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segunda-feira, janeiro 04, 2016

Experiências Adversas na Infância: Alterações cerebrais críticas ao longo da vida


Em continuidade com o artigo anterior enunciamos algumas das mais importantes alterações cerebrais ligadas às experiências adversas de infância (EAI), das quais resultam quase sempre o trauma, a psicopatologia e as perturbações de personalidade, mas mais concretamente, a dificuldade crónica em lidar com o presente e com o futuro ao longo da vida.


1. Alterações Epigenéticas

Quando somos sistematicamente empurrados para situações indutoras de stress durante a infância ou a adolescência, a nossa resposta fisiológica ao stress muda para um estado exacerbado, e perdemos a capacidade de responder apropriadamente e eficazmente a futuros stressores – 10, 20, e até 30 anos depois. Isto acontece devido a um processo conhecido como metilação de genes, no qual pequenos marcadores químicos, ou grupos de metilo, aderem aos genes envolvidos na regulação da resposta ao stress, e previnem esses genes de desempenharem as suas funções. À medida que a função destes genes é alterada, a resposta ao stress torna-se reconfigurada para “alta” para a vida, promovendo inflamação e doença.
Isto pode tornar-nos mais propensos a reagir exageradamente aos stressores da vida diária que encontramos na vida adulta – uma conta inesperada para pagar, um desacato com o companheiro, ou um carro que se coloca à nossa frente na auto-estrada, gerando mais inflamação. Isto, por sua vez, predispõe-nos a um corpo de doenças crónicas, incluindo as doenças auto-imunes, doença cardíaca, cancro e depressão.

Os investigadores de Yale descobriram recentemente que as crianças que sofreram stress crónico e tóxico demonstravam alterações “ao longo de todo o genoma”, em genes não apenas responsáveis pela regulação da resposta ao stress, mas também em genes implicados num vasto leque de doenças do adulto. Esta nova pesquisa sobre trauma emocional precoce, alterações epigenéticas, e doenças físicas do adulto quebra demarcações duradouras entre aquilo que a comunidade médica tem sempre considerado ser a doenças “física” em contraposição com aquilo que é “mental” ou “emocional”.

2. Tamanho e Forma do Cérebro

Os cientistas descobriam que quando o cérebro em desenvolvimento é cronicamente sujeito a stress, liberta uma hormona que na verdade reduz o tamanho do hipocampo, uma área do cérebro responsável pelo processamento da emoção, da memória e da gestão do stress. Estudos recentes a partir de técnicas de ressonância magnética sugerem que quanto mais alto o indicador de experiências adversas de infância (EAI), menor a quantidade de matéria cinzenta ele ou ela apresentam noutras áreas-chave do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal, uma área relacionada com a capacidade de tomada de decisão e capacidades de auto-regulação, e a amígdala, ou centro de processamento do medo. As crianças cujos cérebros foram alterado pelas EAIs são mais propensas a tornarem-se adultos que reagem excessivamente a stresses menores.

3. Poda Neural

As crianças têm uma sobreabundância de neurónios e ligações sinápticas; os seus cérebros estão fortemente a trabalhar, a procurar fazer sentido do mundo à volta delas. Até à bem pouco, os cientistas acreditavam que a perda de neurónios em excesso e ligações resultava somente da não utilização dos mesmos, mas um novo advento surgiu, relacionado com o desenvolvimento do cérebro: as células não-neuronais do cérebro, conhecidas como microgliócitos, que constituem um décimo de todas as células do cérebro, e são de facto parte do sistema imunitário – participam no processo de poda neural. Estas células também engolfam e digerem celular inteiras e detritos celulares, desempenhando portanto um papel fundamental de “limpeza da casa”.

Todavia, quando uma criança enfrenta stress crónico inesperado, ou EAIs, os microgliócitos podem passar a funcionar mal e expelir neuroquímicos que resultam em neuroinflamações. Esta neuroinflamação crónica que passa facilmente despercebida pode conduzir a alterações que reconfiguram o tom do cérebro para toda a vida.

Isto significa que as crianças que chegam à adolescência com um historial de adversidade e lhes falta a presença de um adulto consistente e cuidador que os ajude na adversidade, podem tornar-se mais propensos a desenvolver perturbações do humor ou sofrerem comprometimentos nas capacidades de funcionamento executivo e de decisão.

4. Telomeres

O trauma precoce pode dar aparência mais “velha” a uma criança, em termos emocionais, relativamente aos seus colegas da mesma idade. Neste momento, cientistas da Universidade de Duke; Universidade da Califórnia em São Francisco; e da Universidade de Brown descobriram que as EAIs podem envelhecer prematuramente as crianças igualmente a um nível celular. Adultos que enfrentaram traumas precoces demonstram uma maior erosão naquilo que se chamam os telomeres – os invólucros protetores que se encontram no final das cadeias de ADN, como os invólucros dos atacadores de sapatos, para manter o genoma saudável e intacto. À medida que os nossos telomeres se desgastam, ficamos mais propensos a desenvolver doenças, e as nossas células envelhecem mais rapidamente.

5. Rede neural em modo padrão (Default Mode Network)

Dentro de cada um dos nossos cérebros, uma rede de neurocircuitos, conhecida como o “rede neural em modo padrão”, ressoa silenciosamente, como um carro parado em frente a um semáforo. Une áreas do cérebro associadas com a memória e integração do pensamento, e está sempre em standby, preparada para nos ajudar a perceber o que fazer em seguida. “A conectividade densa nestas áreas do cérebro ajudam-nos a determinar aquilo que é e não é relevante, para que possamos estar preparados para o que quer que o nosso ambiente nos solicite”, explica a neurocientista Ruth Lanius.

Quando as crianças enfrentam adversidade precocemente e são rotineiramente impulsionadas a um estado de luta ou fuga, a rede neural em modo padrão começa a desligar; não ajuda mais a criança a perceber o que é relevante, ou o que precisam fazer em seguida. De acordo com Lanius, as crianças que enfrentaram traumas precoces apresentam menor condutividade na rede neural em modo padrão – mesmo décadas após a ocorrência do trauma. Os seus cérebros aparentam não entrar na posição saudável de prontidão – e por tal, elas podem ter problemas em reagir adequadamente ao mundo em redor.

6. Ligação Cérebro-Corpo

Até há bem pouco tempo, era cientificamente aceite que o cérebro estava separado do sistema imunitário do corpo. Mas parece que tal não é o caso, de acordo com um estudo revolucionário levado a cabo por investigadores da University of Virgina School of Medicine. Os investigadores descobriram que existe um caminho esquivo entre o cérebro e o sistema imunitário, via dos vasos do sistema linfático. O sistema linfático, que incorpora o sistema circulatório, transporta “a linfa” – um liquido que ajuda a eliminar toxinas, e move células imunitárias de um local do corpo para outro. Agora sabemos que o percurso do sistema imunitário inclui o cérebro.

Os resultados deste estudo têm profundas implicações para a pesquisa das EAI. Para uma criança que viveu adversidade, a relação entre o sofrimento mental e físico é forte: os químicos inflamatórios que inundam o corpo da criança quando ela é cronicamente exposta a stress não estão confinados somente ao corpo.

7. Conectividade Cerebral

Ryan Herringa, um neuropsiquiatra e professor assistente de psiquiatria da infância e adolescência, descobriu que as crianças e os adolescentes que vivenciaram adversidade crónica na infância demonstravam ligações neuronais mais fracas entre o córtex pré-frontal e o hipocampo. As raparigas demonstravam também ligações mais fracas entre o córtex pré-frontal e a amígdala. A relação córtex pré-frontal – amígdala desempenha um papel essencial em determinar o quão emocionalmente reativos tenderemos a ser face àquilo que sucede connosco no nosso dia-a-dia, e o quão provável será percebermos essas situações como ansiogénicas ou perigosas.

De acordo com Herringa:

“Se você é uma mulher que enquanto menina vivenciou EAIs, e tal enfraqueceu estas ligações cerebrais, poderá esperar vivenciar um maior nível de medo e ansiedade em quase todas as situações ansiogénicas que encontrar ao longo da vida.”

Estas ligações enfraquecidas relacionam-se com um maior risco de desenvolvimento de ansiedade e depressão durante a adolescência tardia. Isto explica, em parte, o porquê das raparigas apresentarem um risco em dobro de desenvolver perturbações de humor, quando comparadas com rapazes.

Esta ciência pode ser avassaladora, especialmente para aqueles de nós que são pais. Portanto, o que podemos fazer caso você ou um filho que ame foi afetado pela adversidade precoce? As boas notícias são que, à medida que o nosso conhecimento científico aumenta na área da afetação do desenvolvimento cerebral mediante a adversidade, também aumenta o nosso insight científico sobre como oferecer aos nossos filhos uma parentalidade resiliente, e como podemos todos tomar pequenos passos para curar o corpo e a mente. Tal como as feridas e as nódoas negras se curam, tal como podemos reabilitar a tonalidade muscular, também podemos recuperar a função em áreas do cérebro sub-conectadas. O cérebro e o corpo nunca são estáticos; eles encontram-se permanentemente num processo de tornar-se e mudar.

"Tradução livre da Psicronos"

sexta-feira, novembro 13, 2015

Experiências Adversas na Infância: Ligação científica com a doença física e redução da longevidade do adulto



O trauma emocional precoce muda quem nós somos.

Se alguma vez se perguntou porque se têm debatido tanto durante tanto tempo com problemas crónicos de saúde física e emocional que simplesmente não desaparecem, sentindo-se como se estivesse a nadar contra uma corrente invisível que nunca cessa, então uma nova área da pesquisa científica pode oferecer esperança, respostas e perspetivas de cura.

Em 1995, os médicos Vincent Felitti e Robert Anda lançara um estudo epidemiológico em larga escala que visou sondar as histórias de 17.000 crianças e adolescentes, comparando as suas experiências de infância com os seus registos de saúde mais tarde na vida adulta. Os resultados foram chocantes: Quase dois terços dos indivíduos tinham sofrido uma ou mais experiências adversas de infância. Estas experiências adversas de infância - EAI. (Adverse Childhood Experiences - ACE) compreendem situações crónicas, imprevisíveis e indutoras de stress que algumas crianças enfrentam. Estas incluem crescer num ambiente familiar em que um dos pais sofre de doença mental (depressão, por exemplo) ou consumo de substâncias (álcool); perda de um dos pais por divórcio ou outras causas; ou sofrer humilhações crónicas, negligência emocional, ou abuso físico ou sexual. Estas formas de trauma emocional ultrapassam os desafios típicos do crescimento.

O número de EAIs que cada individuo viveu predizia com precisão surpreendente a quantidade de cuidados médicos que essa pessoa iria necessitar enquanto adulta.

- Pessoas que tinham sofrido 4 ou mais EAIs apresentavam duas vezes mais probabilidade de serem diagnosticadas com cancro em comparação com as pessoas que não apresentavam historial de EAI.

- Para cada EAI uma mulher apresentava um risco acrescido de 20% relativo à necessidade de hospitalização devido a doença autoimune.

- Alguém com um historial de 4 EAIs mostrava-se 460% (quatrocentos e sessenta por cento) mais propensos a sofrer de depressão que alguém sem historial de EAIs.

- Um historial de 6 ou mais EAIs demonstrou reduzir a vida da pessoa por quase 20 anos.

Este estudo demonstra que a vivência de stress tóxico imprevisível e crónico na infância nos predispõe a uma constelação de condições crónicas na adultícia.

Atualmente os neurocientistas estão a conseguir identificar e entender, a um nível bioquímico, exatamente como o stress que enfrentamos enquanto somos jovens nos afeta enquanto adultos, alterando os nossos corpos, as nossas células e mesmo o nosso ADN.

Algumas destas descobertas científicas podem ser um pouco assustadoras de contemplar. Elas levam-nos a restruturar a nossa visão sobre como a saúde emocional e física se encontram íntima e indissociavelmente ligadas.

Na 2ª parte do artigo abordaremos 7 alterações cerebrais concretas que as EAIs induzem, ligadas à deterioração da saúde física e redução da longevidade na vida adulta.

"Tradução livre da Psicronos"

Artigo original em:
https://www.psychologytoday.com/blog/the-last-best-cure/201508/7-ways-childhood-adversity-changes-your-brain

Estudo “Adverse Childhood Experiences” - Center for Disease Control and Prevention:
http://www.cdc.gov/violenceprevention/acestudy/


segunda-feira, maio 26, 2014

DEIXAR A FRALDA DURANTE O DIA


Deixar as fraldas e aprender a usar a casa de banho é um grande passo no desenvolvimento da criança. Se para algumas crianças é um passo fácil, para outras é um desafio que implica muita paciência dos pais!


Até aos 2 anos, raras são as crianças que conseguem reconhecer a necessidade de ir à casa de banho e responder de acordo com isso. Assim, iniciar o treino prematuro poderá trazer apenas frustração e ansiedade. Não existe uma altura certa, pois cada criança tem um ritmo diferente, mas espera-se que entre os 18 e os 36 meses esteja preparada para deixar a fralda. Seguem alguns sinais de que chegou a altura:

  • Manifesta curiosidade e interesse em ver os pais/irmãos na casa de banho
  • Tem a fralda seca por mais de duas horas e/ou após a sesta
  • Manifesta desconforto no uso das fraldas, procurando tirá-las, sobretudo depois de as sujar
  • Revela consciência, avisando antes, enquanto faz as necessidades ou logo a seguir
  • É capaz de ficar sentada na mesma posição durante cerca de 5 minutos.


Se vai usar a sanita, precisará de um degrau e de um adaptador. No entanto, a maior parte das crianças tem medo de cair pela sanita ou de ser sugada juntamente com a urina e as fezes, pelo que costuma ser bastante mais tranquilizador o uso do bacio. Por outro lado, o bacio permite uma posição anatomicamente mais compatível. O bacio pode ser usado em qualquer área da casa, mas usá-lo no WC permite ir antecipando a passagem para a sanita.

Ficam algumas dicas que ajudam a deixar a fralda e a fazer o treino do uso da casa de banho:

  • Começar a falar da ida à casa de banho, aproveitando os momentos em que a criança revela curiosidade e observa os pais, por exemplo
  • Dizer que já não vai precisar de usar as fraldas quando começar a ir à casa de banho
  • Encorajar a criança a sentar-se no bacio enquanto a mãe ou pai estão sentados na sanita
  • Incentivar a criança a pedir ajuda quando sente que precisa de fazer xixi
  • Deixar de colocar a fralda durante o dia, exceto à hora da sesta
  • Vestir a criança com roupas fáceis de despir
  • Perguntar de tempos a tempos se precisa de ir à casa de banho, tranquilamente e sem pressionar
  • Dar alguma privacidade à criança, mas mostrando que está por perto para ajudar e limpar
  • Não forçar a criança a ficar períodos prolongados no bacio ou na sanita, para evitar que se sinta castigada
  • Tornar o momento divertido, cantando ou lendo uma história enquanto está no bacio ou na sanita
  • Sensorialmente, a fralda pode dar algum conforto, pelo que numa fase inicial pode colocar a fralda no bacio ou na sanita
  • Ensinar a criança a lavar as mãos sempre que vai à casa de banho
  • Elogiar a criança sempre que avisa que precisa de ir à casa de banho, mesmo que não chegue a tempo
  • Estar preparado/a para acidentes e ter paciência!
  • Reforçar a criança mesmo quando acontecem descuidos. Para aprender a andar, também precisou de cair algumas vezes.
  • Manter-se relaxado/a! O treino de controlo dos esfíncteres não acontece de um dia para o outro. Demasiada pressão ou castigos e repreensão aumentarão a ansiedade da criança e, consequentemente, a probabilidade de haver descuidos e de passar a haver aversão relativamente ao uso da casa de banho.
  • Preparar-se para possíveis acidentes e/ou regressões quando a criança já parecia dominar a ida à casa de banho. Alterações da rotina ou fatores ansiogénicos podem provocar maiores descuidos.


Raros são os casos em que a criança “faz de propósito” e estes merecem observação psicológica e avaliação da dinâmica familiar, para averiguar qual a mensagem que a criança está a tentar passar.

Deixar a fralda é um desafio! Às vezes anda-se um passo para a frente e dois para trás. Também aqui a criança está a aprender os seus próprios limites e precisa de se sentir reforçada para conseguir usá-los da melhor forma.


Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
https://www.facebook.com/alexandrabarros.psicologia






segunda-feira, abril 28, 2014

Quando levar o seu filho ao psicólogo?







Se para os adultos é muitas vezes difícil perceber que chegou a hora de pedir ajuda, no caso das crianças e dos adolescentes mais difícil se torna. Deixo aqui alguns aspetos que podem indiciar que a criança ou o adolescente está com dificuldades ou em sofrimento e que necessita da intervenção de um psicólogo infantil:





  • ·         Raiva ou Agressividade excessivas;
    ·         Ansiedade ou Medo excessivos;
    ·         Episódios frequentes de tristeza evidente e choro fácil;
    ·         Isolamento e dificuldades relacionais;
    ·         Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas e entusiasmantes;
    ·         Queixas somáticas (dor de cabeça, dor de barriga, vómitos, indisposição), sem causa médica;
    ·         Quebra de rendimento escolar;
    ·         Dificuldades escolares;
    ·         Dificuldade em estar atento;
    ·         Agitação ou apatia;
    ·         Alterações repentinas no sono: Insónia ou, pelo contrário, sono excessivo, pesadelos;
    ·         Alterações do comportamento alimentar: aumento ou perda de apetite, recusa em comer;
    ·         Oscilações bruscas do humor;
    ·         Atraso na linguagem;
    ·         Problemas de comportamento;
    ·         Vítimas ou Agressores de bullying;
    ·         Birras excessivas e difíceis de gerir;
    ·         Dificuldade no controlo de esfíncteres;
    ·         Sinais de consumo de substâncias (álcool, drogas);
    ·         Situações de divórcio, adoção e luto;
    ·         Situações de doença crónica;
    ·         Abuso sexual, físico ou emocional ou outros eventos traumáticos;

Se em alguns casos a criança pode revelar sinais desde muito cedo, na maioria das situações existe uma alteração evidente relativamente ao funcionamento anterior.



Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Responsável pelo Departamento de Infância

quarta-feira, abril 09, 2014

SEXUALIDADE INFANTIL (III): HIPEREXCITAÇÃO E SINAIS DE ALERTA

Como vimos nas publicações anteriores, a masturbação tem início em idade bastante precoce e faz parte da exploração e descoberta normais da infância, tendo uma componente essencialmente sensorial associada à descarga de tensões. Não tem um caráter erótico, apesar da leitura que os adultos fazem do comportamento masturbatório estar muitas vezes centrada na erotização, que conduz à repreensão e à proibição. Esta atitude tende a acentuar a curiosidade, por um lado, e a tensão, por outro, reforçando a masturbação.

Mas há sinais que efetivamente podem revelar preocupações, sobretudo quando parece haver uma hiperexcitação. Como em quase todas as questões do desenvolvimento infantil, a intensidade, a frequência e a persistência indicam se existe ou não um problema.

Quando a masturbação não é sobrevalorizada pelos adultos e é abordada de forma tranquila e direcionada para um ambiente mais privado, mas a criança mantêm uma elevada frequência de comportamentos masturbatórios, parecendo absorta e alheada de tudo o resto, pode ser sinal de uma elevada carga ansiogénica que não está a ser capaz de aliviar de outra forma. Este funcionamento pode ser frequente em contextos familiares desorganizados, com elevados níveis de tensão, que levam a criança a refugiar-se no comportamento masturbatório, como se tentasse embalar-se para se tranquilizar. Crianças com dificuldades de expressão podem igualmente recorrer a esta forma de gratificação (em vez de, por exemplo, fazerem uma birra ou chorar quando não se sentem bem). Quando os adultos percebem que a masturbação é um refúgio, devem aproximar-se calmamente da criança, pegar-lhe, abraçá-la e até embalá-la e dizer “está tudo bem, estou aqui, estás segura/o”. Estas são crianças que habitualmente necessitam de uma contenção física por parte do adulto, às vezes bastando tocar-lhe com a mão para as tranquilizar.

Outras vezes existem explicações físicas para a manipulação excessiva dos genitais, especialmente nas meninas: infeções, alergias, dermatites, hipersensibilidade cutânea. Nestes casos, mais do que masturbação para obtenção daquele misterioso prazer, a criança toca, coça, esfrega para tentar aliviar o desconforto. Estas situações requerem observação médica.

Quando a masturbação assume um caráter sexual (erotizado) mais evidente (insistindo na penetração com objetos, simulando posições sexuais, contacto físico excessivo, repetição e insistência na masturbação após a adequada intervenção do adulto, envolvimento com crianças mais novas ou mais velhas), pode ser sinal de que a criança está a ser molestada ou, pelo menos, exposta a demasiada estimulação sexual.

Na minha anterior publicação, a propósito dos traumas da infância, referi que muitas vezes os pais acham que certas vivências não têm impacto na criança porque esta “ainda não tem idade para perceber”. Quanto menor a capacidade da criança compreender o que se passa à sua volta, maior a probabilidade de existir um impacto negativo.

Demasiada estimulação sexual não significa, necessariamente, abuso sexual (apesar de algumas vezes ter um impacto psicológico semelhante). Pode ser uma cena na TV ou em revistas ou partilhar o quarto com um irmão mais velho que poderá masturbar-se na presença da criança, achando que esta está a dormir. Dormir no quarto dos pais é, também, frequentemente uma fonte desta sobre-estimulação, e não é preciso que a criança seja muito crescida. Quando questiono sobre a sexualidade dos pais com o/a filho/a no quarto, a grande maioria responde “só fazemos quando está a dormir e não fazemos barulho” e não consideram qualquer hipótese da criança se aperceber. Pois a teoria e a prática comprovam que as crianças frequentemente assistem, pelo menos, a parte das relações sexuais dos pais: sons, nudez, movimentos e posições que podem ser vividas como uma experiência altamente violenta, que a criança não tem capacidade para compreender nem integrar. Esta experiência pode não só contribuir para uma grande inquietação e angústia, como ativar a masturbação e a sexualidade de uma forma pouco saudável.


É sempre difícil definir o que é um comportamento demasiado intenso, repetitivo e persistente. Na dúvida, procure o pediatra e solicite observação psicológica.

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

quarta-feira, abril 02, 2014

PEQUENOS GRANDES TRAUMAS DA INFÂNCIA

Quando se fala em EMDR, fala-se obrigatoriamente em trauma, o que pode levar a algum reducionismo de uma prática que se tem revelado abrangente, pois há tendência a associar o trauma a situações catastróficas. Se bem que o EMDR começou por ser essencialmente utilizado em pacientes com Perturbação de Stress Pós-Traumático (grande trauma), tem aplicação em quase todas as situações em que existe uma intensa experiencia emocional negativa associada a episódios “menores” (pequeno trauma). Se os grandes traumas são relativamente fáceis de identificar e mobilizar ajuda (acidentes, assaltos, mortes, bullying, abuso sexual, abandono), os pequenos traumas nem sempre são devidamente identificados e valorizados.

Na minha prática clínica com crianças, os pais perguntam frequentemente “qual é a causa?”, procurando identificar a origem da problemática dos filhos. Se muitas vezes a história individual e familiar ajuda a compreender, pelo menos, algumas das causas, outras vezes não conseguimos fazê-lo. Sabemos, sim, que aconteceu algo em determinada altura do desenvolvimento da criança que foi vivido com extrema intensidade. O que costumo explicar aos pais é que existem situações que são relativamente inócuas para os adultos e passam até despercebidas, mas que são vividas com grande angústia pela criança.

A infância é marcada por tentativas repetidas, fracassos e, finalmente, êxitos. Normalmente, as crianças têm o equipamento necessário para lidar com estes desafios. Para atingir estes feitos, a criança precisa de sentir que é amada, que tem valor, que é capaz e que está segura. Episódios de aparente pouca relevância, como uma queda no recreio do jardim-de-infância, engasgar-se com a comida, assistir a uma cena na TV, ouvir um estrondo repentino, ter um pesadelo, observar uma expressão facial de apreensão no pai ou na mãe, ter um mau resultado na escola, assistir a uma discussão, podem pôr em causa o sentimento de valentia e mestria que apoiam o percurso do desenvolvimento e o caminho para a independência. Frequentemente os adultos desvalorizam algumas destas situações porque as consideram normais ou pouco importantes. Por outro lado, poderão achar que a criança nem percebe o que se passa, por isso não vai ficar afetada. No entanto, a capacidade que as crianças têm para compreender a situação e expressar o que sentem é bastante inferior à intensidade com que a vivem.

Na infância as experiências são essencialmente sensoriais com emoções em bruto e, dada a dificuldade em elaborá-las, o reflexo surge sobretudo ao nível do comportamento. Dada a incapacidade em interpretar logica, racional e verbalmente os eventos, as crianças “gravam” na sua mente mensagens negativas que tendem a afetar o seu bem-estar e o seu funcionamento de forma prolongada, muitas vezes até à idade adulta. Alguns exemplos destas mensagens são: estou em perigo, não presto, não sou capaz de fazer nada, ninguém gosta de mim. Quantos de vós, adultos, se reconhecem nestas crenças negativas e como estas interferem na vossa vida pessoal, social e profissional? Imaginemos agora o que estas perceções de si próprias fazem a crianças com a vulnerabilidade típica da idade e sem a capacidade para as perceber, dizer e expressar.

Há tempos, um rapaz de 12 anos que apresentava “acessos de fúria” (entre aspas porque na verdade o que fazia era largar os livros e fechar-se no quarto) quando se confrontava com uma dificuldades escolar, tinha igualmente uma postura adultomorfa e erguia todas as suas defesas quando eu procurava chegar às suas emoções. Cerca de dois anos antes, houve um desacato à porta do prédio entre os pais e um vizinho, que acabou em agressões físicas. Este rapaz, na altura do conflito com 10 anos, ligou três vezes para o 112. Continuava, no entanto, a repetir “eu não fiz nada, devia ter feito alguma coisa para acabar com aquilo”, revelando um sentimento de impotência e uma crença de que devia ter feito mais do que fez. Três anos antes, a avó deste rapaz faleceu. Chegou a vê-la no hospital em fase terminal, mas não se despediu. Depois da morte da avó, começou a revelar grande agressividade na escola, batia nos colegas, atirava com as cadeiras. “Fui muito mau para a minha professora, sou mau quando sinto coisas”. O EMDR ajudou a perceber, mais uma vez, que o pensamento negativo era de que nada fez para salvar a avó. O processamento destas situações ajudou a desbloquear estas crenças negativas e irracionais (sou fraco, sou mau), permitindo a instalação de recursos e respostas mais adaptativos, associados a um pensamento mais positivo: este rapaz fez o que pôde e expressou-se como foi capaz, tendo em conta a sua idade. Passou a ser mais capaz de entrar em contacto com as suas vulnerabilidades, aceitando-as e reagindo de forma ajustada. As dificuldades escolares acentuavam esta perceção de que não era capaz porque era fraco, reagindo com “fúrias” que ao mesmo tempo que o faziam sentir-se mais forte, reforçavam igualmente a ideia de que era mau.

A psicoterapia EMDR foi bastante importante neste caso, tendo em conta que existiam vivências traumáticas que o colocavam numa posição muito defensiva e difícil de quebrar com outra abordagem terapêutica.

Termino com alguns exemplos de reações que as crianças podem apresentar depois de uma vivência traumática (imediatamente a seguir ou algum tempo depois), retirados do livro “Usando EMDR com ninõs”:

-Alterações do Sono: pesadelos, sono agitado, falar/gritar durante o sono, dificuldade em adormecer, medo de ir dormir, enurese noturna;
-Culpa: responsabilizar-se pelo acontecimento e por tudo o que acontece, comportamento excessivamente desajustado que implica castigos ou, pelo contrário, comportamento excessivamente adequado para a idade;
-Regressão: comportar-se como um bebé, dependência excessiva, dificuldade em ficar sozinho, procura excessiva de atenção);
-Medo: medo de aspetos diretamente relacionados com o evento, reação excessiva a ruídos fortes ou movimentos repentinos, reatividade excessiva ao toque, medos vários;


Muitas destas reações são normais e expectáveis em algumas fases do desenvolvimento. É a intensidade, a frequência e a persistência que traduzem que a criança não está a ser capaz de lidar sozinha com os acontecimentos.

Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta EMDR
Responsável pelo Departamento da Infância

sexta-feira, março 28, 2014

SERÃO OS BEBÉS CAPAZES DE ESCOLHER OS SEUS AMIGOS?

Um novo estudo mostra que bebés serão capazes de notar a diferença entre amiguinhos bons ou maus, e sabem quais escolher. Bebés de seis a dez meses exibiram importantes critérios de selecção social antes mesmo de aprender a falar, mostra trabalho do Centro de Cognição Infantil da Universidade Yale, publicado na revista Nature. Entre diversas situações criadas neste estudo,  os bebés assistiram a um boneco de madeira tentando subir uma colina e outro boneco aparecer para ajudar ou atrapalhar o primeiro. As crianças então tiveram acesso aos bonecos  e os cientistas esperaram para ver com qual os bebés escolheriam brincar.   Praticamente todas as crianças optaram por ficar com o boneco "bonzinho". Elas também gostaram mais de brinquedos neutros - que não ajudavam e nem atrapalhavam - do que dos brinquedos "maus". "É impressionante que bebés possam fazer isso", disse a principal autora do trabalho, a psicóloga Kiley Hamlin. "O que mostra que temos perícias sociais essenciais ocorrendo sem educação explícita".   Não houve diferenças de reacção entre meninos e meninas, mas quando os pesquisadores tiraram os olhos que faziam os brinquedos parecerem seres vivos, os bebés perderam a capacidade de julgá-los, disse Hamlin.   A escolha do bom sobre o mau apoia uma escola de pensamento segundo a qual algumas capacidade sociais são inatas, e não fruto de aprendizado. O psicólogo David Lewkowicz, que não tomou parte no estudo, disse que o trabalho é interessante, mas que não está convencido de que o comportamento não foi aprendido de outros. "Crianças adquirem um bocado de experiência social entre o nascimento e os seis meses", ponderou.   A equipe de Yale afirma ter pesquisas preliminares que mostram tendências semelhantes em bebés de até três meses, diz Hamlin.


António Neves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta (Delegação da Maia)

quarta-feira, março 05, 2014

SEXUALIDADE INFANTIL (II): VAMOS BRINCAR AOS MÉDICOS?

Como vimos na publicação anterior, a masturbação começa bastante cedo através da exploração natural que a criança faz do próprio corpo. Trata-se de uma gratificação meramente sensorial, que conduz a sensações prazerosas e ao alívio de tensões, não tendo nesta altura qualquer caráter sexual, em situações normais. No entanto, a erotização que os pais fazem deste comportamento tende a gerar desconforto, apreensão e repreensão. Esta atitude negativa leva muitas vezes ao aumento da tensão e da curiosidade, reforçando a masturbação.

Por volta dos três anos, a criança já vai percebendo que existem diferenças entre meninas e meninos, o que conduz a perguntas embaraçosas, mas também à exploração do corpo do outro. “Porque é que a mana não tem pilinha?”, “A minha pilinha também vai cair como a da mamã?” são perguntas frequentes colocadas pelos rapazes. Já as raparigas tendem a ficar intrigadas a observar aquele órgão pendurado no corpo do irmão ou do pai, procurando tocar e perguntando se também vão ter um igual. A estas perguntas que pai e mãe procuram empurrar de um para o outro, há que responder de forma aberta, tranquila, mas resumida ao essencial. As crianças satisfazem-se com explicações simples. Se sentirem que há atalhos ocultos no meio do nervosismo, vão querer continuar a exploração. Se não obtiverem resposta às suas questões ou receberem uma atitude negativa, poderão procurá-la noutros contextos, sem que os pais tenham controlo do que se passa.

Entre os 4 e os 6 anos começam também a surgir as brincadeiras de médicos, em que as crianças se examinam mutuamente. Mais uma vez, este comportamento é de descoberta, sem conotação sexual, devendo os pais preocupar-se apenas se estiverem envolvidos adultos ou crianças mais velhas. Surgem outros embaraços para os adultos, principalmente nos meninos, que começam a testar o alcance da sua arma, sobretudo quando urinam. Tendem a ter outras brincadeiras no Jardim de Infância, baixando as calças com frequência e espreitando os pénis dos colegas. Também os educadores têm um papel fundamental na gestão destes comportamentos, evitando ridicularizar ou castigar as crianças.

A partir dos 4 anos já conseguem aprender que a exploração deve ser feita em privado, pelo que os pais devem conduzir a criança ao seu quarto ou à casa de banho, sem repreensão, dizendo “eu sei que te sabe bem quando mexes aí e não faz mal, mas deves fazê-lo quando estás sozinho/a”. É também a altura de ensinar de forma clara que mais ninguém pode tocar-lhe nos genitais, exceto os pais ou outro adulto de confiança nas rotinas de higiene. E que se alguém o fizer, deve contar aos pais. Se os pais percebem que a criança recorre a objetos, enquadrados ou não na brincadeira dos médicos, devem igualmente explicar-lhe que não deve fazê-lo, para que não se magoe.

Qualquer que seja a idade, a ansiedade e a proibição por parte dos pais tendem apenas a reforçar o fascínio e a curiosidade. Se a criança se sente envergonhada ou culpada, irá reprimir as suas questões, comprometendo um diálogo saudável e preventivo. Por outro lado, quanto menos os pais chamarem a atenção para o comportamento masturbatório, menos focada estará a criança nos seus genitais e nos dos outros.

Comentários como “isso é feio”, “não mexas aí porque é sujo”, “és um/a menino/a muito feio/a quando fazes isso”, “isso é porcaria e não se faz”, “vais ficar de castigo” estão proibidos!

Continuaremos a desenvolver o tema, nomeadamente no que respeita à hiperexcitação e a sinais de alerta ligados à masturbação.

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Diretora do Departamento da Infância

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segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Os filhos que saem aos pais...


Os filhos que saem aos pais...
A construção da identidade nas crianças
           
Não é preciso trabalhar com crianças e com pais para reflectir sobre a construção da identidade, basta lembrarmo-nos da nossa infância ou adolescência e com facilidade encontraremos expressões que, inevitavelmente, influenciaram a construção da nossa identidade.
Desde já faço a ressalva que não discutirei aqui a inegável importância da genética na construção da identidade, uma identidade biológica. Defendo, por outro lado, que restringir a identidade a este aspecto, não só conduziria a uma leitura pobre e limitada, como implicaria não reconhecer a importância fundamental das experiências emocionais vividas e da própria criatividade individual.
Para melhor compreender o processo da construção da identidade sugiro partir do modelo proposto pelo professor António Coimbra de Matos. Este modelo sustenta que a construção de identidade dá-se a três níveis de relação com o outro. O primeiro nível de identificação, imagóico-imagético, é aquele que se constrói através das atribuições da mãe/pai ou do mundo, isto é, a forma como o bebé se vê a si próprio é resultado das expectativas do outro, em particular, da mãe. O bebé assimila a imago e a imagem que a mãe atribui, sendo que imago é aquilo que é menos consciente e imagem é aquilo que é mais consciente. Este nível pode prolongar-se pela vida, existindo mesmo indivíduos cuja identidade é quase só construída através deste processo. Ora a frase que dá título a este artigo pode ser um excelente exemplo como esta assimilação acontece. Note-se que o desejo da mãe ou do pai pode ser tão categórico, ou ainda o desejo de suprimir os desejos do filho tão determinante, que o filho, tenha, ou não, determinadas aptidões ou características, está destinado ao fracasso ou à glória, resultado de ditaduras sentenciais que podem apenas corresponder ao desejo materno ou paterno. Veja-se então, um pai ao dizer repetidamente a um filho “o meu filho é igualzinho ao pai, não tem jeito nenhum para isto ou para aquilo”, mesmo que, neste filho, a falta de aptidão não fosse assim tão evidente, a partir do momento de assunção do pai há uma atribuição à criança que pode ser assimilada, impedindo-a de outras explorações e descobertas.
Outro processo de identificação, o mais comum classicamente na psicologia, será o de identificação de modelos (xenomórfica), a criança identifica-se com os modelos; com o pai; com a mãe; com a tia; com o avô, com os professores... Constrói a identidade através dessa identificação: os filhos que querem ser médicos como os pais; ou outro exemplo mais ilustrativo: as crianças que querem jogar futebol como o Cristiano Ronaldo. Quantas e quantas vezes já vimos entrevistas a crianças com estas representações presentes
Por último, o processo de identificação mais importante e consistente é a identificação ideomórfica. A criança identifica-se com o que é, com o que sente e com o que deseja ser, através dos próprios atributos morfológicos e do seu sentir. Esta última identificação acontece mais tarde nas crianças, é preciso passar pelos outros dois níveis de identificação. A criança aqui tem espaço para a criatividade, para a descoberta, para a exploração e parece ser o processo mais completo, que causa maior satisfação.
Pensar a construção de identidade ajuda os pais a facilitarem este último nível, em que a criança deseja ser diferente dos pais, a criança descobre novas respostas e retira satisfação desses encontros. Um papel importante dos pais neste processo será ajudar os filhos a desvendar os seus próprios desejos. Diria ainda, que essa também é uma função importante do psicoterapeuta.
É também importante compreender que estes processos não são estáticos e desenvolvem-se ao longo da vida, sendo por vezes uns mais relevantes do que outros em alguns momentos.

Madalena Motta Veiga 
Psicoterapeuta Psicanalítica Psicóloga Clínica no Departamento de Infância