sexta-feira, agosto 09, 2013

O homem tribal em nós

Nos velhos tempos, quando vivíamos em cavernas e nos encostávamos uns aos outros à procura de calor, atentos ao menor ruído que indicasse a presença de um predador, a sobrevivência dependia de quão rapidamente os indivíduos passavam ao modo de "ataque ou fuga".

Aquilo a que hoje chamamos stress era um mecanismo precioso. O sangue afluía aos músculos permitindo a corrida, a respiração acelerava permitindo uma maior oxigenação, a força nos braços e as pernas aumentava. Imagino que ninguém se queixasse de stress - era essencial à vida.

Nesse tempo, o funcionamento tribal era também essencial, assim como o princípio "ou nós ou eles". As tribos guerreavam-se, roubavam as fémeas, os inimigos chegavam a ser devorados.

Quando terá começado a cooperação entre grupos distintos? Sabemos que os chimpazés cooperam em determinadas circunstâncias. É possível que tivéssemos percebido muito cedo as vantagens da cooperação. Mas às vezes o primitivo vem ao de cima e parece que nos esquecemos. Vezes demais.

O esquema "se não pertences à minha tribo és meu inimigo" é pouco propício ao raciocínio, ao pensamento, ao trabalho inteligente. Limita-nos e arrasta-nos séculos para trás. Alguém quer parecer um neardantal ou mesmo um homo habilis?

 

 

 

 

 

2 comentários:

Ana Almeida disse...

As vezes tenho a sensação, Clara, que há uma necessidade intrínseca nos seres humanos de terem períodos de regressão. Achas que pode ser, num contexto de espécie, a "velha" compulsão à repetição enunciada por Freud?

Clara Pracana disse...

A compulsão à repetição, sem dúvida. Freud falava dessa forca que está sempre a trabalhar dentro de nós no sentido de nos fazer voltar atrás, tão atrás que às vezes é mesmo a destruição e a morte.
Dizem os biólogos que temos no nosso cérebro ainda restos do cérebro do lagarto que fomos em tempos, muito antes dos primatas.
Mas o importante é olhar para o futuro: queremos continuar como o homem das cavernas ou como espécie (muito) inteligente? É que se queremos continuar como espécie intleigente, temos de desenvolver a comunicação e a cooperação, e abandonarmos os fanatismos tribais. Detesto o uso contemporâneo do termo "tribo" por sociologos e publico em geral. Será que as pessoas não se apercebem de como é regressivo?