As crianças mentem por várias
razões que muitas vezes se sobrepõem às fases do desenvolvimento moral. Muitas
vezes mentem apenas por impulsividade e assim que percebem que o fizeram,
mentem mais ainda, pois passam a ter de lidar com a possível consequência do
ato inicial e com a zanga dos adultos por ter mentido.
Um dos principais motivos que
levam a criança a mentir mais sistematicamente é o medo, por exemplo quando a
família é muito rígida nas regras que estabelece e, sobretudo, quando algum dos
adultos tende a ter um comportamento irracional e agressivo e excessivo nos
castigos.
Tendem também a recorrer à
mentira quando querem libertar-se de uma tarefa difícil, que lhes traz
ansiedade e frustração, como por exemplo os trabalhos de matemática. Neste
caso, a mentira serve para evitar o confronto com a dificuldade e com a
possibilidade de fracasso.
Sobretudo na adolescência, a
mentira pode surgir na tentativa de autonomização em relação aos pais, quando
estes são muito rígidos, o que leva os jovens a arranjar estratégias para
poderem sair com os amigos e viver outras experiências normais da idade; esta
rigidez tem muitas vezes o efeito oposto, fazendo com que os pais tenham um
menor controlo do que os filhos fazem, pois passam a fazê-lo às escondidas. Por
outro lado, há ainda a questão da aceitação no grupo de pares, em que os
adolescentes podem mentir para obter aprovação ou aceitação por parte de
outros.
As crianças desenvolvem muitas
competências por imitação e a mentira não é exceção. Algumas vezes os filhos
ouvem os pais a dizer que não foram trabalhar porque estão doentes, quando na
verdade estavam em casa à espera da entrega de um móvel novo. Os adultos
utilizam muitas justificações e mentiras que, apesar de inocentes, transmitem a
mensagem de que não faz mal alterar os factos. Vale a pena pensar nestes
modelos quando se castiga ou se chama a criança de mentirosa.
Raramente a mentira, por si só, é
um indicador de doença mental, sendo necessário outro tipo de características.
No entanto, importa averiguar porque é que a criança mente, sobretudo quando o
faz de forma sistemática.
Alexandra Barros
Responsável pelo Departamento de Infância