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quinta-feira, dezembro 12, 2013

O efeito de desinibição (III) - Atendimento Online



Uma das variáveis predisponentes ao já falado efeito de desinibição aquando do acompanhamento psicológico à distância, é a variável do contexto físico.

Numa consulta convencional clássica, o cliente desloca-se do seu lar, da sua zona de conforto (onde se sente "à vontade"), para o consultório do clínico. Implica um caminho, uma distância, não só física, mas também entre um domínio considerado familiar, conhecido, para um domínio desconhecido e não familiar. Basicamente, o cliente não está em casa!

No atendimento à distância, o cliente tem a possibilidade de ser atendido a partir do seu lar. Ou seja, do lugar onde sente mais à vontade e confortável. Funciona quase como uma consulta ao domicílio uma vez que, em vez de ser o cliente a deslocar-se ao consultório, é o clínico que "entra" no espaço privado do cliente, por exemplo, quando faz com ele uma consulta em video-conferência.

Este fato contextual do setting psicoterapeutico, tem tendência para atenuar a assimetria de papeis entre o clínico e o cliente. Este último pode ser levado a sentir um maior controlo, sentindo-se mais seguro e mais "dono da situação". Como temos visto nos posts anteriores sobre o efeito de desinibição, este fenómeno contextual do espaço físico tende a influenciar o sentido de espaço psicológico pessoal, levando a que possa ser mais fácil e confortável partilhar aspetos íntimos da vida emocional do cliente.

quarta-feira, novembro 20, 2013

O "efeito de desinibição" - Atendimento Online (I)


O mundo do cyber-espaço é uma espécie de "novo mundo".
Atualmente praticamente tudo pode ser encontrado e cada vez mais coisas podem ser feitas neste outro mundo (ex., jogar, conviver, comercializar, conhecer, viajar...).

É um mundo onde o "navegador" e o meio navegado se encontram de uma forma peculiar, meio "real", meio "virtual". As pessoas tendem muitas vezes a dizer ou fazer coisas que não fariam se estivem "cá fora" no "mundo real", e não apenas "isoladas" face a um computador. É chamado o "efeito de desinibição". As pessoas tendem mais facilmente a expressarem os seus sentimentos, auto-revelarem-se, contarem segredos, desejos ou admitirem medos. Também podem dar mais facilmente livre curso à exploração de fantasias e desejos mais íntimos e/ou crus.

Suler (2004) distingue, pois, dois tipos de efeitos de desinibição:

- O "efeito de desinibição benigno"
   O que muitas vezes surge e é aproveitado no contexto de um acompanhamento psicológico online    
   (telefone, chat, mail, Skype...) em que as pessoas se sentem mais livres e espontâneas para dizer o que  
   sentem e pensam. Também podem tender a expressar atos de generosidade e de partilha íntima que não
   teriam noutro contexto de maior exposição.

- O "efeito de desinibição tóxico"
   Este efeito refere-se a uma desinibição menos benigna por ser, ou descontrolada ou clivada da
   personalidade de uma maneira disruptiva. Exemplos são catarses puras em que as pessoas podem dar
   livre curso à sua agressividade e ofender e desrespeitar o outros de várias maneiras. Outro exemplo muito
   comum é a descarga clivada de desejos e fantasias com a ajuda da vasta indústria pornográfica da
   internet. Muitas vezes estas experiências tornam-se apenas descargas brutas de energia e gratificação
   imediatas com efeitos negativos (sentimentos de vazio, falta de sentido, solidão...) para quem se deixa
   enredar por estas experiências.

O efeito de desinibição é, deste modo, um efeito de dois gumes. Para além de que a potenciação do efeito no atendimento psicológico à distância, por exemplo, depender de pessoa para pessoa e de situação para situação. De fato, poderá ser desinibidor, para uma dada pessoa, em certas circunstâncias enquanto noutras ser precisamente o oposto (mais inibitório, para essa mesma pessoa). Como dito, este efeito também varia de pessoa: nem toda a gente encara uma relação terapêutica mediada por um canal comunicacional tecnológico como desinibidor. Há pessoas cuja distância física evoca uma sensação de formalidade, falta de contato e de proximidade emocional. Para estas o atendimento à distância será sobretudo uma forma alternativa ao atendimento convencional quando este não é conveniente.