The
way to get a person to put down a heavy load is to give them just a little more
to carry. Sometimes therapeutic
interventions are like that. (Brazier, D.)
(A maneira de levar uma pessoa a descarregar uma carga pesada é dar-lhe um pouco mais para ela carregar. Às vezes as intervenções terapêuticas são semelhantes.)
No contexto de crise atual, parece-me uma ideia particularmente pertinente. São muitas vezes os períodos de crise que nos levam a dar um passo à frente por forçarem os limites da situação e pedirem uma mudança. Obrigam a fazer escolhas, a deixar algo para trás e a um novo ajuste.
A terapia surge como opção na vida das pessoas tipicamente em períodos de crise (mais ou menos interna, mais ou menos externa). E nas crises, é a falência da estabilidade ou do status quo prevalente que suscita a mudança. Existem, pois, muitas vezes duas forças opostas que conflituam de maneira mais ou menos disruptiva: a da estabilidade, segurança do conhecido; e a da mudança, novidade e insegurança do desconhecido. Como a frase em causa expressa, às vezes, para largar um peso ou o conhecido que já não funciona, é preciso, não só imaginar um desconhecido melhor, mas também sentir profundamente o peso e a falência do conhecido. Neste caso, poderíamos, por exemplo, falar do "peso extra da consciência do peso" como fator desencadeante da decisão de descarregar o peso.
De uma maneira mais extensiva, largar o peso pode também querer dizer, saber fazer transições, nomeadamente, a transição constante entre o passado e o presente (em direção ao futuro). Se eu carrego um passado condicionante e pesado do qual não me consigo desapegar para abraçar o que o presente me pode dar e receber, vivo em menor harmonia com a realidade. Ou se, vivo constantemente no futuro - acumulando, acumulando (coisas, feitos, currículo, saber, etc.) - como reação a um passado de escassez que não consigo aceitar nem fazer o luto, não consigo aproveitar total e apaziguadamente o presente.
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