sexta-feira, agosto 09, 2013

"Não tens razões para estar triste!"






"O coração tem razões que a própria razão desconhece" (Pascal)...! Mas que pode conhecer se houver um trabalho mais profundo de auto-conhecimento (e, já agora, do conhecimento das relações), diria o psicólogo.

Esta frase "não tens razão para estar triste" é muitas vezes expressa, de diferentes maneiras e em diferentes contextos; tem um cariz culpabilizante e muitas vezes não ajuda a pessoa alvo desta mensagem/acusação. 

Desde já, encerra uma contradição em si mesma: como pode algo existir sem causas prévias que lhe deram origem? Neste caso, se existe tristeza a questão não é saber se existem razões ou não para a sua existência, mas quais são, de onde vêm.

Claro que a intenção de quem formula esta frase é frequentemente boa e pretende estimular a pessoa entristecida a olhar para os aspetos positivos da sua vida por forma a arrebitar. Às vezes funciona. A questão está na "taxa de esforço", diretamente proporcional à dificuldade emocional, que a pessoa tem de gerir para melhorar. Em situações mais ligeiras e em que existem bons recursos para lidar e ultrapassar problemas, incentivos deste tipo até podem ajudar. Ou seja, um empurrãozinho é útil quando a outra pessoa está quase, quase lá! Quando está desequilibrada um empurrãozinho só vai desestabilizar ainda mais...  

Nestes casos, será então importante enfrentar os sentimentos penosos e tentar perceber o seu aparecimento e proveniência. Em processos psicoterapeuticos assiste-se, não raras vezes, a casos onde é precisamente quando tudo está bem (no exterior) que tudo fica mal (no interior). Numa situação de transbordo emocional que pode durar anos e anos nos piores casos, é como se a pessoa tivesse suspendido a respiração, limitando-se a sobreviver no modo "piloto automático". 

Mais tarde, alcançada a segurança de uma situação onde aparentemente tudo está bem, pode a pessoa voltar a "respirar". Nestes casos, o voltar a respirar significa um abaixamento das defesas psicológicas que permite que memórias problemáticas do passado emerjam reclamando uma "digestão emocional" que até então não fora possível.

1 comentário:

Ana Almeida disse...

Olá João
Muito obrigado pelo seu post. Um bom post, como sempre :-).
Acho que quando pensamos que não temos razões para estar tristes e nos descobrimos tristes, estamos a pensar em razões de monta, razões objetivas, concretas, grandes, pesadas... e muitas vezes a tristeza invade-nos por razões subjetivas, por pequenas razões, por sensações subtis de insatisfação, desconfianças, de sentimentos de menor valor, por ficarmos desapontados em relação às nossas expetativas, etc.

A subtileza das nossas emoções e das razões que a assistem (e tal como o João diz, há sempre uma razão)é algo que exige atenção e interesse para ser descoberto.

Também acho João que existe um sentimento ao qual a psicologia tem dado pouca atenção e que, na minha opinião, é de importância capital e que por vezes se confunde com tristeza, o tédio. Acho que, nos tempos atuais,existe uma epidemia de tédio.