Espantoso trabalho fotográfico e digital deste artista francês. Que imaginário!
Ver mais em:
http://www.yatzer.com/jean-francois-rauzier
Ideias às pinguinhas sobre psicologia, psicanálise e psicoterapias
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Num país onde a taxa de desemprego está quase em 20% (há pior, como a Espanha e a Grécia), a questão da idade para quem está à procura de emprego põe-se de forma particularmente aguda. Mesmo a nível dos empregos em part-time, estes são raros em Portugal e as pessoas com mais de quarenta e muitos, cinquenta anos, têm dificuldade em encontrá-los.
Há cerca de dez anos, a Alemanha viu-se a braços com um défice muito superior ao desejado. Já ninguém se lembra, mas foi assim. A absorção da Alemanha Oriental, na sequência da queda do Muro de Berlim em 1989, foi complicada. Os alemães ocidentais tiveram de acomodar uma redução de salários, concertada com os sindicatos. É provável que o esforço que fizeram na altura contribua para serem agora tão intolerantes para com os países do Sul.
Uma das saídas para o problema do emprego foi, além da redução dos salários, a criação de empregos em part-time. Mal pagos, mas que vieram reduzir os números do desemprego.
Na situação em que Portugal se encontra, esta poderia ser uma saída. É doloroso aceitar isto, mas seja qual for a saída, o empobrecimento geral espera-nos. Já está a acontecer. É nisso que se traduz a queda no PIB. Cada vez teremos menos dinheiro. Cada vez teremos de ser mais selectivos nos gastos. Cada vez será mais importante saber gastar no que realmente é importante para a nossa qualidade de vida.
O nosso país sofre de distorções bizarras. Sabiam que a percentagem de casa própria é superior à da Alemanha? Parece uma coisa boa, mas não sei se é, no fundo. Reduz a mobilidade das pessoas, porque as amarra a uma hipoteca e a uma localização.
Voltando à questão da idade, não há idade para se exercer uma profissão (excepto, claro, as que exijam uma forma física própria de um jovem). Numa época em que a esperança de vida ultrapassa os 80 anos, podem ter-se várias profissões ao longo da vida. O que nos deveria preocupar ainda mais, talvez, é o que iremos fazer a partir do momento em que já não possamos trabalhar e tenhamos despesas crescentes de saúde. Mas voltarei a esse assunto.
Uma boa notícia, que poderá constituir uma oportunidade de formação e aprendizagem para jovens licenciados:
Bolsas e estágios na União Europeia.
Pelo interesse da notícia, fica aqui o link:
http://boasnoticias.clix.pt/noticias_Jovens-Mais-vagas-para-estágios-nos-órgãos-da-UE_14865.html
O médico Rui Nogueira da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, traça um quadro triste da população: "somos um povo envelhecido, pobre, deprimido e ansioso "(Expresso, 2/3/13).
Nem todos os que o consultam estarão certamente desempregados, mas a percentagem não deve ser pequena.
Esta semana soubemos os números (oficiais) mais recentes do desemprego: 17,6%. Infelizmente, acredito que no final do ano já teremos ultrapassado os 20%.
Muitos estudos mostram que a situação de desemprego tem efeitos tão devastadores na psiquismo como a morte de uma pessoa próxima. É uma perda grave: não só de dinheiro como de estatuto, sentimento de utilidade, realização, confiança, auto-estima.
A depressão é a consequência mais provável de uma situação prolongada de desemprego. Os efeitos a nível da coesão familiar podem ser irreversíveis, o que acarreta por sua vez maior solidão.
As pessoas em situação de desemprego involuntário não são párias. Infelizmente, a sociedade revela uma tendência cruel para as tratar como tal.
Recomendo sempre aos meus clientes nessa situação, que pratiquem voluntariado. É uma forma de se sentirem úteis, reforçarem os laços sociais, criar contactos. A experiência de voluntariado é cada vez mais importante num curriculum e os empregadores procuram-na cada vez mais. Longe vai o tempo em que um curriculum assentava sobretudo nas "habilitações literárias" (era assim que se dizia). Agora, é preciso ser criativo. Um curriculum deve poder permitir a quem o lê fazer uma ideia do candidato nas suas várias facetas: como estudante, como profissional, como desportista, como criativo, como cidadão interessado e activo.
Por outro lado, as candidaturas espontâneas são cada vez mais usadas. Tenho verificado, no entanto, que a maior parte das pessoas não sabe como proceder. É inútil mandar e-mails todos iguais a várias empresas. Tem de se conhecer a empresa para onde se quer concorrer, perceber a sua visão do negócio e a forma como se posiciona. Compete ao candidato demonstrar que poderá ser um valor acrescentado para aquela empresa. Pela sua personalidade, pela sua postura, pelos seus conhecimentos, pela sua experiência de vida.
De acordo com números divulgados recentemente, Portugal é o país europeu da OCDE, onde se trabalha mais horas por dia: em média, nove! Este facto, já de si alarmante no que isto significa em dificuldades de logística familiar, não tem, infelizmente, tradução na produtividade. A nossa produtividade foi, na última década, 60% da média europeia. A Grécia e a Espanha, por exemplo, têm índices de cerca do dobro do nosso.
Trabalhamos muitas horas, mas de forma pouco produtiva. A produtividade tem a ver com os factores de produção utilizados: capital, tecnologias, mão-de-obra, matérias-primas, etc. Quanto vai elevado for o quociente entre aquilo que é produzido e o factor de produção utilizado, maior o índice de produtividade.
Quanto maior a produtividade, melhor a competitividade. Produzindo-se mais bens com menos recursos, concorre-se mais facilmente nos mercados. Em termos de país, isso significa que se poderá exportar mais.
Por outro lado, o país europeu com maior produtividade é o Luxemburgo, onde mais de metade da população é portuguesa. Estranho, não é? Terá a ver com a capacidade dos gestores, com a motivação, com o clima, com a geografia, com quê?
A ligação da produtividade ao emprego é mais fácil de entender nos sectores exportadores: quanto mais competitivos, mais exportamos, mais investimento estrangeiro atraímos, mais emprego se cria.
Tenho para mim que o principal drama que vivemos é o do desemprego, que provavelmente atingirá os 20% este ano. Pelo menos uma em cada 5 pessoas em idade de trabalhar estará desempregada. A este número somam-se os tais que o INE designa por "inactivos desencorajados", os que já desistiram de procurar emprego, cujo subsídio de emprego já se esgotou, e os que nunca trabalharam. Depois há os precários e os biscates.
O país está fracturado entre os que não têm emprego, ou o têm muito precário, e os empregados, os tais que trabalham muito tempo, mas mal, e que recebem na sua maioria ao fim do mês (ainda há os chamados recibos verdes, desde sempre desprotegidos).
O drama do desemprego é social e psicológico. É uma importantíssima causa de stress e depressão, mas também uma fonte de tensão social. De ódios, raiva, medo, xenofobia.
Para criar emprego, é preciso que haja empresas a crescer. Que haja investimento, que a produtividade aumente, que se produzam mais bens e serviços. Que os patrões arrisquem, que a justiça funcione. Que as pessoas se qualifiquem, aumentem as suas competências (iniciativa, motivação, foco, determinação, capacidade de aprendizagem). Nunca é demais repeti-lo: não é o estado que deve criar empregos, são as empresas. A nossa tradicional dependência do estado terá de, a bem ou a mal, acabar.
O Portal da Opinião Publica, uma iniciativa conjunta da Fundação Francisco Manuel dos Santos e do Instituto de Ciências Sociais já pode ser consultado em www.pop.pt.
Muito user friendly (bastante mais do que o da Pordata), o portal apresenta gráficos interessantíssimos e interactivos que comparam vários indicadores em 29 países europeus: o indivíduo, a família, os grupos sociais, a religião, a imigração, a política, o trabalho, a economia.
Hoje interessou-me, dentro do tema "o indivíduo", a "percepção do controlo sobre a própria vida", que em Portugal regista uma média baixa. Não é surpreendente. Muito menos é o facto de os países nórdicos apresentarem os valores mais altos. O que surpreendeu foi a clara inflexão, no sentido da redução, que a generalidade dos países apresenta a partir de 2000/2001. Se pensarmos que o stress está sobretudo ligado à sensação da falta de controlo sobre a própria vida, temos aqui um quadro bem negro de uma situação económico-psicológica. Vê-se bem que a Europa está em recessão - e em depressão.
De acordo com o jornal Expresso, é assim que o Instituto Nacional de Estatística chama às cerca de 120.000 pessoas que estiveram inscritas nos Centros de Emprego, e já não estão. A estes, somam-se outros 260.000 que nunca procuraram emprego. São (só!) quase 400.000 "desencorajados".
Estes eufemismos, por bem intencionados que sejam, acabam por ser chocantes. Como se se pretendesse humanizar, hipocritamente, aquilo que corresponde a uma situação crua e gritante.
Tínhamos, em final de 2012, 1.200.000 desempregados. Destes, 300.000 recebem (ainda) subsídio de desemprego (calculo que sejam considerados "inactivos encorajados").
Em 2012 houve 10.646 ofertas de trabalho para 710.652 desempregados inscritos e encorajados. Que entretanto desencorajam e vão, mês a mês, passando a desencorajados.
Os números são perigosos e existe uma frase que se ouve muito: "as pessoas não são numeros". Mas estas tentativas de os humanizar com adjectivos psicologizantes é patética. Não é só o emprego e os meios de subsistência que faltam. Até já o pudor começa a escassear.