Podemos aqui considerar dois tipos de conhecimento sobre nós próprios. Aquele mais racional, que fica à superficie e não provoca mudança - ainda que possa ser um conhecimento verdadeiro - e aquele que consegue integração na personalidade, ou aquele que produz efeito de mudança sobre as dinâmicas de funcionamento da personalidade, atitude e comportamento. Aquele que conduz ao "agir em conformidade".
Este segundo conhecimento tem a particularidade de ser um conhecimento que consegue ressonância, validação e integração emocional dentro de nós, que mobiliza aquilo a que poderiamos chamar como a "função inata de auto-transformação e auto-atualização da personalidade". É o verdadeiro "insight", que muitas vezes se faz acompanhar pelo sentimento de se ter descoberto algo precioso e importantíssimo sobre nós. É o conhecimento que tem o potencial para provocar mudanças - conhecimento integrado na personalidade, que nos faz passar a agir em conformidade com a descoberta interior. Mas por vezes é preciso mais para provocar essa mudança.
Por vezes é preciso que consigamos ver determinadas realidades das nossas vidas por vários angulos, através de vários óculos e a partir de várias posições para que finalmente "aquilo" bata dentro de nós e propulsione a mudança. A psicanálise é um processo contínuo de análise, ou de "massacre" ás resistências à mudança, aos "boicotes" interiores. Todos os temos, caso contrário seria muito fácil mudarmos... imagine-se o efeito que a publicidade teria então sobre cada um de nós...
A interpretação sistemática em psicoterapia ou psicanálise têm esse efeito, de por exemplo nos levar a um ponto em que ao adotarmos determinada atitude ou comportamento nas nossas vidas, subitamente dizemos para nós mesmos: "Bem, e lá estou eu outra vez nisto!". Esse ganho indica já progresso no gradual abandono de atitudes e comportamentos insatisfatórios e desadaptativos.
Será talvez mais preciso aqui falar de uma predisposição para a integração do conhecimento sobre nós próprios na nossa personalidade, nas nossas dinâmicas de funcionamento interior (percepção, gestão emocional, atitude, comportamento, etc).
Conhecimento sem integração na personalidade é qualquer coisa como estudar uma disciplina que pode ser interessante do ponto de vista da curiosidade intelectual, mas que não têm um sentido ou aplicação prática para nós ou para a nossa vida. Temos o conhecimento mas não podemos fazer uso prático dele. Desconforto, angustia e sofrimento são na verdade mobilizadores do pensamento e da função de auto-tranformação/auto-atualização da personalidade, apelam à motivação para a mudança e estimulam por isso a predisposição para a integração (recuperação de partes dissociadas, anteriormente não pensáveis, ou intoleradas e rejeitadas da personalidade, com integração em profundidade na personalidade).
Em psicoterapia é frequentemente conseguida, logo nas primeiras sessões, uma compreensão relativamente profunda da psicologia de uma pessoa. Contúdo partilhar essas informações sob forma de interpretações eficazes dependerá da proximidade desses conteúdos em relação ao consciente de algúem. Caso contrário a partilha precoce destas informações importantes pode perder-se (bem como o efeito dirigido à mudança). Encontram-se casos de pessoas que passaram por terapias anteriores e que relatam como lhe foram revelados muitos aspetos profundos delas próprias mas que só posterioremente (frequentemente através de outras psicoterapias) é que conseguiram "perceber" esses aspetos.
Existem também "auto-entraves" ao autoconhecimento. Por vezes temos consciência de uma parte de nós próprios que interfere com a nossa vida ou nos causa sofrimento. Pode tratar-se de um autoconhecimento parcial ou incompleto, ou mesmo servir enquanto forma de nos "atirar areia para os olhos" para não tomarmos consciência de uma eventual vantagem que isso possa ter para nós e para a nossa vida. São benefícios secundários dos sintomas, e logo, resistências à mudança. Há muito de nós que frequentemente não conseguimos ou não estamos preparados para reconhecer... É mesmo assim a natureza da psicologia ou da mente humana.
Há ainda, por exemplo, personalidades cujo espaço interior emocional é (tornou-se) impermeável e logo, a mudança ou a integração não são possíveis (sem que primeiro esse problema seja identificado e trabalhado e psicoterapia, o que não se faz de um dia para o outro...). É o caso de personalidades quem funcionam a partir de um falso eu, uma formação defensiva complexa.
- O maior autoconhecimento surge da relação com o heteroconhecimento
O autoconhecimento precisa de ser alimentado por um hetero-conhecimento sobre nós mesmos, pois na verdade perde-se muito de nós pela ausência de um outro capaz de nos ajudar e gerir determinadas emoções e a organizar devidamente o pensamento. É das mais comuns experiências em psicoterapia ouvirmos alguém dizer: "De facto nunca tinha pensado nisso...", "Bem... nunca tinha pensado dessa forma..." ou "Puxa, é verdade... nunca me tinha apercebido disso...".
Conhecimento sem integração na personalidade é qualquer coisa como estudar uma disciplina que pode ser interessante do ponto de vista da curiosidade intelectual, mas que não têm um sentido ou aplicação prática para nós ou para a nossa vida. Temos o conhecimento mas não podemos fazer uso prático dele. Desconforto, angustia e sofrimento são na verdade mobilizadores do pensamento e da função de auto-tranformação/auto-atualização da personalidade, apelam à motivação para a mudança e estimulam por isso a predisposição para a integração (recuperação de partes dissociadas, anteriormente não pensáveis, ou intoleradas e rejeitadas da personalidade, com integração em profundidade na personalidade).
Em psicoterapia é frequentemente conseguida, logo nas primeiras sessões, uma compreensão relativamente profunda da psicologia de uma pessoa. Contúdo partilhar essas informações sob forma de interpretações eficazes dependerá da proximidade desses conteúdos em relação ao consciente de algúem. Caso contrário a partilha precoce destas informações importantes pode perder-se (bem como o efeito dirigido à mudança). Encontram-se casos de pessoas que passaram por terapias anteriores e que relatam como lhe foram revelados muitos aspetos profundos delas próprias mas que só posterioremente (frequentemente através de outras psicoterapias) é que conseguiram "perceber" esses aspetos.
Existem também "auto-entraves" ao autoconhecimento. Por vezes temos consciência de uma parte de nós próprios que interfere com a nossa vida ou nos causa sofrimento. Pode tratar-se de um autoconhecimento parcial ou incompleto, ou mesmo servir enquanto forma de nos "atirar areia para os olhos" para não tomarmos consciência de uma eventual vantagem que isso possa ter para nós e para a nossa vida. São benefícios secundários dos sintomas, e logo, resistências à mudança. Há muito de nós que frequentemente não conseguimos ou não estamos preparados para reconhecer... É mesmo assim a natureza da psicologia ou da mente humana.
Há ainda, por exemplo, personalidades cujo espaço interior emocional é (tornou-se) impermeável e logo, a mudança ou a integração não são possíveis (sem que primeiro esse problema seja identificado e trabalhado e psicoterapia, o que não se faz de um dia para o outro...). É o caso de personalidades quem funcionam a partir de um falso eu, uma formação defensiva complexa.
- O maior autoconhecimento surge da relação com o heteroconhecimento
O autoconhecimento precisa de ser alimentado por um hetero-conhecimento sobre nós mesmos, pois na verdade perde-se muito de nós pela ausência de um outro capaz de nos ajudar e gerir determinadas emoções e a organizar devidamente o pensamento. É das mais comuns experiências em psicoterapia ouvirmos alguém dizer: "De facto nunca tinha pensado nisso...", "Bem... nunca tinha pensado dessa forma..." ou "Puxa, é verdade... nunca me tinha apercebido disso...".
Quando uma outra mente pensa connosco, há um acesso a outros conteúdos, a outras perspectivas, e um ganho de profundidade e de sentido diferente sobre nós próprios. Permite que o nosso autoconhecimento seja frequentemente restruturado, atualizado e muitas vezes desbloqueado. A mera presença na nossa vida de um espaço de estimulação à auto-reflexão conjunta (ou pelo menos em que sentimos que o outro está recetivo, interessado, envolvido e capaz de pensar connosco e de nos oferecer perspetivas independentes) permite-nos chegar a conclusões que de outro modo muito dificilmente conseguiriamos sozinhos. Isto é um facto incontornável do qual a psicoterapia faz uso fundamental.
Não se trata de uma absorção e incorporação do conhecimento que vêm do terapeuta ou do analista. É um autoconhecimento filtrado, continuamente refinado e que se constroi a dois, a "duas luzes", uma interior e outra exterior. Esta luz exterior enquanto uma luz dedicada a iluminar e revelar "a retaguarda" e a intensificar a luz própria.
A jornada do autoconhecimento é interminável, feita ao longo de toda a vida. Os percurso interiores para esse auto-conhecimento estão cheios de auto-ilusões.
O ganho do autoconhecimento e sua expressão ao nível das mudanças profundas na personalidade e na vida de uma pessoa são o motivo pelo qual quem faz uma psicanálise completa permaneça em média 7 anos no divã, a uma frequência de 3-5 sessões semanais. As ferramentas e recursos que a psicanálise vai criando internamente numa pessoa (por exemplo a capacidade de nos autoconhecermos continuamente e trabalharmos os "boicotes" e auto-ilusões interiores) tendem a permanecer ao longo de toda a vida, e logo os ganhos e benefícios conseguidos durante a psicanálise continuam a surgir na vida da pessoa mesmo após o fim do processo.
O ganho do autoconhecimento e sua expressão ao nível das mudanças profundas na personalidade e na vida de uma pessoa são o motivo pelo qual quem faz uma psicanálise completa permaneça em média 7 anos no divã, a uma frequência de 3-5 sessões semanais. As ferramentas e recursos que a psicanálise vai criando internamente numa pessoa (por exemplo a capacidade de nos autoconhecermos continuamente e trabalharmos os "boicotes" e auto-ilusões interiores) tendem a permanecer ao longo de toda a vida, e logo os ganhos e benefícios conseguidos durante a psicanálise continuam a surgir na vida da pessoa mesmo após o fim do processo.
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