Fui recentemente chamada a falar
sobre agressividade numa escola, e de uma forma geral, quando falamos sobre agressividade,
é bom termos como ponto de partida que a agressividade existe em todos os seres
humanos, é natural e necessária.
Na adolescência a agressividade está muito presente no comportamento e
por isso, quando falamos para pais e professores, importa ajudá-los a
compreender a agressividade mas também a diferenciar a agressividade saudável
da agressividade patológica.
Para pensarmos em agressividade
saudável podemos pensar por exemplo na agressividade que está presente numa
equipa desportiva. É a agressividade que nos mobiliza para a ação, que está
relacionada com a nossa capacidade de nos defendermos, de lutarmos pelos nossos
objetivos, de tolerarmos a rivalidade e competitividade. É então possível
pensarmos que a agressividade pode estar ao serviço da cooperação, da proteção,
da união grupal, etc.
A agressividade pode estar ao
serviço de objetivos grupais, interpessoais, mas também é saudável quando
contribui para a construção da identidade
e diferenciação.
É assim importante a capacidade
para criarmos mudanças, ruturas, separações; para afirmarmos a nossa diferença, os nossos limites e as
nossas escolhas. Está presente na
nossa capacidade de reivindicar, de lutar pelos nossos direitos, pelo nosso
bem-estar.
Mas então quando é
que falamos de raiva, ódio, sadismo,
ciúme, inveja?
Quando falamos destas emoções,
estamos também a falar de emoções naturais e existentes em todos os seres
humanos. E podem também ser saudáveis, quando estão ao serviço da sobrevivência,
da regulação interna e da regulação das relações.
As crianças e os jovens precisam de
saber que estas emoções são saudáveis, e que podem ser sentidas e expressas–
como o amor, a alegria ou a tristeza – de forma socialmente apropriada. Mesmo a
agressividade mais destrutiva deve poder ser sentida, e até certo ponto expressa
- não necessariamente agida.
O que diferencia
então a agressividade saudável da agressividade patológica?
A agressividade patológica é
destrutiva para o próprio, para o outro e para a relação e é aquela que não
contribui para a evolução nem contempla possibilidade de reparação.
A agressividade mais patológica é
normalmente caracterizada por uma intensidade
desmedida e desajustada à circunstância. A repetição
de comportamentos agressivos e a indiferenciação
do alvo são também sinais de alerta. Outro aspeto importante é a ausência de culpabilidade e falta de empatia que podem refletir uma
frieza relacional.
A culpabilidade tem um papel fundamental na elaboração da
agressividade. A culpabilidade, normalmente associada à empatia e reforçada
pelos aspetos morais e sociais exerce um travão nos impulsos mais destrutivos.
Identificar estes aspetos deve essencialmente
contribuir para que pais e professores compreendam que a agressividade mais
patológica é sempre sinal de sofrimento e este não deve ser negligenciado.
É óbvio que os pais e os
professores têm sempre um papel que visa corrigir comportamentos, assim que são
fundamentais na necessidade de mostrar os limites morais, sociais e
relacionais. Mas não podemos nunca esquecer que um jovem agressivo não precisa
só de limites e normalmente não beneficia nada com simples censura ao seu
comportamento - precisa de alguém que o ajude a compreender e entrar em
contacto com o seu sofrimento e a encontrar mais conforto na sua relação
consigo mesmo e com os outros.
Eliana Vilaça
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
1 comentário:
Curioso o artigo porque tenho andado a pensar em escrever sobre este tema. O que pergunto é se em alguns casos será "agressividade patológica" ou será a forma como a agressividade é canalizade que é desadequada e não necessariamente "patologizada". Ou seja, até que ponto na actual sociedade as crianças não têm espaço para a expressão da agressividade normal adaptativa e, por isso, não aprendem a conduzir adequadamente essa agressividade!
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