Este vídeo tem circulado nas
redes sociais ao longo das últimas semanas, gerando inúmeros comentários
emocionados relativamente à resposta do bebé à voz da mãe enquanto canta. A
maior parte das pessoas parece deliciada com a forma como o bebé parece reagir
com empatia à tristeza transmitida pelo tom de voz e pela melodia. Talvez por
isso me tenha abstido de comentar este vídeo antes e só o faço agora em resposta
ao desafio lançado pela Dra Ana Almeida.
Assumo que este vídeo me causou
desconforto desde a primeira vez que o vi. Desde cedo, talvez ainda dentro da
barriga da mãe, o bebé parece ser capaz de discriminar os estados emocionais da
mãe. Neste vídeo, parece haver uma reposta bastante rápida a um possível estado
de tristeza por parte da mãe. Na minha opinião, talvez haja uma reação empática
numa primeira fase, mas que depois se transforma numa vivência de desamparo,
que faz lembrar a resposta (ou ausência dela) das mães deprimidas aos seus
bebés.
Parece-me que o bebé fica verdadeiramente angustiado com a suposta tristeza
da mãe (e provavelmente com o tom de voz que pode ser sensorialmente
insuportável nesta idade), parecendo tranquilizar-se nos segundos de pausa em
que provavelmente espera o conforto da mãe, voltando a sentir a sua
indisponibilidade quando volta a cantar. Imagino até, e aqui é pura fantasia,
que a mãe esteja de olhos fechados enquanto canta, e que o contacto ocular se dê
nestes momentos de pausa em que o bebé parece tranquilizar-se (suspirando até)
por ter a mãe de volta. Suspiro eu de alívio quando é finalmente a mãe a
revelar empatia pela angústia do filho, contendo-o com grande afetividade e
fazendo-o perceber que está ali para ele, disponível e intacta, o que acontece
de forma muito inconsistente no caso das mães deprimidas.
Gostava de conhecer mais opiniões
acerca deste tema.
Diretora do Departamento de Infância e responsável pela Consulta do Bebé e da Parentalidade
geral@psicronos.pt
3 comentários:
Olá Alexandra. Mto obrigado pelo seu post e pela chamada de atenção para a forma como nós os adultos tendemos a considerar que as crianças e os bebés sentem as coisas tal como nós. Para nós a voz da mãe e o seu canto é bonito e agradável e não é imediatamente que pensamos (eu pelo menos não o fiz) que aquilo que é agradável para nós pode ser profundamente perturbador e aflitivo para um bebé. De fato, o bebé tem manifestações muito intensas e, tal como diz, parece apaziguar-se nos silêncios.
A mim parece-me que o bebé (que é altamente expressivo e querido!)fica algo assustado e hesitante quanto ao potencial perigo e angustia (não desata a chorar mas ainda assim caem-lhe as lágrimas ao mesmo tempo que expressa feições que imagino serem de princípio de choro e medo).
O que fantasio como possível causa da angústia contida do bebé é que a mãe está a fazer caretas de quem está a cantar emocionadamente a canção, podendo o bebé interpretá-las (pela sua semelhança) com expressões de tristeza e angústia. Simultaneamente às putativas expressões da mãe, é de considerar também que esta está a elevar o tom de voz, algo que pode igualmente contribuir para assustar o bebé ("porque é que ela está a gritar comigo com esta cara toda angustiada?!")
Gostei d da sua colocação, muito mais pertinente e sensível em relação ao bebê, não devemos pensar nas crianças como pequenos adultos reagindo da mesma maneira que reagiríamos se no lugar dela estivéssemos.
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