Por vezes há problemas dos quais nem sempre temos consciência, mas
que acabam por surgir em determinadas situações, como por exemplo sob
stress ou nas relações amorosas.
Desenvolvemos algumas vezes grandes capacidades de autossuficiência em
torno desses problemas e acreditamos que podemos perfeitamente tomar
cuidar de nós e prescindir de um outro exterior que desempenhe esse
papel para connosco.
Apesar de sermos muito capazes de lidar com
as responsabilidades do dia-a-dia, e mesmo de atingir o
sucesso, o mal
estar está lá... Como se não conseguíssemos descansar verdadeiramente.
Lado a lado com a autossuficiência e competência, e independentemente
de a grande rede de amizades que possamos ter ou pensar ter, temos por
vezes muito pouca experiência de nos entregarmos verdadeiramente aos
outros. Assim, fica também interdita a experiência da verdadeira
intimidade e cumplicidade, que nos preenchem genuinamente.
Assim,
permanecemos sós, trancados em nós mesmos, sem conseguirmos esse tão
almejado descanso. Porque é apenas na entrega genuína que conseguimos
crescer, integrar-nos e amadurecer.
Podemos ainda procurar ajuda
e conselhos de amigos, mas sentimos que de nada servem, e ás vezes
acabamos mesmo por sentir que estamos a incomodar ou que os outros se
frustram e perdem a paciência connosco.
Por vezes procuramos a
ajuda do psicólogo para nos apoiarmos nele e reforçar um "Eu-prótese",
autossuficiente, precisamente para não fazermos um processo de verdadeira
entrega. Como por exemplo a procura do psicólogo no intuito de receber
soluções ou respostas "faça você mesmo". Muitas vezes a resposta é mesmo
a psicoterapia, mas num primeiro momento falta a capacidade de entrega, e
o sentimento que surge na pessoa é o de não estar a conseguir (receber) nada da
psicoterapia. Porque na verdade, o paciente não pode (não consegue)
ainda receber... Não pode ainda entregar-se. Ainda que precise e o queira desesperadamente.
Por vezes a dor e o sofrimento emocional e mental está profundamente
inacessível, por debaixo de um "Eu-de-cobertura" que precisa num
primeiro momento ser devidamente consciencializado e trabalhado. Lá por
detrás está muitas vezes um "Eu" profundamente fragilizado, repleto de
sentimentos de incapacidade, inutilidade e incompetência, que precisa
ser entendido, cuidado, reparado e ajudado a desenvolver-se.
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