No passado dia 15 de Maio celebrou-se o
Dia Internacional da Família, data que se assinala desde 1993 com o objetivo de salientar a importância da família, reforçar a mensagem de união, amor,
respeito e compreensão, alertar para a importância da família como núcleo vital
da sociedade e para os seus direitos e responsabilidades, e sensibilizar para as
questões sociais, económicas e demográficas que afetam a família.
O conceito de família assenta na
ideia de estrutura nuclear que habita num ambiente comum, partilhando laços de
sangue e de afeto e reconhece uma predisposição biológica, influenciada por
fatores sócio-culturais, no que respeita à sua constituição.
Nas nossas consultas com
crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias, assim como nas nossas casas
e nas dos nossos amigos e familiares, debatemo-nos com as profundas alterações
que a estrutura familiar tem sofrido. Temos casais heterossexuais e
homossexuais, famílias nucleares, monoparentais, separadas, reconstituídas, alargadas,
de acolhimento, adotivas, guardas partilhadas… Temos solteiros de 40 anos,
casais casados aos 20 e separados aos 30, jovens que ficam até cada vez mais
tarde na casa dos pais devido ao desemprego, famílias forçadamente alargadas
devido à crise, casais, pais e filhos separados pela emigração, idosos
solitários e isolados. As estatísticas dão conta do aumento de divórcios e do decréscimo
de casamentos e nascimentos.
Estas alterações dramáticas
levam-nos a questionar sobre o futuro das famílias. Será a família uma espécie
em vias de extinção? Será a crise económica o principal responsável pela
desagregação familiar ou será apenas um bode expiatório?
A predisposição biológica para aproximar-se
e cuidar do outro parece estar a ser abafada por uma sociedade hiperativa,
virada para o agir e pouco para o sentir. Não há tempo para sentir, anda-se
para a frente porque para a frente é o caminho. As famílias parecem cada vez
mais funcionais pois na verdade desempenham funções, cumprem objetivos, o que
talvez explique por que funcionam cada vez pior, uma vez que a complementaridade
tem vindo a ser substituída pela individualidade. As necessidades, os interesses
e os valores individuais parecem dar pouco espaço à comunicação, à partilha e à
tolerância, e os laços afetivos que unem a família quebram-se com facilidade.
Há quem defenda que a “sociedade material” e a busca pela qualidade de vida
(económica) são os principais responsáveis pela desagregação familiar.
Estará a família a atravessar uma
crise económica ou uma crise de valores? Será que é a primeira que leva à
última? Estará o novo milénio a atravessar uma crise afetiva? Poderão os afetos
sobreviver a estas crises?
Questões talvez um pouco
polémicas que aqui lanço no sentido de promover uma reflexão sobre o valor dos
afetos, das relações e da família.
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