domingo, dezembro 01, 2013

Deprimir ou não deprimir


A depressão é, com boas razões, algo que muita gente teme. Embora existam vários tipos de depressão, a sintomatologia caracteriza-se, em geral, por uma apatia, uma desmotivação, um ver "tudo negro", às vezes uma vontade de chorar por tudo e por nada, um querer enfiar-se na cama e não sair de lá. Em suma, uma falta de vontade de viver. Se acompanhada de ansiedade, o que é frequente, o quadro torna-se ainda mais angustiante.
Nalgumas pessoas, sucede a períodos de grande entusiasmo ou mesmo euforia. Noutras, instala-se silenciosamente, como um ladrão que não só nos vem roubar a alegria de viver, mas vem também instalar-se dentro da nossa casa mental, sabe-se lá por quanto tempo.
A sensação de estar a cair em depressão pode ser tão assustadora que algumas pessoas desenvolvem um medo da depressão, que depois se transforma num medo do medo, e num medo do medo do medo...
Antigamente, dizia-se que eram as pessoas fracas que caíam em depressão, o que era um disparate e uma ignorância. Churchill, por exemplo, que não consta que fosse uma personalidade fraca, era dado a grandes depressões, a que chamava o "black dog". Sabe-se hoje que também há fenómenos a nível da química cerebral que contribuem para as crises depressivas, que há factores genéticos, que há depressões típicas de alguns períodos da vida (ex: a menopausa), que há até depressões ligadas à falta de sol.
Perante circunstâncias semelhantes, algumas pessoas deprimem mais do que outras e outras nem chegam mesmo a deprimir. Para além do facto de às vezes ser mesmo necessário deprimir para se poder elaborar um desgosto, uma perda, ou outro tipo de dor mental (pense-se num processo normal de luto), julgo que poderá ajudar um pouco, sobretudo ao medo da depressão, pensarmos nela como uma espécie de onda do mar, daquelas que nós obrigam a mergulhar para não sermos enrolados. O que é preferível, várias ondas mais pequenas e todas seguidas ou uma onda muito grande, perante a qual temos de ir bem ao fundo?
É uma questão de preferência pessoal. Eu, pessoalmente, prefiro várias ondas seguidas mas de menor porte, mas nem todos somos iguais. O que me parece inegável, é que é preciso saber nadar - porque não basta boiar (era bom, era!).
Nadar, como? Bem, neste caso, é preciso ter alguma prática de mergulho, boa capacidade torácica, saber descer ao fundo e tocar na areia, aguentar, bater com os pés e nadar para a superfície. Aí, sim, poderemos boiar para descansar. Mas enquanto estamos lá em baixo, há que saber sobreviver. Não dizem que, como mamíferos, descendemos dum peixe que se teria tornado anfíbio? Pois aí está, temos de ser anfíbios.
Mas então há sortudos que nunca deprimiram? Pois há - embora também haja quem esteja deprimido sem saber e apresente sintomas enganadores. Mas aos sortudos que nunca deprimiram, parabéns! Que se conservem assim durante muito tempo. E que vão aprendendo a nadar, porque nunca se sabe...


1 comentário:

Anónimo disse...

Bom texto, e reflexão...
Falar de depressão é complexo; Muito mais do que força de vontade, o corpo sofre porque o cérebro não funciona como deveria. Eu, por exemplo, sofro de dois males, sou um HSP e desenvolvi distimia ao longo da vida, dada a essa condição angustiante. Tive boas experiências, das quais me lembro, mas as experiências ruins literalmente esfolaram meu cérebro, abrindo feridas que nunca cicatrizaram. Sei "nadar", mas o sal do mar da vida queima a minha pele. Vontade às vezes eu tenho. Mas e a força?

Abraços
Arn