É o romance assim tão importante para uma relação amorosa e de casal?
Ser romântico será algo assim tão difícil para um homem ?
Para um homem o romantismo da companheira poderá não ser aquilo que
mais o “aquece ou arrefece”, mas para a maioria das mulheres o romance é
fundamental! Ou pelo menos alguma forma de romantismo.
Na história da nossa espécie o papel de conquistador tende a ser atribuído
ao homem, e o papel da entrega, à mulher que ele almeja e deseja. Assim,
enquanto um homem procura e se satisfaz mais com a entrega da sua amada a si e
aos seus esforços de conquista, é natural por sua vez que uma mulher se sinta
atraída ou gradualmente atraída por uma atitude mais arrojada e conquistadora
por parte de um homem, desde que se trate de uma atitude respeitosa e adequada.
A esta esforço de conquista subjaz toda uma valorização de uma mulher, poder
sentir-se desejada, alvo do desejo e do interesse de um ou daquele homem
especificamente. E aqui entra o romantismo.
Ser romântico é conquistar e/ou reconquistar sistematicamente a
mulher amada, conforme o caso. É reencenar continuamente na relação aquele
momento de conquista e entrega, é “manter a chama acesa”, é dar um colorido específico à relação
amorosa e de casal, é expandi-la
e mesmo dotá-la de uma identidade única e privada, da qual ambos são cúmplices.
Assim, o romance aprofunda mesmo a
cumplicidade do casal.
O romance é um jogo (alusão a algo divertido!) específico entre alguém
que procura conquistar e alguém que se vai deixando conquistar. É a encenação
peculiar e própria daquele casal ou díade específicos que alberga duas
individualidades bem distintas que encenam papéis complementares, ele enquanto
conquistador e a ela enquanto alguém que se deixa (ou não) conquistar, contando
ainda com todas as nuances que daqui possam advir! É claro, também, que os
papéis se podem inverter, porém o romantismo de mulher para homem é um assunto
diferente. Muitos homens ainda que possam ser bastante românticos, poderão não
ser particularmente sensíveis a estas iniciativas, e é aqui que o papel da
sensualidade e sedução, por exemplo, acaba muitas vezes por contornar o problema.
Romantismo, sensualidade e sedução não são incompatíveis entre si, todavia para
fins práticos ligados ao intuito deste artigo, é útil neste momento “separar as
águas”.
Ser romântico é surpreender e deslumbrar a nossa companheira com
atitudes e gestos únicos, invulgares, carregados de desejo de impactar muito
positivamente sobre o coração dela. É como que a procura de criar memórias únicas e irrepetíveis na companheira, que por tal se mantêm gravadas no coração
dela para sempre.
Podendo este objetivo ser ou não atingido ou atingível, o importante é
que ele se possa manter enquanto ideal orientador. Assim, eventualmente,
conseguem-se reproduzir momentos e experiências únicas e deliciosas entre duas
pessoas, que detêm todo potencial de perdurar para toda a vida. Isto é muito importante (!), já que no final da vida estas memórias pesam bastante na
avaliação da qualidade da vida que levámos. A maioria de nós têm a experiência
ou memória de ouvir os nossos avós quando nos contavam as histórias das suas
vidas. No final são precisamente estas histórias que perduram no nosso coração.
Bem, caberá a cada qual criar e inovar o seu próprio conceito de
romantismo, na mesma linha que cada qual deverá ter a sua personalidade e
individualidade bem definidas e diferenciadas.
Existem ideias-cliché de
romantismo que, na minha ótica, devem ser usadas apenas enquanto pontos de
partida e alicerces para “aventuras” mais elaboradas, inovadoras e/ou
personalizadas.
Todavia, há sim atitudes, estados “psico-emocionais” e recursos
internos que são de alguma forma transversais à atitude ou ao ato romântico.
São eles os seguintes:
“PLAYFULLNESS OU PRAZER EM BRINCAR”
A maioria de nós tem um hobbie
ou atividade que nos dá realmente prazer e alegria, uma alegria próxima daquilo
que seria voltarmos a ser crianças. Alguns de nós mais afortunados acabam mesmo
por ter o privilégio de sentir esse prazer ligado à própria atividade
profissional. Gostar do que fazemos é, regra geral, vital para uma vida de
qualidade. Enquanto crianças brincamos às profissões, e trabalhamos também a
brincar. Quanto mais esse entusiasmo persistir na vida adulta e nas tarefas da
adultícia, melhor.
No amor e no romance, o mesmo se aplica. Ao sermos românticos, estamos
fundamentalmente a brincar! È somente
com alegria no coração que se pode ser romântico, porque sem alegria, como
é que se consegue tocar verdadeiramente no coração da outra pessoa? Como é que
se consegue gerar aquele entusiasmo que contagia a outra pessoa e a envolve na
“trama” romântica?
Há uma diferença entre, por um lado, podermos cuidar da outra pessoa
quando necessário, respeita-la, sermos atenciosos com ela, e, por outro lado,
sermos verdadeiramente românticos. No primeiro cenário encontram-se as bases da
relação estável. No segundo cenário, o romantismo é um motor de
desenvolvimento, aprofundamento, melhoria e/ou manutenção do nível de qualidade
dessa relação, que idealmente se quer já estável à priori.
É também a partir dessa alegria, dessa atitude de playfullness, de que se alimentam muitas vezes os grandes esforços
românticos, precisamente porque nos movemos a partir da antecipação do prazer que iremos gerar na outra pessoa, no
qual iremos também participar (e já estamos a participar, logo desde o momento
em que nasce a ideia) e do qual iremos também desfrutar juntamente com essa
pessoa.
AUTOESTÍMA
Falamos aqui mais de uma autoestima secundaria, isto é, mais ligada ao
autoconceito de um homem enquanto tal, e não tanto enquanto pessoa, ainda
que de alguma forma eles se interliguem em alguns pontos.
Ao longo da vida vamos procurando agradar aqueles que amamos, sejam os
nossos pais, os nossos irmãos, os nossos amigos, os nossos companheiros e
companheiras, etc.. À medida que vamos observando o resultado dos nossos
esforços e respetiva validação dos mesmos ao longo da vida, cristaliza-se em
nós um sentimento de sermos eficazes em agradar e satisfazer os demais. Na
relação amorosa, esta forma de autoestima ou autoconfiança será o sentimento internalizado de se ser eficaz em agradar,
surpreender e satisfazer a companheira, enquanto homem.
Esta autoconfiança é também de onde emerge a atitude de playfullness. Trata-se de confiança, e
também de um sentido de entusiasmo, ligados ao sentimento de eficácia (prazer
narcísico saudável), neste caso ao serviço do enriquecimento da vida amorosa
(do prazer na relação com o outro).
Na medida em que a outra pessoa é satisfeita pela atitude e ato
romântico, também essa satisfação recai simultaneamente sobre a própria autoestima
do homem e sobre o prazer que ele retira naquela íntimidade com a sua companheira.
ESFORÇO CRIATÍVO
Se há “prazer em brincar” e um sentimento edificado e estável de se ser
eficaz em agradar, surpreender e satisfazer a outra pessoa, então a
criatividade têm portas abertas para poder surgir. O prazer em criar novos
cenários e situações, em diversificar, em surpreender, em viver mais e mais,
alimenta o próprio esforço criativo.
A atitude romântica também se desenvolver e pode amadurecer. Um homem
que conte com uma companheira paciente, não particularmente exigente (crítica)
no que respeita ao amor e solicitações de afeto e romantismo, contará com
melhores condições para que o seu romantismo se possa ir desenvolvendo
prazerosamente e a um ritmo também prazeroso. Exigências, críticas e
solicitações excessivas de afeto ou romantismo tendem a gerar resultados opostos,
de inibição destas atitudes, pois tanto o amor como o romance apenas se podem
dar a partir da vontade livre, e não pelas condicionantes da exigência.
O sentido de humor de ambos
os companheiros também ajuda bastante, pois nem sempre atitudes e atos
românticos correm como esperado, verdade seja dita. Todavia, muitas vezes o
sentido de humor não só salva a situação como algumas vezes torna-a
ainda mais memorável. Que o atestem aqueles que sabem do que falo!
Da próxima vez que decidir viajar com a sua companheira, por exemplo, a
Paris, leve dissimuladamente consigo um pequeno rádio com a valsa preferida
dela. À noite, convide-a para passear junto da Pirâmide Invertida, em frente ao
Museu do Louvre. Coloque o rádio no chão a tocar e convide-a para uma dança!
Vai ver que valerá a pena. O sorriso e o brilho nos olhos dela
dirão tudo. Fica a sugestão, para personalizar a gosto, claro!
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