As pessoas que sofrem
de uma perturbação masoquista de personalidade vivem o sofrimento de forma
repetitiva nas suas vidas e nas suas relações. Para quem está de fora elas
aparentam sujeitar-se sistematicamente a perigos e a maus tratos.
Clinicamente o
masoquismo significa que para determinada pessoa certas experiências
fundamentais, como a autoestima e a proximidade relacional, tornaram-se intrinsecamente
associadas com um sofrimento necessário. Alguns autores e técnicos de saúde
mental preferem o termo "auto-derrotismo", que retira a conotação
sexual do termo (nem todas as pessoas com personalidade masoquista adotam uma
sexualidade masoquista) e associa-se menos com a "culpabilização" das
vítimas de abuso pelos seus maus tratos.
Uma das características
comuns dos pacientes auto-derrotistas é o facto de que, ainda que o quadro
clínico seja indicador de depressão, as intervenções psicológicas e
farmacológicas que tipicamente aliviam a depressão tendem a ser ineficazes.
Muitos pacientes auto-derrotistas queixam-se repetidamente junto dos
profissionais de saúde, algumas vezes com um sorriso subtil, de que as suas
mais recentes tentativas de ajuda fracassaram. As psicologias masoquistas e as
psicologias depressivas partilham ainda algumas dinâmicas centrais, como a
sensibilidade à rejeição e à perda, sentimentos de inferioridade, culpa
inconsciente e inibição da zanga consciente contra os demais. Muitas vezes
ambos os problemas coexistem numa mesma personalidade.
As personalidades
masoquistas tendem a causar um impacto nos outros enquanto pessoas
atormentadas, ao passo que as personalidades depressivas impactam mais pela
tristeza intensa que carregam e pela autocrítica. Quando iniciam uma
psicoterapia as pessoas auto-derrotistas procuram uma resposta de pena ou um
sentido de compaixão por parte do terapeuta e podem parecer mais investidas em
demonstrar a magnitude do que os aflige do que em resolver os seus problemas. É
uma atitude outrora designada por "masoquismo moral", que remete para
a culpa inconsciente e para um transparecer subtil de um sentido de
superioridade moral através da dor ou pela aparente submissão altruísta a
outros. Enquadram-se neste grupo algumas pessoas que agem de forma autodestrutiva
após cada vitória ou sucesso.
Há uma outra versão da
estrutura de personalidade auto-derrotista, que se situa num nível de
organização de personalidade mais grave e trata de um masoquismo mais
relacional. O comportamento sugere a presença de uma crença inconsciente de que
a vinculação requer sofrimento, ou seja, que nas relações a outra parte apenas
está verdadeiramente presente e disponível quando o próprio está em sofrimento.
São exemplos deste funcionamento, por exemplo, alguns pacientes que se auto-mutilam,
abusam de substâncias ou se envolvem sexualmente com estranhos quando o
terapeuta está de férias, uma forma de vingança (não necessariamente
consciente) do terapeuta ausente.
Uma tarefa das tarefas
da psicoterapia com pacientes caracterologicamente masoquistas é ajudar, ou
mesmo eventualmente ir confrontando (com tato e sensibilidade) a própria pessoa
com as suas contribuições para os problemas que surgem na sua vida, e, ao mesmo
tempo, conter a ansiedade e a zanga daí decorrentes.
Preocupação/tensão
central: Sofrimento/perder uma relação ou a autoestima
Afetos
centrais: Tristeza, zanga, culpa
Crença
patogénica característica sobre si próprio(a):
Manifestando sofrimento eu posso demonstrar a minha superioridade moral e/ou
manter os meus vínculos
Crença
patogénica sobre os outros: As pessoas apenas
prestam atenção quando alguém está com problemas
Subtipos:
Masoquista Moral
A autoestima depende do sofrimento; a culpa inconsciente impede experiências de satisfação e sucesso.
Masoquista Relacional
Masoquista Moral
A autoestima depende do sofrimento; a culpa inconsciente impede experiências de satisfação e sucesso.
Masoquista Relacional
Há uma crença inconsciente de que os relacionamentos estão
dependentes do sofrimento ou da vitimização pessoais. A vida fora da relação
atual, por mais abusiva que seja, pode parecer inimaginável
Fonte:
PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual