Um psicoterapeuta não emite julgamentos, e
muitas pessoas evitam mesmo recorrer a um psicoterapeuta por receio de serem
julgadas. É um medo que está sobretudo ligado à experiência de sermos ou termos
sido julgados(ou pior...) por aqueles que são ou outrora foram as pessoas mais
próximas ou mais marcantes das nossas vidas. Está também relacionado com a
tendência a nos julgarmos a nós mesmos (e por vezes aos outros), pois essas
pessoas outrora mais críticas, mais irritáveis, mais culpabilizantes ou mais
inferiorizantes vão ficando gravadas dentro de nós e contra nós. São como uma
herança emocional nociva e sempre presente, tornada inevitável pelos próprios
processos psíquicos de internalização e identificação que fazem parte e moldam
o desenvolvimento da personalidade de qualquer ser humano logo desde muito
cedo.
Por vezes também nos julgamos dessa forma não tanto (ou não só) pela exposição prolongada e internalização dessas figuras mais nocivas, mas por falta do seu exato oposto. Falta de pessoas importantes para nós (e nós para elas!) que se mostram ou mostravam (e mais importante de tudo, que se faziam sentir como) tolerantes, atentas, preocupadas, interessadas e compreensívas para connosco nas mais variadas circunstâncias.
Da mesma forma com que nos julgamos a nós mesmos, que somos serveros connosco próprios ou que não nos aceitamos, naturalmente iremos achar que os outros também não nos irão aceitar e compreender. Por vezes fica mesmo a faltar ao longo de toda a vida a experiência sanígena, fundamental e reparadora de podermos ser verdadeiramente compreendidos, de termos alguém que lá esteja para nós, capaz de uma sintonia empática e de um interesse compreensivo sobre nós, sobre as nossas preocupações e angústias, sobre as nossas alegrias e tristezas. Alguém que nos deixa a sentir compreendidos, sem crítica ou juizo de valor. Por vezes esse trauma por falta de empatia e o medo da crítica que ele gera transformam-se em desagradáveis companheiros de vida que lançam rédea curta ao sentimento de liberdade e restringem o sentido da mesma. Um encarceramento que vem de dentro e que ataca o próprio direito a podermos ser livremente aquilo que somos, quem verdadeiramente somos, e de podermos existir livres do preconceito, da critica e da restrição. Muitas pessoas nascem, vivem e morrem sem nunca saberem o que isso é... Sem saber o que é viver sem o medo e incómodo persistente ou intermitente do que os outros poderão pensar ou vir a pensar, sobre a própria pessoa, sobre a sua família, sobre a sua situação financeira, sobre as suas associações, etc..
A psicoterapia é um lugar e um encontro que consegue de facto, ao longo do tempo, transformar e remover estas restrições internas. Por vezes elas podem à partida nem ser percebidas enquanto sintomas ou aspetos passíveis de serem mudados, mas sim como a forma normal de sermos, de sentirmos e vivermos a vida. É a nossa personalidade ou feitio, quem nós somos. Ao ajudar a dar nome aos fenómenos da vida interior, áquilo que é num primeiro momento desconhecido ou nunca pôde ser pensado, o psicoterapeuta cataliza um "separar de águas" onde se tornam distintos dois lados da realidade: aquilo que pode e aquilo que não pode ser mudado. Assim se desvela paulatinamente uma nova realidade que transcende quem somos e quem sempre fomos: quem poderemos vir a ser.
Uma outra atitude que o psicoterapeuta deverá procurar manter, e que está de alguma forma subentendida nos parágrafos anteriores, é sem dúvida a de preocupação, ou bem-querer, e de interesse genuíno para com quem procura ajudar. Enquanto pessoas, e de uma forma geral, é muito dificil conseguirmos sentir que estamos a ser ajudados ou a retirar proveito de uma relação psicoterapêutica quando estamos com alguém que nos parece distante, pouco interessado em nós e naquilo que temos para dizer, ou que nos diz coisas que parecem ficar muito ao lado das nossas preocupações ou que não conseguimos entender.
Esta preocupação e interesse compreensivo fazem-se ainda acompanhar por uma atitude a partir da qual o psicoterapeuta se abstem de oferecer conselhos, indicações ou direções a seguir, ainda que por vezes, quando se justifica, poderá oferecer algumas sugestões. Tal prende-se com um importante principio ético (e psicoterapêutico) de uma qualquer psicoterapia, a defesa e promoção da autonomia individual, do direito de uma qualquer pessoa à liberdade de pensar, de agir, de escolher e de tomar decisões sobre a própria vida. Quando essa autonomia está por algum motivo comprometida, então o primeiro passo poderá mesmo ser o fundar de uma relação terapêutica que servirá de alicerçe para a construção, reconstrução ou para o desbloquear do “Eu” autónomo e diferenciado.
É ainda de realçar a posição moral da psicologia psicanalítica enquadrada num panorama político e social. São três os pontos centrais a realçar: A necessidade de considerar e enfrentar a realidade por mais dolorosa que seja, em detrimento do ignorar da verdade e da realidade; a ligação íntima entre os cuidados básicos e a construção de uma sociedade saudável, na medida em que a negligência social pela infância conduz inexoravelmente ao sofrimento da sociedade; e a autonomia enquanto direito próprio, originária a partir de um cuidado parental sensível, cuja falta pode, com sorte, ser remediada pela psicoterapia.
Por vezes também nos julgamos dessa forma não tanto (ou não só) pela exposição prolongada e internalização dessas figuras mais nocivas, mas por falta do seu exato oposto. Falta de pessoas importantes para nós (e nós para elas!) que se mostram ou mostravam (e mais importante de tudo, que se faziam sentir como) tolerantes, atentas, preocupadas, interessadas e compreensívas para connosco nas mais variadas circunstâncias.
Da mesma forma com que nos julgamos a nós mesmos, que somos serveros connosco próprios ou que não nos aceitamos, naturalmente iremos achar que os outros também não nos irão aceitar e compreender. Por vezes fica mesmo a faltar ao longo de toda a vida a experiência sanígena, fundamental e reparadora de podermos ser verdadeiramente compreendidos, de termos alguém que lá esteja para nós, capaz de uma sintonia empática e de um interesse compreensivo sobre nós, sobre as nossas preocupações e angústias, sobre as nossas alegrias e tristezas. Alguém que nos deixa a sentir compreendidos, sem crítica ou juizo de valor. Por vezes esse trauma por falta de empatia e o medo da crítica que ele gera transformam-se em desagradáveis companheiros de vida que lançam rédea curta ao sentimento de liberdade e restringem o sentido da mesma. Um encarceramento que vem de dentro e que ataca o próprio direito a podermos ser livremente aquilo que somos, quem verdadeiramente somos, e de podermos existir livres do preconceito, da critica e da restrição. Muitas pessoas nascem, vivem e morrem sem nunca saberem o que isso é... Sem saber o que é viver sem o medo e incómodo persistente ou intermitente do que os outros poderão pensar ou vir a pensar, sobre a própria pessoa, sobre a sua família, sobre a sua situação financeira, sobre as suas associações, etc..
A psicoterapia é um lugar e um encontro que consegue de facto, ao longo do tempo, transformar e remover estas restrições internas. Por vezes elas podem à partida nem ser percebidas enquanto sintomas ou aspetos passíveis de serem mudados, mas sim como a forma normal de sermos, de sentirmos e vivermos a vida. É a nossa personalidade ou feitio, quem nós somos. Ao ajudar a dar nome aos fenómenos da vida interior, áquilo que é num primeiro momento desconhecido ou nunca pôde ser pensado, o psicoterapeuta cataliza um "separar de águas" onde se tornam distintos dois lados da realidade: aquilo que pode e aquilo que não pode ser mudado. Assim se desvela paulatinamente uma nova realidade que transcende quem somos e quem sempre fomos: quem poderemos vir a ser.
Uma outra atitude que o psicoterapeuta deverá procurar manter, e que está de alguma forma subentendida nos parágrafos anteriores, é sem dúvida a de preocupação, ou bem-querer, e de interesse genuíno para com quem procura ajudar. Enquanto pessoas, e de uma forma geral, é muito dificil conseguirmos sentir que estamos a ser ajudados ou a retirar proveito de uma relação psicoterapêutica quando estamos com alguém que nos parece distante, pouco interessado em nós e naquilo que temos para dizer, ou que nos diz coisas que parecem ficar muito ao lado das nossas preocupações ou que não conseguimos entender.
Esta preocupação e interesse compreensivo fazem-se ainda acompanhar por uma atitude a partir da qual o psicoterapeuta se abstem de oferecer conselhos, indicações ou direções a seguir, ainda que por vezes, quando se justifica, poderá oferecer algumas sugestões. Tal prende-se com um importante principio ético (e psicoterapêutico) de uma qualquer psicoterapia, a defesa e promoção da autonomia individual, do direito de uma qualquer pessoa à liberdade de pensar, de agir, de escolher e de tomar decisões sobre a própria vida. Quando essa autonomia está por algum motivo comprometida, então o primeiro passo poderá mesmo ser o fundar de uma relação terapêutica que servirá de alicerçe para a construção, reconstrução ou para o desbloquear do “Eu” autónomo e diferenciado.
É ainda de realçar a posição moral da psicologia psicanalítica enquadrada num panorama político e social. São três os pontos centrais a realçar: A necessidade de considerar e enfrentar a realidade por mais dolorosa que seja, em detrimento do ignorar da verdade e da realidade; a ligação íntima entre os cuidados básicos e a construção de uma sociedade saudável, na medida em que a negligência social pela infância conduz inexoravelmente ao sofrimento da sociedade; e a autonomia enquanto direito próprio, originária a partir de um cuidado parental sensível, cuja falta pode, com sorte, ser remediada pela psicoterapia.
1 comentário:
esta merda está muito bem escrita, parabéns.
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