sexta-feira, setembro 27, 2013

Sesta? Como e para quê


Um terço das nossas vidas é passado a dormir. Poderia pensar-se "Mas que perda de tempo! Um terço da vida é passado a não fazer nada...". Na verdade, quer pela força das circunstâncias, quer pela falta de atribuição da importância devida ao sono, estima-se que, em Portugal, mais de 50 % da população dorme 6 ou menos horas por dia. Isto sem falar na taxa também ela muito elevada de perturbações de sono, muitas delas não diagnosticadas e tratadas. 

Os resultados negativos estendem-se a diversas áreas desde a perturbação de funções cognitivas (nomeadamente, de concentração, aprendizagem e memória), ganho de peso (alterações metabólicas e hormonais), alterações de humor (instabilidade, irritabilidade, etc.), doenças cardiovasculares e doenças em geral, físicas e psicológicas (vulnerabilização do sistema imunitário).

Deste modo, estratégias como fazer uma sesta pode ser um importante modo de compensar a falta de quantidade ou qualidade de sono noturno. Como pode ser observado no quadro abaixo, retirado de um jornal americano, a sesta pode ser efetuada de diferentes formas, com diferentes resultados e objetivos:



Informação sobre os benefícios de uma sesta podem, por exemplo, ser encontrados no seguinte texto (http://www.nestle.pt/saboreiaavida/em_forma/relaxar/Pages/BeneficiosDaSesta.aspx):

1. Diminui os níveis de stress - Uma sesta rápida convida ao relaxamento. Os níveis de hormonas de stress são mais baixos nas pessoas que dormem a sesta do que naquelas que o não fazem, e inclusivamente do que nas que praticam atividades específicas de relaxamento. Descansar ajuda a reduzir as tensões provocadas pelo trabalho, contribui com renovação e concentração para o dia-a-dia. 

2. Aumenta o estado de alerta e a produtividade - Se tiver a oportunidade de dormir a sesta, especialmente após uma noite mal dormida, faça-o. A seguir, sentir-se-á com mais energia, e a eficiência no trabalho também melhorará muito. Dormir uma sesta de cerca de 20 minutos, ainda que seja oito horas após ter acordado, é mais benéfico do que continuar a dormir mais 20 minutos de manhã. 

3. Melhora a memória e a aprendizagem - A sesta não é só para os idosos. Desfrutada durante o dia, pode melhorar a capacidade de aprendizagem. Esta é a conclusão de um novo estudo realizado por estudantes universitários, que detetaram mudanças subtis numa mesma imagem no decorrer de quatro sessões experimentais realizadas num mesmo dia. Os resultados arrojados desta investigação demonstraram que uma sesta pode proteger a utilização excessiva dos circuitos neurais até que o cérebro consolide o que apreendeu num processo concreto. 

4. Beneficia o coração - De acordo com os investigadores, fazer uma sesta a meio do dia pode ainda contribui para a redução de risco de morte por doenças do coração, especialmente em homens jovens e sãos. Um estudo realizado a 23.681 pessoas residentes na Grécia, sem história clínica de doenças coronárias, vaso cerebrais ou cancro, revelou que quem dormia uma sesta de 30 minutos pelo menos três vezes por semana, apresentava menos 37% de probabilidade de morrer devido a doença do coração. 

5. Aumenta o funcionamento cognitivo -  Um estudo realizado por investigadores da NASA, demonstrou que uma sesta de 30 minutos aumenta as faculdades cognitivas em aproximadamente 40%. Testes levados a cabo em cerca de mil voluntários demonstraram que as pessoas que trabalham sem descanso obtiveram uma pontuação mais baixa em testes de inteligência. Mais importante ainda: a sua capacidade para memorizar e realizar tarefas profissionais diminuiu em comparação com aqueles indivíduos que dormiram após a refeição. De acordo com o trabalho da NASA, estudantes de Berkeley determinaram que a sesta deve ser breve, para que seja mais eficaz. Uma sesta de 45 minutos perde os efeitos benéficos. Portanto, a ideia é não passar além dos 35 minutos. Este é o tempo necessário para que o organismo descanse, permitindo aos neurónios do cérebro recuperarem. 

6. Motiva o exercício - Dormir a sesta incentiva a praticar desporto. Cerca de 28% dos adolescentes dizem que estão demasiado cansados para fazer exercício, devido à falta de sono. Um corpo descansado, por seu lado, garante mais exercícios, mais rápidos e eficientes. 

7. Estimula a criatividade - O descanso e o relaxamento não são apenas vitais para a saúde mas também podem potenciar a criatividade. Temos tendência a ter mais imaginação depois de uma noite bem dormida. Outros peritos concordam em que dormir uma sesta refresca a mente e pode fazer com que cheguem as boas ideias, ainda que mais tarde. A sesta permite que o cérebro associe as ideias que ficaram soltas e abra caminho para uma maior criatividade. 

8. Ajuda a completar os ciclos do sono - Algumas das mais recentes investigações sugerem que uma noite mal dormida pode stressar tanto o corpo como a mente. Investigadores de diversas áreas descobriram nos últimos anos que o corpo humano necessita de tantas horas de sono quantas o cérebro permita. Por outras palavras, se o cérebro está a funcionar em plena capacidade, existirá uma grande necessidade de dormir. Segundo um artigo publicado na versão online da revista norte-americana Newsweek, o cérebro necessita de descanso de quando em quando e, uma sesta de 20 ou 30 minutos, ao que parece, ajuda-o a refrescar e a continuar a funcionar. Uma breve sesta tende a eliminar a necessidade de cafeína e aumenta a produtividade no trabalho. Também garante uma reserva de energia para enfrentar melhor o final de um dia de trabalho, permitindo a realização de atividades pós-laborais. Uma ideia inspiradora. No ocidente não é frequente, mas os japoneses permitem, já há algum tempo, a possibilidade de se poder dormir a sesta no escritório. Grandes empresas como a Google, que estão na vanguarda da inovação e, que marcam tendências no que se refere ao bem-estar dos seus empregados, adicionaram uma nova iniciativa para ajudar a aliviar as 8 horas de trabalho. Com o intuito de continuar a ser a Disneylândia do trabalho, o gigante da Internet disponibiliza aos seus empregados cabinas onde se podem dormir pequenas sestas intercaladas com o horário de trabalho. As nap pods foram instaladas na sede central do Google, na Califórnia (Estados Unidos). Estas cápsulas de sono são construídas pela Metronaps, estando avaliadas em 8.000 dólares cada. O utilizador encosta-se, baixa uma esfera que escurece e isola de ruídos externos… e toca a descansar!



sábado, setembro 21, 2013

Onde acaba a realidade e começa a fantasia?




Realidade, verdade, são os objetivos últimos de uma ad-aptação ao mundo em que nos inserimos.

Porque é tão difícil vê-la, afinal, quando ela é o que existe e é inelutável?
Porque é que "ela" se confunde tantas e tantas vezes com desejos, fantasias, memórias e interpretações tendenciosas, convenientes e defensivas?
Porque é que às vezes duvidamos tanto da realidade que está à nossa frente, clara como água, e outras vezes seguimos com tanta força fantasias vãs, tomadas como realidades últimas?

terça-feira, setembro 17, 2013

Demasiada fusão dá confusão

São as ultimas linhas de um artigo de Esther Perel que vale a pena ler. Esta senhora é sexóloga e tem videos muito interessantes. Mais do que sexóloga, é uma estudiosa das relações.

 

segunda-feira, setembro 16, 2013

Projeção, Identificação projetiva e identificação


Ao prepara um seminário surgiu-me a seguinte ideia para clarificar a noção de identificação projetiva.
Partilho convosco.

Forma fácil de compreender, memorizar e utilizar a noção de identificação projetiva:

Identificação projetiva como mecanismo de defesa:
A identificaçao projetiva é um processo inconsciente no qual a mente projeta/evacua uma emoção, sentimento ou pensamento inconsciente e depois identifica esse mesmo "objeto" no outro.

projeta + identifica

Por exemplo:
um paciente não tendo consciência dos seus desejos homossexuais, sente-se, ainda assim, angustiado por esses desejos, então - para se ver livre deles - projeta-os no analista. Após a projeção identifica essa emoção ou atributo no analista. Identifica a caraterística (ou emoção, ou pensamento, etc) que projetou no alvo (continente) dessa mesma projeção. Portanto, neste caso, o paciente começa a achar que o analista é homossexual. Quanto mais intensa e bem sucedida foi a projeção, mais fácil é identificar o objeto projetado no outro e, portanto, mais forte é a convicção de que o objeto projetado reside no alvo. Como consequência deste processo o analisando pode relacionar-se com o analista com receio da homossexualidade por ele identificada e chegar ao ponto de deixar a análise por não suportar a ideia de ter um analista homossexual ou por receio de avanços sexuais homossexuais do analista.

Prejuízo para a personalidade que projeta: fica mais pobre porque perdeu um dos seus conteúdos
Vantagem para a personalidade que projeta: diminuição inicial da angustia porque deixa que ter de lidar com o fato de ter impulsos e desejos homossexuais. A vantagem é só inicial porque ao dar-se o deslocamento do ponto gerador de angustia de dentro para fora, ele mantém, ainda assim, alguma proximidade em relaçao ao sujeito e torna-se um objeto persecutório a partir do exterior.

A identificaçao projetiva foi utilizada para libertat o inconsciente de angústia e tornar a fonte de angustia mais "controlavel" porque se tornou externa.

A situaçao pode crescer ao ponto do paciente deixar a analise para se ver livre da sua homossexualidade agora transferida (transposta) para o/a analista.

Identificação projetiva como forma de comunicação
Quando a identificação projetiva é utilizada como forma de comunicação. O sentimento ou ideia projetada é algo que inconscientemente se quer partilhar com outro e essa partilha é feita gerando no outro o sentimento projetado.

Para que o outro possa acolher esse sentimento projetado tem que estar receptivo e ter capacidade de identificaçao do seu proprio estado emocional.

Neste caso é:
um projeta e o outro identifica

Quando o recetor da projeção identifica a existência em si do "objeto" projetado e entra em sintonia emocional e/ou ideativa pode dar-se uma experiência sintonica mutua, unindo ambas as mentes um momento de "uma só mente". At-one-ment, como diz Bion. 

A experiencia emocional é - enquanto realidade ultima, incognoscível -mas partilhavel por esta via
Vantagem para a personalidade: as experiências emocionais inconscientes podem ser partilhadas numa comunicação inconsciente a inconsciente. A partilha não leva à perca do conteúdo mental, mas ao enriquecimento quando o alvo da projeção ao identificar o objeto projetado o devolve sobre uma forma adequada à sua consciencialização. Desta maneira um sentimento (experiência, emoção, pensamento, etc) inicialmente inconsciente pode ser tornado consciente com a ajuda do outro que o identifica, metaboliza e devolve.

É pela identificação projetiva utilizada como forma de comunicação e de evacuação que se pode dizer - como dizia Amaral Dias - que todos vivemos dentro de nós e dentro dos outros. Muitos outros são depositários de conteúdos mentais nossos, pelo que a nossa mente se encontra em nós e fora de nós.

sexta-feira, setembro 13, 2013

Realidade virtual e esquizofrenia: um bom casamento?



Tem sido muito discutido o papel das tecnologias e a forma como elas nos têm invadido e se têm infiltrado na nossa vida de uma forma historicamente revolucionária (ver por exemplo o post sobre o filósofo Michel Serres que muito tem refletido sobre este assunto). O mundo vritual e as novas capacidades de comunicação vieram modificar completamente as dimensões espaço-tempo que costumavam existir no quotidiano da nossa vida: já não é preciso praticamente tempo para estabelecer contacto com uma dada pessoa, nem tão pouco percorrer um dado espaço que me distancia a mim da tal pessoa. O papel dos sentidos do corpo, dos ritmos das pessoas, dos valores interpessoais, etc. estão a ser claramente influenciados por estas novas possibilidades tecnológicas.
Já temos abordado alguns problemas que surgem com esta mudança revolucionária de apenas escassas décadas, mas desta vez iremos focar o que parece ser uma forma curiosa e benéfica de utilizar a realidade virtual no melhoramento de pessoas com esquizofrenia grave.
O estudo empírico é deste ano de 2013, publicado na revista "British Journal of Psychiatry" e tem como título "Computer-assisted therapy for medication-resistant auditory hallucinations: proof-of-concept study", ou seja, é uma investigação que pretende determinar o efeito de uma intervenção terapeutica assistida por computador, em pacientes com alucinações auditórias resistentes à medicação. 
A pertinência deste estudo é sobretudo atribuída à existência de uma prevalência ainda significativa de pacientes com esquizofrenia que respondem mal ao tratamento psicofarmacológico, continuando a ser perseguidos por alucinações auditivas (1 em cada 4).
A equipa de investigadores desenvolveu um sistema computorizado que permite ao paciente criar um avatar do seu "perseguidor", encorajando-o de seguida a entrar em diálogo com ele através do terapeuta (que o controla). O objetivo é fazer com que o avatar vá ficando cada vez mais sob o controlo do paciente, através da manipulação do avatar pelo terapeuta, em diálogo com o paciente, quer como terapeuta, quer na figura e voz do avatar.


Para testar a eficácia desta intervenção comparou-se uma amostra de 12 pacientes que participaram neste dispositivo inovador de tratamento, com 14 pacientes igualmente resistentes ao tratamento médico acompanhados com uma psicoterapia de apoio que incentivava estes pacientes a ignorar as vozes alucinatórias e a não dialogarem com elas.

Os resultados foram positivos para o grupo experimental (vs grupo de controlo), tendo os pacientes do primeiro grupo apresentado mais melhorias, nomeadamente, ao nível da redução da frequência e intensidade das alucinações, bem como, ao nível de uma diminuição do medo e dificuldade em controlá-las.

sexta-feira, setembro 06, 2013

Pensar o impensável...




Será que as pessoas que procuram ajuda psicológica são mais doentes do que as que não procuram?

Esta pequena BD pode sugerir que "nem sempre". Para que uma pessoa procure ajuda, normalmente existem pelo menos 2 condições: a) patologia ou sofrimento psicológico e b) consciência disso (a chamada "consciência mórbida"). 

Quando uma pessoa cresceu e se desenvolveu num mundo bi-color até pode estar amargurada mas como é tudo o conhece, tenta resignar-se e viver o melhor possível nesse mundo: afinal de contas o mal não é da pessoa mas do próprio mundo que é todo em tons de cinzento (pelo menos é provável que assim o pense). Outras vezes, nem sequer existe amargura explícita; apenas algum aborrecimento, cansaço, dores musculares, insónias ou uma grande vontade de dormir, de comer ou de se entregar frenética/obcecadamente a alguma atividade. 

Um dia, esse modo de funcionar, em paralelo com os mecanismos de defesa para lidar com aquilo com que não sabemos lidar, entra em crise: há uma descontinuidade na nossa vida que põe a nu determinada falha ou incapacidade (ex. rotura amorosa, ambiente de trabalho exigente, aumento da responsabilidade, nascimento de um filho...). Aí pode ser um dos momentos em que somos violentamente confrontados com o pseudo-leque de soluções da nossa vida: os muitos tons de cinzento tornam-se apenas isso, preto e branco numa palete vislumbrada de cores que ameaçam o status quo e a estabilidade da vida, ao mesmo tempo que abrem um novo horizonte - um admirável mundo novo...


segunda-feira, setembro 02, 2013

Mas eles não pintaram tudo...

Nem de propósito, já depois de ter publicado o post "Somos humanos, logo criamos", deparei com este cartoon na versão online da revista The New Yorker.

Aplica-se a quem pensa que já não é possível fazer nada de novo e que por isso não vale a pena pensar em criar nada...