São estas duas das perguntas
que por vezes os nossos pacientes nos colocam logo nas primeiras sessões. Neste artigo procuro focar uma dimensão particular que por vezes está por detrás da persistência da pergunta, mesmo após ser respondida de várias formas diferentes pelo psicoterapeuta.
Algumas vezes a insistência na pergunta remete para uma dificuldade circunscrita na capacidade da própria pessoa em lidar com as suas emoções mais difíceis, bem como para o não ter encontrado ao longo da vida alguém que ajudasse nesta tarefa, através de uma relação priviligiada (como aquela que a psicoterapia oferece e procura construir). Outras vezes pode surgir também como uma defesa contra o entrar em relação (psicoterapêutica, de cura ou transformação) com o psicólogo, como uma fantasia de se conseguir a formula para a cura, mas um medo/resistência a ser-se curado pela outra pessoa e pela relação com ela (onde a cura reside efetivamente!);
Algumas vezes a insistência na pergunta remete para uma dificuldade circunscrita na capacidade da própria pessoa em lidar com as suas emoções mais difíceis, bem como para o não ter encontrado ao longo da vida alguém que ajudasse nesta tarefa, através de uma relação priviligiada (como aquela que a psicoterapia oferece e procura construir). Outras vezes pode surgir também como uma defesa contra o entrar em relação (psicoterapêutica, de cura ou transformação) com o psicólogo, como uma fantasia de se conseguir a formula para a cura, mas um medo/resistência a ser-se curado pela outra pessoa e pela relação com ela (onde a cura reside efetivamente!);
Ao longo da vida é
importante podermos ir entrando em contacto com as nossas emoções
mais difíceis que existem dentro de nós, mas também com as formas como nos tendemos a
defender delas e com as situações que lhes foram dando origem.
A essência das pessoas
são as suas emoções. Desde a infância os pais (ou outras figuras íntimas)
ajudam as crianças a gerir as suas emoções, a identifica-las e a pensar sobre
elas. Assim se desenvolve progressivamente e ao longo da vida a capacidade
individual da pessoa lidar com as suas emoções, compreende-las e expressa-las.
Por vezes essas primeiras
relações não são capazes de dar uma resposta adequada ou suficiente às emoções
e ao mundo interior da criança. Ou porque os próprios pais têm relativamente
pouco contacto com as suas próprias emoções, ou pouca capacidade de
identifica-las e expressa-las, ou porque se defendem delas, ou porque a
expressão emocional é desvalorizada num determinado contexto familiar, ou
porque vão sendo feitas atribuições erradas às emoções da criança, ou por
outros motivos.
Determinadas situações
carregam também consigo uma carga emocional que por vezes ultrapassa a própria
capacidade do aparelho psiquico de lhes conseguir fazer face, o que resulta em
traumas. Muitas vezes, e em simultâneo, a pessoa não consegue encontrar ao
longo da vida relações que a ajudem com as suas emoções de uma forma que
aquelas primeiras relações não foram capazes de oferecer.
A própria pessoa,
incapaz então de lidar com certas emoções e/ou conflitos internos demasiado
penosos e incapaz de se organizar psicologicamente em torno destes conteúdos,
acaba, numa tentativa desesperada de se livrar da angustia ou da aflição ligada
a essas emoções, por mobilizar defesas
internas que as distorcem e abafam. São estas defesas, aliadas
à incapacidade de se elaborarem devidamente as emoções originais, que resultam em grande medida naquilo que se entende clinicamente por sintomas e psicopatologia. Por vezes cria-se um movimento de apelo e rejeição da ajuda, em simultâneo, como se o ideal fosse conseguir a fórmula para a auto-cura, para fugir ao medo de uma nova abertura à experiência de sermos cuidados pelo outro (pela sua disponibilidade, pela sua antenção, pelo seu interesse e preocupação, pela sua empatia e pela sua sintonia). E por vezes para se fugir ao medo da abertura traumática da relação de ajuda de um passado longínquo.
Quando existem
emoções “não digeridas” dentro de nós, a carga de tensão dessas emoções
tende a fazer-se sentir continuamente de uma ou de outra forma, por mais que as
origens dessas emoções não consigam ser relembradas, sejam distorcidas ou nunca
tenham conseguido ser pensadas ( ligadas a memórias, imagens ou representações,
e posteriormente articuladas por palavras). Nestas circunstâncias, o
acréscimo de ansiedade na vida (por exemplo através de stress ligado a
situações com o trabalho, o fim de uma relação amorosa, um divórcio) pode
facilmente levar a uma colapso do equilibrio defensivo interno, criando uma
crise emocional intensa na vida de uma pessoa, momento em que a própria
procura muitas vezes a psicoterapia. Outras vezes as defesas
intensificam-se de tal forma que acabam por criar todo o tipo de interferências
com a vida, tornando-a inviável ou quase inviável. A somatização das emoções é um exemplo da expressão de emoções muito difíceis e não elaboradas ao nível do corpo (dores, sintomas e doenças físicas que aparecem e desaparecem sem causa médica).