Para os nossos
leitores mais curiosos e interessados sobre a psicoterapia, seus modelos e suas
origens teórico-clínicas, disponibilizamos uma coletânea de curtos vídeos,
individuais, sobre a vida e obra de alguns dos autores que mais influenciaram
o mundo da psicologia e da psicoterapia contemporânea.
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terça-feira, março 08, 2016
quinta-feira, janeiro 14, 2016
Teste da Realidade, Psicose e Psicopatia
Este artigo prende-se com uma reflexão clínica, psicanalítica, sobre a psicopatia, a perda do teste da realidade que habitualmente acompanha os quadros psicóticos, e pontos de interseção entre ambas as realidades clínicas.
O teste da realidade é tradicionalmente um indicador da presença de
aspetos ligados ao funcionamento psicótico da personalidade. Contudo,
mesmo um indivíduo com organização neurótica de personalidade (com um self
coeso e bem adaptado à realidade, por exemplo) pode, sob condições de stress invulgar,
resvalar, ainda que temporariamente, para um funcionamento mais do âmbito da
psicose, cingido provavelmente a um contexto específico, e falhar o teste da realidade nesse contexto ou ligado a essa situação (por exemplo, situações traumáticas). Uma personalidade neurótica não está
imune de conter núcleos psicóticos, e tal tende a ser muitas vezes onde se
encontra a raiz do maior sofrimento e das maiores incapacidades na vida de uma pessoa.
Falamos aqui sobretudo em organização de personalidade – psicossomática,
psicótica, borderline, neurótica e normal. A psicopatia está mais ligada à estrutura da personalidade (depressiva, narcísica, psicopata,
etc.), ainda que se possa pensar em articulação com a organização de
personalidade.
Alguns autores inclusive removem a categoria da psicose e chamam-lhe
esquizofrenia borderline (ver o PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual), referindo-se a perturbações graves do teste
da realidade, por exemplo.
O teste da realidade também está relacionado com o quão compensado está
ou não determinado indivíduo. Alguém que sofra de uma patologia mental
relativamente grave pode não apresentar falhas no teste da realidade, desde que
se encontre em estado compensado. Contudo o equilíbrio psicológico será frágil, a
vulnerabilidade ao stress será maior e a propensão à descompensação e à perda
do contacto com a realidade (por exemplo, a criação de uma realidade interna, fantasiada,
mais tolerável e menos ameaçadora, ainda que diferente e incompatível com a
realidade externa) é grande.
Quanto maior a predominância, numa dada personalidade, de uma parte psicótica, maior
a probabilidade de perda do teste da realidade aquando do stress. Outras vezes
essa perda do teste da realidade está ligada a situações/conflitos específicos, aos tais núcleos mais frágeis/traumatizados/psicóticos da personalidade.
Sobre a psicopatia e o teste da realidade
A maioria de nós têm traços de uma ou outra perturbação de
personalidade (entidades clínicas nosologicamente definidas). Alguns autores
consideram que a estrutura psicopata pertence ao âmbito da organização
psicótica da personalidade.
Todavia é possível que traços psicopatas existam noutros níveis superiores
de organização da personalidade, pelo que nesses casos não falaríamos de
psicopatia, mas de tendências psicopatas em quadros de maior salvaguarda do
teste da realidade.
Portanto, tanto pessoas com quadros psicopatas como pessoas com quadros
psicóticos podem manter o teste da realidade, desde que compensadas. Ou pelo
menos manter o teste da realidade na maioria das áreas do funcionamento
profissional, interpessoal e das tarefas do quotidiano.
Relação entre psicose e a psicopatia
Se considerarmos o exemplo de patologia psicótica pura e da patologia
psicopata pura, então provávelmente estamos a falar de problemas diferentes,
ainda que se possam relacionar entre si ou sobrepor em alguns aspetos. Na
psicose predominam, por exemplo, os mecanismos da clivagem do self e projeção de partes do self
para fora do self, para o mundo exterior e para outros exteriores (mas também para dentro do próprio self, como são o caso dos delírios de ruína e hipocondria). Um outro marco da psicose são as transferências psicóticas
(transferem-se partes do self e do mundo interno do self para outras pessoas,
sem qualquer sentido de juízo crítico sobre a veracidade das imagens distorcidas dos
outros criadas pelo efeito da projeção). Isto pressupões que no interior da
pessoa psicótica exista algo de bom, que o aparelho psíquico tenta a todo o
custo salvar no intuito da sobrevivência psicológica. Na psicose, o ódio (a
agressividade destrutiva) predomina sobre a líbido (o amor), conflito fundamental que da
azo aos processos psicóticos, de acordo com algumas perspetivas psicodinâmicas. Essa luta é tal forma feroz que o próprio
self se pode mesmo fragmentar - medo de enloquecer - no sentido de salvar a (escassa) benevolência interna ameaçada.
Já na psicopatia (pura), que implica a deterioração grave ou ausência dessa
benevolência interior de modo a garantir a sobrevivência psicológica, dá-se a total
identificação com o mau (a agressividade, o ódio). Não há processos psicóticos
de clivagem e projeção, pois estes apenas existem para a preservação das partes
boas da personalidade. Não há transferência psicótica, mas sim transferência
psicopata, anterior (mais primitiva) à transferência psicótica. A
transferência psicopata prende-se com a manipulação da outra pessoa (ou pior),
no sentido deliberado de prejudica-la ou levar a melhor sobre ela, com completa
ausência de remorso. Há a preservação do teste da realidade – o psicopata está
particularmente bem sintonizado com o funcionamento prático da realidade,
interessam-lhe os fins práticos de conseguir poder, no geral ou sobre os
outros, e a fuga à responsabilidade.
No psicopata não há bússola moral ou empatia, estes são aspetos
marcantes da realidade das relações humanas que os psicopatas não conseguem processar.
Se incluirmos estes conceitos no âmbito de “teste da realidade” (ainda que o
teste da realidade se refira mais a fenómenos de delírios, alucinações,
pensamento mágico, crenças bizarras e ideias de referência) então os psicopatas
falham nesse teste, ainda que se mantenham particularmente astutos para a
componente prática do funcionamento da realidade. Os três traços psicopatas de
uma forma geral são a manipulação, a mentira e os fins egoístas, e também a incapacidade para a honestidade, a não ser que essa honestidade se ligue de alguma forma
a algum destes fins ou à necessidade de manutenção de um sentido de omnipotência, de manipulação ou obtenção de poder, mas tal é pouco provável.
Por sua vez podemos considerar a convicção do psicopata de que pode
fazer com que tudo aconteça, uma convicção próxima da perda do contacto com a realidade, no
sentido de uma imagem omnipotente e logo, psicótica, de si mesmo, se bem que o
psicopata não se fica pela convicção, mas busca ativamente o poder. Sabe-se até que
a busca pelo poder é um traço de deterioração grave de personalidade e o
psicopata procura-o ativamente, quer o poder sobre os outros, ou outro tipo ou
forma de poder. Daí que na verdade, e muitas vezes, o poder que os psicopatas
detêm é real e dá sustento a uma imagem omnipotente, toda poderosa, de si mesmos.
Para um psicopata não há pior que ser diminuído ou de alguma forma ser atacado
na sua convicção de omnipotência. Em contexto forense, uma das técnicas para
levar um psicopata a confessar um crime é precisamente confronta-lo com
descrença sobre a sua capacidade para elaborar e levar a cabo o dito crime.
Muitas vezes o psicopata acaba por confessar por uma questão de orgulho, ou
necessidade de proteção desse eu mais omnipotente (aqui sim, um delíro de grandiosidade, uma perda do teste da realidade relacionada com a imagem de si mesmo, algumas vezes dificil de perceber pois está misturada com poder real). Na política, por exemplo,
alguém com tendências psicopatas poderá por exemplo ser sentido enquanto alguém
que projeta força e confiança, no entanto esses aspetos tendem a ser
acompanhados por frieza, ausência de remorso e ausência de vulnerabilidades, que suscita nas outras pessoas por vezes um sentimento de se estar na presença de alguém como que
todo-poderoso. Os psicopatas são também muito frequentemente encontrados em
altos cargos nas chefias de algumas empresas, como nas grandes empresas e
grupos financeiros. Estes são os psicopatas passivos, menos agressivos, mas
muitas vezes muito mais destrutivos.
Psicopatas mais inteligentes (mais adaptados socialmente) podem
efetivamente conseguir altos cargos no poder, a todos os níveis. Neste caso não
só mantêm o teste da realidade (pelos menos na área profissional, por exemplo)
como podem mesmo ser bastante bem sucedidos.
Em psicoterapia um ganho terapêutico no trabalho com perturbações
psicopatas acontece por exemplo quando estas pessoas se tornam um pouco mais psicóticas, ou seja, quando conseguem começar a desconfiar do terapeuta –
passam de uma transferência psicopata para uma transferência psicótica
paranoide. Tal já denota a existência de algo de bom dentro da pessoa, que para ser preservado, leva com que a pessoa expulse (projete) as partes más.
Mais grave que a psicopatia é ainda a perturbação sádica da
personalidade, onde a experiência subjetiva da pessoa é a de morte interna e
subsequente necessidade de dominar, controlar absolutamente, atormentar e
destruir os outros. Não existem até à data psicoterapias de sucesso com
pacientes com perturbações sádicas de personalidade. Todas as psicoterapias
conduzidas a estes pacientes são conduzidas já em contexto prisional.
Em suma, a psicopatia ou aspetos da psicologia psicopata podem ser pensados como patologia isolada e em
estado puro (raramente assim surge em consultório), como podem surgir, em
maior ou menor grau, misturados com sintomatologia psicótica, borderline ou até com níveis de funcionameto mental mais evoluídos.
sábado, outubro 17, 2015
Amor romântico e amor genuíno (Budismo, Psicanálise, Narcisismo e Amor)
Enquanto alguém que pratica e estuda filosofia budista e psicanálise, acho que ambas as disciplinas se debruçam bastante sobre este tema. Gosto particularmente de como a psicanálise organiza estas ideias.
"Amor (love)" e "Apego(attachment)" para a psicanálise não são contraditórios de facto. Outro termo para "attachment é "vínculo". No principio um bebé é amado (o banho de sedução mútua que o bebé interioriza pelo olhar de amor e fascínio da mãe, por exemplo). Depois passa a amar-se. Finalmente, ama. No fundo falamos de narcisismo, da evolução do narcisismo, do amor narcísico, interesseiro, para o amor oblativo, generoso.
Freud falava deste mistério em como nas relações amorosas investir no outro levaria a um empobrecimento do Eu, porque a nossa energia deixava em grande medida de estar em nós e passava para o outro. Depois constatou que para não nos esvaziarmos, o investimento amoroso no outro tem de ser recíproco. É o amor do outro que nos alimenta numa relação amorosa.
Contudo, o amor maduro implica sempre um investimento em nós (narcísico-normativo) e no outro em simultâneo. Pelo que para um amor maduro, há que ter um narcisismo saudável (um amor próprio ou auto-consideração maduros e auto-reguláveis, entre outras coisas). Nas relações em que um dá muito e o outro dá muito pouco, temos uma economia depressígena - aquele que recebe pouco ir-se-á esvaziando e tal conduz à depressão (ou o reavivar da depressão latente).
Amor sem interesse é generosidade, base da capacidade de amar, e requer um bom desenvolvimento do narcisismo com acesso à capacidade de gratidão.
Todavia os vínculos amorosos saudáveis implicam a entrega, e por tal, isso implica que ao nos entregarmos, também estamos a abrir-nos a receber do outro. Não vivemos ou podemos sobreviver isolados dos afetos dos outros, sobrevivemos disso, e a falta de tal marca a psicopatologia. Aqui sim, quando o narcisismo é deficitário, quando o bebé e a criança não recebem na medida daquilo que necessitam, o amor narcísico, interesseiro, pode ser a única modalidade de amor que fica acessível na idade adulta, enquanto expressão de problemas oriundos de uma época de vida em que se precisou de algo mais, mas não se consegui receber o suficientemente, por algum motivo. Aqui o "attachment" é "grasp" (apego), é dependência porque se procura no outro algo que outrora não se recebeu. Nem se pode receber deste outro (quando a falta/falha é significativa e persistente), pois tal a carência remete para questões ligadas ao desenvolvimento psicológico e da personalidade, e tal dimensão da experiência humana não pertence às relações amorosas, mas às relações parentais ou às relações psicoterapêuticas.
Estas faltas são dos maiores contribuintes para o medo acentuado da perda. Ama-se interesseiramente, ama-se para se ser amado ou admirado, ou para estar associado àqueles que são alvo de admiração e prestígio. Ama-se para se ser amado ou para não se ser abandonado. Ou ama-se meramente enquanto reforço para a identidade (o outro tem características que nos conferem um sentido de identidade reforçada quando nos associamos a ele). Procuramos então encher-nos tornando os outros apêndices de nós mesmos. Muitas vezes o orgulho ou a vergonha no companheiro atestam bem esta realidade. O outro serve (ainda que por vezes não exclusivamente, e apenas em parte) uma função de restaurar e repor a autoestima.
Neste terreno do amor narcísico é também onde surgem as idealizações mais patológicas. O amor implica uma certa idealização inicial, contudo no amor narcísico a idealização é forte e não tolera nada bem a realidade do outro, que não pode ser amado tal como é mas apenas ou sobretudo pela função que desempenha. Tal é o caso, por exemplo, das mães e pais que desaprovam dos filhos toda a vez que estes não correspondem às suas expetativas, ou se desiludem constantemente com eles. Filhos que acabam por não poder ser muitas vezes eles próprios (aceites, validados e amados enquanto tal), herdando uma ferida narcísica profunda.
No caso dos filhos há sempre um amor narcísico à mistura, ainda que possa predominar o amor oblativo, pois na prática os filhos são mesmo extensão dos pais, partilham o mesmo ADN! É uma realidade normativa ainda que implique, de forma a que mantenha os contornos saudáveis desejados, uma capacidade de diferenciação dos desejos dos pais e da autonomia, identidada e desejos dos filhos. Tal como também são normativas certas necessidades narcísicas humanas, que perduram ao longo da vida - pertencer a grupos com os mesmos interesses e valores, sermos validados no trabalho, sermos compreendidos pelos amigos.
Amar oblativamente sem exigir nada em troca é o ideal, contudo apenas é possível se em troca recebermos o mesmo tipo de amor. Parece contraditório pois há uma expetativa de retorno, que poderíamos apelidar de narcísica, ainda que, mais uma vez, nós de facto vivemos de afetos e sem eles afundamos na depressão, ou pior. O amor sem exigir - "amo-te e por tal quero que sejas feliz"- para se manter subentende a entrega genuína e o encontro com um outro que também esteja disposto a amar sem exigir. Mas também podemos pensar que no ideal maduro de alguém que ama genuinamente está gravado o valor de fazer o companheiro feliz, e desta forma, dar felicidade ao outro também nos dá felicidade, de um modo narcísico, mas saudável, pois é a realização de um ideal nosso, um valor nosso ideossincrático. Ao mesmo tempo vamos também captando o amor que o outro nos dá. Por sua vez quando recebemos sentimos gratidão e tal dá azo à generosidade, ou seja à vontade de dar mais amor ainda! É uma espiral de amor que se gera, sem exigência, baseada num bom desenvolvimento do narcisismo de parte a parte e no crescente desejo de dar que advém da experiência do receber.
quarta-feira, agosto 05, 2015
Como Apaziguar uma Zanga de Casal (II)
Contenção da ansiedade, transformação e devolução sob forma de cuidados e afeto |
Estados emocionais/mentais de propensão ao conflito destrutivo em casal
- Perda interna do
contacto com o bem-querer e com o amor da outra pessoa em relação a nós
- Perda interna do
contacto com as boas coisas que recebemos e vivemos com a outra pessoa
- Perda interna do
contacto com o nosso bem-querer e amor pela outra pessoa
- Precipitação ao
encontro confrontativo com a outra pessoa (no real ou na fantasia)
- Estado de grande excitabilidade
e/ou zanga interior
- Propensão forte para
culpar, criticar ou "sentenciar"
- Perda interna do
contacto com a própria quota parte de responsabilidade
- Impermeabilidade aos argumentos da outra pessoa, por vezes sentidos como fuga à responsabilidade ("saltitar" de tema em tema sem serem aceitas argumentos ou resoluções válidas, trazer outros assuntos ao de cima não relacionados diretamente com o assunto atual)
- Impermeabilidade aos argumentos da outra pessoa, por vezes sentidos como fuga à responsabilidade ("saltitar" de tema em tema sem serem aceitas argumentos ou resoluções válidas, trazer outros assuntos ao de cima não relacionados diretamente com o assunto atual)
- Ausência de
culpabilidade ou remorso pelos ataques inflingidos
O que nunca fazer
durante uma zanga de casal
Culpabilizar ou
criticar
Todo o cerne da
discussão que se transforma em zanga acesa está alicerçado num estado emocional
em que a ansiedade não pode ser tolerada naquele momento, por uma ou ambas as partes. Culpabilizar,
responsabilizar ou sentenciar é o equivalente a atirar gasolina para a fogueira.
Antes, cada um dos parceiros deve expor os seus sentimentos, de modo a deixar que a outra parte possa perceber por si mesma o efeito das suas atitudes e comportamentos sobre a relação ou sobre o outro, sem que isso seja atirado violentamente. Caso contrário tal irá resultar numa rejeição imediata e num atirar as culpas de volta, mesmo que os argumentos sejam totalmente válidos. O que está em causa não é a veracidade de argumentos, mas a própria capacidade da mente de tolerar, processar e integrar essas responsabilidades, que por vezes fica comprometida e necessita ser recuperada antes que se possa chegar a um qualquer entendimento entre duas pessoas.
Antes, cada um dos parceiros deve expor os seus sentimentos, de modo a deixar que a outra parte possa perceber por si mesma o efeito das suas atitudes e comportamentos sobre a relação ou sobre o outro, sem que isso seja atirado violentamente. Caso contrário tal irá resultar numa rejeição imediata e num atirar as culpas de volta, mesmo que os argumentos sejam totalmente válidos. O que está em causa não é a veracidade de argumentos, mas a própria capacidade da mente de tolerar, processar e integrar essas responsabilidades, que por vezes fica comprometida e necessita ser recuperada antes que se possa chegar a um qualquer entendimento entre duas pessoas.
Procurar resolver
por SMS
Toda a dinâmica da contenção
assenta na necessidade de existir alguém que possa permanecer relativamente tranquilo (mas
não necessariamente indiferente) face à ansiedade e conteúdos de outra pessoa,
que naquele momento não consegue conter ou transformar internamente essas
ansiedades. O tom de voz tranquilo que veicula a paciência compreensiva é a
base desta contenção. O SMS é o seu antípoda. Ou seja, a pessoa zangada pode projetar facilmente a ansiedade e zanga no SMS (que representa a outra pessoa, mas não é
a pessoa). Assim, salvo exceções, o SMS tenderá a ser percebido e recebido de acordo com os mesmos tons emocionais negativos em que a pessoa ansiosa e zangada se encontra.
Novamente, gasolina para a fogueira.
Descurar a
responsabilidade pessoal sobre o assunto ou assuntos entre mãos
Um casal é uma união
entre duas pessoas. Um problema de casal é um problema de duas partes e se há
conflitos então há responsabilidades partilhadas e/ou assuntos que necessitam
ser melhor esclarecidos.
Sair abruptamente
da presença da outra pessoa
Algumas pessoas
evitam o confronto sistematicamente enquanto forma padrão de resolver
problemas, pelo que na verdade nada se resolve, antes pelo contrário, os
problemas acumulam e levam inevitavelmente a novas situações de confronto.
Adiar o conflito é
por vezes uma importante atitude de auto-preservação quando somos apanhados de
surpresa, quando a outra pessoa se mostra inflexível, demasiado agressiva, ou não
está de modo nenhum recetiva à resolução do problema. É também importante
procurar transmitir à outra pessoa quando percebemos que não estamos em
condições de abordar determinados assuntos em determinados momentos, o
que se prende com o conhecimento e respeito pelos nossos limites e está em
linha com o nosso intuito de abordarmos assuntos mais sensíveis num momento
mais propício a que se possam resolver da melhor forma possível.
Acontece também
algumas vezes que a primeira pessoa tenha mais dificuldade em adiar o confronto
para um momento mais propício, pela zanga e pela dificuldade na contenção
naquele momento. Ainda assim, assuntos sensíveis devem sempre ser abordados de
forma assertiva e sempre no momento em que ambas os companheiros se sintam mais
capazes para lidar com eles. Caso contrário o potencial para a destrutividade é
muito elevado.
Em suma, quando duas
pessoas numa relação íntima iniciam uma discussão que aumenta gradualmente de
intensidade, então das duas, uma: ou há um "time-out",
fundamental para que ambos se tranquilizem e consigam regressar a um estado de
maior integração, ou então pelo menos uma das pessoas deve conseguir manter
alguma calma, recetividade e paciência compreensiva, de modo a conter a
ansiedade e os conteúdos da outra pessoa e ajuda-la a acalmar-se, sem
responsabilizar, culpar, retaliar ou abandonar.
No caso do time-out,
os amigos e familiares são fundamentais para nos ajudarem a desintoxicar
estados pesados de ansiedade, quando não conseguimos faze-lo sozinhos, ou
quando por algum motivo a comunicação imediata com o companheiro não é possível
ou não é prudente.
Quando as relações
são marcadas pelas discussões persistentes, pela incapacidade de um ou ambos os
companheiros se acalmarem mutuamente e sobretudo a si próprios, então a
psicoterapia (individual ou de casal) deve ser considerada.
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