Ansioso, stressado, são designações para um estado mental em que se tem a noção de que se está a perder o controle das coisas e de nós próprios. É sobretudo nessa dificuldade em controlarmos a nossa vida que reside, a meu ver, a origem da maior parte dos estados ansiosos.
Por outro lado, há certamente pessoas com mais tendência para a ansiedade, algo que faz parte do seu funcionamento mental desde o início, mas que também se adquire ou agrava em criança, em contacto próximo com adultos ansiosos.
(Do The New Yorker)
É difícil lidar com essa ansiedade difusa, flutuante, que é mais um modo de funcionar do que um estado pontual. Faz parte de nós desde sempre, como muitas vezes me dizem os meus pacientes. O problema maior é que essa ansiedade cria frequentemente frustração e raiva na pessoa, que não sabe como lidar com ela e a sente como uma fraqueza e uma vulnerabilidade, quase como uma doença. Culpabilizam-se por serem assim, por não saberem lidar com isso, por sentirem que isso as prejudica, tanto mais, dizem, que é quando estão mais stressados que fazem mais asneiras e as coisas correm pior.
É nesta espiral ansiedade-frustação-raiva- culpa que reside a gravidade da questão. A ansiedade está muitas vezes ligada a estados depressivos, por via da culpa e da auto-recriminação.
Mas que fazer, então?
Não é fácil. É importante tentar que as pessoas se apercebam da existência desta espiral, o que é um processo que leva algum tempo. O mecanismo mental é já antigo, mesmo em jovens, e só o começarem a aperceber-se dele já é motivo para mais ansiedade a auto-recriminação. É por isso que é preciso actuar tanto na base como no topo da espiral. Na base, para compreensão do mecanismo. No topo, para contenção. Os ansiosos costumam ser pessoas perfeccionistas e muito sensíveis a críticas. Pouco a pouco, vão percebendo que a sua auto-exigência e constante auto-crítica (o que em psicanálise se designa por Super-Eu) são desproporcionadas e só pioram o fenómeno.
Há que quebrar a espiral, processo que só o próprio pode fazer, mas em que a psicoterapia ajuda, e muito.
Tenho estado a falar mais da ansiedade generalizada. Mas os ataques de pânico, motivo que tantas vezes leva à procura de ajuda, não são mais que a cereja no topo da espiral, mas uma cereja muito assustadora. No ataque de pânico a pessoa sente-se fisicamente mal e chega a ter a sensação de que vai morrer. Esta ansiedade "cristalizada" na cereja assusta, mas tem a vantagem de fazer reconhecer à pessoa que algo está mal no seu funcionamento psíquico e a procurar ajuda. É já um passo.
Clara Pracana
Psicanalista
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