O mundo do cyber-espaço é uma espécie de "novo mundo".
Atualmente praticamente tudo pode ser encontrado e cada vez mais coisas podem ser feitas neste outro mundo (ex., jogar, conviver, comercializar, conhecer, viajar...).
É um mundo onde o "navegador" e o meio navegado se encontram de uma forma peculiar, meio "real", meio "virtual". As pessoas tendem muitas vezes a dizer ou fazer coisas que não fariam se estivem "cá fora" no "mundo real", e não apenas "isoladas" face a um computador. É chamado o "efeito de desinibição". As pessoas tendem mais facilmente a expressarem os seus sentimentos, auto-revelarem-se, contarem segredos, desejos ou admitirem medos. Também podem dar mais facilmente livre curso à exploração de fantasias e desejos mais íntimos e/ou crus.
Suler (2004) distingue, pois, dois tipos de efeitos de desinibição:
- O "efeito de desinibição benigno"
O que muitas vezes surge e é aproveitado no contexto de um acompanhamento psicológico online
(telefone, chat, mail, Skype...) em que as pessoas se sentem mais livres e espontâneas para dizer o que
sentem e pensam. Também podem tender a expressar atos de generosidade e de partilha íntima que não
teriam noutro contexto de maior exposição.
- O "efeito de desinibição tóxico"
Este efeito refere-se a uma desinibição menos benigna por ser, ou descontrolada ou clivada da
personalidade de uma maneira disruptiva. Exemplos são catarses puras em que as pessoas podem dar
livre curso à sua agressividade e ofender e desrespeitar o outros de várias maneiras. Outro exemplo muito
comum é a descarga clivada de desejos e fantasias com a ajuda da vasta indústria pornográfica da
internet. Muitas vezes estas experiências tornam-se apenas descargas brutas de energia e gratificação
imediatas com efeitos negativos (sentimentos de vazio, falta de sentido, solidão...) para quem se deixa
enredar por estas experiências.
O efeito de desinibição é, deste modo, um efeito de dois gumes. Para além de que a potenciação do efeito no atendimento psicológico à distância, por exemplo, depender de pessoa para pessoa e de situação para situação. De fato, poderá ser desinibidor, para uma dada pessoa, em certas circunstâncias enquanto noutras ser precisamente o oposto (mais inibitório, para essa mesma pessoa). Como dito, este efeito também varia de pessoa: nem toda a gente encara uma relação terapêutica mediada por um canal comunicacional tecnológico como desinibidor. Há pessoas cuja distância física evoca uma sensação de formalidade, falta de contato e de proximidade emocional. Para estas o atendimento à distância será sobretudo uma forma alternativa ao atendimento convencional quando este não é conveniente.
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