Face aos acontecimentos
deste fim -de- semana, no Pinhal Novo (23/11/2013), uma questão antiga voltou a
tomar algum espaço do meu pensamento.
Já se tem em consideração
que as vítimas e respetivas famílias tenham apoio psicológico (quando existe)
face a alguns incidentes…no entanto, até que ponto os intervenientes nessas
situações também têm? Por exemplo a polícia, a GNR, os bombeiros, as equipas do
INEM, médicos e enfermeiros que se deslocam para locais de catástrofe…?
Chegar a um local e
deparar-se com os mais vários tipos de cenário de horror, pode, mesmo para os
mais treinados e experientes, provocar danos psíquicos. E é importante estar se
consciente dessa possibilidade de forma a agir atempadamente.
O processo de EMDR constitui
uma ferramenta muito eficaz no tratamento de Pós Stress Traumático, ou seja,
quando já está instalado um quadro patológico bem definido. No entanto, sabe-se
que até um período de 3 meses após o acontecimento, as memórias ainda não se
“fixaram” na rede neuronal. Logo, esta terapia pode ser ainda mais eficaz se o
trabalho for feito nesse período, podendo prevenir uma sedimentação em quadro
patológico.
Para que tal aconteça é
necessário estar se atento à evolução da situação. Existem várias formas de
reagir ao choque, e muitas vezes uma espécie de “congelamento” afetivo (quando parece
que a pessoa não reage) pode mascarar um possível quadro reativo posterior.
Lembrei-me do caso deste fim-de-semana
porque dei por mim a imaginar que impacto que pode ter num militar da GNR, deparar-se
com um colega abatido e numa situação onde os níveis de stress são elevados. A
reação a este cenário pode ser diversa, dependendo de cada indivíduo e do respetivo
contexto …
Acima de tudo, pretendo
alertar a todos os que de algum modo são vítimas
ou testemunhas de um incidente de qualquer natureza, que provoque reações fisiológicas ou emocionais intensas tais como
rever mentalmente a situação inúmeras vezes, estar em sobressalto perante
situações que façam lembrar o acontecimento (direta ou indiretamente), crises de ansiedade súbitas (tipo ataque pânico), congelamento afetivo e sensação de se estar
distante da cena, sensação de irrealidade, entre outros sintomas, que podem
estar a organizar uma reação traumática.
Nestes casos se se procurar apoio rapidamente, pode não se chegar a desenvolver
um quadro patológico. E nesse sentido, o EMDR
surge como tratamento de excelência, na recuperação mas também na prevenção.
Basta estar-se atento e não ter receio daquilo que se está a experienciar, seja
mais ou menos “normal”.
E se as corporações, pelas
mais diversas razões, não têm a possibilidade de disponibilizar aos seus
funcionários o apoio devido, é importante pelo menos que os mesmos saibam que
esse apoio está disponível e deve ser acionado sempre que , no mínimo, se tenha dúvidas sobre o que se está a experienciar.
Carla Ricardo
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta
Psicronos Setúbal