Este vídeo tem circulado nas
redes sociais ao longo das últimas semanas, gerando inúmeros comentários
emocionados relativamente à resposta do bebé à voz da mãe enquanto canta. A
maior parte das pessoas parece deliciada com a forma como o bebé parece reagir
com empatia à tristeza transmitida pelo tom de voz e pela melodia. Talvez por
isso me tenha abstido de comentar este vídeo antes e só o faço agora em resposta
ao desafio lançado pela Dra Ana Almeida.
Assumo que este vídeo me causou
desconforto desde a primeira vez que o vi. Desde cedo, talvez ainda dentro da
barriga da mãe, o bebé parece ser capaz de discriminar os estados emocionais da
mãe. Neste vídeo, parece haver uma reposta bastante rápida a um possível estado
de tristeza por parte da mãe. Na minha opinião, talvez haja uma reação empática
numa primeira fase, mas que depois se transforma numa vivência de desamparo,
que faz lembrar a resposta (ou ausência dela) das mães deprimidas aos seus
bebés.
Parece-me que o bebé fica verdadeiramente angustiado com a suposta tristeza
da mãe (e provavelmente com o tom de voz que pode ser sensorialmente
insuportável nesta idade), parecendo tranquilizar-se nos segundos de pausa em
que provavelmente espera o conforto da mãe, voltando a sentir a sua
indisponibilidade quando volta a cantar. Imagino até, e aqui é pura fantasia,
que a mãe esteja de olhos fechados enquanto canta, e que o contacto ocular se dê
nestes momentos de pausa em que o bebé parece tranquilizar-se (suspirando até)
por ter a mãe de volta. Suspiro eu de alívio quando é finalmente a mãe a
revelar empatia pela angústia do filho, contendo-o com grande afetividade e
fazendo-o perceber que está ali para ele, disponível e intacta, o que acontece
de forma muito inconsistente no caso das mães deprimidas.
Gostava de conhecer mais opiniões
acerca deste tema.
Diretora do Departamento de Infância e responsável pela Consulta do Bebé e da Parentalidade
geral@psicronos.pt