A preservação da imagem e da benevolência do outro dentro de nós (de que o
amor depende) é também o que em grande medida impede a traição. Impede-a
porque dentro de nós está presente e vivo tudo aquilo de bom que o
outro significa para nós e o amor que sentimos em resposta a tal. A traição aqui é
sentida como uma agressão a esse outro que nos é querido e precioso,
expondo-nos a uma penosa angústia de culpabilidade e à possibilidade da
perda ou da perda do amor desse outro. O compromisso de honestidade perante o
outro é também componente e expressão do amor maduro. Ocultar uma
traição acaba por ser sentido muitas vezes como uma violação desta
honestidade, sendo mais uma fonte de culpa.
No geral não é
preciso a presença física ou o conhecimento do cônjuge ou companheiro
para uma pessoa não trair, porque o outro existe dentro da própria
pessoa. Cada qual é responsável pela forma como ama, e isso reflete também a importância que quem connosco está tem para nós. Reflete
também a forma como determinada criança se sentiu (ou não) amada no
início da sua vida, por aqueles que por ela eram responsáveis, os mesmos
responsáveis pela forma como o amor que tinham para dar
(disponibilidade, atenção e interesse genuínos, envolvimento,
preocupação) se fazia chegar até à criança. O ideal que cada pessoa
formou sobre o tipo de companheiro que pretende ser na relação e que
pretende ser para o outro, bem como aspetos
persistentes ou inconscientes relacionados com as identificações com as
figuras parentais na infância (as figuras reais ou aquelas percebidas
na fantasia), são também fatores muito importantes.
Quando o bom do outro não permanece dentro de nós por força de alguma fragilidade pontual ou constitucional-psicológica, por força de algum contexto particularmente stressante, ou por ambos os motivos, perdem-se então importantes “travões emocionais internos” que de outra forma seriam impeditivos ou inibitórios de, por exemplo, o agir de uma zanga/agressão por via da infidelidade.
Há também que não consiga formar vínculos em profundidade com outras pessoas. Podem parecer pessoas muito bem sucedidas socialmente, inteligentes, cultas, com prestígio social, mas no entanto a vida amorosa íntima é muitas vezes superficial e despida de qualquer gratificação. A dificuldade em formar vínculos e o vazio emocional associado indiciam também a dificuldade na capacidade empática e a pouca tolerância à culpa. A infidelidade neste caso prende-se mais com a precariedade dos vínculos, que deixam de ser sentidos como íntimos, profundos e satisfatórios.
Motivos para a infidelidade há muitos, desde a deterioração do amor na relação até outros motivos mais complexos e profundos. Formas de expiar a culpa também há muitas, e isto é diferente de uma culpa que não se sente ou não existe. Todos nós já testemunhámos em algum momento da nossa vida uma criança a negar veememente ter feito algo errado quando é óbvio que fez. Ela própria o sabe, mas nega-o eventualmente até que o medo da consequência lhe seja aliviado. Nesse momento a criança pode até ser capaz de pedir desculpa e ajudar a corrigir qualquer coisa que tenha feito de mal (por exemplo, ajudar a varrer as peças de um vaso de porçelana que quebrou por acidente). Em muitas personalidades esta atitude persiste ao longo da vida, assumindo outras formas mais enquadradas no contexto adulto.
Quando o bom do outro não permanece dentro de nós por força de alguma fragilidade pontual ou constitucional-psicológica, por força de algum contexto particularmente stressante, ou por ambos os motivos, perdem-se então importantes “travões emocionais internos” que de outra forma seriam impeditivos ou inibitórios de, por exemplo, o agir de uma zanga/agressão por via da infidelidade.
Há também que não consiga formar vínculos em profundidade com outras pessoas. Podem parecer pessoas muito bem sucedidas socialmente, inteligentes, cultas, com prestígio social, mas no entanto a vida amorosa íntima é muitas vezes superficial e despida de qualquer gratificação. A dificuldade em formar vínculos e o vazio emocional associado indiciam também a dificuldade na capacidade empática e a pouca tolerância à culpa. A infidelidade neste caso prende-se mais com a precariedade dos vínculos, que deixam de ser sentidos como íntimos, profundos e satisfatórios.
Motivos para a infidelidade há muitos, desde a deterioração do amor na relação até outros motivos mais complexos e profundos. Formas de expiar a culpa também há muitas, e isto é diferente de uma culpa que não se sente ou não existe. Todos nós já testemunhámos em algum momento da nossa vida uma criança a negar veememente ter feito algo errado quando é óbvio que fez. Ela própria o sabe, mas nega-o eventualmente até que o medo da consequência lhe seja aliviado. Nesse momento a criança pode até ser capaz de pedir desculpa e ajudar a corrigir qualquer coisa que tenha feito de mal (por exemplo, ajudar a varrer as peças de um vaso de porçelana que quebrou por acidente). Em muitas personalidades esta atitude persiste ao longo da vida, assumindo outras formas mais enquadradas no contexto adulto.
Uma verdadeira ausência de culpa (quando a mesma se justifica enquanto reação
emocional legítima em determinada situação) também acontece, mas
liga-se por exemplo a personalidades gravemente deterioradas, que não
têm acesso à empatia e a outras funções psicológicas fundamentais à
organização interna e externa da pessoa no campo das relações humanas.
São por exemplo as perturbações de personalidade psicopatas, sádicas ou
narcísicas graves.
No próximo artigo falaremos um pouco e sobretudo sobre infidelidade e dependência.
Sem comentários:
Enviar um comentário