quinta-feira, março 29, 2007

Colóquio no ISPA - Lisboa



No próximo dia 5 de Maio irá realizar-se no ISPA um colóquio intitulado "Mito pessoal, sentido e narrativa no processo clínico".

O programa:
9h30 - Abertura
10h - Conferência "Mito pessoal, Sentido e Narrativa (Frederico Pereira)
10h40 - Pausa
11h00 - Discussão sobre confer~encia
11h30 - "O que é um caso clínico?" (Raquel Ferreira, Teresa Flores, Manuel Matos,
Frederico Pereira, Fátima Sequeira, Maria José Vidigal)
13h00 - Almoço
14h30 - Workshops
16h-16h30 - Pausa
16h30-18h - Workshops
18h-18h15 - Pausa
18h15-18h45 - Debate geral e Encerramento

As inscrições são até 21 de Abril até completar 70. São 35€. Podem ser enviadas por email:sarac@ispa.pt ou 218811712.

segunda-feira, março 26, 2007

Acompanhamento psicológico à distância (ONLINE): A escolha certa?

O QUE É?

É uma nova modalidade de ajuda que utiliza as vantagens da Internet e das tecnologias de informação, permitindo a comunicação virtual, no momento ou em diferido, com um psicólogo. Com o surgimento da Internet, quase simultaneamente se tornou visível o seu potencial terapêutico como forma de comunicação. Em 1972, há registo de uma das primeiras formas de utilização da Internet numa sessão de psicoterapia simulada no âmbito da International Conference on Computer Communication, em Outubro desse ano. Os grupos de apoio online foram uma das primeiras formas sistematizadas de utilização deste suporte na relação de ajuda. O sucesso destes grupos firmou o potencial meio de comunicação que a Internet era, mesmo para abordar assuntos pessoais e delicados.

A consulta de acompanhamento psicológico online pode ser efectuada através de:

1. e-mail: não há necessidade de estar online simultaneamente, havendo o tempo que se desejar para escrever e pensar. É o meio de comunicação preferido pelas pessoas que gostam de escrever ou que têm horários muito difíceis de compatibilizar com o terapeuta.
2. chat: conversação instantânea com voz ou através de troca de mensagens escritas instantâneas. É preferida pelos que desejam uma resposta imediata por parte do terapeuta.
3. videoconferência: é considerada a forma ideal de terapeuta e cliente se relacionarem online. Existe a possibilidade de contacto visual e a consequente recolha de informação não verbal que poderá enriquecer a relação terapêutica. Com frequência porém, as pessoas sentem que na relação online conseguem revelar mais de si precisamente pela possibilidade de não existir contacto visual. Sentem-se mais seguros nesse contexto. Dependerá de pessoa para pessoa.
4. Telefone: conversação telefónica que poderá utilizar ou não o recurso da Internet. Útil para quem pretende manter uma conversação simultânea ou quem não quiser ou quem não puder fazer uso da Internet.

SERÁ EFICAZ?

Alguns estudos têm observado que pode ser uma forma poderosa de intervenção, e um agente de mudança rápida e efectiva na vida da pessoa. Isto porque se tem observado que a modalidade on-line estimula intensamente a projecção e as características psico-dinâmicas da díade, o que estimula muito a eficácia e rapidez da intervenção (Suler, 1996). Tem sido também constatado que as pessoas on-line vão mais directamente ao assunto fulcral de suas preocupações, o que agiliza a intervenção. Vários estudos têm demonstrado a potencialidade desta área, revelando que esta abordagem clínica realizada com o suporte de Internet é mais eficaz do que o não tratamento e tão eficaz como a abordagem face-a-face (Emmelkamp, 2005; Eaton, 2005). O acompanhamento psicológico online não pretende ser uma substituição da terapia tradicional mas sim uma outra forma de relação de ajuda que pode alcançar todos aqueles que, apesar de sentirem a necessidade, não estão a beneficiar de qualquer tipo de ajuda. A relação que é estabelecida com o terapeuta via Internet pode ser profunda, autêntica e emocionalmente reparadora. Numa análise de 400 clientes que usaram serviços de acompanhamento psicológico online, 90% refere ter obtido beneficio dos mesmos (http://www.metanoia.org/).

QUE VANTAGENS?

Tem a possibilidade de ser acessível à maior parte das pessoas que normalmente não têm possibilidade de recorrer a ajuda profissional por impossibilidade física, geográfica, por dificuldade de gestão do tempo, etc.
Para certas pessoas poderá ser sentida como um contexto mais confortável dado poder decorrer num contexto pseudo-anónimo se for essa a vontade do cliente.

QUE DESVANTAGENS?

A menor existência de comunicação não-verbal poderá diminuir a riqueza da informação trocada pelo que é importante os participantes comunicarem num nível compreensivo equivalente, sentirem-se confortáveis a escrever e comunicar com expressividade e algum detalhe.
Não é adequada em momentos de crise muito grave em que estejam comprometidas as capacidades de compreensão e raciocínio lógico.

QUE PROBLEMAS PODE RESOLVER?

Perturbações de ansiedade, alterações de humor, perturbações do sono, fobias, medos, consequências psicológicas do adoecer físico, dificuldades de realização na vida, dificuldades no estudo e no trabalho, problemas de relacionamento, necessidade de melhor conhecimento de si próprio, são algumas das questões que podem ser abordadas.

SERÁ CONFIDENCIAL?

Tal como na situação face-a-face, o acompanhamento psicológico on-line é sujeito a critérios de confidencialidade que abrangem toda a informação trocada entre cliente e profissional. O uso de procedimentos electrónicos chama a atenção para alguns perigos involuntários que podem ocorrer:

O cliente ou o terapeuta podem acidentalmente enviar um e-mail confidencial para um outro destinatário. A solução é ter uma preocupação redobrada em verificar o endereço antes de fazer o envio do e-mail bem como reduzir ao mínimo o material de identificação constante no e-mail, ou encriptar a informação.

Acesso não autorizado ao e-mail do terapeuta ou do cliente potencializado pelo facto de que com frequência os computadores são partilhados. Ter por isso algum cuidado em não partilhar o computador com que este serviço é prestado ou ter especial cuidado se o tiver de fazer usando palavras-passe eficazes.

É ÉTICO?
A psicologia on-line encontra-se internacionalmente devidamente enquadrada em termos legais. Profissionalmente ela é orientada pela Sociedade Internacional para a Saúde Mental Online (ISMHO) http://www.ismho.org/about.htm e pela American Psychiatric Association (APA)/Div.46 http://www.apa.org/divisions/div46/ .

A ISMHO foi fundada em 1997, tem como missão promover a compreensão, o desenvolvimento da comunicação online a nível da saúde mental, delineando um código de conduta a ser seguido por todos os profissionais que trabalham nesta área online. Possui um grupo de discussão de casos para aprofundamento do estudo de casos clínicos que usam o suporte online e aperfeiçoamento das metodologias de intervenção.

A APA/Div.46 refere-se à Media Psychology e foca-se no papel que os psicólogos têm nos vários aspectos dos média, rádio, televisão, cinema, vídeo, imprensa escrita e novas tecnologias. Desenvolve investigação sobre o impacto que os média têm no desenvolvimento humano, aprofunda o ensino, treino e prática da média psychology, orienta eticamente os profissionais que trabalham neste âmbito.

Consultar:

http://www.psicronos.pt/

Bibliografia:

Emmelkamp, PMG (2005). Technological innovations in clinical assessment and psychotherapy. Psychotherapy And Psychosomatics, 74 (6):336-343.
Eaton, W. (2005). Internet-Based Mental Health Interventions. Mental Health Services Research, Vol. 7 Issue 2, p75.

Shaw, H. & Shaw, S. (2006). Critical Ethical Issues in Online Counseling: Assessing current practices with an ethical intent checklist. Journal of Counseling & Development, Volume 84.

Suler, J. (1996, May). Transference among people online. The Psychology of Cyberspace. Disponível www.rider.edu/users/suler/psycyber/psycyberl

quarta-feira, março 21, 2007

O Poeta

Porque hoje é o Dia Mundial da Poesia, deixo aqui uma homenagem a todos os poetas através das palavras de Vinicius de Moraes, numa descrição da alma do artista:

“A vida do poeta tem um ritmo diferente
È um contínuo de dor angustiante.
O poeta é o destinado do sofrimento
Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza
E a sua alma é uma parcela do infinito distante
O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.

Ele é o eterno errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso pelos extremos intangíveis
Clareando como um raio de sol a paisagem da vida.
O poeta tem o coração claro das aves
E a sensibilidade das crianças.
O poeta chora.
Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristes
Olhando o espaço imenso da sua alma.
O poeta sorri.
Sorri à vida e à beleza e à amizade
Sorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.

O poeta é bom.

Ele ama as mulheres castas e as mulheres impuras
Sua alma as compreende na luz e na lama
Ele é cheio de amor para as coisas da vida
E é cheio de respeito para as coisas da morte.
O poeta não teme a morte.
Seu espírito penetra a sua visão silenciosa
E a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.
A sua poesia é a razão da sua existência
Ela o faz puro e grande e nobre
E o consola da dor e o consola da angústia.

A vida do poeta tem um ritmo diferente
Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis”.

Neste “caminho para a distância”, as misteriosas palavras retratam os véus da alma dos poetas, tão inquietantes e fascinantes, como crianças que vagueiam ante o mistério de uma amplidão suspensa.
Falemos então dos poetas e da sua poesia...

quinta-feira, março 15, 2007

A Depressão Pós-Parto



A depressão pós parto não é geralmente um acontecimento súbito, é um processo lento que pode ocorrer alguns dias após o parto ou aparecer gradualmente, às vezes até um ano depois. Muitas vezes a DPP não é diagnosticada ou se o é, não é feito um pedido de ajuda (geralmente é necessário recorrer a acompanhamento psicológico ou tratamento farmacológico ou até ambos).
Os sintomas observados podem ser: tristeza a maior parte do dia, pânico, sentimentos de desespero, dificuldades de concentração ou memória, sentimentos de desvalorização e culpa, medo excessivo de magoar o bebé, pensamentos acerca de se magoar ou de se suicidar, sentimento de que se está a enlouquecer, variação de humor, gritos e choro, perturbações de sono ( insónia ou hipersónia), alterações significativas de peso, aumento ou diminuição significativos de apetite, fadiga, pensamentos mórbidos, agitação ou apatia, incapacidade de criar ligações afectivas com o bebé, perda de interesse sexual, anedonia, dores e/ou tensão na cabeça.
Uma mulher que sofra de depressão pós parto apresentará vários dos sintomas acima descritos de uma maneira mais ou menos severa deixando esta envergonhada, com sentimentos de culpa e consequentemente isolada (pode haver alternância entre bons e maus dias ).
Os factores de risco são: depressão pós parto ou um significativo “baby blues” numa anterior gravidez, mulheres com história pessoal ou familiar de depressão, mulheres com problemas matrimoniais crónicos (ex: violência doméstica, separação, divórcio entre outros), dificuldades financeiras, problemas com filhos ligeiramente mais velhos (ex: ciúme), preocupações ou problemas de saúde relacionados com o novo bebé, falta de apoio social, acontecimentos de vida negativos durante a gravidez e/ou parto, história pessoal de sindroma pré-mestrual, ansiedade ou depressão durante a gravidez, gravidez não planeada e/ou filho não desejado, complicações do foro obstetra, história de trauma infantil ou abuso, acontecimentos de vida importantes (ex: perda de emprego), infertilidade anterior.
Entre possíveis causas destacam-se: hipóteses biológicas (alteração das concentrações hormonais: o corpo começa a produzir altos níveis de prolactina, hormona relacionada com a amamentação, permanecendo estes níveis altos durante cerca de dois meses após o parto quer a mãe amamente ou não; sendo que esta hormona interfere com a produção de estrógeneo e progesterona, mantendo baixa a já esgotada provisão destas), hipóteses relacionadas que se referem às relações do indivíduo com a família quer no passado ( ex: ausência do pai durante a primeira infância por perda ou separação) , quer no presente (dificuldades recentes no relacionamento com a mãe, conflito/insatisfação matrimonial); outros acontecimentos de vida ( ex: a morte de um parente durante a gravidez mas não depois do parto ); hipóteses psicológicas ( ex: predisposição prévia para perturbação depressiva; dificuldades experienciadas durante a gravidez como sejam a ansiedade, dúvidas em prosseguir a gravidez entre outras). Recentemente a importância do bebé tem sido posta em evidência, tendo surgido um modelo explicativo inovador que assenta nas dificuldades temperamentais do bebé como factor de stress, nas complicações de saúde relativas ao bebé e na percepção que a mãe tem do comportamento deste, sendo que o suporte social pode funcionar como um recurso protector para as mães, bem como as relações interpessoais desta. A importância dos factores sócio-económicos é ambígua.
A Perspectiva psicanalítica sugere que após o parto a mulher tem de realizar o luto de uma série de experiências presentes nomeadamente o luto do filho imaginário, ideal ( expectativas) e experiências passadas, nomeadamente o luto de anteriores experiências de separação ( a mãe identifica-se com o bebé revivendo através dele a relação com a mãe ).
A DPP é um sinal de que a mãe não está a realizar convenientemente o trabalho psicológico do pós parto que consiste em aceitar que o seu filho não é tão magnífico como imaginou, tarefa que pode ser dificultada quando as expectativas da mãe são quebradas ( ex: sexo, temperamento do bebé, aparência física).
Quanto às consequências da DPP no desenvolvimento infantil, várias questões se podem colocar. Será que o estado depressivo pós parto afecta a qualidade do laço afectivo do bebé com a sua mãe ? O comportamento da mãe é considerado uma importante fonte de estimulação para a criança, sendo que a qualidade proporcionada está associada à qualidade do desenvolvimento da criança, no entanto os resultados dos estudos existentes sobre a influência adversa da DPP na elaboração de uma ligação segura à mãe por parte da criança são controversos.
A perturbação psiquiátrica dos pais é um factor de risco que tem sido associado à vulnerabilidade da criança para a doença mental (comprometimento para o desenvolvimento da criança nos domínios cognitivo e desenvolvimento da personalidade – génese de perturbações comportamentais e de atrasos cognitivos ). No entanto recentemente sublinhou-se que efeitos como estes são mediados por um conjunto de variáveis tais como a coexistência de relações familiares perturbadas. É importante avaliar o funcionamento do pai, relação entre os cônjuges, contexto familiar, peso do bebé à nascença entre outros.
As reacções que os bebés tendem a ter perante a DPP da mãe são a de inventar tipos de comportamentos: o bebé pode desistir de tentar atrair a atenção da mãe e recolher-se em si próprio; o bebé pode tentar ficar próximo da mãe deprimida, imitando-a .Há uma posterior identificação com o estado de espírito desta, tendo como consequência a depressão do próprio bebé; o bebé pode tentar alegrar a mãe, havendo a possibilidade de este se tornar hiperactivo, resultando por vezes numa “perturbação de défice de atenção”. Esta investigação foi altamente controversa. Muitos especialistas crêem que, excepto em casos de depressão grave, as crianças não são necessariamente afectadas por uma breve depressão da mãe.
Os tratamentos variam consoante o tipo de sintomas e respectiva severidade. A DPP pode ser tratada com recurso a medicação, psicoterapia ou uma combinação de ambas.
A medicação apresenta algumas vantagens, como actuar mais rápido e apresentar custos inferiores; no entanto a psicoterapia não deixa de ter um papel muito importante e complementar da primeira; sendo mesmo imprescindível em casos de depressão severa, de problemas psicológicos crónicos, de resposta pouca satisfatória a tratamento farmacológico, ou em casos de perturbações da personalidade. A medicação apresenta inconvenientes no caso de a mãe estar a amamentar ( a maior parte dos medicamentos apresentam concentração no leite materno), no entanto pode-se pôr a hipótese de a mãe deixar de amamentar o bebé caso a depressão seja muito severa, sendo mais uma vez a intervenção de profissionais de saúde absolutamente necessária. Apresentam benefícios inegáveis a prática de exercício regular ( ex: caminhar); aliada a uma alimentação cuidada e um sono regular e repousante. Um bom ambiente familiar e apoio por parte da família têm igualmente uma importância fundamental no sucesso do tratamento da DPP.
O internamento hospital raramente é necessário no caso da DPP mas em casos graves de depressão ( particularmente na psicose pós parto) pode ser essencial. O Psiquiatra Ian Brockington montou uma unidade para mães e bebé, em Birmingham pois considera que o internamento sem o bebé é pior do que inútil (destrói a autoconfiança, a independência e a relação mãe – bebé).
Infelizmente, muitas mães sofrem da DPP sem terem conhecimento de que esta é uma perturbação tratável, com as inerentes consequências devastadoras para a mãe, para o bebé, para a relação mãe-bebé, para o ambiente familiar e amigos. É imprescindível para que o tratamento seja eficaz, que a DPP seja detectada precocemente e sejam feitas as intervenções necessárias, tanto farmacológicas como a nível de psicoterapia.
Há uma necessidade urgente de divulgar informação e diminuir o estigma social que a perturbação acarreta, pois só assim será possível diagnosticar um maior número de casos que permanecem ignorados e permitir uma erradicação pelo menos parcial da perturbação.
Photo by Anne Geddes

domingo, março 11, 2007

Colóquio no Algarve - Psicanálise Hoje

Vai realizar-se no próximo dia 17 de Março o Colóquio Psicanálise Hoje com ENTRADA LIVRE.

O colóquio, comemorativo dos 150 anos do nascimento de Freud, será realizado na Universidade do Algarve, Faculdade de Ciencias Humanas e Socias.

Decorrerá em paralelo, em locais a anunciar, um Ciclo de Cinema organizado pelo Cineclube de Faro.

No Programa encontramos nomes tão ilustres como:

Carlos Amaral Dias
António Coimbra de Matos
Emílio Salgueiro
Ana Vasconcelos
João França de Sousa
Adriana Nogueira
Manuela Ferraz da Costa
Catarina Neves
Vasco Santos

É um dia cheio a não perder e com ENTRADA LIVRE

sábado, março 10, 2007

Impulso de ligar














Talvez já tenha acontecido a todos nós, no desenrolar da prática clínica, mas porque será que acontece?
Refiro-me aos casos em que somos contactados por um potencial cliente para marcar uma consulta, e até com uma certa urgência, tomando nós, todas as diligências necessárias; Vemos na agenda a data mais próxima, e no dia, estamos, à hora combinada, à espera do cliente. Mas, passam 5, 10, 15 minutos e a hora agendada para a consulta termina sem que o nosso cliente apareça, ou diga algo.

Será num movimento de desespero, num impulso desenfreado para consertar a sua vida, que é impelido a ligar, a procurar uma ajuda, a dar um continente para aquela situação? Mas depois da consulta marcada, do momento extinguido, a pessoa "cai de novo em si" e será que é nesta altura que começa a perceber as implicações que esta decisão poderá ter na sua vida, será que começa a ter a consciência que irá enveredar por caminhos para os quais não se sente preparado?

E então, num movimento de renúncia a si próprio, às suas dificuldades, rompe com a decisão tomada há poucos dias atrás e decide não aparecer, não dizer nada e simplesmente fechar-se nas suas angústias, preocupações, anseios....

O que acham?

quinta-feira, março 08, 2007

Congresso: "Morte, Cultura e Arte"

Uma leitora do nosso blog deixou um comentário, no post anterior, a divulgar este congresso, que se irá realizar no Porto - (Seminário de Vilar), entre os dias 22 e 23 de Março.
Aqui fica a informação de Leda Cruz - Artista Plástica
Para qualquer assunto relacionado com o tema visite a sua página da net www.ledacruz.com

Confesso que é sugestivo o título.
Cumprimentos

terça-feira, março 06, 2007

Evento em Grande a Sul

Olá a todos, é com grande prazer que estou de volta ao nosso blog, após vários problemas com o pc e com a internet também.
Hoje apenas irei fazer menção ao evento que irá acontecer aqui perto, em Faro, na Universidade do Algarve.
É um colóquio comemorativo dos 150 anos do nascimento de Freud, e contará com a presença de várias personalidades, sobejamente conhecidas nos meandros psicanalíticos.
O site da sociedade portuguesa de psicoterapia psicanalítica já divulgou o colóquio, fazendo referencia ao seu programa, pelo que, sugiro uma visita ao site www.sppp.pt

De notar que a entrada é LIVRE

Até breve

sexta-feira, março 02, 2007

Morreu o meu amigo

Morreu de repente um velho amigo, de muitos, muitos anos. Era escritor, tinha sido jornalista, foi sempre contra a corrente, não vendia muito. A vida não lhe andava a correr muito bem, estava magrinho, um pouco amargo. Caíu no chão com um AVC fulminante. Tinha um livro na mão. Por acaso era um livro dele próprio, estava a lê-lo para uma comunidade de leitores, instituição preciosa de que pouca gente fala.
Durante anos trocámos livros e ideias; sempre que um descobria um livro, avisava o outro. Sobretudo escritores de língua inglesa, que vínhamos perseguindo há anos com afinco. Foi assim até ontem.
A partir de hoje, isso acabou. A morte faz também isto, deixa-nos mais sós com nós próprios. Até que chega a nossa vez.
Curioso, já não sei qual foi o último livro que lhe emprestei. Mas ele deve saber. Foi há dias. Disse-lhe que precisaria do livro em breve por causa de uma coisa que estava a escrever, ficou de mo devolver com alguma rapidez, ao contrário do que era costume entre nós, que tínhamos uma espécie de pool de livros partilhados. Mas ele não se vai esquecer.
Estou confiante. A morte não nos vai tirar isso. Não vai, não. Vamos continuar a trocar livros.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O “Peso” da Teoria na Formação do Psicanalista


À margem do último “Curso Pós-Graduado de Actualização da Faculdade de Medicina de Lisboa”, registei a forma icónica como a Professora Luísa Vicente abordou uma discussão que, desde Freud, não tem gerado grandes consensos. Enquanto apresentava o ilustre psicanalista italiano Antonino Ferro, falava do “peso” que o psicanalista deverá atribuir à teoria ao longo do seu percurso de formação e, mais tarde, ao Processo psicanalítico cuja condução estivesse a seu cargo. Disse que, como o viajante, também o psicanalista não deve partir, sentindo nas costas o peso da teoria (lembrei-me a propósito da expressão inglesa: “pack light”) – seria esse o requisito que garantiria os mantimentos necessários a uma viagem anunciadamente longa. Mais! Seria a mesma “leveza” que viabilizaria a possibilidade de abandonar total ou parcialmente a bagagem, para logo dar lugar a outros apetrechos.

Coincidentemente ou não, Antonino Ferro viria no termo da sua exposição a dar mais uma achega: ao psicanalista não deverá faltar aquilo que designou por capacidade poética da mente – que, na “Bioniana” serviria de sinónimo ao conceito de “rêverie”.

Ainda no que à formação do psicanalista diz respeito, Freud como sabemos, incentivava o estudo da filosofia, história da civilização, mitologia, entre outras disciplinas.

Não será esta mais uma daquelas discussões bizantinas que a psicanálise é pródiga em fomentar?

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Até onde irá o Estado?

Agora querem tirar o menino gordo à mãe. Li hoje no Sunday Times, jornal inglês cuja edição electrónica é altamente recomendável e um prazer aos domingos. O menino, de seu nome Connor, tem oito anos e é de facto gordíssimo. Já partiu 4 camas e várias bicicletas. Mas isso será razão para o tirarem à mãe e o porem numa instituição?
A verdade é que o Estado, neste caso o inglês, mas o mesmo se passa na maior parte da Europa, está a intrometer-se na vida dos cidadãos de uma forma que assume já contornos perigosos. Saímos já da ficção científica e entrámos numa realidade assustadora. O Estado cada vez se intromete mais na sociedade civil, ao mesmo tempo que a desresponsabilização dos cidadãos vai aumentando. É um sistema de feedback com efeitos perversos.
Por cá, temos o caso da vitória do Sim no recente referendo. Por que carga de água se fala agora em criar gabinetes de “aconselhamento” das mulheres? Estão com medo, mais uma vez, que as pobres e diminutas cabecinhas femininas não saibam decidir? Aqui está outro exemplo da intolerável intromissão do Estado nas nossas vidas.
O assunto é complicado e polémico. Venha a discussão. Não foi para isso que se inventaram os blogs?

sábado, fevereiro 24, 2007

VI Encontro de Psicologia Clínica, “Psicopatologia e Cinema”


VI Encontro de Psicologia Clínica, “Psicopatologia e Cinema”


Junto se envia o link de divulgação do próximo encontro de Psicologia Clínica e da Saúde que se irá realizar na Universidade Lusíada de Lisboa a 16 e 17 de Março próximo, dedicado ao tema "Psicologia e Cinema"
.http://www.lis.ulusiada.pt/eventos/encontros/psicologia_saude/default.htm
“Numa filosofia de abertura e integração da psicologia com outras áreas de conhecimento e com temáticas do dia-a-dia, decidimos dar a este Encontro o título "O cinema e a psicopatologia", convidando participantes e oradores a reflectir de forma fundamentada e criativa sobre os temas da psicopatologia e a sua representação no cinema. Pretendemos que, a partir da exibição de excertos de alguns filmes, alunos, psicólogos e outros profissionais das ciências humanas e sociais reflictam sobre determinados quadros psicopatológicos, como as perturbações do humor, da ansiedade, da família, da relação precoce, da adolescência ou mesmo as psicoses que de alguma forma, directa ou indirectamente, entram nas nossas vidas profissionais e/ou mesmo pessoais. Assim, cada sessão será iniciada com um pequeno excerto de um filme, representativo da temática da mesma, que servirá de base às comunicações e posterior debate.”

Parece-me interessante! Vou colocar na minha agenda.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Olá a todos.

Não sei se já conhecem a Associação Sorrir, é uma associação sem fins lucrativos que desenvolve várias actividades.


Estão neste momento a desenvolver três encontros especiais:



O primeiro encontro é já este fim de semana.

Visitem o blog para mais informações, é algo muito fora da nossa àrea mas parece-me muito interessante, sobretudo o segundo encontro.

Visitem e tirem as vossas conclusões.

http://oblogdasorrir.blogspot.com

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Relações de Vinculação


Divulgo um e-mail que recebi hoje, para quem esteja interessado, que a Sociedade Portuguesa de Psicoterapias Construtivistas (SPPC) vai realizar nos dias 9 e 10 Março de 2007, um seminário sobre Relação de Vinculação – Investigação e Intervenção, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa/Alameda da Universidade.
A oradora, Isabel Soares, é psicoterapeuta, professora catedrática no Departamento de Psicologia da Universidade do Minho, investigadora com diversas publicações no domínio da psicopatologia desenvolvimentista e das relações de vinculação.
O horário é no dia 9: 17h30-21h (Contributos da Investigação) e dia 10 das 9h30-13h (Vinculação e Intervenção Clínica).
Os valores são: Associados até 23 de Fevereiro (já amanhã!) 35€, após a data 45€; Não associados até 23 de Fevereiro 45€, após a data 55€; Estudantes até dia 23 de Fevereiro 25€, após a data 35€ (a juntar comprovativo da propina).
A inscrição pode ser feita online via website: http://www.sppc.org.pt/.

A Apologia de Sócrates


Para quem ainda não assistiu, aqui fica uma sugestão de lazer patente na Sala Experimental do Teatro Municipal de Almada até 25 de Fevereiro: A Apologia de Sócrates. Fiquei espantado com a forma como se cruza a simplicidade do “entorno” com o rigor na interpretação de um texto filosófico difícil. Inegável, em meu entender, é também a actualidade com que alguns temas são tratados e que, a somar à dimensão filosófica, abordam a esfera jurídica e política com uma firmeza irrepreensível. Mesmo a não perder!

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Ser Português

Como sabem, o European Social Survey é um órgão que procede a inquéritos sociais junto dos cidadãos da Europa. Saíram agora os resultados do segundo inquérito. 38,9% dos portugueses dizem “não ter nenhum interesse pela política”, contra uma média europeia de 17,9%.
Há tempos falámos aqui no blog sobre o que era isto de ser português. Pelo visto, é também este desinvestimento naquilo que devia a todos nós dizer respeito. A palavra política tem a ver com a polis, a cidade grega, onde pela primeira vez os homens experimentaram a democracia. Muito diferente da nossa, é bem verdade (era directa, as mulheres, os escravos e os estrangeiros não votavam, etc). Mas implicava uma noção de bem comum que parece que desapareceu praticamente do nosso paradigma cultural.
Não precisávamos do resultado do relatório para sabermos que, em Portugal, as pessoas se estão nas tintas para a política, como se fosse uma coisa que não lhes dissesse respeito. Às vezes até se lhe referem com desprezo como “a porca” e outros mimos (como já referia o Rafael Bordalo Pinheiro) que são bem significativos da pouca importância que damos a tudo o que diga respeito à vida pública e às questões de cidadania.
De onde vem esta apatia, esta aversão? Curta experiência democrática? Séculos de governos centralizados? Forte influência do Catolicismo?
Fraca autonomia dos indivíduos perante o Estado? Fraca autonomia em geral?

domingo, fevereiro 18, 2007

Curso: A Relação Terapêutica - Narrativas e Personagens

Nos dias 23 e 24 de Fevereiro vai-se realizar na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa um curso ministrado por Antonino Ferro sobre A Relação Terapêutica - Narrativas e Personagens.


A Conferencia proferida por Antonino Ferro na sexta-feira às 21h, intitulada IMPLICAÇÔES TEÓRICAS DO PENSAMENTO DE BION foi já alvo de atenção no post da Ana Eduardo Ribeiro e é de Entrada Livre

Para além da conferência, no sábado Antonino Ferro irá comentar duas apresentações clínicas. A inscrição no Sábado implica o pagamento de 75€ (Até 15 de Fevereiro eram 65€).

Sobre Antonino Ferro, no folheto de divulgação lemos:
A originalidade do seu pensamento torna-o um dos mais destacados psicanalistas contemporâneos, encontrando-se a sua obra traduzida em várias línguas.
Elabora uma concepção singular das transformações que se dão no gabinete de análise e considera o campo analítico como o lugar onde todas as histórias são possíveis de serem narradas: histórias que têm o seu inicio quando os factos "não digeridos" do paciente se encontram com a capacidade transformadora do analista.

Considera a psicanálise a partir de um duplo vértice: como forma de literatura (relatos feitos pelo paciente ao analista) e de terapia (cura de sofrimentos psíquicos através da possibilidade de narrar e partilhar o que, até então, só podia ser expresso através do mal-estar e sintomas).

Tem investigado e desenvolvido as ideias de Wilfred Bion e a sua aplicabilidade na prática clínica.

Wilfred Bion (1897-1979) foi um pensador inovador e rigoroso nas suas reflexões sobre a prática analítica e a estrutura do psiquismo humano. Utilizou a sua vasta experiencia de análise de doentes psicóticos para notavelmente desenvolver uma teoria do pensamento e das modalidades do papel do "negativo" no funcionamento mental (normal e patológico).


Eu estarei lá. E vocês?

Antonino Ferro

No próximo dia 23 de Fevereiro, pelas 21 horas, na Aula Magna da Faculdade de Medicina de Lisboa/Hospital Sta Maria, Antonino Ferro irá proferir uma conferência intitulada "Implicações Teóricas do Pensamento de Bion".
Este autor tem vindo a desenvolver um trabalho de pesquisa na continuação das ideias de Wilfred Bion (1897-1979) e na aplicação destas à prática clínica.
É possível encontrar alguns livros do autor que já se encontram traduzidos para português/brasileiro (editora Imago), entre os quais, "A Técnica da Psicanálise Infantil", "A Psicanálise como Literatura" e Terapia" e "Na Sala de Análise".
A ver...

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Dia dos Namorados!


"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer".




Bonitas palavras para o dia dos Namorados do nosso poeta Camões.
Servirão elas para descrever uma declaração de amor, ou serão palavras da solidão de quem espera encontrar o amor da sua vida. Ou será apenas falta de sexo?

Não sei! Mas Freud, sem dúvida explicaria isso melhor do que eu!
O que sei, é que nestas datas em que se comemora algo, quem não tem nada para comemorar, ou neste caso com quem comemorar, se pode sentir na maior das tristezas. Afinal de contas, é suposto estar com alguém, é isso que a sociedade valoriza, e os que estão desemparelhados?

Será que no futuro existirá o dia dos solteiros?
Será que os solitários conseguem ser felizes?

Mais uma vez o modo como encaramos os acontecimentos é fundamental, afinal dizer que “ estou sem relacionamentos!” ou dizer “ estou entre relacionamentos!” revela uma atitude que pode salvar algumas pessoas da depressão.

Outra vantagem de estar só, é fazer aquilo que nos dá na real gana! Sem pensar que tem que se estar em casa a determinadas horas para fazer determinada coisa.
Isto serve de fraco consolo para aqueles que desejam uma relação de co-dependência. Afinal entrar numa casa vazia em que apenas esperam as tarefas domésticas pode ser um “murro na barriga”!

Não me vou alargar nesta argumentação de prós e contras, para isso existem programas de televisão.
Vou apenas deixar uma reflexão:
“Estaremos bem com outra pessoa, quando conseguir-mos estar bem na solidão?”

O Casamento tal como é e tal como poderia ser


Gulotta, psicólogo e advogado de direito penal e criminologia classifica os vários tipos de casamento, tarefa nada fácil pois existem tantas categorias como casais.

O autor inicia a classificação tendo em conta a história do casal, que consiste em assinalar o casamento com as letras A,H,O,S,V,X,Y e I.
O casamento A é o que se iniciou com alguma distância entre os cônjuges porque, por exemplo, foi motivado pelo interesse ou imposto pelas famílias. Pouco a pouco levou a uma aproximação entre marido e mulher pela formação de um vínculo comum, como um filho, trabalharem juntos, fazerem um desporto a dois, etc. No casamento H, a situação inicial é como a do casamento A, mas o vínculo comum não resultou numa aproximação, as suas vidas permanecem paralelas, mesmo com o nascimento dos filhos.
No casamento O marido e a mulher “correm” atrás um do outro, girando num vazio, sem nunca se encontrarem. No casamento S, o casal procura uma boa adaptação mas raramente conseguem melhorar a sua situação inicial. O casamento V é aquele que se inicia feliz mas vai sempre piorando. No casamento Y o início satisfatório dura mais tempo do que o V mas a união termina da mesma forma. Estas últimas duas categorias de casamento testemunham que o amor só é eterno enquanto dura. O casamento X corresponde ao A mas, depois de um período de acordo, cada um dos elementos do casal segue o seu caminho.
No casamento I tudo vai bem do princípio ao fim.

Um outro tipo de classificação, considera a estabilidade da relação e o facto de os cônjuges a considerarem como mais ou menos satisfatórias.
A pior das combinações é a do casamento estável-insatisfatório: estando insatisfeitos, mantêm estável esse nível de insatisfação, que o autor classifica como “prisão matrimonial”, em que podem trocar declarações de amor dissimulando uma profunda hostilidade. Na prática, não podem nem permanecer juntos, nem separarem-se. Raramente discutem e sentem-se fechados numa gaiola, utilizando-se reciprocamente para se manterem à distância. As mensagens entre eles são geralmente mal transmitidas e mal recebidas, não existindo esforço de esclarecimento recíproco. Só excepcionalmente recorrem ao psicoterapeuta uma vez que, “aos seus olhos”, os seus problemas permanecem sem gravidade.
O casamento instável-insatisfatório agrupa a maior parte dos clientes dos advogados ligados a divórcios e dos psicólogos. A história destes casais termina, regra geral, em separação e divórcio. Reconhecem o insucesso da sua relação mas não fazem nada para a mudar, acusam-se de forma contínua, desencadeando hostilidade recíproca, que serve para deslocar o conflito. Neste tipo de união, o conflito não aparece à primeira vista, por vezes encontra-se mascarado, e as expressões de agressividade subjacente manifestam-se no sarcasmo, na frigidez, na impotência, no alcoolismo… Neste casos, o elemento do casal que é objecto da hostilidade, apesar de compreender que os sintomas são manifestação de insatisfação, envia o “doente” em questão para o médico, psiquiatra ou psicólogo. O que, frequentemente, concede unidade a estes casais é o desejo infantil de resgatar num futuro próximo as frustrações do passado, que ao longo do tempo, conduz apenas a um aumento de insatisfação.
A união instável-satisfatória é a que se encontra, frequentemente, em casais unidos há mais de dez anos, e que, de acordo com o autor, é pouco conhecida visto que estes casais, pela natureza da sua relação, dificilmente recorrem a especialistas para resolver os seus problemas. A instabilidade revela-se em disputas frequentes a propósito tanto de questões insignificantes como de maior importância. A satisfação manifesta-se no facto de, para além da agressividade nas disputas, cada cônjuge não ser adversário do outro, mas sim um aliado, um companheiro de experiências, aceitando os altos e baixos do casamento. A instabilidade pode surgir da necessidade de apaziguar a incerteza afectiva, de um ou de ambos os cônjuges, ao sentimento de segurança que a relação cria para um ou para os dois.
A última classificação, a mais perfeita e, por isso, raramente atingida, é a união estável-satisfatória. Encontra-se em casamentos de longa data, e raramente em casais em que ainda partilhem a responsabilidade da educação dos seus filhos. Estes casais alcançam uma relação que exclui a mínima competitividade, as mensagens são claras, congruentes e compreendidas conduzindo a uma colaboração recíproca. Quando discordam, aceitam a diferença como um dado humano inevitável, do qual se pode extrair um ensinamento, e não como uma prova de hostilidade, o que lhes permite tomarem decisões comuns, reservando parte de autonomia pessoal. Discutem e mostram-se agressivos mas nunca ultrapassam o limiar da vulnerabilidade do outro. Nesta união a sua relação é vivida como puramente voluntária: estão juntos porque assim o desejam.

Penso que estas classificações, como quase todas, nos limitam e nos levam a grandes discussões, mas também promovem ensinamentos e reflexões pois a possibilidade de não estarmos de acordo é elevada. Deixo aqui o desafio aos leitores que poderão descobrir em que categoria se encontram os vossos casamentos de acordo com o autor, a reflectirem e a darem a vossa opinião sobre esta classificação.