Mostrar mensagens com a etiqueta Coaching; pais; filhos.. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Coaching; pais; filhos.. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, abril 08, 2014


REVISTA PAIS & FILHOS
COMO O COACHING MELHOROU OS NOSSOS DIAS
Escrito por Teresa Diogo Segunda, 07 Abril 2014 | Visto - 312


Com pequenos ajustamentos, conseguimos transformar as alturas mais difíceis do dia em momentos menos frustrantes e mais prazerosos. À hora do banho e do jantar, acabaram-se as birras!

Primeiro foram os “terrible twos”, com toda a sua pujança em afirmação e vontades próprias, depois veio a desculpa do “feitio”. “Sai à mãe”, diziam os mais próximos, numa tentativa airosa de explicar por que motivo aos três anos já era tão determinado, cheio de opiniões, mandão e decidido. Tudo isto poderia até ser positivo se não se traduzisse, vezes de mais, em frustração, alguma desobediência, muito finca-pé e até uma ou outra berraria. Sobretudo na hora de ir para a mesa ou para o banho. Ou seja, na hora de interromper as brincadeiras, os jogos ou a televisão. “Não quero!”, “Não gosto!”, “Estás sempre a estragar-me o dia!”, atirava-me ele, revoltado.alt
Sempre fui apologista de que a nossa relação se deve basear mais no diálogo, na explicação das coisas e das situações, no entendimento e compromisso mútuo, e menos na imposição da minha vontade e autoridade excessiva. Mas, aos quatro anos do Tiago, percebi que nem sempre tenho a paciência necessária para lidar com as suas frustrações e continuar a explicar, vezes sem conta, por que motivo tem de tomar banho todos os dias e sentar-se à mesa quando o chamo para jantar, sem reclamar da comida, da cor do prato ou… do tempo. E antes que se tornasse um pequeno ditador, e a bem da harmonia familiar no final de cada dia, quando estamos todos cansados e menos tolerantes, aceitei o desafio da coach Magda Dias para experimentar algumas sessões de coaching e aconselhamento parental. “Pode ser o que necessita para ‘desbloquear’ e fazer fluir a relação familiar, eliminando aqueles ‘dilemas’ do dia-a-dia”, justificou. E se o objetivo é que possamos todos “saborear o que de melhor a vida tem”, então este só podia ser um desafio para levar muito a sério. E bastaram duas sessões para que os resultados se tornassem visíveis.
Quando iniciámos o processo, o Tiago acabara de chegar de férias em casa dos avós, no Algarve, onde passou 15 dias a fazer o que bem queria (dentro dos limites do razoável), ou não fosse essa a magia dos dias passados com os avós. Nada contra. Mas confesso que temi o pior: como é que o ponho “na ordem”, sem grandes dramas, logo agora que vem convencido que é o big boss? Partilhei com a Magda essa minha preocupação e ela sossegou-me: “Vem nutrido, vem cheio a nível emocional e isso é bom”.  Além disso, sublinhou, o Tiago está na idade de integrar conceitos e entender a autoridade, um aspeto que até aqui era menos vincado e que se traduzia numa maior contestação sempre que era contrariado. Ou seja, está na idade certa para, finalmente, compreender e aceitar que na educação nem sempre há lugar para a democracia e que, por vezes, é preciso respeitar um “acabou a conversa!”. Dito assim, pode parecer que, de um dia para o outro, se instalou lá em casa uma ditadura feroz e implacável. Nada disso.
 alt
Um banho ao dinossauro
O objetivo definido na primeira sessão de coaching e aconselhamento parental com a Magda Dias foi, exatamente, melhorar a questão da obediência naqueles momentos chave do dia e, por consequência, aumentar a tolerância do Tiago à frustração. “Os limites e a autoridade são estruturantes e ele precisa disso para crescer bem”, assegurou-me.
Os momentos mais propícios a birras e desentendimentos lá em casa sempre foram a hora de ir para o banho e para a mesa. Para mudar esse comportamento, que já se tornara um hábito, Magda aconselhou-me a mudar de estratégia. Em vez de repetir exaustivamente o típico “Tiago, anda para a mesa” ou “Tiago, já te chamei três vezes para o banho”, que ele ignorava até ouvir um berro, comecei a ir ter com ele, sentar-me ao seu lado e a interessar-me genuinamente por aquilo que está a fazer no momento (uma brincadeira, um desenho, um episódio da Ovelha Choné…). Depois, “é preciso criar uma ligação através do toque” e, assim, o passo seguinte é tocar-lhe na mão ou no braço e dizer-lhe o que pretendo, olhos nos olhos, com determinação: “Agora vamos arrumar os brinquedos e vamos tomar banho”. Sempre que possível, faço uma ligação entre o que ele está a fazer e o que eu quero que ele faça: “Traz esse dinossauro que ele está mesmo a precisar de um banhito!”.
Posso dizer que tem resultado. Na primeira vez, achei que tinha sido apenas sorte de principiante, mas nos dias seguintes a “sorte” repetiu-se. É verdade que ainda me pergunta por que é que tem de tomar banho todos os dias, mas agora já o faz de forma resignada, sem espernear, a caminho da banheira. Esta pequena mudança no meu comportamento e, por consequência, no dele teve um impacto importante nas nossas rotinas: há menos tensão, menos confronto e menos berros e os finais de dia tornaram-se bastante mais fluidos e agradáveis. Para todos.
 alt
Quantas colheres?
À mesa, a estratégia para acabar com o “Não gosto! Não quero!” passou, primeiro, por responsabilizá-lo e depois por recorrer a uma dose extra de brincadeira. A menos que o jantar fosse pizza, canja ou douradinhos, as reclamações começavam quando ainda nem estava sentado. E como pizza, canja ou douradinhos não são refeições assim tão frequentes lá em casa, é fácil deduzir que a hora do jantar era dominada pela sua habilidosa (e extenuante) arte da negociação: “Quantas colheres ainda tenho de comer? Só como três!”. Chegámos então a um acordo. “Eu comprometo-me a colocar-te (muito) menos comida no prato e tu comprometes-te a não reclamar nem a negociar. E se gostares do jantar pedes-me para te pôr mais”. O compromisso foi aceite, sem contrapropostas.
Durante a primeira semana do acordo, facilitei a situação e apresentei-lhe refeições que sabia serem (mais ou menos) do seu agrado. Depois comecei a introduzir os “maus da fita”: os legumes. Um feijão-verde aqui, um brócolo ali, e o acordo lá foi sendo cumprido, com uma ou outra tentativa de negociação pelo meio. “Negociar é importante, mas responsabilizar é muito mais”, disse-me Magda. De vez em quando, ainda começa a “espernear”, mas aí aplicamos a segunda técnica: a brincadeira. Nada como uma boa gargalhada ou um pouco de troça sobre a situação para desanuviar o ambiente. Depois desviamos a conversa para um assunto do seu agrado. E assim os jantares vão prosseguindo bastante mais tranquilos do que o habitual. Sem distrações (leia-se sem televisão), com mais conversa e menos tensão. E para “desbloquear” o diálogo, em vez do típico “Então como foi o teu dia na escola?”, passei a contar-lhe algumas situações sobre o meu dia e a pedir a sua opinião. Por conseguinte, passou a falar mais sobre a escola e os amigos.

“Vês? O prato está vazio!”
Quando as coisas correm menos bem e o Tiago não cumpre o acordo, sabe que há consequências: até pode não comer tudo, mas não sai da mesa enquanto nós não terminarmos. E quando correm mesmo, mesmo bem, Madga aconselhou-nos a fazer o chamado “reconhecimento factual”. Ou seja, nada de “Boa, Tiago!!!”, que não passa de uma expressão sem conteúdo. É sempre preferível reconhecer o que efetivamente acabou de fazer: “Vês? O prato está vazio!”. E este tipo de feedback factual deve aplicar-se a tudo: um desenho, uma construção de Lego ou uma outra qualquer habilidade. Acabar com o “Boa!” obrigou-me também a parar o que estou a fazer no momento e olhar com olhos de ver para aquilo que ele me quer mostrar. Se tenho que dizer qualquer coisa concreta sobre o desenho que fez, tenho que olhar, de facto, para ele, o que na correria do final de dia nem sempre acontecia. É sempre mais fácil atirar um “Boa, filho!” e continuar a descascar cenouras para a sopa…
Com tudo o que assimilei no decorrer deste processo, posso dizer que a nossa experiência com o coaching e aconselhamento parental foi bastante positiva. Aprendi que é melhor responsabilizar em vez de negociar, é imprescindível ter regras muito bem definidas e ajudá-lo a relembrá-las quando necessário, é preferível falar-lhe em consequências em detrimento de castigos ou chantagens e, muito importante, mais vale baixar as expectativas e aceitar que nem sempre as coisas correm como desejamos. E que é possível, com ligeiras mudanças, retirar a frustração da nossa relação.


O QUE É O COACHING PARENTAL?

É uma abordagem às questões da parentalidade, com recurso à implementação de estratégias que ajudam a resolver os desafios e dificuldades da relação entre pais e filhos no dia-a-dia. O objetivo é apetrechar os pais de ferramentas para lidar com esses atritos do quotidiano, guiá-los na descoberta do seu estilo parental em consonância com as necessidades da cada criança e ajudá-los a cultivar uma relação mais positiva com os filhos. O coaching parental ajuda a lidar com situações como a disciplina, a frustração, a raiva, as rotinas e transições, as “lutas de poder” e comportamentos desrespeitosos. O apoio dado pelo coach passa pela abordagem das necessidades e desafios particulares de cada família e a definição de uma estratégia para lidar com eles.

O coaching é diferente de uma consulta de psicologia?
No coaching não se faz terapia. “Uma sessão de coaching ‘pega’ na pessoa tal e qual ela está, nos recursos que tem e ajuda-a atingir as suas metas”, esclarece Madga Dias, coach, formadora e autora do blogue “Mum’s the boss” (www.mumstheboss.blogspot.pt), sublinhando que “numa sessão de coaching o passado não é ‘dissecado’”.