domingo, fevereiro 09, 2014

O trauma, o medo e a ansiedade. Parte 1.

(Charcot a trabalhar, ilustração da época)

 

Estou a escrever uma comunicação para apresentar num congresso international e, por essa razão, tive de reler uma série de obras que dizem respeito ao trauma.

Ao fazer este trabalho de revisão e de investigação, ocorreu-me que talvez fosse útil tentar escrever um pequeno texto que, de forma simplificada mas sem deixar de ser rigorosa, pudesse informar os nossos leitores em que consiste o trauma.

A palavra caíu há muito na linguagem comum e não é raro ouvir dizer algo como "fiquei traumatizada com o que me aconteceu quando...". É um uso pouco rigoroso da palavra, porque uma das características do trauma é não nos lembrarmos dele, ou pelo menos de tudo o que aconteceu quando o trauma teve lugar.

A palavra, que vem do grego ferida, passou a significar algo que nos marcou. Existe também na linguagem médica, como por exemplo na expressão traumatismo craniano. Como já fui vítima de um, sei bem o que quer dizer, e a verdade é que não me lembro nada do que aconteceu nos momentos a seguir à ocorrência do acidente. Foi como se tudo se me tivesse apagado da memória. Mas apagou-se, realmente? É possível que, dada a violência do embate sobre o lado direito do meu corpo, com inúmeras fracturas, eu não me recorde sequer da dor? Para onde foram essas memórias, se é que existem?

Foram perguntas um pouco semelhantes a estas que Freud colocou quando começou a estudar o problema do trauma, agora já não físico mas psíquico. Freud, que esteve a estudar com Charcot (médico e o grande hipnotizador da época) em Paris entre 1875 e 1876, começou por ligar os traumas às manifestações histéricas. Observava nas pacientes histéricas sujeitas a hipnose que o trauma andava a par com o medo, medo sentido pela criança em determinadas situações de que já não se lembrava (parece que a hipnose conseguia, em certos casos, fazer reviver esse medo e ligá-lo a memórias). O medo é, como se sabe, uma das emoções mais básicas do ser humano, mas também uma das mais frequentes. O medo, em excesso, pode ser inibidor, pode mesmo impedir um desenvolvimento saudável e uma vida vivida plenamente. Este medos, escreveu Freud, poderiam durar décadas, repetir-se um determinadas circunstâncias, sem que a pessoa conseguisse estabelecer a ligação com o primeiro acontecimento.

Dado que se trata de um assunto complexo e mesmo pesado, vou ficar por aqui hoje. Quem quiser saber mais sobre trauma, é favor acompanhar o Salpicos.

Encontramos-nos na parte 2!

 

Sem comentários: