Para os nossos
leitores mais curiosos e interessados sobre a psicoterapia, seus modelos e suas
origens teórico-clínicas, disponibilizamos uma coletânea de curtos vídeos,
individuais, sobre a vida e obra de alguns dos autores que mais influenciaram
o mundo da psicologia e da psicoterapia contemporânea.
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terça-feira, março 08, 2016
domingo, fevereiro 21, 2016
Experiências Adversas na Infância - Calcule o seu índice ACE
Deixamos
aqui mais um artigo sobre as Experiências Adversas de Infância,
enquanto síntese, oferecendo-lhe agora, no final do artigo, a possibilidade de cálculo do seu
índice ACE - Adverse Childhood Experiences.
O estudo sobre as
Experiências Adversas de Infância é
uma investigação megalómana conduzida no âmbito da avaliação da relação
entre, por um lado, maus tratos na infância e, por outro lado, saúde e
qualidade de vida ao longo da vida.
A agressão e negligência física ou emocional precoce muda literalmente quem nós somos. Porém, a psicoterapia pode ajudar.
Se alguma vez se perguntou porque se têm debatido tanto durante tanto tempo com problemas crónicos de saúde física e emocional que simplesmente não desaparecem, sentindo-se como se estivesse a nadar contra uma corrente invisível que nunca cessa, então esta área da pesquisa científica pode oferecer esperança, respostas e perspetivas de cura.
Este estudo epidemiológico em larga escala visou sondar as histórias de 17.000 crianças e adolescentes, comparando as suas experiências de infância com os seus registos de saúde mais tarde na vida adulta. Os resultados foram chocantes: Quase dois terços dos indivíduos tinham sofrido uma ou mais experiências adversas de infância. Estas Experiências Adversas de Infância - ACE - compreendem situações crónicas, imprevisíveis e indutoras de stress que algumas crianças enfrentam. Estas formas de trauma emocional ultrapassam os desafios típicos do crescimento.
Se alguma vez se perguntou porque se têm debatido tanto durante tanto tempo com problemas crónicos de saúde física e emocional que simplesmente não desaparecem, sentindo-se como se estivesse a nadar contra uma corrente invisível que nunca cessa, então esta área da pesquisa científica pode oferecer esperança, respostas e perspetivas de cura.
Este estudo epidemiológico em larga escala visou sondar as histórias de 17.000 crianças e adolescentes, comparando as suas experiências de infância com os seus registos de saúde mais tarde na vida adulta. Os resultados foram chocantes: Quase dois terços dos indivíduos tinham sofrido uma ou mais experiências adversas de infância. Estas Experiências Adversas de Infância - ACE - compreendem situações crónicas, imprevisíveis e indutoras de stress que algumas crianças enfrentam. Estas formas de trauma emocional ultrapassam os desafios típicos do crescimento.
Este estudo (replicado em vários paises), demonstrou que o índice de ACE de cada individuo predizia com precisão surpreendente a quantidade de cuidados médicos que essa pessoa iria necessitar enquanto adulta.
Este estudo demonstra que a vivência de stress tóxico imprevisível e crónico na infância nos predispõe a uma constelação de condições crónicas na adultícia.
- Pessoas com um índice ACE de 4 ou mais apresentavam duas vezes maior probabilidade de diagnóstico de cancro em comparação com as pessoas que não apresentavam historial de ACE.
- Para cada ACE uma mulher apresentava um risco acrescido de 20% relativo à necessidade de hospitalização devido a doença autoimune.
- Alguém com um historial de 4 ACE apresentava 460% maior propensão a sofrer de depressão que alguém sem historial de ACE.
- Um índice de 6 ou mais ACE demonstrou reduzir a vida da pessoa por quase 20 anos.
Este estudo demonstra que a vivência de stress tóxico imprevisível e crónico na infância nos predispõe a uma constelação de condições crónicas na adultícia.
Cálculo do índice ACE
Aconselhamos uma reflexão cuidada e ponderada antes de responder a cada item (por exemplo, responder ao questionario quando estiver sozinho(a), refletindo 2-3 minutos em cada ponto ou subponto).
Antes dos seus 18 anos:
1. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente
2. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente
3. Algum adulto ou pessoa pelo menos 5 anos mais velha alguma vez
4. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que
5. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que
6. Alguma vez os seus pais se separaram ou divorciaram?
7. A sua mãe ou madrasta
8. Viveu com alguém que sofressem de problemas de bebida ou alcoolismo, ou que usasse drogas ilícitas?
9. Algum dos membros de família sofria de depressão ou perturbações psicológicas, ou algum dos membros de família teve tentativas de suicídio?
10. Algum dos membros da família foi preso?
A Soma das suas respostas positivas é o seu índice de Experiências Adversas de Infância (ACE).
1. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente
- A(o) ofendia, a(o) insultava, a(o) menosprezava, a(o) humilhava?
- Agiam de tal forma que a(o) faziam recear ser fisicamente agredida(o)?
2. Algum dos pais ou outro adulto em casa frequentemente ou muito frequentemente
- A(o) empurrava, agarrava, esbofeteava ou atirava objetos contra si?
- Alguma vez lhe bateu de tal forma que gerou marcas ou danos físicos?
3. Algum adulto ou pessoa pelo menos 5 anos mais velha alguma vez
- A(o) tocou ou acariciou ou a(o) levou a tocar o corpo deles de forma sexual
- Tentou ter ou teve relações sexuais orais, anais ou vaginais consigo?
4. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que
- Ninguém na sua família a(o) amava ou pensava que você era importante ou especial?
- Os membros da sua família não se preocupavam pelo bem estar de cada um, se sentiam próximos uns dos outros, ou se apoiavam uns aos outros?
5. Sentia frequentemente ou muito frequentemente que
- Não tinha o suficiente para comer, tinha de usar roupas sujas, e não tinha ninguém que (a)o protegesse?
- Os seus pais estavam demasiado embriagados ou sobre o efeito de drogas para cuidar de si ou leva-lo ao médico caso precisasse?
6. Alguma vez os seus pais se separaram ou divorciaram?
7. A sua mãe ou madrasta
- Era frequentemente ou muito frequentemente empurrada, agarrada, esbofeteada, ou lhe atiravam objetos contra ela?
- Era algumas vezes, frequentemente ou muito frequentemente pontapeada, mordida, batida com murros, ou atingida com objetos pesados?
8. Viveu com alguém que sofressem de problemas de bebida ou alcoolismo, ou que usasse drogas ilícitas?
9. Algum dos membros de família sofria de depressão ou perturbações psicológicas, ou algum dos membros de família teve tentativas de suicídio?
10. Algum dos membros da família foi preso?
A Soma das suas respostas positivas é o seu índice de Experiências Adversas de Infância (ACE).
Fonte | ACE Study CDC Violence Prevention |
segunda-feira, janeiro 18, 2016
Como Ser Romântico: Guia Prático (para homens!)
É o romance assim tão importante para uma relação amorosa e de casal?
Ser romântico será algo assim tão difícil para um homem ?
Para um homem o romantismo da companheira poderá não ser aquilo que
mais o “aquece ou arrefece”, mas para a maioria das mulheres o romance é
fundamental! Ou pelo menos alguma forma de romantismo.
Na história da nossa espécie o papel de conquistador tende a ser atribuído
ao homem, e o papel da entrega, à mulher que ele almeja e deseja. Assim,
enquanto um homem procura e se satisfaz mais com a entrega da sua amada a si e
aos seus esforços de conquista, é natural por sua vez que uma mulher se sinta
atraída ou gradualmente atraída por uma atitude mais arrojada e conquistadora
por parte de um homem, desde que se trate de uma atitude respeitosa e adequada.
A esta esforço de conquista subjaz toda uma valorização de uma mulher, poder
sentir-se desejada, alvo do desejo e do interesse de um ou daquele homem
especificamente. E aqui entra o romantismo.
Ser romântico é conquistar e/ou reconquistar sistematicamente a
mulher amada, conforme o caso. É reencenar continuamente na relação aquele
momento de conquista e entrega, é “manter a chama acesa”, é dar um colorido específico à relação
amorosa e de casal, é expandi-la
e mesmo dotá-la de uma identidade única e privada, da qual ambos são cúmplices.
Assim, o romance aprofunda mesmo a
cumplicidade do casal.
O romance é um jogo (alusão a algo divertido!) específico entre alguém
que procura conquistar e alguém que se vai deixando conquistar. É a encenação
peculiar e própria daquele casal ou díade específicos que alberga duas
individualidades bem distintas que encenam papéis complementares, ele enquanto
conquistador e a ela enquanto alguém que se deixa (ou não) conquistar, contando
ainda com todas as nuances que daqui possam advir! É claro, também, que os
papéis se podem inverter, porém o romantismo de mulher para homem é um assunto
diferente. Muitos homens ainda que possam ser bastante românticos, poderão não
ser particularmente sensíveis a estas iniciativas, e é aqui que o papel da
sensualidade e sedução, por exemplo, acaba muitas vezes por contornar o problema.
Romantismo, sensualidade e sedução não são incompatíveis entre si, todavia para
fins práticos ligados ao intuito deste artigo, é útil neste momento “separar as
águas”.
Ser romântico é surpreender e deslumbrar a nossa companheira com
atitudes e gestos únicos, invulgares, carregados de desejo de impactar muito
positivamente sobre o coração dela. É como que a procura de criar memórias únicas e irrepetíveis na companheira, que por tal se mantêm gravadas no coração
dela para sempre.
Podendo este objetivo ser ou não atingido ou atingível, o importante é
que ele se possa manter enquanto ideal orientador. Assim, eventualmente,
conseguem-se reproduzir momentos e experiências únicas e deliciosas entre duas
pessoas, que detêm todo potencial de perdurar para toda a vida. Isto é muito importante (!), já que no final da vida estas memórias pesam bastante na
avaliação da qualidade da vida que levámos. A maioria de nós têm a experiência
ou memória de ouvir os nossos avós quando nos contavam as histórias das suas
vidas. No final são precisamente estas histórias que perduram no nosso coração.
Bem, caberá a cada qual criar e inovar o seu próprio conceito de
romantismo, na mesma linha que cada qual deverá ter a sua personalidade e
individualidade bem definidas e diferenciadas.
Existem ideias-cliché de
romantismo que, na minha ótica, devem ser usadas apenas enquanto pontos de
partida e alicerces para “aventuras” mais elaboradas, inovadoras e/ou
personalizadas.
Todavia, há sim atitudes, estados “psico-emocionais” e recursos
internos que são de alguma forma transversais à atitude ou ao ato romântico.
São eles os seguintes:
“PLAYFULLNESS OU PRAZER EM BRINCAR”
A maioria de nós tem um hobbie
ou atividade que nos dá realmente prazer e alegria, uma alegria próxima daquilo
que seria voltarmos a ser crianças. Alguns de nós mais afortunados acabam mesmo
por ter o privilégio de sentir esse prazer ligado à própria atividade
profissional. Gostar do que fazemos é, regra geral, vital para uma vida de
qualidade. Enquanto crianças brincamos às profissões, e trabalhamos também a
brincar. Quanto mais esse entusiasmo persistir na vida adulta e nas tarefas da
adultícia, melhor.
No amor e no romance, o mesmo se aplica. Ao sermos românticos, estamos
fundamentalmente a brincar! È somente
com alegria no coração que se pode ser romântico, porque sem alegria, como
é que se consegue tocar verdadeiramente no coração da outra pessoa? Como é que
se consegue gerar aquele entusiasmo que contagia a outra pessoa e a envolve na
“trama” romântica?
Há uma diferença entre, por um lado, podermos cuidar da outra pessoa
quando necessário, respeita-la, sermos atenciosos com ela, e, por outro lado,
sermos verdadeiramente românticos. No primeiro cenário encontram-se as bases da
relação estável. No segundo cenário, o romantismo é um motor de
desenvolvimento, aprofundamento, melhoria e/ou manutenção do nível de qualidade
dessa relação, que idealmente se quer já estável à priori.
É também a partir dessa alegria, dessa atitude de playfullness, de que se alimentam muitas vezes os grandes esforços
românticos, precisamente porque nos movemos a partir da antecipação do prazer que iremos gerar na outra pessoa, no
qual iremos também participar (e já estamos a participar, logo desde o momento
em que nasce a ideia) e do qual iremos também desfrutar juntamente com essa
pessoa.
AUTOESTÍMA
Falamos aqui mais de uma autoestima secundaria, isto é, mais ligada ao
autoconceito de um homem enquanto tal, e não tanto enquanto pessoa, ainda
que de alguma forma eles se interliguem em alguns pontos.
Ao longo da vida vamos procurando agradar aqueles que amamos, sejam os
nossos pais, os nossos irmãos, os nossos amigos, os nossos companheiros e
companheiras, etc.. À medida que vamos observando o resultado dos nossos
esforços e respetiva validação dos mesmos ao longo da vida, cristaliza-se em
nós um sentimento de sermos eficazes em agradar e satisfazer os demais. Na
relação amorosa, esta forma de autoestima ou autoconfiança será o sentimento internalizado de se ser eficaz em agradar,
surpreender e satisfazer a companheira, enquanto homem.
Esta autoconfiança é também de onde emerge a atitude de playfullness. Trata-se de confiança, e
também de um sentido de entusiasmo, ligados ao sentimento de eficácia (prazer
narcísico saudável), neste caso ao serviço do enriquecimento da vida amorosa
(do prazer na relação com o outro).
Na medida em que a outra pessoa é satisfeita pela atitude e ato
romântico, também essa satisfação recai simultaneamente sobre a própria autoestima
do homem e sobre o prazer que ele retira naquela íntimidade com a sua companheira.
ESFORÇO CRIATÍVO
Se há “prazer em brincar” e um sentimento edificado e estável de se ser
eficaz em agradar, surpreender e satisfazer a outra pessoa, então a
criatividade têm portas abertas para poder surgir. O prazer em criar novos
cenários e situações, em diversificar, em surpreender, em viver mais e mais,
alimenta o próprio esforço criativo.
A atitude romântica também se desenvolver e pode amadurecer. Um homem
que conte com uma companheira paciente, não particularmente exigente (crítica)
no que respeita ao amor e solicitações de afeto e romantismo, contará com
melhores condições para que o seu romantismo se possa ir desenvolvendo
prazerosamente e a um ritmo também prazeroso. Exigências, críticas e
solicitações excessivas de afeto ou romantismo tendem a gerar resultados opostos,
de inibição destas atitudes, pois tanto o amor como o romance apenas se podem
dar a partir da vontade livre, e não pelas condicionantes da exigência.
O sentido de humor de ambos
os companheiros também ajuda bastante, pois nem sempre atitudes e atos
românticos correm como esperado, verdade seja dita. Todavia, muitas vezes o
sentido de humor não só salva a situação como algumas vezes torna-a
ainda mais memorável. Que o atestem aqueles que sabem do que falo!
Da próxima vez que decidir viajar com a sua companheira, por exemplo, a
Paris, leve dissimuladamente consigo um pequeno rádio com a valsa preferida
dela. À noite, convide-a para passear junto da Pirâmide Invertida, em frente ao
Museu do Louvre. Coloque o rádio no chão a tocar e convide-a para uma dança!
Vai ver que valerá a pena. O sorriso e o brilho nos olhos dela
dirão tudo. Fica a sugestão, para personalizar a gosto, claro!
segunda-feira, janeiro 04, 2016
Experiências Adversas na Infância: Alterações cerebrais críticas ao longo da vida
Em continuidade com o artigo anterior enunciamos algumas das mais importantes alterações cerebrais ligadas às experiências adversas de infância (EAI), das quais resultam quase sempre o trauma, a psicopatologia e as perturbações de personalidade, mas mais concretamente, a dificuldade crónica em lidar com o presente e com o futuro ao longo da vida.
1. Alterações Epigenéticas
Quando somos sistematicamente empurrados para situações indutoras de stress durante a infância ou a adolescência, a nossa resposta fisiológica ao stress muda para um estado exacerbado, e perdemos a capacidade de responder apropriadamente e eficazmente a futuros stressores – 10, 20, e até 30 anos depois. Isto acontece devido a um processo conhecido como metilação de genes, no qual pequenos marcadores químicos, ou grupos de metilo, aderem aos genes envolvidos na regulação da resposta ao stress, e previnem esses genes de desempenharem as suas funções. À medida que a função destes genes é alterada, a resposta ao stress torna-se reconfigurada para “alta” para a vida, promovendo inflamação e doença.
Isto pode tornar-nos mais propensos a reagir exageradamente aos stressores da vida diária que encontramos na vida adulta – uma conta inesperada para pagar, um desacato com o companheiro, ou um carro que se coloca à nossa frente na auto-estrada, gerando mais inflamação. Isto, por sua vez, predispõe-nos a um corpo de doenças crónicas, incluindo as doenças auto-imunes, doença cardíaca, cancro e depressão.
Os investigadores de Yale descobriram recentemente que as crianças que sofreram stress crónico e tóxico demonstravam alterações “ao longo de todo o genoma”, em genes não apenas responsáveis pela regulação da resposta ao stress, mas também em genes implicados num vasto leque de doenças do adulto. Esta nova pesquisa sobre trauma emocional precoce, alterações epigenéticas, e doenças físicas do adulto quebra demarcações duradouras entre aquilo que a comunidade médica tem sempre considerado ser a doenças “física” em contraposição com aquilo que é “mental” ou “emocional”.
2. Tamanho e Forma do Cérebro
Os cientistas descobriam que quando o cérebro em desenvolvimento é cronicamente sujeito a stress, liberta uma hormona que na verdade reduz o tamanho do hipocampo, uma área do cérebro responsável pelo processamento da emoção, da memória e da gestão do stress. Estudos recentes a partir de técnicas de ressonância magnética sugerem que quanto mais alto o indicador de experiências adversas de infância (EAI), menor a quantidade de matéria cinzenta ele ou ela apresentam noutras áreas-chave do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal, uma área relacionada com a capacidade de tomada de decisão e capacidades de auto-regulação, e a amígdala, ou centro de processamento do medo. As crianças cujos cérebros foram alterado pelas EAIs são mais propensas a tornarem-se adultos que reagem excessivamente a stresses menores.
3. Poda Neural
As crianças têm uma sobreabundância de neurónios e ligações sinápticas; os seus cérebros estão fortemente a trabalhar, a procurar fazer sentido do mundo à volta delas. Até à bem pouco, os cientistas acreditavam que a perda de neurónios em excesso e ligações resultava somente da não utilização dos mesmos, mas um novo advento surgiu, relacionado com o desenvolvimento do cérebro: as células não-neuronais do cérebro, conhecidas como microgliócitos, que constituem um décimo de todas as células do cérebro, e são de facto parte do sistema imunitário – participam no processo de poda neural. Estas células também engolfam e digerem celular inteiras e detritos celulares, desempenhando portanto um papel fundamental de “limpeza da casa”.
Todavia, quando uma criança enfrenta stress crónico inesperado, ou EAIs, os microgliócitos podem passar a funcionar mal e expelir neuroquímicos que resultam em neuroinflamações. Esta neuroinflamação crónica que passa facilmente despercebida pode conduzir a alterações que reconfiguram o tom do cérebro para toda a vida.
Isto significa que as crianças que chegam à adolescência com um historial de adversidade e lhes falta a presença de um adulto consistente e cuidador que os ajude na adversidade, podem tornar-se mais propensos a desenvolver perturbações do humor ou sofrerem comprometimentos nas capacidades de funcionamento executivo e de decisão.
4. Telomeres
O trauma precoce pode dar aparência mais “velha” a uma criança, em termos emocionais, relativamente aos seus colegas da mesma idade. Neste momento, cientistas da Universidade de Duke; Universidade da Califórnia em São Francisco; e da Universidade de Brown descobriram que as EAIs podem envelhecer prematuramente as crianças igualmente a um nível celular. Adultos que enfrentaram traumas precoces demonstram uma maior erosão naquilo que se chamam os telomeres – os invólucros protetores que se encontram no final das cadeias de ADN, como os invólucros dos atacadores de sapatos, para manter o genoma saudável e intacto. À medida que os nossos telomeres se desgastam, ficamos mais propensos a desenvolver doenças, e as nossas células envelhecem mais rapidamente.
Dentro de cada um dos nossos cérebros, uma rede de neurocircuitos, conhecida como o “rede neural em modo padrão”, ressoa silenciosamente, como um carro parado em frente a um semáforo. Une áreas do cérebro associadas com a memória e integração do pensamento, e está sempre em standby, preparada para nos ajudar a perceber o que fazer em seguida. “A conectividade densa nestas áreas do cérebro ajudam-nos a determinar aquilo que é e não é relevante, para que possamos estar preparados para o que quer que o nosso ambiente nos solicite”, explica a neurocientista Ruth Lanius.
Quando as crianças enfrentam adversidade precocemente e são rotineiramente impulsionadas a um estado de luta ou fuga, a rede neural em modo padrão começa a desligar; não ajuda mais a criança a perceber o que é relevante, ou o que precisam fazer em seguida. De acordo com Lanius, as crianças que enfrentaram traumas precoces apresentam menor condutividade na rede neural em modo padrão – mesmo décadas após a ocorrência do trauma. Os seus cérebros aparentam não entrar na posição saudável de prontidão – e por tal, elas podem ter problemas em reagir adequadamente ao mundo em redor.
6. Ligação Cérebro-Corpo
Até há bem pouco tempo, era cientificamente aceite que o cérebro estava separado do sistema imunitário do corpo. Mas parece que tal não é o caso, de acordo com um estudo revolucionário levado a cabo por investigadores da University of Virgina School of Medicine. Os investigadores descobriram que existe um caminho esquivo entre o cérebro e o sistema imunitário, via dos vasos do sistema linfático. O sistema linfático, que incorpora o sistema circulatório, transporta “a linfa” – um liquido que ajuda a eliminar toxinas, e move células imunitárias de um local do corpo para outro. Agora sabemos que o percurso do sistema imunitário inclui o cérebro.
Os resultados deste estudo têm profundas implicações para a pesquisa das EAI. Para uma criança que viveu adversidade, a relação entre o sofrimento mental e físico é forte: os químicos inflamatórios que inundam o corpo da criança quando ela é cronicamente exposta a stress não estão confinados somente ao corpo.
7. Conectividade Cerebral
Ryan Herringa, um neuropsiquiatra e professor assistente de psiquiatria da infância e adolescência, descobriu que as crianças e os adolescentes que vivenciaram adversidade crónica na infância demonstravam ligações neuronais mais fracas entre o córtex pré-frontal e o hipocampo. As raparigas demonstravam também ligações mais fracas entre o córtex pré-frontal e a amígdala. A relação córtex pré-frontal – amígdala desempenha um papel essencial em determinar o quão emocionalmente reativos tenderemos a ser face àquilo que sucede connosco no nosso dia-a-dia, e o quão provável será percebermos essas situações como ansiogénicas ou perigosas.
De acordo com Herringa:
“Se você é uma mulher que enquanto menina vivenciou EAIs, e tal enfraqueceu estas ligações cerebrais, poderá esperar vivenciar um maior nível de medo e ansiedade em quase todas as situações ansiogénicas que encontrar ao longo da vida.”
Estas ligações enfraquecidas relacionam-se com um maior risco de desenvolvimento de ansiedade e depressão durante a adolescência tardia. Isto explica, em parte, o porquê das raparigas apresentarem um risco em dobro de desenvolver perturbações de humor, quando comparadas com rapazes.
Esta ciência pode ser avassaladora, especialmente para aqueles de nós que são pais. Portanto, o que podemos fazer caso você ou um filho que ame foi afetado pela adversidade precoce? As boas notícias são que, à medida que o nosso conhecimento científico aumenta na área da afetação do desenvolvimento cerebral mediante a adversidade, também aumenta o nosso insight científico sobre como oferecer aos nossos filhos uma parentalidade resiliente, e como podemos todos tomar pequenos passos para curar o corpo e a mente. Tal como as feridas e as nódoas negras se curam, tal como podemos reabilitar a tonalidade muscular, também podemos recuperar a função em áreas do cérebro sub-conectadas. O cérebro e o corpo nunca são estáticos; eles encontram-se permanentemente num processo de tornar-se e mudar.
"Tradução livre da Psicronos"
sexta-feira, novembro 13, 2015
Experiências Adversas na Infância: Ligação científica com a doença física e redução da longevidade do adulto
Se alguma vez se
perguntou porque se têm debatido tanto durante tanto tempo com problemas crónicos de saúde física e emocional que simplesmente não desaparecem,
sentindo-se como se estivesse a nadar contra uma corrente invisível que nunca
cessa, então uma nova área da pesquisa científica pode oferecer esperança,
respostas e perspetivas de cura.
Em 1995, os médicos
Vincent Felitti e Robert Anda lançara um estudo epidemiológico em larga escala
que visou sondar as histórias de 17.000 crianças e adolescentes, comparando as
suas experiências de infância com os seus registos de saúde mais tarde na vida
adulta. Os resultados foram chocantes: Quase dois terços dos indivíduos
tinham sofrido uma ou mais experiências adversas de infância. Estas
experiências adversas de infância - EAI. (Adverse Childhood Experiences - ACE)
compreendem situações crónicas, imprevisíveis e indutoras de stress que algumas
crianças enfrentam. Estas incluem crescer num ambiente familiar em que um
dos pais sofre de doença mental (depressão, por exemplo) ou consumo de
substâncias (álcool); perda de um dos pais por divórcio ou outras causas; ou
sofrer humilhações crónicas, negligência emocional, ou abuso físico ou sexual.
Estas formas de trauma emocional ultrapassam os desafios típicos do
crescimento.
O número de EAIs que
cada individuo viveu predizia com precisão surpreendente a quantidade de
cuidados médicos que essa pessoa iria necessitar enquanto adulta.
- Pessoas que tinham
sofrido 4 ou mais EAIs apresentavam duas vezes mais probabilidade de serem
diagnosticadas com cancro em comparação com as pessoas que não apresentavam
historial de EAI.
- Para cada EAI uma
mulher apresentava um risco acrescido de 20% relativo à necessidade de
hospitalização devido a doença autoimune.
- Alguém com um
historial de 4 EAIs mostrava-se 460% (quatrocentos e sessenta por cento) mais propensos
a sofrer de depressão que alguém sem historial de EAIs.
- Um historial de 6
ou mais EAIs demonstrou reduzir a vida da pessoa por quase 20 anos.
Este estudo
demonstra que a vivência de stress
tóxico imprevisível e crónico na infância nos predispõe a uma constelação de
condições crónicas na adultícia.
Atualmente os neurocientistas
estão a conseguir identificar e entender, a um nível bioquímico, exatamente
como o stress que enfrentamos
enquanto somos jovens nos afeta enquanto adultos, alterando os nossos corpos,
as nossas células e mesmo o nosso ADN.
Algumas destas
descobertas científicas podem ser um pouco assustadoras de contemplar. Elas
levam-nos a restruturar a nossa visão sobre como a saúde emocional e física
se encontram íntima e indissociavelmente ligadas.
Na 2ª parte do
artigo abordaremos 7 alterações cerebrais concretas que as EAIs induzem,
ligadas à deterioração da saúde física e redução da longevidade na vida adulta.
"Tradução livre
da Psicronos"
Artigo original em:
https://www.psychologytoday.com/blog/the-last-best-cure/201508/7-ways-childhood-adversity-changes-your-brain
Estudo “Adverse Childhood Experiences” - Center
for Disease Control and Prevention:
http://www.cdc.gov/violenceprevention/acestudy/
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