quinta-feira, julho 19, 2012

MICROTEATRO

Para quem tem pouco tempo, aqui fica a sugestão cultural do Teatro Rápido que me parece bastante interessante e inovadora. Espetáculos de improvisação, exposições e o conceito de microteatro, em que o público é "apanhado no meio da acção, partilhando sensações com os personagens que lhe são apresentados". Uma excelente alternativa em época de crise financeira e de disponibilidade de tempo.


http://www.jn.pt/multimedia/video.aspx?content_id=2450128




http://teatrorapido.blogspot.pt/

quarta-feira, julho 18, 2012

Esperança no futuro




Na última edição de 'Janela discreta', na Antena 1 - que pode ouvir na íntegra em http://www.rtp.pt/programa/radio/p5257/c87543 -, Carlos Amaral Dias à conversa com Margarida Mercês de Mello parte da reflexão acerca da anestesia e dor, a propósito de um livro recentemente lançado sobre o tema, afirmando:


“Crescer dar dor, não crescer dá dor (do ponto de vista mental). Agora escolha a dor que quer”.

A tendência para nos anestesiarmos do mundo ou, por outras palavras, para nos alienarmos, encontra suporte numa "sociedade química ou fármaco-excessiva", que favorece a fantasia de tudo ser resolúvel através do consumo de substâncias. 

I know that is only rock’n roll but I like it (Rolling Stones).


No plano identitário dos portugueses, e dando como exemplo alguns acontecimentos recentes, para Amaral Dias é evidente a maior resignação dos portugueses, comparativamente aos espanhóis ou aos gregos.


Guerra Junqueiro, há mais de um século falava assim de Portugal e dos portugueses:


  •  "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
  • Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
  • (...)
  • Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
          (Guerra Junqueiro, 1896)


E a resignação, que não promove o crescimento ou a mudança, é muito diferente da esperança. Muitas coisas estão a mudar no nosso tempo, visível e invisivelmente, mais lenta ou aceleradamente, como é o caso da sociedade de consumo e da abundância.
“a esperança é absolutamente fundamental para que  nós tenhamos a possibilidade de organizar a relação com os nossos desejos e o tempo necessário à realização dos nossos desejos." 
"do ponto de vista  mental enquanto há esperança é que há vida", e não vice-versa, como nos diz o provérbio.
Por outro lado, se "o futuro deve manter a capacidade de dar-nos esperança",  acrescento, somos nós que precisamos de desenvolver a capacidade de ter esperança no futuro, reflectindo e intervindo, manifestando-nos e apontando novas possibilidades, correndo o risco de não ser o 'português suave' ou o menino bem comportado da Europa.
 
 

terça-feira, julho 17, 2012

Facebook friends

Já não é a primeira vez que escrevo post´s acerca das novas tecnologias e sobre as suas potencialidades e/ou vieses. Hoje lembrei-me porque há relativamente poucos dias surgiu mais uma notícia que falava sobre matrimónio e facebook.
Importa lembrar que, para além das potencialidades que enceta, esta janela para o mundo encerra em si uma série de outras dificuldades; se por um lado promove amizades, namoros, divórcios, ... por outro inibe (ou pode inibir) competências sociais, o face to face, o saber conversar olhos nos olhos, o acordar ou discordar lado a lado, sem mediadores, nem protetores...
Quando observamos as coisas por este prisma, vale pensar na adolescência e nas possíveis ameaças que pode trazer.
Cada vez mais tenho assistido a queixas de pais acerca dos seus filhos e o uso do pc. Referem que só querem estar ao computador, que não saem para lado nenhum, que se relacionam pouco com os colegas, e que jamais encentam algo para sair de casa - pelo que vale pensar um pouco neste tipo de sintomas.
Há uns anos atrás assisti a uma reportagem de um sr. americano, creio que estava em Portugal a divulgar dados de um estudo sobre o hi5, ou melhor, acerca dos relacionamentos. Alguns dados por si apontados referiam que quem não tivesse 500 amigos não era considerado cool, não era socialmente aceite e era considerado desinteressante e que era alvo de alguma chacota, pois ter poucos amigos era sinal de que não era popular e de que ninguém dele gostava.
Trabalhou então junto dos jovens alterando a sua noção de amigo, referindo que a partir de um certo número (a partir dos 50) já não se poderia considerar amigo na verdadeira aceção da palavra, e que os jovens corriam muitos riscos para conseguir o objetivo de ter 500, 1000 ou 2000 amigos.
Este cartoon  coloca a tónica exatamente nisso! Seremos nós menos populares se tivermos menos likes? se restringirmos a acesso às nossas questões mais privadas? se não tivermos tantos amigos?
Vale recordar que a adolescência usa e abusa (ou pode usar e abusar) de excessos para se sentir integrado, para se sentir popular, bem visto por entre os companheiros, sexy, atraente, and so one...
Não foi por acaso que há uns anos atrás surgiu uma campanha cujo mote era:  "Think before you post"

segunda-feira, julho 16, 2012

CASULO CÓSMICO

Explodiu uma supernova. A onda de choque atravessou o casulo cósmico.
As imagens falam por si.

(photo: NASA)

sábado, julho 14, 2012

O cavalo de Turim



um filme seco que fala da seca
um filme duro que fala da dureza
um filme árido que fala da aridez

um filme desolado que fala da desolação
um filme longo que fala do tempo sempre igual
um filme sem palavras e sem cor
um filme que fala da vida que se esgota como a água num poço 

sexta-feira, julho 13, 2012

MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA E INTRÍNSECA

A questão da motivação, da vontade (ou da falta dela) de fazer coisas, é um tópico que surge sempre, quer nas sessões de psicoterapia quer de coaching.
Podemos ser empurrados para as coisas, arrastados pela corrente (motivação extrínseca). Mas também podemos fazer as nossas escolhas, perceber o que de facto queremos, distinguir os valores importantes para nós do que nos é imposto de fora, agir em conformidade (motivação intrínseca). Sem acção não é possível testar os nossos objectivos.
Uma coisa é reflectir antes de agir, outra é ficar paralisado e nada fazer. A in-acção é também uma forma de acção - mas pela negativa, pela passividade.
Não será melhor fazermos as nossas escolhas e agir, antes que outros nos obriguem, como quando éramos crianças?

mente sana in corpore sano


E porque a mente é indissociável de um corpo que lhe dá forma, que recebe o mundo, que interage com o mundo, que sente e que se expressa no mundo, é de especial importância o exercício físico. Um dos mais acessíveis - a caminhada - pode ser uma possibilidade agradável e relativamente pouco exigente. O artigo do Expresso sobre "O ritmo saudável para as suas caminhadas" fornece dicas interessantes: http://lifestyle.publico.pt/pesomedida/306176_o-ritmo-saudavel-para-as-suas-caminhadas

terça-feira, julho 10, 2012

PARENTALIDADE E DIFICULDADES NA RELAÇÃO PRECOCE


Ao nascer, o bebé está muito centrado no próprio corpo, nas informações que os sentidos lhe dão, sobretudo a partir do toque e da voz da mãe. Há nesta altura uma espécie de indissociação, em que mãe e bebé funcionam quase como um só. Numa relação precoce saudável, a mãe responderá de forma ajustada às necessidades do bebé, alimentando, acalmando, estimulando suavemente e dando segurança para que o bebé se torne num ser individualizado, apesar das necessidades parentais de que necessitará ainda durante muito tempo.

Em alguns casos, esta relação não decorre exatamente assim. Mães com fragilidades emocionais graves, poderão não ter disponibilidade afetiva suficiente para serem sensíveis às necessidades e aos ritmos do bebé. Podem falhar na supressão das necessidades mais básicas e também no grau de estimulação. Por vezes podem ter um registo que oscila entre o afastamento e a relação sufocante. Se o bebé é sobre-estimulado numa altura em que precisa de ser acalmado, acaba por mobilizar mecanismos que o ajudam a defender-se da sobrecarga, nomeadamente “desligando”. Se quando necessita de resposta (emocional, fisiológica), esta não surge, a ausência e a sensação de desamparo desencadeiam igualmente mecanismos de defesa. Quando a mãe se afasta, o sentimento de abandono é grande e ânsia de conforto, maior ainda. Quando a mãe sufoca, não só é demasiado suportar a proximidade excessiva, como o sentimento de que a qualquer momento a mãe se vai voltar a afastar obriga a um novo (des)ajustamento por parte da criança. 

E assim esta criança, que mais tarde será adulta, poderá  aprender que as relações não são seguras nem previsíveis. Se por um lado a relação nunca preenche suficientemente o vazio, por outro lado a proximidade e o afeto podem tornar-se demasiado assustadores, pelo medo da dependência e da perda, aspetos que poderão instalar-se de tal forma que condicionarão os vários tipos de relacionamento.

Daí que o papel do pai seja extremamente importante para o equilíbrio e para a possibilidade de estabelecer uma relação mais segura e previsível. Por outro lado, do mesmo modo que os pais consultam o pediatra em etapas fundamentais do desenvolvimento, defendo a importância da observação psicológica nos mesmos moldes. A avaliação da relação pais-bebé nas etapas mais precoces do desenvolvimento emocional é essencial para a prevenção e/ou o despiste de situações potencialmente comprometedoras da construção de bases sólidas da personalidade e da saúde mental. Ao mesmo tempo, será um espaço onde os pais podem partilhar as suas angústias, os seus receios, as suas alegrias e as suas expetativas em relação ao bebé, mas também no que respeita às alterações na dinâmica do casal e nos papéis de cada um.

BLOGAR COM MAIS FACILIDADE

Foto: NASA

Descobri uma nova aplicação que permite postar com mais alguma facilidade a partir do iPad. Talvez agora até consiga pôr fotografias. Vou fazer a experiência.

Esta é duma estrela moribunda, a U CAM. De vez em quando (de mil em mil anos...) expele uma bolha de gás. Não sei para quando será o estertor final. Mas vai levar muito tempo até morrer. Já cá nao estaremos. Refiro-me à humanidade.





sexta-feira, julho 06, 2012

Escala e escalada - lutando para manter os pés assentes na terra


Os avanços tecnológicos estão a criar autênticas revoluções a nível da relação espaço-tempo nas nossas sociedades ocidentais globalizadas (ver post sobre artigo de Michel Serres para mais informação sobre o tema). Parece que quase tudo na vida se tem vindo a tornar fácil e imediato: o adiamento da frustração, assim como, os limites à gratificação associados ao modo ”ter” (por contraste ao “ser”), tendem a esbater-se. A nível da vivência subjetiva do tempo passamos a ter tendência a viver desfazados do “tempo da realidade” – o tempo presente, onde o principal e o verdadeiro acontece. Passa-se pois a viver no passado, por exemplo, na busca contínua e repetitiva do experienciado gratificante e seguro, mas também num futuro, promessa megalómana da realização dos nossos sonhos (os Bancos são os nossos gurus a esse nível!).

E com tudo isto o presente estreita-se e fica vazio, cada vez mais vazio. É preciso preenchê-lo com sensações e experiências excitantes e alienantes (das realidades virtuais, dos reality shows, da vida dos heróis e ídolos da nação...): é a substituição do espaço-tempo da realidade próxima que nos cerca, por várias outras que, quando acabam, saem de cena abruptamente deixando um vácuo no seu lugar. 

O “ter” é cada vez mais possível e, por isso mesmo, tem tomado cada vez mais o lugar compensatório do “ser”, em défice – é que a facilidade e conforto de vida não podem nem compensam nunca a experiência irredutível da relação humana e dos vínculos humanizantes que a caracteriza no seu melhor. A este nível são os por-menores que alimentam o “ser”, momento a momento; é a entoação ternurenta e altruista de uma palavra banal, um gesto atento mas totalmente gratuito ou um cliché pronunciado com todo o coração. É pois numa relação sanígena, de dádiva, reconhecimento e valorização que o vazio pode ser preenchido com vitalidade, entusiasmo e amor, dispensadores da busca angustiada de um sentido da vida. 

É também esta a lógica da relação terapêutica: a atenção aos detalhes e aos processos emocionais, que muitas vezes passam despercebidos, por serem automáticos, ficando ofuscados pelos “por-maiores” sensacionalistas das nossas vidas...

A impaciência terapêutica e a resistência das famílias?


Enquanto psicóloga e terapeuta familiar e de casal, tenho ouvido frequentemente falar de resistência das famílias, resistência dos pacientes, termo que penso ter sido banalizado e mal utilizado, muitas vezes para justificar a impaciência dos terapeutas. Porém, quando Freud inventou esta noção referia-se a mecanismos inconscientes.
A este propósito, concordo com Ausloos, terapeuta familiar, ao referir que isto nos leva a entender as nossas teorias como dogmas, a crer que as nossas soluções é que são boas, impedindo que as famílias encontrem as suas auto-soluções.

Serão os pacientes e famílias resistentes, ou serão prudentes e têm razão para o ser? Parecem existir famílias prudentes porque estão ressentidas e têm necessidade de tempo para experimentar, avaliar, para encontrarem as suas auto-soluções. Estaremos nós a ser incapazes de ver o potencial evolutivo, a não saber esperar, a não respeitar o movimento intrínseco e a sua dinâmica autónoma?

Talvez os pacientes e as famílias tenham sim... necessidade de tempo...

sábado, junho 30, 2012

Frase do(de) (um outro) dia


Se estás aflito por alguma coisa externa, não é ela que te perturba, mas o juízo que dela fazes. E está em teu poder dissipar esse juízo. Mas se a dor provém da tua disposição interior, quem te impede de a corrigir? E se sofres particularmente por não estares a fazer algo que te parece certo, por que não ages, em vez de te lamentares? Um obstáculo insuperável te o impede? Não te aflijas, então, pois a causa de não o estares a fazer não depende de ti. Não vale a pena viver se não o puderes fazer? Parte, então, desta vida satisfeito, como partirias se tivesses logrado êxito no que pretendias fazer, mas sem cólera contra o que se te opôs. 

Marco Aurélio (Imperador Romano), in 'A Fortaleza Interior', há 2000 anos

quinta-feira, junho 28, 2012

Toda a Criança


"Toda a criança, para um desenvolvimento afectivo normal, precisa de amor, consideração e apreço. Lá, onde ficaram carências precoces ou perdas infantis, fica também um prognóstico sombrio - uma patogenicidade marcada."

                                                                                                                       António Coimbra de Matos



terça-feira, junho 26, 2012

A VIDA SECRETA DO CÉREBRO


Aqui fica um fantástico compacto de documentários sobre os mistérios do cérebro, percorrendo as suas especificidades ao longo da vida:



domingo, junho 24, 2012

Cosmopolis de David Cronenberg

Fui ver
Estranho
Nem sei o que dizer
Parecia teatro
Acho que tenho que o ver segunda vez

gosta de ouvir/ler comentários sobre este filme

sábado, junho 23, 2012

SEXUALIDADE FEMININA

Os problemas da sexualidade, neste caso da feminina, parecem estar a passar para o cinema ultimamente. Tivemos há tempo oportunidade de ver "Um Método Perigoso", de D. Cronenberg, sobre a relação extra-conjugal entre o psicanalista suiço Jung e Sabina Spielrein, que acabou também por envolver, a contragosto, Freud.
O filme cuja fotograma publico nese post ainda nao estreou, mas debruça-se sobre um dos velhos tabus da sexualidade: a masturbação.
De acordo com o link que se segue, os médicos do Sec XIX aplicavam-se na obtenção da cura das mulheres "histéricas". Tanta aplicação resultou na mecanização do método curativo, com a invençao do vibrador, como poderão ler no artigo. O Sec XIX tinha contradições espantosas. Muitas delas foram justamente objecto de estudo por parte de Freud, tanto psicologicamente como sociologicamente.
Os anos sessenta do Sec XX, na sequência da invenção da pílula, foram supostamente o momento da libertação. Com exageros, é certo, e que terão banalizado de tal forma o assunto que se corre o risco da des-erotizaçao das relações. Mas no que respeita à masturbação, tenho dúvidas de que os tabus tenham desaparecido. Veremos pelas reacções ao tema.

http://www.youbeauty.com/relationships/vibrators?utm_source=Sailthru&utm_medium=email&utm_term=Newsletter%20Full%20List&utm_campaign=Sex%20Box%20Contest%20-%206%2F21%2F12%20-%20NEW%20TEMPLATE&utm_content=Final

sexta-feira, junho 22, 2012

Bo(c)as intenções há muitas!


Moral da história: muitas vezes é mais fácil pôr uma pedra em cima de um assunto complicado do que se empenhar realmente em resolvê-lo - e às vezes é mesmo preciso ir chamar alguém especializado!

segunda-feira, junho 18, 2012

QUANDO É O CORPO QUE FALA OU ALGUMAS LINHAS SOBRE PSICOSSOMÁTICA


Muito se tem falado sobre psicossomática nos últimos anos. A velha distinção entre mente e corpo está finalmente ultrapassada e hoje já não se dúvida das estreitíssimas relações entre um e outro. E felizmente já é com alguma frequência que os médicos encaminham os pacientes para tratamento psicológico. Por vezes perante a perplexidade dos próprios, que pensam ou comentam - mas isto dói ou, mas isto vê-se e os exames/análises mostram que está lá, como pode ser psicológico?!


Primeiro é importante distinguir entre aquilo que é uma manifestação física de uma ansiedade ou problemática psicológica, mas onde não existe lesão física, como por exemplo certas paralisias de membros, a dita cegueira psicológica, algumas dores de costas, os ataques de pânico, entre outras, daquilo que são doenças em que existe lesão física mas a influência psicológica é evidente observando-se alterações de melhoria ou agravamento do quadro em função da vivência emocional do paciente, e aqui falamos da diabetes, da asma, de certas doenças de pele como a psoriase ou as dermatites, das gastrites, das úlceras, das colites, entre muitas outras.

Portanto, ter uma doença psicossomática não quer dizer que a dor não exista, quer apenas dizer que esta dor para além da parte física traduz também um outro sofrimento, mais silencioso, o qual passou despercebido ao próprio e precisamente por ter passado despercebido passou para o corpo e é o corpo que é portador da mensagem. É como se fosse o corpo que falasse em vez do paciente, pois por algum motivo aquele problema não pôde ser mentalizado, ou seja, trazido à consciência.

O tratamento passa por tentar identificar o mal estar original, trazê-lo para “cima da mesa”, olhá-lo, analisá-lo, enfim, permitir que o paciente o descubra e o possa expressar, pois só assim o corpo se poderá silenciar, ou por outras palavras, com a expressão genuína da emoção de base o corpo deixa de precisar de descarregar esse afeto pela via da expressão física. 

sexta-feira, junho 15, 2012

SER E EXISTIR... NA RELAÇÃO


O re-conhecimento e o co-conhecimento são 2 modos de nos realizarmos pessoalmente. Realização sempre insaciável e cada vez mais sedenta de mais e melhores realizações. É o fundamento do prazer de viver: sentir-se existir no movimento criativamente oscilante entre o encontro e o desencontro com o outro, entre o ponto e o contra-ponto de 2 subjetividades unidas pela empatia e contrastadas pela complementaridade; é o vai-e-vem relacional fundador da co-existência distinta de dois seres.

Da relação nasce a relatividade criadora da minha subjetividade e morre a minha omnipresença absoluta, que nada é porque tudo abarca.

É a existência pela negativa, pelo contraste com o outro, pela idiossincrasia única e particular que me caracteriza e o prazer de existir que daí advém – pelo sentimento de conexão estreita comigo mesmo, com o meu “verdadeiro self” (os meus desejos, necessidades, sentimentos…). 

É ainda a existência pela positiva, pelo que de semelhante existe entre dois seres; é a existência através do reconhecimento empático que o outro faz de mim e que me permite, por seu turno, re-conhecer também o outro. 

O prazer de funcionar ou de existir encontra-se ainda na procura constante e criativa do meu lugar no mundo: desde o mundo socio-político (mais abstracto), ao mundo concreto do aqui e agora; desde a minha postura face à sociedade como um todo, à minha atitude face a um outro ser em particular. 

É a redescoberta e reinvenção contínua do meu ser na expressão, a cada momento única, do encontro singular entre um eu e um mundo.

quarta-feira, junho 13, 2012

Liberdade! e Futuro!




Enquanto sociedade “Não podemos prescindir nem da liberdade, nem do futuro” disse há poucos dias o Professor António Sampaio da Nóvoa num arguto discurso no âmbito das comemorações do 10 de Junho dobre educação, ciência, sociedade e solidariedade.
Se o direito à liberdade e a um futuro são direitos inalianáveis das pessoas, na sua vida em sociedade --numa sociedade democrática que precisamente se funda na ideia da liberdade dos cidadãos--, este direito implica o uso da sua liberdade individual de pensamento, e a afirmação da liberdade interior dos membros da sociedade. 
Podemo-nos perguntar se o seu uso é democrático, e como se desenvolve e faz uso desta liberdade interior e da vontade individual ? A resposta passa seguramente pela educação formal e informal que a sociedade oferece aos seus membros, e a qualidade desta favorecerá e fortalecerá certamente a emergência de indivíduos com mais conhecimento, maior liberdade de pensamento e maior vontade de intervenção na sociedade. Por outro lado se, como sustentava Espinoza. a vontade da sociedade é igual à vontade dos seus membros, podemos perguntarmo-nos também se a falta de clareza dessa vontade da sociedade não nos remete para a falta de clareza da vontade individual.
E outras questões emergem, entre as quais se todas as pessoas se sentem real e igualmente possuidoras, hoje, desse bem, desse direito, como se diz inalianável, de liberdade. Se as pessoas se sentem donas das suas escolhas, seguras de uma capacidade de pensar autónoma e livre, e se lidam realisticamente com os seus medos e ansiedades. Aqui, creio eu, as diferenças abundam, e uma sociedade cuja direcção, cujos valores, cuja vontade vacila, cuja economia vacila, cria muitas e inesperadas tensões e desigualdades que afectam a capacidade de pensar, a capacidade de exercer a liberdade individual, e aumentam as desigualdades e os conflitos manifestos e latentes. E a qualidade da sua saúde mental.
Future, Agim Sulaj, 2009

O futuro, somos nós, é uma frase ouvida, é uma frase sentida. E a confiança no futuro depende em primeira mão na confiança que sentimos, individualmente, em nós próprios. Na vontade que temos. Na capacidade de sugerir ideias novas. Na capacidade de intervir, e de não ficar à espera que os ventos mudem a nosso favor ou, como ecoa na célebre frase do discurso de Kennedy, creio que da sua tomada de posse, “Não te perguntes o que é que o teu país pode fazer por ti, pergunta-te antes o que é que podes fazer por ele”.
Proactividade e iniciativa, auto-confiança, resiliência, estão implícitas neste movimento, e são igualmente características de pessoas com uma evidente robustez psicológica.
Tendo em conta que o contexto social, económico e político em que vivemos nos afecta enquanto seres humanos, na nossa vida familiar, comunitária, profissional, entende-se que se multipliquem vulnerabilidades, aumentem conflitos internos, aconteçam desequilíbrios. E que estas características pessoais tão desejadas, e associadas ao fazer acontecer a liberdade e o futuro esmoreçam. E a acção livre fica tantas vezes bloqueada. E neste quadro, procurar ou sugerir ajuda psicológica ou psicoterapêutica urge, para fazer acontecer a mudança individual, favorecer o fortalecimento da identidade e da liberdade individual. Aja. Por si. Por si e para os outros.
Por um presente que se vive com mais plenitude, com porta aberta para o futuro.
Isabel Botelho