidão.

2 comentários:

Margot disse...

Muito interessante. Como terapeuta também já vivi este fenómeno na minha prática clinica. Nada fácil lidar com ele...

Clara Pracana disse...

Achei a explicação do que é a reacção terapêutica negativa muito bem feita e clara. Já agora, gostaria de acrescentar que é um fenómeno que se observa com uma maior frequência do que aquelas que nós próprios, psicoterapeutas e analistas, gostaríamos de acreditar. E é, como diz a Margot, muito difícil de lidar. A resistência é enorme porque ninguém quer acreditar que se não quer curar. E as pessoas que o percebem abandonam frequentemente o trabalho terapêutico, para não terem de se confrontar com essa dolorosa e para doxal consciência.