quarta-feira, novembro 21, 2012

RELAÇÕES



O post do meu colega João sobre perspetivas fez-me recordar esta analogia da psicanalista Mariela sobre as relações amorosas:

“Uma mulher entregue a um amor como esse deve ter a mesma sensação que uma mulher que calça uns sapatos emprestados, apertados, pontiagudos e de saltos muito altos. Enquanto todos os que a rodeiam a vêem fazer malabarismos e a cambalear, ela julga-se elegantíssima e maravilhosa, incapaz de reparar que não é senão uma mulher que sofre e que se sente profundamente infeliz.”

Ora, se nos pusermos um pouco a pensar, através desta analogia podemos explicar muitas outras coisas que não só as relações amorosas. Quem no seu dia-a-dia  não se deparou com pessoas que fazem verdadeiros malabarismos para evitar deprimir, sofrer, mas todos os outros comentam "esta pessoa não anda nada bem", "algo se passa". 
Porque evita o próprio olhar verdadeiramente para o que se está a passar consigo e à sua volta?

Evita sofrer? 

Não será esta a forma de sofrer mais dilacerante e corrosiva?

A sociedade precisa de pessoas saudáveis emocionalmente( ainda para mais no atual momento em que vivemos), pessoas que sejam capazes de ver o que se passa à sua volta e agir. Pessoas que sejam capazes de ir em frente, de se redescobrirem, de se reinventarem, só assim estarão aptas a viver livremente e a evitar que interiorizem a tal profunda infelicidade.

O maior desafio não está no evitar sofrer, mas sim no ser capaz de enfrentar o sofrimento e aprender a ser feliz!

sábado, novembro 17, 2012

PERSPETIVAS...



A vida é feita de perspetivas. 

Muitas vezes só conseguimos ver uma: estamos doentes! 

A Verdade, a Rigidez e o Extremismo são inimigas da saúde mental porque adversárias da realidade, que é múltipla, rica e diversa; sobretudo, relativa e mutável. 

Às vezes ficamos presos a uma perspetiva que por mais ilusória que saibamos que ela é, não conseguimos deixar de nos iludirmos com ela... 

terça-feira, novembro 06, 2012

AUTO-MUTILAÇÃO: UMA SIMPLES CHAMADA DE ATENÇÃO?


Nos últimos tempos tenho tido conhecimento de um número crescente (e extremamente preocupante) de casos de auto-mutilação na adolescência e pré-adolescência. Raramente estas situações recebem o devido acompanhamento pois, mesmo quando os pais nos procuram numa fase inicial, quase sempre se encara a auto-mutilação como uma simples chamada de atenção. Quando uma pessoa (seja de que idade for) se magoa a si própria deliberadamente, há de facto um alerta, uma chamada de atenção se assim lhe quiserem chamar. Mas está longe de ser algo simples.

A auto-mutilação ou a dor auto-infligida é sinónimo de grande sofrimento emocional que requer intervenção urgente. A dor emocional é tão avassaladora que, não encontrando outra forma de se expressar ou exteriorizar, é expulsa através da dor física que mascara a primeira, trazendo um certo alívio. Mas este alívio é obviamente temporário, levando à busca repetitiva da dor física, que acaba por assumir características obsessivo-compulsivas. Por outro lado, o sofrimento emocional, ao tornar-se insuportável, conduz a uma espécie de anestesia afetiva e a um sentimento de morte interior que faz com que a dor física (e o sangue) seja a única forma de confirmar que se está vivo e que se sente algo.

Por isso, esta chamada de atenção é isso mesmo, uma chamada de atenção, um pedido de ajuda, um grito por socorro. Mas é também um grito silencioso, pois na maior parte das vezes este é um comportamento secreto, mantido em privado. Não é uma birra. Uma birra é a expressão de algo, é manifesta, é evidente e causa incómodo e resposta por parte de quem rodeia. Neste sentido, quando se descobre que uma criança, um adolescente ou até mesmo um adulto se mutila, há que procurar ajuda urgente. Trata-se de alguém que precisa de ser ajudado a identificar e a interpretar o que sente e a encontrar outras formas de lidar com o sofrimento e de o expressar. E este será um trabalho prolongado e profundo, pois as feridas e as cicatrizes internas demoram mais tempo a sarar do que as que se veem por fora.

E não importa se foi a primeira vez ou se a ferida é superficial. Mesmo que assim seja, se tal aconteceu, é porque por dentro o dano já é grande.

Sinais de Alerta:
  • Feridas, cicatrizes e nódoas negras frequentes e injustificadas (pulsos, braços, peito e coxas sãos os locais mais comuns, mas não exclusivos), ou explicadas por acidentes constantes por se ser desastrado
  • Feridas que demoram a cicatrizar (por haver insistência no mesmo local)
  • Objetos pontiagudos ou cortantes entre os pertences habituais (tesouras, agulhas, caricas, navalhas, cacos de vidro, lâminas)
  • Usar persistentemente roupa que cobre todo o corpo, mesmo no Verão (mangas compridas, gola alta, calças)
  • Manchas de sangue na roupa, nos lenços, nos lençóis ou nas toalhas
  • Tendência ao isolamento por períodos longos (habitualmente no quarto ou na casa de banho)
  • Irritabilidade frequente e sobretudo quando confrontado/a com as marcas (feridas, nódoas negras, cicatrizes, sangue)






sábado, novembro 03, 2012

O desejo e o medo da mudança

A mudança mete sempre medo. O homem é, até certo ponto, um animal de hábitos, mas é também um ser pensante e que tem necessidade de progredir. Aqueles que se propõem mudar vão certamente deparar-se com frustrações e dificuldades. A mudança exige confronto com os nossos medos e ansiedades, exige sair-se da zona de conforto e arriscar. Muitas pessoas queixam-se e dizem: "tenho de mudar". Mas, com mais queixa ou menos queixa, verifica-se que estão instaladas nas suas rotinas e hábitos adquiridos, como se fosse preferível um mal-estar conhecido ao risco do desconhecido.

É frequente as pessoas dizerem que querem mudar mas terem tanto medo que todos os pretextos servem para adiar e não tomar decisões.

A mudança, quando desejada, traz consigo perdas mas traz também outras coisas melhores. A mudança faz parte da trindade esperança+mudança+progresso, como se vê na imagem abaixo.

 

sexta-feira, novembro 02, 2012

Descoberto grupo de neurónios "porteiros" da memória!



Um estudo recentemente publicado na «Nature Neuroscience» descreve um grupo de neurónios  que tem como papel controlar a entrada e a saída de memórias no cérebro.

Quando estas células são desactivadas, ajudam a absorver cheiros ou imagens e a transformá-las em memória e quando são activadas, dão prioridade a sinais provenientes do próprio hipocampo em vez de estímulos sensoriais, apelando à memória e obrigando-a a lembrar.



A equipa descobriu que este grupo de neurónios tem um receptor para a nicotina, ou seja, são sensíveis à substância. A nicotina activa as células e influencia o processo cognitivo. O estudo poderá abrir caminho para novos fármacos semelhante à nicotina, sem os seus efeitos, que permita activar as OLM, de forma a tratar doenças como Alzheimer e esquizofrenia.


Os investigadores acreditam que com este estudo seja possível, num futuro próximo, activar memórias de forma artificial ou limitar a absorção de informações pelo hipocampo, mas mais importante, poderá ajudar pessoas que sofram de doenças neurodegenerativas.



(Tirado de: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=55795&op=all)

quinta-feira, novembro 01, 2012

A importância dos obstáculos

Nas últimas décadas a tónica no ensino tem sido posta na facilidade com que o aluno aprende. Estudos recentes vêm demonstrar que esse não é o melhor caminho. Pelo contrário, tudo indica que quando se colocam alguns obstáculos à aprendizagem, ela se torna mais profunda e duradoura.

Robert Bjork, da Universidade da Califórnia, usa o termo "dificuldades desejáveis" para descrever a noção contra-intuitiva de que o ensino se deve tornar mais difícil. Por exemplo, espaçar as aulas de forma a que os estudantes tenham de fazer um esforço maior para se lembrarem do que aprenderam da ultima vez, traz melhores e mais duradouros resultados.

A Professora Virginia Berninger da Universidade de Washington descobriu que a escrita à mão activava mais o cérebro do que o uso do teclado, inclusive áreas responsáveis pelo pensamento e pela memória. Não pretende obviamente defender o regresso ao uso da pena, mas demonstrar que um grau razoável de dificuldade é estimulante e produz melhores resultados a longo prazo.

Investigadores da Universidade de Amsterdão chegaram recentemente à conclusão de que, quando as pessoas são forçadas a lidar com obstáculos inesperados, reagem alargando o campo perceptivo, como se dessem um passo atrás para conseguirem ver o problema de outra forma.

O grau de iliteracia dos estudantes norte-americanos tem sido desde há anos motivo de preocupação nos Estados Unidos, sobretudo se comparado com estudantes de países emergentes, como a China e a Índia, que se encontram a estudar nas universidades americanas. As incapacidades a nível sobretudo da matemática, uma disciplina essencial a qualquer ciência, são notórias, tanto nos Estados Unidos como, mais recentemente, na Europa.

Contaram-me há tempos que se pensa acabar com o ensino do grego antigo no curso - adivinhem! - de literatura clássica. Com a intenção de facilitar, é bem possível que estejamos a falhar na educação dos nossos filhos e a não os preparar devidamente para o futuro.

 

 

 

 

domingo, outubro 28, 2012

Simpósio sobre o pensamento de André Green - 24 de Novembro de 2012



“Os psicanalistas são artesãos, trabalham à peça”

Esta frase de André Green podia se dita, mutatis mutandis, a propósito dos psicoterapeutas.
Quem foi este homem, este artesão, que marcou o pensamento e a pratica da psicanálise?
A expressão “artesão” não é casual. Green era um homem da cultura clássica, um classicista aberto ao seu tempo e às novas ideias. Era um ortodoxo, mas um livre pensador. Tinha um feitio, como se dizia, difícil, mas era generoso de espírito. Gostava de polémicas, mas não era um provocador gratuito.
Teceu a sua obra, ao longo de décadas, como um artesão: com princípio, meio e fim, propósito, sentido. Nasceu no Cairo em 1927, de pais de origens judaicas, e morreu em Paris, para onde veio frequentar a universidade, em Janeiro deste ano.    
Pelo meio, deixou uma imensa obra. Vamos procurar, neste colóquio, mais do que homenageá-lo, refletir sobre o seu pensamento e a importância da sua obra, não só na clínica mas também na forma como pensamos a nossa vida e a nossa morte.
A morte está sempre presente na obra de André Green, porque, diz ele, faz parte da vida. A ausência, a perda, o trabalho do negativo vão tendo lugar e é ai que a palavra falta. Que dizer, então? Pensar é já dizer. Vamos tentar pensar com André Green, abordando alguns tópicos que não esgotam certamente a sua obra mas que, esperamos, nos farão pensar com afeto. 


Informamos que estão abertas as inscrições para o Simpósio sobre o pensamento de André Green, que se realizará no dia 24 de Novembro de 2012, no Auditório do Centro Cultural CasaPiano em Lisboa.

Veja o programa detalhado e faça a sua inscrição na sitio - www.apppp.pt.
Peça informações para  ap.psicanalise@gmail.com.

A realização deste simpósio resulta da convicção da importância da obra de André Green na teoria e prática da Psicanálise e das Psicoterapias Psicanalíticas. Esta será também uma oportunidade para não só homenagear este importante e marcante autor, mas sobretudo para reflectirmos sobre os conceitos seminais que ele desenvolveu ao longo de décadas: a dialéctica entre a representação e o afecto, o trabalho do negativo, o conceito de limite(s), a função des-objectalizante da pulsão de morte, o complexo da mãe morta, entre vários outros.

Agradecemos desde já a vossa presença, certos de que ela será essencial para o êxito deste evento.

A Comissão Organizadora,

Prof. Doutora Clara Pracana
Dra. Madalena Motta-Veiga

Inscrições até 10 de Novembro de 2012:

Sócios APPPP: 25€
Não-sócios: 35€


Inscrições após 10 de Novembro (sujeito a confirmação)

Sócios APPPP: 30€
Não-sócios: 40€

sexta-feira, outubro 26, 2012

"A Fita Branca" - filme sobre a forma como as crianças podem ser sujeitas a violências diversas

"A FITA BRANCA" (2009) "É um filme forte, sem concessões, que avança a cada minuto na narrativa dos dramas de uma pequena aldeia alemã — que funciona como um universo em miniatura daquela Europa aristocrática que se iria desmoronar na Primeira Guerra Mundial. Li em vários lugares que A Fita Branca ajuda a entender a geração que iria sustentar o nazismo de Adolf Hitler, quinze anos depois. É um argumento indevido e desnecessário, pois o filme é bom por si. Fala de um mundo anterior ao nazismo, mas também anterior ao comunismo e à própria democracia. Michael Haeneke fez uma obra clássica, em preto e branco. O filme trata de vários tipo de violência, inclusive no trabalho, e que envolve adultos, mas o assunto principal são agressões contra crianças — desde castigos físicos até tortura. A Fita Branca mostra ainda um caso de abuso incestuoso, empregando um realismo que o cinema poucas vezes mostrou em situações desse tipo. No começo do filme, o espectador pode até ficar com a impressão de que vai assistir a uma grande crónica policial, e que, no final, os crimes vão se esclarecer e os culpados serão identificados. Não. Haeneke não está interessado numa história policial, mas em fazer uma dolorosa cronica social de um mundo sufocante. O seu assunto é a sordidez e a crueldade, a falta de perspectivas, o desrespeito pelas pessoas e o cinismo. Acima de tudo, A Fita Branca descreve um universo alimentado por uma brutalidade irracional e contagiante, que atinge e envolve suas próprias vítimas." Texto retirado de: http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite/2010/02/15/a-fita-branca-e-um-grande-filme/