A gravidez é um período privilegiado de
desenvolvimento psicológico, de integração maturativa. Contudo nem todas as
mulheres vivem ou sentem as suas gravidezes (sobretudo a primeira) como tal.
Os desafios psicológicos, ou etapas maturativas da
gravidez compreendem a estruturação de uma identidade
materna e formação de um vínculo
pré-natal com o feto. Quando o trabalho psicológico da gravidez permite uma
boa adaptação a estas tarefas, a gravidez é habitualmente sentida enquanto uma
vivência verdadeiramente maturativa. Por sua vez, estes ganhos de maturação
estão relacionados com uma relação mãe-bebé relativamente tranquila e saudável
no pós-parto.
Como preditor, digamos, da possibilidade
maturativa que a etapa da gravidez pode ter para uma mulher, podemos considerar
o grau particular de integração de personalidade dessa mulher – por exemplo, a
capacidade de uma mulher se referir a experiências de infância com os
principais cuidadores de uma forma organizada e livre de contradição,
conjuntamente com a capacidade de nomear livremente um espectro
multidimensional de pensamentos e emoções sobre essas relações. Por outras
palavras, até que ponto uma mulher se encontra resolvida, estável e satisfeita
consigo mesma enquanto indivíduo, com os seus relacionamentos, com o seu
passado (nomeadamente a sua infância) – conseguindo uma compreensão ampla,
estável e precisa das individualidades e dos motivos das atitudes e decisões
daqueles que foram os seus cuidadores durante a infância – e funciona de acordo
com uma moralidade madura e consistente.
As terapias focadas e de curta duração podem aproveitar
esta etapa evolutiva na vida de uma mulher e resolver questões emergentes. Com
a aplicação da terapia EMDR estes bons resultados podem surgir rapidamente, uma
vez que determinadas sensações e vivências psicológicas desconfortáveis podem
ser trabalhadas no sentido de serem dessensibilizadas e reprocessadas \
elaboradas de maneira a não conduzirem a, por exemplo, pensamentos persistentes
de dúvida que possam aumentar a ansiedade para níveis que coloquem em causa o
estabelecimento do vínculo mãe \ bebé.
No outro pólo, uma vivência subjectiva habitual de
ansiedade, confusão e conflito em relação a si mesma e ás suas relações irá tendencialmente
ofuscar a vivência da gravidez enquanto fase de desenvolvimento e interditar a
possibilidade de maturação psicológica.
O próprio ciclo menstrual indicia este grau de
integração da personalidade, ou de preparação psicológica para a gravidez (possibilidade
de vivenciar a gravidez enquanto fase maturativa e possibilidade efectiva de maturação).
Tal deve-se á presença da progesterona durante este período, bem como durante a
gravidez e lactação. Psicofisiologicamente a progesterona está associada a uma
reemergência consciente de temáticas e problemáticas psicológicas relacionadas
com o passado de uma mulher, nomeadamente o passado referente aos primeiros 2
ou 3 anos de vida - são reactivados traços mnésicos profundamente interiorizados
durante este período da infância, no qual se desenvolvem os comportamentos
maternos “protótipos” de cuidar e dar afecto ao bebé mediante identificação (introjetiva)
com a própria mãe. Este passado não só tende a ser inconsciente como também é
não verbal, anterior à aquisição da linguagem e da memória, mas não anterior à
“memória emocional” (apenas podemos lembrá-lo emocionalmente).
O processamento destas memórias emocionais
pré-verbais de forma a que contribuam para o crescimento pessoal da mulher no
período de gravidez pode ser facilitado pelas terapias que privilegiam ou
integram métodos, princípios ou abordagens que focam estas vivências
pré-verbais, e também vivências emocionais traumáticas, muitas vezes de difícil
acesso, difíceis de colocar em palavras e mesmo de trabalhar a um nível
puramente verbal.
Como é reconhecido actualmente, a terapia EMDR
obtém bons resultados nas perturbações de stress pós- traumático e mais
recentemente estudos validam a eficácia nas perturbações de ansiedade em geral,
em especial no Transtorno Obsessivo Compulsivo que até agora era patologia de
progressão lenta e incerta com outras formas de terapia.
Podemos dizer em suma, que a gravidez é uma altura
fértil para mudanças terapêuticas e criar novas bases para que as próximas
gerações nasçam emocionalmente saudáveis.
Existem ainda alguns outros aspectos interessantes
e importantes sobre gravidez, maturação, potencialidade psicoterapêutica
durante este período e psicopatologia (incluindo psicopatologia da relação
mãe-bebé no pós parto), mas que para já deixaremos para uma próxima
oportunidade.
Escrito por:
Diogo Gonçalves, Psicólogo Clínico na Psicronos.
Pedro Santos, Psicólogo Clínico e Terapeuta EMDR na
Psicronos
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