sábado, dezembro 07, 2013

EMDR na recuperação, EMDR NA PREVENÇÃO

Face aos acontecimentos deste fim -de- semana, no Pinhal Novo (23/11/2013), uma questão antiga voltou a tomar algum espaço do meu pensamento. 

Já se tem em consideração que as vítimas e respetivas famílias tenham apoio psicológico (quando existe) face a alguns incidentes…no entanto, até que ponto os intervenientes nessas situações também têm? Por exemplo a polícia, a GNR, os bombeiros, as equipas do INEM, médicos e enfermeiros que se deslocam para locais de catástrofe…?

Chegar a um local e deparar-se com os mais vários tipos de cenário de horror, pode, mesmo para os mais treinados e experientes, provocar danos psíquicos. E é importante estar se consciente dessa possibilidade de forma a agir atempadamente.

O processo de EMDR constitui uma ferramenta muito eficaz no tratamento de Pós Stress Traumático, ou seja, quando já está instalado um quadro patológico bem definido. No entanto, sabe-se que até um período de 3 meses após o acontecimento, as memórias ainda não se “fixaram” na rede neuronal. Logo, esta terapia pode ser ainda mais eficaz se o trabalho for feito nesse período, podendo prevenir uma sedimentação em quadro patológico.

Para que tal aconteça é necessário estar se atento à evolução da situação. Existem várias formas de reagir ao choque, e muitas vezes uma espécie de “congelamento” afetivo (quando parece que a pessoa não reage) pode mascarar um possível quadro reativo posterior.

Lembrei-me do caso deste fim-de-semana porque dei por mim a imaginar que impacto que pode ter num militar da GNR, deparar-se com um colega abatido e numa situação onde os níveis de stress são elevados. A reação a este cenário pode ser diversa, dependendo de cada indivíduo e do respetivo contexto …

Acima de tudo, pretendo alertar a todos os que de algum modo são vítimas ou testemunhas de um incidente de qualquer natureza, que provoque reações fisiológicas ou emocionais intensas tais como rever mentalmente a situação inúmeras vezes, estar em sobressalto perante situações que façam lembrar o acontecimento (direta ou indiretamente), crises de ansiedade súbitas (tipo ataque pânico), congelamento afetivo e sensação de se estar distante da cena, sensação de irrealidade, entre outros sintomas, que podem estar a organizar uma reação traumática. Nestes casos se se procurar apoio rapidamente, pode não se chegar a desenvolver um quadro patológico. E nesse sentido, o EMDR surge como tratamento de excelência, na recuperação mas também na prevenção. Basta estar-se atento e não ter receio daquilo que se está a experienciar, seja mais ou menos “normal”.

E se as corporações, pelas mais diversas razões, não têm a possibilidade de disponibilizar aos seus funcionários o apoio devido, é importante pelo menos que os mesmos saibam que esse apoio está disponível e deve ser acionado sempre que , no mínimo,  se tenha dúvidas sobre o que se está a experienciar.

Carla Ricardo
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta
Psicronos Setúbal

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