sexta-feira, fevereiro 08, 2013

MEDO e PÂNICO - diferenças qualitativas?


Investigação da Universidade de Iowa abre caminho para tratamento de distúrbios de ansiedade


O pânico é induzido a partir de algum sítio externo às amígdalas cerebelosas
O pânico é induzido a partir de algum sítio externo às amígdalas cerebelosas


Investigadores da Universidade de Iowa (EUA) descobriram que o cérebro humano tem regiões que sentem o medo de formas diferentes. A descoberta aconteceu no seguimento de experiências com três mulheres que tinham danos significativos na amígdala cerebelosa – que regista o medo vindo de perigos externos.
A equipa fiz uma experiência com uma mulher – identificada como SM – que sofria de Urbach-Wiethe, uma doença cerebral rara que provoca danos na amígdala. Quem sofre da doença não sente medo. No entanto, através da inalação de um gás com dióxido de carbono, normalmente utilizado em laboratório para induzir a sensação de pânico, a paciente deixou-se dominar por ele.

No artigo publicado na «Nature Neuroscience», a equipa de cientistas prova que a amígdala cerebelosa não é o único “guardião” do medo na mente humana. Outras regiões como o tronco encefálico, o diencéfalo ou o córtex insular podem detectar os sinais mais primários de perigo quando a sobrevivência está ameaçada.
A investigação diz que o pânico ou o medo intenso é induzido a partir de algum sítio externo à amígdala”, diz John Wemmie, professor de psiquiatria da Universidade de Iowa e um dos autores do artigo, acrescentando que este dado pode ser “fundamental para se explicarem os ataques de pânico”.

Se se confirmarem estes resultados, os caminhos agora descobertos podem tornar-se alvos para tratamento de ataques de pânico, síndrome de stress pós-traumático e outros estados relacionados com a ansiedade.
Os estudos podem “ajudar a esclarecer como uma resposta normal pode levar a um distúrbio; podem também ajudar a promover o desenvolvimento de mecanismos de tratamento”, diz Daniel Tranel, professor de neurologia e psicologia na mesma universidade e co-autor do estudo.

Décadas de investigação têm mostrado que as amígdalas desempenham um papel central na criação do medo em resposta a ameaças externas. A equipa trabalhou durante anos com SM e relatou a sua ausência de medo quando confrontada com cobras, aranhas, filmes de terror, casas assombradas e mesmo durante um incidente em que lhe foi apontada uma faca. Mas a sua resposta a ameaças internas não tinha ainda sido explorada.
A equipa decidiu, assim, testar SM bem como outras duas pessoas com as amígdalas danificadas com uma ameaça interna. Pediram às três participantes para inalarem um gás que continha 35 por cento de dióxido de carbono (um método usual quando se quer induzir um curto estado do pânico, entre 30 segundos a um minuto. Todas elas se engasgaram com o ar, tiveram o batimento cardíaco aumentado, ficaram angustiadas e tentaram tirar a máscara. Depois, afirmaram que as sensações tinham sido completamente novas, descrevendo-as como sendo de “pânico”.

Wemmie tem estudado como os ratos respondem ao medo, mostrando já que a amígdala cerebelosa pode detectar directamente o dióxido de carbono para produzirem medo. Pensou que ia encontrar o mesmo padrão nos humanos.“Ficamos muito surpreendidos quando tiveram o ataque”, afirma.
Dos 12 voluntários saudáveis que entraram na experiência, apenas três entraram em pânico, uma taxa semelhante à de adultos sem histórico deste tipo de ataques. Nenhum dos três pacientes com danos nas amígdalas tem um historial de ataques de pânico. A taxa mais elevada de dióxido de carbono induzida sugere que uma amígdala intacta pode normalmente inibir o pânico.

Os participantes com das amígdalas danificadas não demonstraram medo nos momentos que antecederam o teste, ao contrários dos saudáveis, que começaram a suar e aumentaram os batimentos cardíacos. Este facto é consistente com a noção de que a amígdala detecta o perigo no ambiente externo e fisiologicamente prepara o organismo para se confrontar com a ameaça.

A informação do mundo exterior é filtrada através da amígdala com a finalidade de gerar medo”, diz Feinstein. Sinais de medo provenientes do interior do corpo podem provocar uma forma de medo muito primária, mesmo na ausência de uma amígdala funcional.



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