Fica um breve relato de alguém que decidiu partilhar connosco algumas memórias do seu tempo durante a psicoterapia.
"Fazer psicoterapia foi como o iluminar de um mundo que apesar de
tão conhecido, se mantinha na verdade tão incógnito e assombrado. Foi
como que uma luz que ao longo do tempo desvelava cada vez mais formas
que até então permaneciam ocultas e outras vezes confusas. Do assombrado
ressurgiam fantasmas antigos que dissimulada e engenhosamente foram
conseguindo fazer lar e zona de conforto dentro de mim. Na verdade mais
não faziam senão criar tormento,
persistir no direito a esse lugar no meu íntimo e tornar a minha vida
penosa e inóspita. Cada fantasma exorcizado, cada ferida sarada, cada
problema identificado, cada progresso conseguido, era como que assistir a
uma alquimia interior contínua. Era assistir à mudança gradual da visão
sobre tudo e sobre todos, e consequentemente como as minhas relações
fora das sessões também mudavam, se tornavam mais estáveis, mais
profundas e mais gratificantes. Foi livrar-me daquilo e daqueles quem me
prejudicavam, sobretudo dentro de mim - fantasmas do passado, figuras
distorcidas por emoções muito fortes e não "digeridas", padrões
automáticos de sentir e agir aprendidos no passado, etc. -, e depois foi
fácil isso acontecer também nas minhas relações. Tudo mudou muito
dentro e fora de mim. Passou a ser fácil relacionar-me com as pessoas,
porque podia agora conhece-las como verdadeiramente eram, e porque me
conhecia cada vez mais e mais, sem ilusões ou distorções! Foi um romper
de amarras e paredes limitadoras e aprisionantes, lentamente e a cada
sessão. Foi um longo caminho de duras batalhas, mas de progressos firmes
e bem notórios. Cada progresso foi como uma conquista de liberdade e o
desabrochar progressívo de um sentimento cada vez mais tangível de
capacidade e possibilidade livre, não condicionada.
Podia ter feito psicoterapia mais cedo, o que não aconteceu por
desconhecimento de muitas coisas, sobretudo da diferença entre aquilo
que dentro de nós e nas nossas vidas é normal e aquilo que é sinal de
desequilíbrio, e de como o ser humano é perito na auto-ilusão. Algumas
leituras e conversas com amigos psicólogos começaram a fazer-me mesmo
muito sentido. Quase todos nós achamos que a nossa família é normal, que
o nosso passado foi "normal", porque não temos a experiência de ter e
estar em nenhuma outra família senão a nossa. Depois quando as coisas
mais tarde correm mal nas nossas vidas conseguimos perceber, pela
psicoterapia (ou por alguns livros muito úteis), que afinal algumas
coisas não correram assim tão bem. Percebemos também porque é que
precisámos de criar a visão ou fantasia que tinha corrido tudo bem. A
partir daqui as coisas começam a mudar, porque através da psicoterapia
vamos conseguindo enfrentar aquilo que outrora não conseguimos sozinhos.
Vamos arrumando o sotão e sarando o coração."
- D.
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