terça-feira, abril 08, 2014


REVISTA PAIS & FILHOS
COMO O COACHING MELHOROU OS NOSSOS DIAS
Escrito por Teresa Diogo Segunda, 07 Abril 2014 | Visto - 312


Com pequenos ajustamentos, conseguimos transformar as alturas mais difíceis do dia em momentos menos frustrantes e mais prazerosos. À hora do banho e do jantar, acabaram-se as birras!

Primeiro foram os “terrible twos”, com toda a sua pujança em afirmação e vontades próprias, depois veio a desculpa do “feitio”. “Sai à mãe”, diziam os mais próximos, numa tentativa airosa de explicar por que motivo aos três anos já era tão determinado, cheio de opiniões, mandão e decidido. Tudo isto poderia até ser positivo se não se traduzisse, vezes de mais, em frustração, alguma desobediência, muito finca-pé e até uma ou outra berraria. Sobretudo na hora de ir para a mesa ou para o banho. Ou seja, na hora de interromper as brincadeiras, os jogos ou a televisão. “Não quero!”, “Não gosto!”, “Estás sempre a estragar-me o dia!”, atirava-me ele, revoltado.alt
Sempre fui apologista de que a nossa relação se deve basear mais no diálogo, na explicação das coisas e das situações, no entendimento e compromisso mútuo, e menos na imposição da minha vontade e autoridade excessiva. Mas, aos quatro anos do Tiago, percebi que nem sempre tenho a paciência necessária para lidar com as suas frustrações e continuar a explicar, vezes sem conta, por que motivo tem de tomar banho todos os dias e sentar-se à mesa quando o chamo para jantar, sem reclamar da comida, da cor do prato ou… do tempo. E antes que se tornasse um pequeno ditador, e a bem da harmonia familiar no final de cada dia, quando estamos todos cansados e menos tolerantes, aceitei o desafio da coach Magda Dias para experimentar algumas sessões de coaching e aconselhamento parental. “Pode ser o que necessita para ‘desbloquear’ e fazer fluir a relação familiar, eliminando aqueles ‘dilemas’ do dia-a-dia”, justificou. E se o objetivo é que possamos todos “saborear o que de melhor a vida tem”, então este só podia ser um desafio para levar muito a sério. E bastaram duas sessões para que os resultados se tornassem visíveis.
Quando iniciámos o processo, o Tiago acabara de chegar de férias em casa dos avós, no Algarve, onde passou 15 dias a fazer o que bem queria (dentro dos limites do razoável), ou não fosse essa a magia dos dias passados com os avós. Nada contra. Mas confesso que temi o pior: como é que o ponho “na ordem”, sem grandes dramas, logo agora que vem convencido que é o big boss? Partilhei com a Magda essa minha preocupação e ela sossegou-me: “Vem nutrido, vem cheio a nível emocional e isso é bom”.  Além disso, sublinhou, o Tiago está na idade de integrar conceitos e entender a autoridade, um aspeto que até aqui era menos vincado e que se traduzia numa maior contestação sempre que era contrariado. Ou seja, está na idade certa para, finalmente, compreender e aceitar que na educação nem sempre há lugar para a democracia e que, por vezes, é preciso respeitar um “acabou a conversa!”. Dito assim, pode parecer que, de um dia para o outro, se instalou lá em casa uma ditadura feroz e implacável. Nada disso.
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Um banho ao dinossauro
O objetivo definido na primeira sessão de coaching e aconselhamento parental com a Magda Dias foi, exatamente, melhorar a questão da obediência naqueles momentos chave do dia e, por consequência, aumentar a tolerância do Tiago à frustração. “Os limites e a autoridade são estruturantes e ele precisa disso para crescer bem”, assegurou-me.
Os momentos mais propícios a birras e desentendimentos lá em casa sempre foram a hora de ir para o banho e para a mesa. Para mudar esse comportamento, que já se tornara um hábito, Magda aconselhou-me a mudar de estratégia. Em vez de repetir exaustivamente o típico “Tiago, anda para a mesa” ou “Tiago, já te chamei três vezes para o banho”, que ele ignorava até ouvir um berro, comecei a ir ter com ele, sentar-me ao seu lado e a interessar-me genuinamente por aquilo que está a fazer no momento (uma brincadeira, um desenho, um episódio da Ovelha Choné…). Depois, “é preciso criar uma ligação através do toque” e, assim, o passo seguinte é tocar-lhe na mão ou no braço e dizer-lhe o que pretendo, olhos nos olhos, com determinação: “Agora vamos arrumar os brinquedos e vamos tomar banho”. Sempre que possível, faço uma ligação entre o que ele está a fazer e o que eu quero que ele faça: “Traz esse dinossauro que ele está mesmo a precisar de um banhito!”.
Posso dizer que tem resultado. Na primeira vez, achei que tinha sido apenas sorte de principiante, mas nos dias seguintes a “sorte” repetiu-se. É verdade que ainda me pergunta por que é que tem de tomar banho todos os dias, mas agora já o faz de forma resignada, sem espernear, a caminho da banheira. Esta pequena mudança no meu comportamento e, por consequência, no dele teve um impacto importante nas nossas rotinas: há menos tensão, menos confronto e menos berros e os finais de dia tornaram-se bastante mais fluidos e agradáveis. Para todos.
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Quantas colheres?
À mesa, a estratégia para acabar com o “Não gosto! Não quero!” passou, primeiro, por responsabilizá-lo e depois por recorrer a uma dose extra de brincadeira. A menos que o jantar fosse pizza, canja ou douradinhos, as reclamações começavam quando ainda nem estava sentado. E como pizza, canja ou douradinhos não são refeições assim tão frequentes lá em casa, é fácil deduzir que a hora do jantar era dominada pela sua habilidosa (e extenuante) arte da negociação: “Quantas colheres ainda tenho de comer? Só como três!”. Chegámos então a um acordo. “Eu comprometo-me a colocar-te (muito) menos comida no prato e tu comprometes-te a não reclamar nem a negociar. E se gostares do jantar pedes-me para te pôr mais”. O compromisso foi aceite, sem contrapropostas.
Durante a primeira semana do acordo, facilitei a situação e apresentei-lhe refeições que sabia serem (mais ou menos) do seu agrado. Depois comecei a introduzir os “maus da fita”: os legumes. Um feijão-verde aqui, um brócolo ali, e o acordo lá foi sendo cumprido, com uma ou outra tentativa de negociação pelo meio. “Negociar é importante, mas responsabilizar é muito mais”, disse-me Magda. De vez em quando, ainda começa a “espernear”, mas aí aplicamos a segunda técnica: a brincadeira. Nada como uma boa gargalhada ou um pouco de troça sobre a situação para desanuviar o ambiente. Depois desviamos a conversa para um assunto do seu agrado. E assim os jantares vão prosseguindo bastante mais tranquilos do que o habitual. Sem distrações (leia-se sem televisão), com mais conversa e menos tensão. E para “desbloquear” o diálogo, em vez do típico “Então como foi o teu dia na escola?”, passei a contar-lhe algumas situações sobre o meu dia e a pedir a sua opinião. Por conseguinte, passou a falar mais sobre a escola e os amigos.

“Vês? O prato está vazio!”
Quando as coisas correm menos bem e o Tiago não cumpre o acordo, sabe que há consequências: até pode não comer tudo, mas não sai da mesa enquanto nós não terminarmos. E quando correm mesmo, mesmo bem, Madga aconselhou-nos a fazer o chamado “reconhecimento factual”. Ou seja, nada de “Boa, Tiago!!!”, que não passa de uma expressão sem conteúdo. É sempre preferível reconhecer o que efetivamente acabou de fazer: “Vês? O prato está vazio!”. E este tipo de feedback factual deve aplicar-se a tudo: um desenho, uma construção de Lego ou uma outra qualquer habilidade. Acabar com o “Boa!” obrigou-me também a parar o que estou a fazer no momento e olhar com olhos de ver para aquilo que ele me quer mostrar. Se tenho que dizer qualquer coisa concreta sobre o desenho que fez, tenho que olhar, de facto, para ele, o que na correria do final de dia nem sempre acontecia. É sempre mais fácil atirar um “Boa, filho!” e continuar a descascar cenouras para a sopa…
Com tudo o que assimilei no decorrer deste processo, posso dizer que a nossa experiência com o coaching e aconselhamento parental foi bastante positiva. Aprendi que é melhor responsabilizar em vez de negociar, é imprescindível ter regras muito bem definidas e ajudá-lo a relembrá-las quando necessário, é preferível falar-lhe em consequências em detrimento de castigos ou chantagens e, muito importante, mais vale baixar as expectativas e aceitar que nem sempre as coisas correm como desejamos. E que é possível, com ligeiras mudanças, retirar a frustração da nossa relação.


O QUE É O COACHING PARENTAL?

É uma abordagem às questões da parentalidade, com recurso à implementação de estratégias que ajudam a resolver os desafios e dificuldades da relação entre pais e filhos no dia-a-dia. O objetivo é apetrechar os pais de ferramentas para lidar com esses atritos do quotidiano, guiá-los na descoberta do seu estilo parental em consonância com as necessidades da cada criança e ajudá-los a cultivar uma relação mais positiva com os filhos. O coaching parental ajuda a lidar com situações como a disciplina, a frustração, a raiva, as rotinas e transições, as “lutas de poder” e comportamentos desrespeitosos. O apoio dado pelo coach passa pela abordagem das necessidades e desafios particulares de cada família e a definição de uma estratégia para lidar com eles.

O coaching é diferente de uma consulta de psicologia?
No coaching não se faz terapia. “Uma sessão de coaching ‘pega’ na pessoa tal e qual ela está, nos recursos que tem e ajuda-a atingir as suas metas”, esclarece Madga Dias, coach, formadora e autora do blogue “Mum’s the boss” (www.mumstheboss.blogspot.pt), sublinhando que “numa sessão de coaching o passado não é ‘dissecado’”.



sábado, abril 05, 2014

ONU, para um mundo pior?!



Excelente documentário na sic notícias - um Toda a Verdade - sobre a Organização das Nações Unidas (ONU). Fiquei absolutamente perplexo e chocado. O título do documentário é: ONU - Abusos e Escândalos. O vídeo acima corresponde à emissão completa do programa. 

Na minha opinião é um documentário obrigatório sobre o que de mais relevante e grave se tem passado no nosso mundo nestas últimas décadas. Apesar do papel importante que a ONU tem tido a vários níveis, tem-se ultimamente tornado numa plataforma política escandalosamente subvertida aos interesses económicos e do poder no que respeita à forma como tem lidado com algumas das calamidades maiores das últimas décadas.

Este documentário choca e põe a nu as questões mais fundamentais sobre a natureza humana: com a sua capacidade única e misteriosa de amar, o ser humano tem também uma capacidade única de se perverter e cometer as maiores atrocidades com a maior ligeireza.

Como é que eu contribuo para tudo isto? Também eu prefiro fechar os olhos a estas coisas horríveis e continuar na "minha vidinha"? Também eu prefiro estar no meu canto, a tomar alguma respons-abilidade (habilidade de responder) pelo que se passa em meu redor? Também eu prefiro seguir o caminho "mais fácil" que a sociedade "main stream" me reserva? Quais são verdadeiramente os meus valores? Como os concretizo no dia a dia? Que posso eu fazer? Também eu preciso de continuar a acariciar os meus mecanismos de defesa para só ver a realidade que tolero ver (a minha e a dos outros)? ... Porque quem não assume a responsabilidade da sua vida deixar-se-á levar e corromper pelas pressões do mundo à sua volta. 

Este documentário põe o dedo na ferida e não é só na ferida da ONU, mas na ferida de todos porque todos nós somos co-responsáveis do mundo em que vivemos e todos nós temos as mesmas potencialidades: as de fazer o melhor e o pior. 

Se for ao fundo do que me faz humano, a pergunta mais imediata  e fácil "como é que alguém é capaz de ser assim tão "mau"?" pode ser substituída pela subtil e desconcertante pergunta: "como é que eu posso/poderei/poderia ser assim tão mau?". Porque o homem é o homem e as suas circunstâncias e o "outro", no limite, sou eu noutras circunstâncias.  

A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma organização internacional cujo objetivo declarado é facilitar a cooperação em matéria de direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento económico, progresso social, direitos humanos e a realização da paz mundial. A ONU foi fundada em 1945 após a Segunda Guerra Mundial para substituir a Liga das Nações, com o objetivo de deter guerra entre países e para fornecer uma plataforma para o diálogo. Ela contém várias organizações subsidiárias para realizar suas missões.

quinta-feira, abril 03, 2014

Animais no útero

As imagens que se seguem, e que parecem ser de outro mundo, foram criadas por Peter Chinn, no âmbito do documentário da National Geographic, Extraordinary Animals in the Womb, ou em português, ‘Animais Extraordinários no Útero.’ 
Apesar de não poderem ser consideradas fotografias,  esta imagens são extraordinariamente próximas da realidade, pois foram produzidas com a ajuda de ecografias, pequenas câmaras e gráficos gerados por computador. 

ELEFANTE

URSO POLAR

COBRA NO OVO

GOLFINHO

LEOPARDO

PINGUIM NO OVO

CHIHUAHA


MORCEGOS

CAVALO






quarta-feira, abril 02, 2014

PEQUENOS GRANDES TRAUMAS DA INFÂNCIA

Quando se fala em EMDR, fala-se obrigatoriamente em trauma, o que pode levar a algum reducionismo de uma prática que se tem revelado abrangente, pois há tendência a associar o trauma a situações catastróficas. Se bem que o EMDR começou por ser essencialmente utilizado em pacientes com Perturbação de Stress Pós-Traumático (grande trauma), tem aplicação em quase todas as situações em que existe uma intensa experiencia emocional negativa associada a episódios “menores” (pequeno trauma). Se os grandes traumas são relativamente fáceis de identificar e mobilizar ajuda (acidentes, assaltos, mortes, bullying, abuso sexual, abandono), os pequenos traumas nem sempre são devidamente identificados e valorizados.

Na minha prática clínica com crianças, os pais perguntam frequentemente “qual é a causa?”, procurando identificar a origem da problemática dos filhos. Se muitas vezes a história individual e familiar ajuda a compreender, pelo menos, algumas das causas, outras vezes não conseguimos fazê-lo. Sabemos, sim, que aconteceu algo em determinada altura do desenvolvimento da criança que foi vivido com extrema intensidade. O que costumo explicar aos pais é que existem situações que são relativamente inócuas para os adultos e passam até despercebidas, mas que são vividas com grande angústia pela criança.

A infância é marcada por tentativas repetidas, fracassos e, finalmente, êxitos. Normalmente, as crianças têm o equipamento necessário para lidar com estes desafios. Para atingir estes feitos, a criança precisa de sentir que é amada, que tem valor, que é capaz e que está segura. Episódios de aparente pouca relevância, como uma queda no recreio do jardim-de-infância, engasgar-se com a comida, assistir a uma cena na TV, ouvir um estrondo repentino, ter um pesadelo, observar uma expressão facial de apreensão no pai ou na mãe, ter um mau resultado na escola, assistir a uma discussão, podem pôr em causa o sentimento de valentia e mestria que apoiam o percurso do desenvolvimento e o caminho para a independência. Frequentemente os adultos desvalorizam algumas destas situações porque as consideram normais ou pouco importantes. Por outro lado, poderão achar que a criança nem percebe o que se passa, por isso não vai ficar afetada. No entanto, a capacidade que as crianças têm para compreender a situação e expressar o que sentem é bastante inferior à intensidade com que a vivem.

Na infância as experiências são essencialmente sensoriais com emoções em bruto e, dada a dificuldade em elaborá-las, o reflexo surge sobretudo ao nível do comportamento. Dada a incapacidade em interpretar logica, racional e verbalmente os eventos, as crianças “gravam” na sua mente mensagens negativas que tendem a afetar o seu bem-estar e o seu funcionamento de forma prolongada, muitas vezes até à idade adulta. Alguns exemplos destas mensagens são: estou em perigo, não presto, não sou capaz de fazer nada, ninguém gosta de mim. Quantos de vós, adultos, se reconhecem nestas crenças negativas e como estas interferem na vossa vida pessoal, social e profissional? Imaginemos agora o que estas perceções de si próprias fazem a crianças com a vulnerabilidade típica da idade e sem a capacidade para as perceber, dizer e expressar.

Há tempos, um rapaz de 12 anos que apresentava “acessos de fúria” (entre aspas porque na verdade o que fazia era largar os livros e fechar-se no quarto) quando se confrontava com uma dificuldades escolar, tinha igualmente uma postura adultomorfa e erguia todas as suas defesas quando eu procurava chegar às suas emoções. Cerca de dois anos antes, houve um desacato à porta do prédio entre os pais e um vizinho, que acabou em agressões físicas. Este rapaz, na altura do conflito com 10 anos, ligou três vezes para o 112. Continuava, no entanto, a repetir “eu não fiz nada, devia ter feito alguma coisa para acabar com aquilo”, revelando um sentimento de impotência e uma crença de que devia ter feito mais do que fez. Três anos antes, a avó deste rapaz faleceu. Chegou a vê-la no hospital em fase terminal, mas não se despediu. Depois da morte da avó, começou a revelar grande agressividade na escola, batia nos colegas, atirava com as cadeiras. “Fui muito mau para a minha professora, sou mau quando sinto coisas”. O EMDR ajudou a perceber, mais uma vez, que o pensamento negativo era de que nada fez para salvar a avó. O processamento destas situações ajudou a desbloquear estas crenças negativas e irracionais (sou fraco, sou mau), permitindo a instalação de recursos e respostas mais adaptativos, associados a um pensamento mais positivo: este rapaz fez o que pôde e expressou-se como foi capaz, tendo em conta a sua idade. Passou a ser mais capaz de entrar em contacto com as suas vulnerabilidades, aceitando-as e reagindo de forma ajustada. As dificuldades escolares acentuavam esta perceção de que não era capaz porque era fraco, reagindo com “fúrias” que ao mesmo tempo que o faziam sentir-se mais forte, reforçavam igualmente a ideia de que era mau.

A psicoterapia EMDR foi bastante importante neste caso, tendo em conta que existiam vivências traumáticas que o colocavam numa posição muito defensiva e difícil de quebrar com outra abordagem terapêutica.

Termino com alguns exemplos de reações que as crianças podem apresentar depois de uma vivência traumática (imediatamente a seguir ou algum tempo depois), retirados do livro “Usando EMDR com ninõs”:

-Alterações do Sono: pesadelos, sono agitado, falar/gritar durante o sono, dificuldade em adormecer, medo de ir dormir, enurese noturna;
-Culpa: responsabilizar-se pelo acontecimento e por tudo o que acontece, comportamento excessivamente desajustado que implica castigos ou, pelo contrário, comportamento excessivamente adequado para a idade;
-Regressão: comportar-se como um bebé, dependência excessiva, dificuldade em ficar sozinho, procura excessiva de atenção);
-Medo: medo de aspetos diretamente relacionados com o evento, reação excessiva a ruídos fortes ou movimentos repentinos, reatividade excessiva ao toque, medos vários;


Muitas destas reações são normais e expectáveis em algumas fases do desenvolvimento. É a intensidade, a frequência e a persistência que traduzem que a criança não está a ser capaz de lidar sozinha com os acontecimentos.

Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta EMDR
Responsável pelo Departamento da Infância

terça-feira, abril 01, 2014

Fobias Sexuais



Quando sentimos um medo intenso e muitas vezes irracional diante de alguma situação ou objeto específico, costuma-se dizer que sofremos de uma fobia. Existem dezenas de fobias identificadas pelos especialistas, e claro que o aspecto sexual não escapa deste transtorno. Muitas pessoas sentem medo perante diferentes situações íntimas que costumam deixá-las em estado de alerta, mas às vezes elas têm dificuldade em perceber que existe um problema. Veja algumas destas fobias e em que consistem:

Erotofobia, medo do sexo ou de falar dele
Por mais estranho que possa parecer, a erotofobia é uma das fobias sexuais mais comuns que existem. Trata-se de um grande medo de abordar qualquer tema relacionado com o sexo e, em casos mais extremos, inclusive de praticar sexo. Esta fobia pode ter origem numa educação repressiva na qual o tema sexual era considerado algo ruim ou um tabu. Quem sofre desta fobia bloqueia-se diante de situações eróticas, o que impede que pratiquem ou que desfrutem do sexo.

Disabiliofobia, medo de se despir
É claro que nosso aspecto físico influi de maneira notável em como nos sintamos mais ou menos confortáveis sem roupa. Todos nós sentimos alguma vez medo ou vergonha de nos despirmos e da reação do nosso parceiro, mas quando esse temor nos domina e se torna algo irracional, é possível que se sofra de disabiliofobia. Esta fobia desenvolve-se devido à baixa autoestima vinculada com o nosso corpo, mas representa um problema importante para muitas pessoas que não conseguem ter relações sexuais se não for com a luz apagada ou cobrindo com roupa determinadas áreas do seu corpo.

Medomalacufobia, medo de perder a ereção
Manter uma ereção estável até ao final do coito é, muitas vezes, visto como um elemento-chave no sexo. Mas às vezes a pressão para atingir a resistência sexual desejada faz com que muitos homens comecem a sentir um medo intenso de perder a ereção, conhecido como medomalacufobia. Um dos problemas associados a este medo é a frustração que gera, ao mesmo tempo que leva muitos homens a automedicarem-se com pílulas para melhorar o rendimento sexual quando não precisam delas.

Homofobia, medo da homossexualidade
Lamentavelmente, de todas as fobias sexuais, esta é uma das mais conhecidas. Trata-se do temor irracional diante dos homossexuais ou diante da ideia de tornar-se homossexual. Além do receio e do temor, esta fobia inclui também uma rejeição importante por esta preferência sexual, que muitas vezes se manifesta através de condutas e agressões verbais ou físicas.

Malaxofobia, medo de amar
Esta fobia, que afeta mais as mulheres do que os homens, pode ter diversas origens, mas consiste basicamente no medo dos jogos eróticos, do flirt, das carícias, das massagens e de todo tipo de contato amoroso. Também conhecida como sarmassofobia, a depender do nível pode não afetar a resposta ao sexo, ou seja, muitos pacientes que sofrem disso sentem prazer durante o coito.

Afenfosfobia, medo de ser tocado
A afenfosfobia é semelhante à anterior, mas não está focada apenas nos jogos sexuais e preliminares ou na paquera, mas no contato de modo geral. Quem sofre desta fobia apresenta um medo intenso de ser tocado em qualquer âmbito, seja em público ou em privado. Esta fobia afeta claramente o desempenho sexual, tornando-se um impedimento importante para o contato.

Falofobia, medo do pénis
A falofobia é um medo que sem dúvida limita de forma importante o contato sexual. Nas mulheres apresenta-se como um temor a ver, tocar ou ter contato com o pénis, enquanto nos homens, algumas vezes pode apresentar-se na forma de um medo irracional diante das ereções. Dependendo do nível, podem apresentar-se ou não encontros sexuais, ainda que com os limites lógicos que determina esta fobia.

O que fazer?
Quer você apresente uma fobia sexual, quer qualquer outro tipo de fobia, é muito importante procurar um terapeuta sexual. Só um especialista poderá ajudar a encontrar a origem do seu medo e trabalhar nisso para superá-lo com sucesso. O sexo e a intimidade são de suma importância para a saúde do casal, por isso não hesite em procurar um médico para encontrar as ferramentas que ajudem a superar esta situação.

domingo, março 30, 2014

Estimulação Bilateral e Psicoterapia Psicanalítica

Na minha prática clínica cruzo a Psicoterapia Psicanalítica com a Estimulação Bilateral. Para mim, a estimulação bilateral é uma espécie de enzima que auxilia a digestão mental das experiências emocionais.

Conduzo a sessão como conduziria uma sessão de psicoterapia psicanalítica corriqueira, apenas introduzo pequenas pausas que vão até minuto e meio de estimulação bilateral (auditiva, táctil ou visual) quando sinto que se tornou activa uma situação emocional que não está suficientemente digerida. Este método permite também aumentar a produtividade da sessão, estimulando a associação livre e a intensificação do insigth.


Ana Almeida
Directora Clínica da Psicronos

sexta-feira, março 28, 2014

SERÃO OS BEBÉS CAPAZES DE ESCOLHER OS SEUS AMIGOS?

Um novo estudo mostra que bebés serão capazes de notar a diferença entre amiguinhos bons ou maus, e sabem quais escolher. Bebés de seis a dez meses exibiram importantes critérios de selecção social antes mesmo de aprender a falar, mostra trabalho do Centro de Cognição Infantil da Universidade Yale, publicado na revista Nature. Entre diversas situações criadas neste estudo,  os bebés assistiram a um boneco de madeira tentando subir uma colina e outro boneco aparecer para ajudar ou atrapalhar o primeiro. As crianças então tiveram acesso aos bonecos  e os cientistas esperaram para ver com qual os bebés escolheriam brincar.   Praticamente todas as crianças optaram por ficar com o boneco "bonzinho". Elas também gostaram mais de brinquedos neutros - que não ajudavam e nem atrapalhavam - do que dos brinquedos "maus". "É impressionante que bebés possam fazer isso", disse a principal autora do trabalho, a psicóloga Kiley Hamlin. "O que mostra que temos perícias sociais essenciais ocorrendo sem educação explícita".   Não houve diferenças de reacção entre meninos e meninas, mas quando os pesquisadores tiraram os olhos que faziam os brinquedos parecerem seres vivos, os bebés perderam a capacidade de julgá-los, disse Hamlin.   A escolha do bom sobre o mau apoia uma escola de pensamento segundo a qual algumas capacidade sociais são inatas, e não fruto de aprendizado. O psicólogo David Lewkowicz, que não tomou parte no estudo, disse que o trabalho é interessante, mas que não está convencido de que o comportamento não foi aprendido de outros. "Crianças adquirem um bocado de experiência social entre o nascimento e os seis meses", ponderou.   A equipe de Yale afirma ter pesquisas preliminares que mostram tendências semelhantes em bebés de até três meses, diz Hamlin.


António Neves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta (Delegação da Maia)

quinta-feira, março 27, 2014

Conferência sobre o Bullying em Portugal- 28 de Março às 18h na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa


Amanhã, dia 28 de Março, conferência sobre Bullying O Bullying em Portugal: Situação actual e caminho a percorrer.

Às 18h na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. ENTRADA LIVRE


Numa altura em que os dados estatísticos demonstram claramente que este tipo de práticas tem vindo a aumentar no nosso
país, a JP Lisboa, uma organização formada por jovens, decidiu organizar uma conferência onde procuraremos elucidar toda a comunidade
académica e escolar sobre qual a situação actual deste flagelo e qual é que deve ser o caminho a percorrer.

Considerou-se pois que seria enriquecedor para a sessão, ter presentes aqueles que diariamente trabalham em ambiente escolar ou académico,

já que é responsabilidade de todos nós encontrar formas de combater esta forma de violência muito perigosa.

Para nos ajudar com o tema, iremos contar com uma das maiores especialistas do tema em Portugal: a Prof. Dr. Susana Carvalhosa, Pró-Reitora do ISCTE-IUL.

Juntos podemos combater o Bullying.



quarta-feira, março 26, 2014

FELICIDADE?



Quem é que não quer ser feliz?

Quem sabe o que é a felicidade?

Será uma utopia?

O que traz felicidade?

Quem se dedica verdadeiramente a procurá-la?

Este é um excelente documentário sobre as mais variadas pessoas pronunciando-se sobre uma das questões mais valiosas da humanidade. Diversas respostas e outras tantas questões é o que este filme nos proporciona.

sexta-feira, março 21, 2014

O EMDR pode ajudar a lidar com uma Traição



Lidar com uma traição é das situações mais difíceis de ultrapassar numa relação amorosa. Para algumas pessoas, uma traição é um ato imperdoável, enquanto para outras é algo que apesar de ser difícil não é o suficiente para acabar uma relação. A descoberta de uma traição numa relação conjugal causa, geralmente, na pessoa traída, um enorme sofrimento, diminuição da auto-estima, depressão, afastamento social e, em casos extremos, falta de vontade de viver.

Lidar com uma traição pode ser uma situação de tal forma dolorosa 
que podemos considerar um trauma


Independentemente da decisão que tomar: sair da relação ou permanecer na mesma, o recurso ao EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing/Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares) poderá facilitar o processo de aceitação de um acontecimento tão tóxico como uma traição e ainda a conviver com a raiva e as dúvidas associadas. 




terça-feira, março 18, 2014

Comunicação com animais. Será possível?

Neste video vemos um ser humano a comunicar (supostamente) com um leopardo e é espantoso.
Penso que vale a pena ver e reflectir sobre este assunto.
Se existe comunicação telepática entre os animais e os seres humanos, porque não entre seres humanos.

Será que a comunicação via identificação projectiva tão falada pela Psicanálise é uma forma de comunicação telepática?


domingo, março 16, 2014

Citação

 

De novo, a criatividade

Para quem costuma ler os meus posts, a criatividade parece ser uma obsessão minha. De facto, não sendo eu artista, no sentido tradicional da palavra, fui percebendo ao longo da vida que é essencial manter esta faceta tão especificamente humana. Somos a espécie animal que inventou a arte. Porque terá sido?

A mim parece-me que os nossos cérebros são naturalmente criativos, mas que, para muitos de nós, a vida se encarrega de a ir matando. É preciso estar atento e não nos deixarmos acomodar em rotinas que desgastam a energia e reduzem a criatividade. É que energia e criatividade andam de mãos dadas.

Este pequeno artigo do site Big Think (site que é de seguir) dá uma série de pistas. Podem não ser necessariamente essas, cada um de nós tem de encontrar aquilo que lhe aumenta a energia e a criatividade. Eu acrescentaria que viajar, pior exemplo, traz sempre ideias e perspectivas novas. O cinema também provoca muitas vezes o mesmo efeito. Conhecer pessoas novas é outra forma. A internet, que tem muitas vezes demasiada informação, dá também pistas interessantíssimas. Ontem vi um site de um artista que desenha com o dedo em janelas embaciadas e fotografa. Tem coisas muito bonitas. É simples e exequível. Exige "só" criatividade.

http://bigthink.com/think-tank/10-steps-to-creativity-and-boosting-intuitive-awareness

 

quinta-feira, março 13, 2014

PRAXES: uma perspetiva psicológica


Depois de algum tempo decorrido sobre o debate público sobre as praxes (suscitada sobretudo pelas mortes de estudantes alegadamente em contexto de praxe), gostava de escrever algo sobre o assunto. Poderá já ser algo tardio mas tem a vantagem de poder ser escrito e lido de forma mais ponderada e menos reativa. 

Um dos debates públicos a que assisti sobre o tema e que me chocou foi o debate feito no programa da RTP1, os "Prós e Contras" (http://www.rtp.pt/play/p1099/e142806/pros-e-contras). Começou como costuma começar o programa, com uma video-reportagem a fazer o apanhado da situação, neste caso das praxes. Este vídeo mostrava trechos de praxes de norte a sul do país onde estavam presentes algumas das faculdades representadas por estudantes no programa. Como estudante que fui da Universidade de Lisboa e tendo assistido a muitas praxes em redor da mesma (durante e pós curso), as atividades que vi retratadas na video-reportagem correspondiam ao tipo de atividades que eu já conhecia. 


Qual não foi o meu espanto quando vejo todo um programa de excelência de debate e reflexão pública a ser quase completamente sabotado por fenómenos grupais de denegação e ataque. Não me refiro apenas à manifestação exaltada, ao estilo de um claque de futebol, da plateia, mas sobretudo a uma posição altamente defensiva dos discursos dos principais intervenientes e representantes da posição pró-praxe. O fenómeno foi tão intenso, a meu ver, que acho merecedor de uma análise per se

Muito simplesmente, todos os representantes de Associações de estudantes das diversas Universidades, a par do Professor de Direito, Eduardo Vera Cruz, foram unânimes e peremptórios em afirmar, não só que a video-reportagem não representava a prática comum e a essência das praxes, como até se sugeriu ter havido, consciente ou inconscientemente, uma seleção enviesada dos piores trechos por forma a passar uma imagem distorcida e desfavorável das praxes. Desta forma, consegui-se chegar ao fim de um programa relativamente longo, sem que a quase totalidade dos estudantes admitisse que as praxes são atividades semelhantes às filmadas publicamente, nem tão pouco se definisse mais concretamente o que são então as praxes na perspetiva dos defensores das mesmas (houve sobretudo pseudo-argumentos que desviavam a atenção exultando as práticas grupais ligadas à Tunas, às serenatas, etc. que muito pouco têm a ver com as praxes propriamente ditas). 

Ou seja, não foi possível haver consenso sobre a primeira questão mais básica: o que são as praxes? Afinal de contas o problema todo residirá na observação, descrição e interpretação "objetiva" da realidade do que se passa nestas atividades grupais. E é esta questão que não pôde ser aprofundada neste grande debate, quer por ter sido desvirtuada pela maioria, quer por não ter havido tempo ou outros níveis de análise mais penetrantes. Gostaria de explorar então um pouco desta questão, relacionando-a com o fenómeno acontecido neste debate.

Sem me querer alongar muito, a praxe corresponde, a meu ver, a um ritual grupal de iniciação/integração num grupo. Mas definir a praxe apenas por esta definição parece não captar a especificidade da maior parte da natureza destas práticas, envolvendo atitudes de domínio e comando, hierarquia, submissão e mesmo humilhação, mais ou menos, coercivas e violentas, principalmente psicologicamente mas também fisicamente (penso não ser assim tão raro). E sobre isto destaco dois pontos:

1- O principal argumento pró praxe parece ser o de que é um importante meio de integração, conhecimento uns dos outros e aprofundar dos laços de formas divertidas. A questão que fica é: será que para haver integração e interação entre colegas recém-chegados e colegas mais velhos, tem de se recorrer a práticas de supremacia e dominação (ainda que, como disse, com diversos níveis de brincadeira, afetividade, coerção ou pressão)?

2- O segundo ponto é talvez o busílis de toda a questão: desde quando é que as brincadeiras que se fazem nas praxes podem ser qualificadas na sua maioria por adjetivos tão pesados como "violentas", "humilhantes", "dominadores", " de submissão", "coercivas"? É aqui que penso haver uma grande dificuldade, não só ao nível dos defensores das praxes, como ao nível mais abrangente da sociedade. Penso que esta é uma das questões que merecia ser debatida e pensada a um nível mais geral e profundo. Tem que ver com o que penso ser ainda, uma transição de valores culturais. Antigamente, por exemplo, a escravidão não era uma violência era normal e natural; antigamemte o voto exclusivamente masculino não era discriminatório, era realista e normal; antigamente a violência doméstica não o era, era simplesmente banal e nada de mais; antigamente as crianças eram posse dos progenitores e desprovidas de direitos, hoje em dia cada vez mais são consideradas como sujeitos com uma dignidade e direitos próprios. Ou seja, a sociedade tem caminhado cada vez mais no sentido de uma maior sensibilidade e proteção dos mais fracos, valorizando a igualdade e liberdade de todos em cada vez mais situações. 

No entanto, estamos longe de ser capazes de discernir com a clareza e indignação suficientes, muitas formas de violência que hoje ainda passam muitas vezes por normais e abaixo do limiar da preocupação/consciência. Não são bem "violências", são manifestações mais ou menos ajustadas ou dentro do socialmente aceitável e que não se justifica serem "dramatizadas". Um destes exemplos é o uso da violência física na educação dos nossos filhos. Dá muito trabalho educar sem bater: exige uma auto-regulação constante, um grande trabalho a montante que envolve muita disponibilidade, paciência e intervenção firme, calma e atempada. É quando algo de entre isto tudo falha que surge a necessidade de coerção ou punição física como descarga da tensão do pai e controlo desesperado da conduta do filho. Esta questão é atualmente controversa por levantar muitas questões de natureza prática e que não terei oportunidade de desenvolver aqui mas que poderá ser aprofundada de forma muito prática e elucidativa no livro "Educar sem bater", de Luís Maia.

Mas isto tudo para voltar à questão, que penso colocar-se neste momento na mente de muitos estudantes defensores da praxe: desde quando é que as brincadeiras que se fazem nas praxes podem ser qualificadas na sua maioria por adjetivos tão pesados como "violentas", "humilhantes", "dominadores", " de submissão", "coercivas"? Esta questão pode também ser acompanhada de outras semelhantes mas respeitantes a outras áreas: desde quando é que dar uma palmada no meu filho é "crime", ou reprovável ou negativo? Desde quando é que insultar veementemente um árbitro é excessivo e não simplesmente normal e natural?

Ou seja, a questão de fundo prende-se com o que foi exemplarmente aprofundado no livro "A loucura da normalidade", de Arno Gruen. É que a responsabilidade daqueles que possuem uma maior experiência e conhecimento (ou seja, os nossos pais, patrões, os decisores e todos os que, como os alunos veteranos, estão numa posição privilegiada (de maior poder) face aos outros) é ainda frequentemente exercida e acompanhada da contrapartida da submissão, controlo e dominação. Em vez de ser um ato de cuidar generoso, é uma troca: eu dou-te coisas e protejo-te e tu prestas-me serventia, reverência ou submissão. Claro que esta troca, mais ou menos "generosa", não é, na maior parte dos casos consciente. No entanto, esta dinâmica de dominação, obediência e conformismo está ainda muito enraizada culturalmente.
Veja-se um trecho do livro de Arno Gruen, exemplificador deste fenómeno na educação:

"«Torno-me no que tu queres para tu tratares de mim. A minha sujeição é, a partir de agora, o meu poder sobre ti, com o qual te obrigo a dedicares-te a mim.» Assim, o ato de se fazer dependente converte-se na vingança pela sujeição. Este ato tem várias facetas. Primeiro, a criança adota o critério dos pais. O que dá pelo nome de interiorização. É, portanto, um processo de colaboração pela subjugação. Segundo, isso significa que a criança começa a odiar em si tudo o que possa fazê-la entrar em conflito com as expetativas dos pais. E, terceiro, este ódio de si próprio acarreta a predisposição a subjugar-se cada vez mais."

Este fenómeno, eminentemente, inconsciente (porque intolerável à consciência humana!) funda a violência humana, no ataque que faz à autenticidade e autonomia da criança. Ela aprende desde que nasce que se fizer certas coisas é má e que os pais ficam contentes com ela se for como eles "querem". E assim, nasce a troca social fundadora da dominação, obediência e conformismo: troco a minha liberdade, autonomia e (auto-)empatia, bem como, a minha responsabilidade, pela segurança e conforto do conformismo fomentador da pertença e aceitação. O "conformista" típico poderia então ser definido como "um homem sem grande ambição, mas capaz de arranjar uma explicação do mundo que lhe permita viver sem ambiguidade" (Naipul, cit. por Gruen, 1995).

Este fenómeno pode ser visto com grande clareza nos casos extremos que são os cultos e seitas, ou os contextos de guerra (o holocausto, em particular) onde a obediência é claramente mais valorizada do que a liberdade e responsabilidade pessoais. Ou ainda no chamado "síndrome de Estocolmo", em que os subjugados são de tal forma coagidos que "aprendem" mesmo a aliar-se aos agressores como forma inconsciente de se aliarem à vida (evitando assim o medo de morrer associado naquele contexto à desobediência e à liberdade). 

Retomando o exemplo das praxes, podemos ver como parece ser um fenómeno, quase a meio termo entre cultura e culto: possui um código próprio, uma organização social e hierárquica bem definida e rituais grupais. A amostra do comportamento das comissões de praxe e outros estudantes presentes no programa Prós e Contras agiram como um grupo muito coeso e uniforme (nas ideias e nos "uniformes") numa lógica de in group, out group, ou seja, defendendo instintivamente os seus e reagindo agressiva e instintivamente aos de fora, aliás, numa lógica semelhante às interações entre "veteranos" e "caloiros". Os valores do grupo foram tão manifestamente presentes que surpreendentemente se sobrepuseram à própria realidade do que são as praxes, numa atitude de denegação defensiva da realidade com o objetivo de proteger o clã. 

Outra questão diz respeito aos processos inter-geracionais e culturais que levam à continuidade e manutenção do sistema. Sabe-se que a aprendizagem social se faz sobretudo por identificação aos modelos sociais. Numa sociedade de hierarquia e poder, quem foi subjugado quererá depois redimir-se e subjugar alguém assumindo ele próprio o poder do seu modelo de relação.

A verdade é que o contexto de praxe fomenta dinâmicas relacionais de sadismo e masoquismo que, por melhor que se possam desenrolar e tolerar na maior parte dos casos, são um terreno muito propício a abusos daqueles que mais abusados foram nas suas vidas e por isso mais rédea solta dêem aos seus impulsos sádicos. O que fazer? Não sei. Antes de mais pensar e sensibilizar para o assunto.  

Para terminar o artigo que já vai longo, chamar à atenção para os traumas que resultam destas dinâmicas sociais de certos graus de violência, sobretudo psicológica. Hoje, felizmente, já não é só a violência física que é fonte de preocupação e cada vez mais se atenta a esta, muitas vezes pior, forma de violência. Neste sentido, a psicoterapia EMDR revela-se como particularmente útil pela sua vocação e eficácia de realce em problemáticas de cariz traumático.

Sobre EMDR: http://www.psicronos.pt/consultas/emdr_12.html  

quarta-feira, março 12, 2014

YOGA E RELAÇÕES AMOROSAS: QUE LIGAÇÃO?




Li um artigo num dos blogues que sigo que faz um paralelismo interessante entre os princípios básicos do Yoga e as relações amorosas:





-Vínculo/Ligação: As posturas do yoga desenvolvem-se a partir de uma ligação a uma base estável, que permite que respiração flua livremente e explorar a prática, da mesma forma que é necessário criar uma ligação com o/a parceiro/a, assente em bases sólidas de confiança e afeto, que permitem expressar-se livremente e explorar a relação.

-Regularidade: a prática regular do yoga é muito mais recompensadora ao longo do tempo, do que workshops ou retiros pontuais, que são importantes para complementar e fazer novas aprendizagens, mas não sustentam a prática. Do mesmo modo, o contacto e a comunicação regulares numa relação são essenciais para aprofundar o vínculo permitindo depois desfrutar melhor e aprender mais sobre o outro em férias ou fins-de-semana mais excitantes.

-Passo a Passo: Querer avançar demasiado rápido para posturas avançadas aumenta o risco de lesões, enquanto que respeitar o ritmo permite perceber de que modo o corpo responde, dando tempo e experiência para que nos possamos adaptar à experiência. Ter tempo para conhecer alguém dá-nos tempo para ensaiar respostas e experiências com o outro, pelo que procurar acelerar a relação ou fazer planos demasiado cedo, aumenta a possibilidade de desilusão.

-Persistência: Manter uma postura durante algum tempo permite aprofundar a sensação que produz, sentir a respiração e a resposta do corpo, da mente e das emoções, do mesmo modo que dar tempo à relação permite que esta se desenvolva, investindo naquilo que podem criar juntos.

-Quietude: A prática de yoga inclui períodos de quietude, seja em que postura for, dá-se tempo à tranquilidade e a consciência de si próprio, do mesmo modo que numa relação é importante que se consiga continuar a estar consigo próprio e aprofundar os sentimentos.

O Yoga é uma prática e uma filosofia assente no bem-estar e na ligação ao próprio. Estes princípios e paralelismos poderão ser encontrados noutro tipo de práticas que visam a consciência de si próprio e o bem-estar. Porque, na verdade, para estabelecer relações amorosas saudáveis, é necessário que a relação com o próprio seja saudável, o que muitas vezes também requer aprendizagem: aprender a respeitar-se e aceitar-se, a ter tempo e a dar-se tempo a si próprio, a persistir e a tranquilizar-se.



segunda-feira, março 10, 2014

O Elefante Acorrentado



Esta história, aparentemente simples, trás consigo uma metáfora...a de que mesmo quando já somos fortes e crescidos, e podemos tomar as nossas próprias decisões, ficamos aprisionados nas cordas do passado, que nos diziam que não éramos capazes...

Retire alguns minutos do seu tempo para ler esta história ao seu filho, sobrinho, primo...a um pequeno ou a um jovem e aproveite também para a saborear, pensar, discutir...ver o que os pequenos leitores entendem dela (provavelmente muito diferente do adulto mas igualmente interessante!).

Além da história, este livro tem também um grafismo interessante, e pode bem ser uma sugestão para um final de dia em família...

Boa Leitura!

Carla Ricardo
Psicronos Setúbal
Departamento da Infância

quarta-feira, março 05, 2014

SEXUALIDADE INFANTIL (II): VAMOS BRINCAR AOS MÉDICOS?

Como vimos na publicação anterior, a masturbação começa bastante cedo através da exploração natural que a criança faz do próprio corpo. Trata-se de uma gratificação meramente sensorial, que conduz a sensações prazerosas e ao alívio de tensões, não tendo nesta altura qualquer caráter sexual, em situações normais. No entanto, a erotização que os pais fazem deste comportamento tende a gerar desconforto, apreensão e repreensão. Esta atitude negativa leva muitas vezes ao aumento da tensão e da curiosidade, reforçando a masturbação.

Por volta dos três anos, a criança já vai percebendo que existem diferenças entre meninas e meninos, o que conduz a perguntas embaraçosas, mas também à exploração do corpo do outro. “Porque é que a mana não tem pilinha?”, “A minha pilinha também vai cair como a da mamã?” são perguntas frequentes colocadas pelos rapazes. Já as raparigas tendem a ficar intrigadas a observar aquele órgão pendurado no corpo do irmão ou do pai, procurando tocar e perguntando se também vão ter um igual. A estas perguntas que pai e mãe procuram empurrar de um para o outro, há que responder de forma aberta, tranquila, mas resumida ao essencial. As crianças satisfazem-se com explicações simples. Se sentirem que há atalhos ocultos no meio do nervosismo, vão querer continuar a exploração. Se não obtiverem resposta às suas questões ou receberem uma atitude negativa, poderão procurá-la noutros contextos, sem que os pais tenham controlo do que se passa.

Entre os 4 e os 6 anos começam também a surgir as brincadeiras de médicos, em que as crianças se examinam mutuamente. Mais uma vez, este comportamento é de descoberta, sem conotação sexual, devendo os pais preocupar-se apenas se estiverem envolvidos adultos ou crianças mais velhas. Surgem outros embaraços para os adultos, principalmente nos meninos, que começam a testar o alcance da sua arma, sobretudo quando urinam. Tendem a ter outras brincadeiras no Jardim de Infância, baixando as calças com frequência e espreitando os pénis dos colegas. Também os educadores têm um papel fundamental na gestão destes comportamentos, evitando ridicularizar ou castigar as crianças.

A partir dos 4 anos já conseguem aprender que a exploração deve ser feita em privado, pelo que os pais devem conduzir a criança ao seu quarto ou à casa de banho, sem repreensão, dizendo “eu sei que te sabe bem quando mexes aí e não faz mal, mas deves fazê-lo quando estás sozinho/a”. É também a altura de ensinar de forma clara que mais ninguém pode tocar-lhe nos genitais, exceto os pais ou outro adulto de confiança nas rotinas de higiene. E que se alguém o fizer, deve contar aos pais. Se os pais percebem que a criança recorre a objetos, enquadrados ou não na brincadeira dos médicos, devem igualmente explicar-lhe que não deve fazê-lo, para que não se magoe.

Qualquer que seja a idade, a ansiedade e a proibição por parte dos pais tendem apenas a reforçar o fascínio e a curiosidade. Se a criança se sente envergonhada ou culpada, irá reprimir as suas questões, comprometendo um diálogo saudável e preventivo. Por outro lado, quanto menos os pais chamarem a atenção para o comportamento masturbatório, menos focada estará a criança nos seus genitais e nos dos outros.

Comentários como “isso é feio”, “não mexas aí porque é sujo”, “és um/a menino/a muito feio/a quando fazes isso”, “isso é porcaria e não se faz”, “vais ficar de castigo” estão proibidos!

Continuaremos a desenvolver o tema, nomeadamente no que respeita à hiperexcitação e a sinais de alerta ligados à masturbação.

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Diretora do Departamento da Infância

Saiba mais sobre a consulta de Psicologia Infantil AQUI

terça-feira, março 04, 2014

Uma história que ajuda a explicar a morte às crianças.

http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/eunice-guerreiro/6025-historias-que-ajudam-quando-o-dinky-morreu




Susana Morão
Psicóloga clínica e Psicoterapeuta
Departamento da infância (Almada)

http://www.psicronos.pt/consultas/psicologia-e-psicoterapia-infantil_5.html

segunda-feira, março 03, 2014

Como Sobreviver á Ansiedade...??? Será que EMDR funcionaria neste caso?

Como Sobreviver á Ansiedade!
Análise de um testemunho.

Ao trabalhar com bastante frequência com pessoas que sofrem de ansiedade, muitas vezes cruzam-se referências de artigos científicos e publicações em jornais e revistas. Numa destas trocas de informação com um paciente, ele enviou-me o seguinte link, http://www.publico.pt/sociedade/noticia/sobreviver-a-ansiedade-1621701  acerca de um artigo que ele tinha encontrado sobre ansiedade.
Este artigo do público é um pouco extenso, mas vale a pena ler até ao fim pela clareza da exposição e pela maneira como consegue dar uma noção na primeira pessoa do que é sofrer de ansiedade.
Uma das coisas que mais impressionou neste artigo foi a dificuldade de obter resultados positivos por parte de SCOTT STOSSEL.
Este homem, segundo ele, passou por várias terapias Eis o que já experimentei: psicoterapia individual (três décadas disso), terapia familiar, terapia em grupo, terapia cognitivo-comportamental, terapia racional emotiva e comportamental, terapia de aceitação e compromisso, hipnose, meditação, desempenho de papéis, terapia de exposição interoceptiva; terapia de exposição in vivo, livros de auto-ajuda, massagens terapêuticas, orações, ioga, filosofia do estoicismo e cassetes áudio encomendadas em anúncios infocomerciais de televisão fora de horas.” Cit.
Nesta lista faltam algumas terapias. Uma delas é o EMDR, seria possível que esta terapia tivesse sucesso onde as outras não tiveram? Na minha opinião sim! Eu vou explicar o motivo pelo qual eu acho que vale a pena experimentar efetuar EMDR quando outras terapias não produzem resultados significativos.
O EMDR trabalha em vários níveis simultaneamente. Quando trabalhos determinado evento da vida, procuramos sempre apreender quatro dimensões. As imagens, as emoções, os pensamentos e as sensações. Estes quatro elementos compõem as nossas memórias. E é a partir delas que a nossa perceção do presente se forma.
Dando um exemplo do SCOTT STOSSEL, ele vive em função de evitar uma série de sensações fisiológicas associadas ao sistema digestivo. Ele tentou um método, entre vários, bastante intenso e radical a exposição ao vivo. Este método é bastante eficaz para algumas pessoas… mas lamentavelmente não para todas. Nesta preocupação em particular a terapia EMDR  pode ter uma abordagem um pouco diferente, ao trabalhar os pensamentos de uma forma similar aos eventos traumáticos. Ou seja, trazer simplesmente os pensamentos e as imagens associadas para a memória e efetuar um protocolo básico de EMDR.
O que acontece na maioria dos casos, em que isto é feito, é uma diminuição progressiva das emoções associadas aos pensamentos recorrentes. Mais tarde, com a continuação das sessões em EMDR, o paciente habitualmente reporta uma diminuição drástica dos pensamentos que o preocupavam.
Neste caso do SCOTT STOSSEL, os sintomas são bastante extensos e complexos, o que faz com uma terapia de EMDR tivesse uma duração bastante mais longa que o habitual, mas valerá sempre a pena tentar esta abordagem de psicoterapia quando todas as outras não resultaram.
                Afinal o EMDR é a terapia que mexe com o “hardware”  e com o “software” ao mesmo tempo, isto segundo os estudos comparativos de imagens de funcionamento do cérebro antes e depois da terapia. (como já foi demonstrado em post´s anteriores aqui no Salpicos)


Em breve escreverei mais acerca deste artigo, uma vez que é um testemunho tão completo do sofrimento que muitas pessoas passam no seu dia-a-dia.